Capitulo 39
Nunca Te Amarei -- Capítulo 39
Minutos depois, Donatela fez um gesto com a mão e saiu em direção a porta de saída do prédio.
-- Finalmente -- disse Kristen, observando-a se afastar -- Vamos -- ela cumprimentou o porteiro pelo seu nome e atravessou o saguão.
Vicente respondeu com um sorriso e um movimento de mão, e, depois, perguntou sem sair de trás do balcão:
-- A senhorita precisa de ajuda?
Kristen virou o rosto em sua direção.
-- Não, obrigada. Apenas vim ver se está tudo bem.
-- Está tudo certo, senhorita Donati. Eu cuido pessoalmente do apartamento. Não precisa se incomodar.
Kristen olhou para Vera, irritada com a insistência do porteiro.
-- Eu vou dar uma porr*da nesse cara.
-- Calma, deixa ele pra lá. Só precisamos entrar e fazermos o que viemos fazer.
-- E o que viemos fazer? -- ela perguntou, em tom divertido.
-- Você vai ver.
Tomaram o elevador, e poucos segundos depois, Kristen abria a porta do apartamento e a fez entrar onde uma rajada bem-vinda de ar frio as recebeu.
Vera andou pela sala de estar enquanto Kristen ligava as luzes.
-- Você pode me trazer um copo com água? -- Vera perguntou em uma voz rouca.
Kristen foi até o armário de copos e abriu as portas de vidro chanfradas, retirou um copo e pegou uma garrafa de água da geladeira.
Vera a seguiu até a cozinha e sentou-se à mesa.
-- Vou fazer uma prece, Kristen. Junte-se a mim.
-- Só isso?
-- Como assim, só isso, Kristen? As preces pelos Espíritos que acabam de deixar a terra têm por fim, ajudá-los a se libertarem das ligações terrenas, abreviando a perturbação que segue sempre à separação do corpo. Mas é claro que a eficácia da prece depende da sinceridade do pensamento. As preces que partem realmente do coração encontram ressonância no Espírito a que se dirigem, e cujas idéias estão ainda em estado de confusão, como se fossem vozes amigas que vão despertá-lo do sono.
-- Você está dizendo que eu posso conversar com o espírito do meu pai?
-- As preces que partem realmente do coração encontram ressonância no Espírito a que se dirigem.
Kristen sentou-se à mesa.
-- Tudo bem, mas eu não sei nenhuma prece.
-- Só feche os olhos, concentre-se e deixe o coração participar -- ela disse e começou a orar: -- Deus Todo-Poderoso, que vossa misericórdia se estenda sobre a alma de Arthur...
Francesco atravessou as portas da delegacia e rumou até o balcão de informação.
-- Boa tarde, senhores -- ele falou, seriamente.
-- Boa tarde -- respondeu um dos policiais que estavam sentados atrás do balcão -- Em que podemos ajudar?
Francesco colocou as mãos nos bolsos e suspirou.
-- Sou o pai do Arthur Donati, gostaria de conversar com o delegado que atendeu a ocorrência.
-- Um instante, por favor. Vou verificar no sistema.
O policial que estava sentado na cadeira ao lado tocou de leve no braço do parceiro.
-- Não precisa pesquisar, eu sei quem é o delegado -- ele disse, olhando para Francesco -- Qual o nome do senhor?
-- Francesco. Francesco Donati.
-- Venha comigo, senhor Francesco.
Ansioso, ele acompanhou o policial até o final do corredor. Espiou para dentro de uma sala, vendo um senhor bigodudo sentado atrás de uma pilha de papéis e documentos que se encontravam sobre a mesa.
-- Pode entrar -- incitou o policial.
Francesco se aproximou da mesa. O delegado estava concentrado em um documento, o cabelo todo desgrenhado, os olhos arregalados.
-- Delegado? -- chamou, pois o homem não deu sinal de que perceberia a sua presença.
Ele levantou a cabeça e quase derrubou a pilha de papel de cima da mesa.
-- Ah, desculpe. Não sabia que tinha alguém aqui.
-- Tudo bem, delegado -- ele estendeu a mão para cumprimentá-lo -- Me chamo Francesco, sou o pai do Arthur Donati. O senhor que atendeu a ocorrência, não é mesmo?
O delegado estendeu a mão para o senhor Francesco gentilmente, e o aperto pareceu firme e seguro.
-- Sim, sim, fui eu -- ele balançou a cabeça, os olhos cansados -- Sou o delegado Santana. Sente-se, por favor. Alguma informação sobre o caso que queira saber?
-- Sim, delegado. Gostaria de ter acesso às câmeras de segurança do prédio.
O delegado franziu a testa e coçou o queixo.
-- Sinto muito, senhor Francesco, mas não será possível. Quinze câmeras do circuito interno de vigilância do prédio estavam desligadas. Foi detectado, naquela noite, um problema no circuito de tv.
Surpresa e confusão se refletiram nos olhos de Francesco.
-- Como assim? Do que está falando?
O homem suspirou.
-- Eu sei que é decepcionante, mas, com certeza, não tinha muita coisa a ser filmada naquela noite. Conversamos com o porteiro e ele nos garantiu que a noite estava bem tranquila até o momento do suicidio do seu filho. Apenas os moradores passaram pela portaria.
-- Droga! -- Francesco falou em tom bastante sério.
Kristen entrou no carro batendo a porta com violência.
-- Sabe, acho que você devia cuidar de sua vida. Por que não vai namorar e deixar esse negócio de espíritos, hein?
-- E quem te disse que eu não namoro?
-- Namora é? Coitado, então -- sem falar mais nada, ligou o carro, engatou a ré e deixou o estacionamento do condomínio rapidamente. Depois de algum tempo percebeu que sua irritação era descabível -- Desculpa, foi mal.
-- Hum -- foi o único som que saiu de sua boca.
-- Você tem certeza que o espírito do meu pai não está preso ao apartamento?
-- Tenho. Não senti a presença dele lá.
-- E agora, o que a gente faz?
-- Não sei, Kristen. Hoje à noite vou ao Centro Espírita pedir conselhos a Médiuns mais experientes. Tenho certeza que eles me mostrarão o melhor caminho.
Luciana deu os retoques finais na mesa e estava tirando a garrafa de vinho da geladeira, quando os amigos chegaram.
-- Posso ajudar em alguma coisa? -- perguntou Jefferson.
-- Pode pegar a maionese? Está no congelador.
Ele fez o que ela pediu sem comentários, mal olhando para o seu lado.
-- Que tal tomarmos o vinho na sacada, antes do jantar?
-- perguntou Luciana, tirando o avental.
-- Ótima ideia! -- respondeu Jefferson, segurando a porta da cozinha aberta, para ela passar -- O Rick já está lá.
Assim que chegou a sacada, Luciana deu dois beijinhos em Rick.
-- Vamos fazer um brinde -- disse Rick, enchendo sua taça de vinho.
-- Vamos brindar a quem? -- perguntou Jefferson.
-- É, a quem? -- também perguntou, Luciana.
-- Vamos brindar a nova namorada da Kristen -- Rick levantou o copo, fazendo um brinde, logo depois se sentou à frente de Luciana com uma leve expressão de cinismo no rosto.
Luciana parou com o copo no ar.
-- O que? -- ela perguntou, depois de alguns momentos de silêncio.
-- Rick, não começa -- pediu Jefferson -- Totalmente desnecessário isso.
-- Não, não. Pode falar Rick. Que história é essa da nova namorada? -- ela parecia transtornada pelo ciúme -- Quem é essa mulher?
Rick olhou para ela de modo enigmático.
-- É uma vizinha. A Kristen agora deu de andar pra cima e pra baixo com ela. Não sei o que estão aprontando.
O modo dele falar aumentou a tensão de Luciana.
-- Que absurdo! Não faz uma semana que nos separamos e ela já está com outra mulher? -- Luciana disse asperamente e tomou depressa um gole de vinho -- Esse era o amor que ela dizia sentir por mim? -- a expressão dela era assustadora. Mas logo depois aquela expressão de raiva, sumiu do rosto dela, só restando as linhas de amargura, em volta da boca -- O que eu estou dizendo. Com que direito eu critico as atitudes da Kristen, ela é uma pessoa maravilhosa e tem mais é que seguir em frente -- ela disse com meiguice.
-- Sério que você acha isso? -- os olhos de Jefferson a examinava com atenção, duvidosos e interrogativos.
Claro que não! Pensou, surpresa e um pouco confusa. Instintivamente, fez um gesto na direção do amigo.
-- Não vamos mais falar sobre isso -- ela levantou-se repentinamente e, bebendo o resto do vinho, de um só gole, perguntou: -- Estão com fome?
-- Eu estou -- respondeu Rick.
-- Tá certo, vou ver se o assado está pronto -- Luciana não precisava ir até a cozinha para olhar o assado, pois sabia que estava tudo pronto, mas tinha necessidade de fugir dali. Precisava respirar, se refazer da notícia. Infeliz, parou na porta da cozinha. Ela amava Kristen! E sabia que ela a amava, mas estava com medo.
-- Pare de agir como se fosse a Maria do Bairro! -- murmurou baixinho, e quase morreu de susto quando ouviu a voz de Jefferson atrás dela. Não tinha percebido os passos dele.
-- O que está dizendo?
-- Nada. Estava falando comigo mesma.
-- Eu a assustei? -- ele perguntou, entrando na cozinha.
-- Não ouvi os seus passos.
Rick entrou logo atrás dele.
-- Essa mulher que está com a Kristen...
-- Chega, Rick -- Jefferson colocou a garrafa de vinho na mesa e olhou bravo para ele -- Parece que tem prazer em fazer a Lú sofrer.
-- Eu só ia fazer uma fofoquinha básica.
-- Deixa ele Jefferson, não tem problema -- ela disse, sem se incomodar em disfarçar a irritação -- Pode continuar, Rick.
-- Então, a mulher é estranha, só fala em espíritos. É copo de água pra cá, oração pra lá, parece que a todo momento tem um espírito soprando na minha nuca. Cruz credo.
-- Que espírito ela está procurando? -- perguntou Jefferson.
-- Não sei, mas coisa boa não deve ser.
-- Parem de falar besteira e sentem para comer -- Luciana serviu a refeição e também sentou-se.
Tudo estava delicioso, e os meninos a cumprimentaram, o que a deixou muito feliz pois, ambos são ótimos cozinheiros.
Conversaram sobre a empresa, sobre a família do Rick e a do Jefferson.
-- Minha família nem sabe que eu moro no Rio -- contou Rick, passando o dedo pela borda do copo -- Mas não tô nem aí. Nunca se importam comigo.
-- Por que não os procura? -- perguntou Luciana -- As pessoas mudam, quem sabe eles nem se importem mais com as suas escolhas.
O silêncio dele mostrava que não concordava com ela.
-- Por que não telefona para os seus pais? Tenho certeza de que eles vão ficar contentes -- ela disse, levantando-se e começando a tirar a mesa.
-- Você não faz ideia de como são os meu pais.
Jefferson sentindo que o clima estava ficando um pouco desanimado, levantou-se da cadeira em um pulo.
-- Vou ajudar você -- ele começou a secar a louça -- Que tal pegarmos uma praia amanhã? A meteorologia está dizendo que vai fazer um dia lindo!
Luciana balançou a cabeça.
-- Vamos sim, o Dudu está precisando sair um pouco de dentro desse apartamento, tadinho.
Kristen jogou-se no sofá, cansada.
-- Chega. As minhas energias já se esgotaram.
-- Você sabia que os espíritos obsessores sugam as energias, tomam conta de suas zonas motoras e sensoriais, inclusive os centros cerebrais (linguagem e sensibilidade, memória e percepção), criando, assim, doenças fantasmas de todos os tipos, mas causam também degeneração dos tecidos orgânicos, estabelecendo a instalação de doenças reais que persistem até a morte.
-- A minha ex namorada também me deixava assim, mas posso te garantir que ela não era um espírito obsessor.
-- Não brinque com isso -- disse Vera, com a feição séria.
-- Você que leva as coisas sérias demais. Não tem nenhum espírito aqui, se tivesse o Rick já teria visto. Aquela bicha se mete em tudo.
Vera sentou-se ao lado dela no sofá.
-- Onde será que o espírito do seu pai está preso? -- ela disse, pensativa.
-- Não sei, podemos tentar na empresa. O que você acha?
-- É possível, o espírito do teu pai pode estar tentando realizar as mesmas atividades de quando estava encarnado. Está repetindo os mesmos padrões de ação e comportamento de sua última existência.
-- Então, vamos até lá amanhã -- Kristen ficou em pé de um salto -- Estou com fome. Vou pedir um jantar maneiro pra gente. Tá dentro?
-- Claro. Também estou com fome.
Costumeiramente Donatela se deita por volta da meia-noite e, como tem o sono pesado, só acorda quando o relógio desperta, no dia seguinte, às dez para às 7h da manhã.
Lembrou que quando ela e Arthur estavam no auge do casamento, ele costumava acordá-la de madrugada para trans*r. Ele adorava trans*r meio sonolento, e Donatela não nega que também gostava. Aquela sensação de torpor misturada ao tesão a deixava bastante excitada. Mas, depois que ele conheceu a vagabunda, passou a dormir a noite inteira, um sono pesado feito um saco de batata. Exceto naquela madrugada.
O relógio do celular marcava três horas da madrugada, e ela acordou com uma sensação estranha, como se uma pessoa pesada estivesse sentada na beira da cama. Não apenas o colchão estava inclinado para baixo, mas também o edredom parecia estar preso sob alguma coisa e, como se não bastasse, a temperatura do quarto parecia ter caído para cinco graus. Tudo isso poderia ter uma explicação lógica, mas o que dizer da sensação de haver alguém sentando na beirada da cama? Isso a causou certo desconforto. Desconforto que evoluiu ao ponto de deixar a sua respiração ofegante. Donatela não queria despertar a atenção de quem lá estivesse, se é que realmente houvesse alguém ali. Procurou manter a calma e persistir no exercício de respiração profunda por uns instantes, e seu cérebro foi se oxigenando melhor, permitindo maior clareza nos pensamentos.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 20/05/2024
Misericórdia eu saí correndo.
Eita, Artur está na casa de Donatela se lascou jararaca.
Mille
Em: 19/05/2024
Oi Vandinha
Está na hora da Donatela ter uma visita do Artur, ele não vai deixar em paz enquanto ela tiver na cabeça tirar o Dudu da Luciana.
Vera é doidinha espero que consiga ajudar a Kristen.
Olha que a cada vez mais convencida que a Donatela matou Artur, acho que ele descobriu que a dona o roubava, e também queria pedir o divórcio e assumir o filho.
Bjus e até o próximo capítulo
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