LÍVIA DUARTE

Depois que voltamos de viagem, decidimos contar para a nossa família sobre o nosso noivado. Foi muito bom ver o quanto todos estavam torcendo por nós. Almoçamos com Clara para lhe contar da novidade, ela ficou muito feliz. Ainda não tinhamos uma data certa, mas queríamos que nossos amigos soubessem da novidade. No meu trabalho, só contei para algumas pessoas, incluindo meu chefe que se mostrou empolgado com a notícia, principalmente porque eu não era de falar sobre a minha vida pessoal. Por fim, decidimos levar meus irmão, Cris e Karen para um passeio na Game Station, no Shopping, para matar a saudade e fazer um convite especial para eles. 

- Vamos na Autopista, mana? - Gabriel sugeriu.

- Não, primeiro vamos no Carrossel. - Gabi estava muito animada.

- Calma pessoal, nós vamos ter tempo de ir em todos os brinquedos. - Falei para que os dois não começassem uma briga.

- Que tal se eu, a tia Karen e o Gabriel fossemos na Autopista, enquanto a Lívia, a tia Cris e a Gabi vão no carrossel? - Kimi sugeriu.

- Acho uma ótima ideia. - Concordei.

Ajudei Gabi a subir no cavalo do Carrossel. Fiquei observando enquanto ela puxava assunto com a garota que estava ao seu lado.

- Eles estão crescendo tão rápido. - Falei melancólica.

- É verdade, mas continuam sendo os pirralhos mais fofos que eu já vi. - Cris disse.

- Eles sabem conquistar as pessoas.

- E você Lívia, planeja ter filhos? - Aquela pergunta que veio do nada me fez quase engasgar, mas disfarcei.

- A Kimi vive falando que quer enxer a casa com muitas crianças. Eu não quero tantos, se tiver apenas um, já ficarei satisfeita.

- Então você já conversaram sobre isso?

- O Tempo todo, até mesmo quando éramos apenas melhores amigas. Kimi sempre foi apaixonada por crianças. As vezes o fato da gente já ter sido amigas por muitos anos, ajuda bastante a nossa relação como casal. Porque eu sei tantas coisas sobre ela que sinto como se estivéssemos em uma relação amorosa a mais tempo e a nossa interação se torna bem mais fácil. Me sinto a vontade quando estou com ela.

- Deve ser muito bom, comigo e com a Karen é um pouco diferente. Eu sinto como se a tivesse conhecendo pela primeira vez. Porque quando ela foi embora, éramos adoslescentes. Então teve um intervalo bem grande de tempo para mudanças, sei que eu também mudei muito.

- É como conhecer uma nova versão da pessoa que um dia você amou. - Concluí.

- Isso mesmo.

- Mas deve ser bom também. Porque é normal que os nossos gostos ou preferências mudem dependendo da fase em que estamos vivendo. Acho que o que importa é o sentimento que vocês têm uma pela outra.

- Sim, você está certa. E no momento eu estou completamente apaixonada por ela. Me sinto uma louca por amar tanto alguém, é como reacender um sentimento que mantive guardado por muito tempo. Quando estou com ela, me sinto uma adolescente novamente.

- Ah Cris, isso é perfeito. Então vocês estão finalmente em sintonia? - Perguntei.

- Digamos que sim, ela é a única que entende todos os meus medos e me ajuda a melhorar. É bom depois de tantos anos solteira, ter alguém para compartilhar a minha vida. E eu gosto que seja a Ana, mais uma vez.

- Uhhh, você está caidinha. - Brinquei.

- Tudo bem, eu confesso que sou uma soldada caída.

Depois de alguns minutos encontramos a minha namorada, meu irmão e a Ana Karen. Decidimos que dessa vez iríamos no Jump Station, assim todo mundo paderia brincar. Foi muito divertido se descontrair e voltar a ser criança. Passamos a tarde curtindo os jogos e depois fomos até a praça de alimentação lanchar. Pedimos saduíches, sorvetes, refrigerantes e muitas outras coisas gostosas.

- E se a gente fosse assistir um filme? - Karen falou empolgada para os meus irmãos.

- Sim, tia Ana, é uma ótima idéia. Vamos mana? - Gabriel olhou dengoso para mim.

- E quando é que eu consigo dizer não para vocês em?

- Ei, vamos assistir um desenho. - Kimi estava mais empolgada do que as crianças.

- Ah não, vamos assistir um filme de terror. - Cris falou.

- Não gosto de terror, eu voto no desenho. - Kimi insistiu.

- Você é uma medrosa Yana.

- Chefe Yana para você, Cris. - Kimi provocou.

- Ah vai tomar no...

- Ei gente, parem de brigar. Quem vai escolher o filme são as crianças e não vocês. - Ana Karen teve que intervir para evitar uma briga e chingamentos na frente dos meus irmãos.

- Mas amor! - Cris disse.

- Mas amor... - Kimi lhe remendou. 

- Meu Deus, vocês parecem duas crianças. - Falei revirando os olhos enquantos meus irmão riam. Kimi apenas me lançou um olhar divertido. - Qual filme vocês querem assitir? - Perguntei aos gêmeos.

- Meu malvado favorito. - Pela primeira vez eles entraram em um consenso. E Kimi implicou mais ainda com Cris, pois tinha vencido.

- Ótimo, eu e a tia Ana vamos comprar os ingressos e a pipoca esperem aqui. - Puxei Ana comigo, porque sabia que nossas namoradas iriam continuar com a discussão e eu queria salvá-la daquela situação.

- Meu Deus, acho que elas não vão parar de brigar tão cedo. - Ana Karen disse, enquanto aguardávamos a nossa vez.

- Como pode, elas sere tão mulherão em um momento e depois ficarem de birra que nem duas crianças? - Falei.

- Bem-vinda ao clube, eu também não sei. Mas a verdade é que eu amo esse jeitinho da Cris. Sei que minha vida nunca será monótona. - Karen falou toda boba.

- Nossa, vocês são muito melosas. E aquela história de ir devagar? - Brinquei. Mas também queria saber as intenções de Karen.

- Isso só durou até ela ficar com ciúmes.

- Sério, me conta mais. - Falei curiosa.

- Ela ficou possessa quando viu uma mensagem de uma ex-ficante no meu celular.

- Nossa, eu ficaria puta se a Kimi aprontasse uma dessa.

- Calma aí, essa menina não importa em nada pra mim. Fiquei com ela só uma vez, mas ela é surtada e fica mandando mensagem. Cara, você é ciumenta igual a Cris.

- Você ainda não viu nada. Ver se bloqueia essa menina.

- Eu já fiz isso. Não quero que nada atrapalhe o que estou construindo com a Cris. E vamos logo pegar esses ingressos, antes que você me mate aqui mesmo. - Comecei a rir do comentário da Karen.

- Ei, não faz nenhuma gracinha com a minha amiga, se não vou te matar mesmo. - Ameacei.

- Sim senhora. - Seu tom era de brincadeira, mas também tinha um pouco de medo. O que era perfeito, porque eu estava falando sério.

Todo mundo curtiu bastante o filme. Aproveitei para ficar pertinho da minha namorada e criar desculpas para segurar a sua mão. Era tão bom poder compartilhar esses momentos com ela.

Gabriela e Gabriel estavam sentados no meio. E ao lado deles estavam Cris e Ana Karen. Estava sendo uma tarde maravilhosa. Era engraçado como a alguns anos atrás a minha vida estava totalmente diferente. Não conhecia meus irmãos, não tinha tantas amigas e principalmente, não namorava a minha melhor amiga. Também não tinha conhecido o meu pai, que fazia parte das minhas lembranças diariamente. Não nutria mais raiva dele, agora tudo que tinha ficado era saudade e carinho, fora o fato que ele me deu lindos irmãos. É claro que ainda estava trabalhando nas cicatrizes que a nossa relação causou, mas aos poucos tinha parado de me sabotar por conta disso.

- Está tudo bem com a minha noiva? - Kimi falou perto do meu ouvido. Ela adorava me chamar assim agora.

- Sim meu amor, só estou pensando em como é bom estar aqui com vocês. - Encostei minha cabeça em seu ombro.

- Eu também estou adorando nosso passeio. - Lhe dei um selinho e acariciei a sua mão, enquanto voltava a prestar atenção no filme.

Depois do cinema, Kimi insistiu em dar uma olhada em algumas lojas. Ela acabou comprando várias coisas para os gêmeos e se duvidasse, ela já estava negociando a compra de uma loja também. Tinha conversando com meu psicólogo sobre como me sentia inferior as vezes e estava trabalhando isso dentro de mim, porque não era saudável. Agora, já não deixava que aqueles pensamentos me deixassem triste, estava enxergando como algo bom e aceitando que era a forma da Kimi demostrar o seu amor.

- Amor, vamos naquele restaurante que você gosta? - Sugeri assim que deixamos meus irmãos em casa. Ainda tínhamos que conversar com Karen e Cris.

- É uma ótima ideia, amor. Meninas, tudo bem pra vocês?

Elas concordaram e seguimos para o restaurante. Chegando lá, pedimos uma mesa reservada e fizemos os nossos pedidos. Era a primeira vez que fazíamos aquilo, então estava um pouco nervosa. Mas deixei com que Kimi conduzisse a situação.

Conversamos bastante sobre a viagem, sobre como estavam as coisas entre Cris e Karen, e também falamos sobre o trabalho. Descobri que nossas amigas estavam oficialmente namorando, elas tinham contado paras o seus pais e a mãe de Cris ficou muito feliz, mas o pai de Karen ainda estava processando a ideia, ele era um pouco antiquado e não se mostrou tão receptivo. Pensei em como tinha sorte de ter uma mãe que me apoiava em todas as minhas decisões, porque essa não era a realidade de todo mundo.

- Meninas, temos um convite para vocês. - Rapidamente dei atenção ao que Kimi estava falando. - Como vocês já sabem, eu e Lívia, estamos noivas e ficaríamos muito felizes se vocês aceitassem ser as nossas madrinhas?

- Ah meu Deus! - Cris falou empolgada. - Estou tão feliz por vocês, é claro que aceito. Ficaria até ofendida eu não fosse chamada em, não esqueçam que fui a cupida dessa relação.

- Não tem como não ser você Cris, te adoramos. - Falei. - Mas e você Karen, aceita?

- É claro meninas, estou honrada. Já está marcada a data do casamento?

- Estamos vendo a possibilidade de ser em Maio. - Kimi falou empolgada. Eu e ela discutimos bastante sobre uma data. Porque, para ela poderíamos casar amanhã, que estava tudo perfeito. Mas eu queria prepara tudo, queria participar ativamente de cada escolha para a nossa festa e lua de mel. Queria curtir um pouco essa fase de noivado. Então, Maio foi a data mais longe que consegui negociarmos com minha noiva.

- Daqui a quatro meses? - Cris se surpreendeu. Viu, ela entendia o meu lado. 

- Se dependesse da Kimi, casaríamos amanhã. Foi a data mais longe que consegui. - Dei um leve soquinho no ombro da minha noiva. 

- Como posso esperar tanto tempo, se nos amamos e finalmente consegui fazer com que essa mulher aceitasse ficar comigo?

- Você tem um ponto amiga. Pra quê esperar, não é mesmo? - Karen disse. 

- Olha amor, a Karen concorda comigo.

Foi sem intenção, mas eu e Cris reviramos os olhos ao mesmo tempo. Quando percebemos, começamos a rir. 

O resto do jantar foi divertido. Nossas amigas perguntaram sobre como foi o pedido, e no quê elas poderiam ajudar para os preparativos do casamento. Depois falamos sobre a relação das duas, elas tinham dado mais alguns passos em seu relacionamento. Tinham começado a namorar e finalmente, tudo estava se encaixando. 

YANA KIMI

Naquela manhã, cheguei cedo na empresa, como já era o meu costume. Tinha muito trabalho a fazer, e também queria adiantar algumas coisas para que até o final da semana conseguisse agendar uma reunião com a cerimonialista do casamento. Lívia estava bem mais ansiosa do que eu, e isso era quase impossível, porque eu estava muito empolgada.  Ela passava o dia me mandando fotos de decorações, bolos, lembranças, convites e qualquer coisa que ela achasse fofo, isso incluía vídeos no tiktok e instagram. Não podia negar que estava adorando tudo aquilo, era um sonho pra mim ter Lívia como minha mulher, desde que a conheci essa foi a minha vontade. Eu só queria mimá-la e fazer todas as suas vontades. Quem poderia imaginar que eu estava prestes a me casar com a garota dos meus sonhos. 

- Licença Yana, posso entrar? 

- Claro Samantha. O que temos para hoje?

- Daqui a uma hora a senhorita precisa visitar o espaço onde vai ser realizado o evento para a empresa Vasconcelos eletronic.

- É verdade, vou só finalizar algumas coisas aqui, mas já pode confirmar com eles que estarei lá. - Samanthan continuou parada me olhando. - Mas alguma coisa, Sam?

Ela sentou na poltrona a minha frente e me encarou sorrindo. 

- Faz tempo que não conversamos sobre nada além de trabalho. - Disse suavemente. - Seria bom sair para espairecer um pouco e conversar.

- No momento temos muito trabalho, mas podemos marcar para descontrair um pouco. Seus colegas de setor iriam ficar animados. - Sugeri.

- Não estou falando de todos, pensei em algo mais íntimo. - Ela ficou em pé rodeou a mesa e se aproximou da minha cadeira. - O que acha? - Já estava acostumada com o jeito galante de Samantha, mas era a primeira vez, desde que começou a trabalhar pra mim, que ela dava em cima de mim descaradamente. Me levantei e coloquei uns bons metros de distância entre a gente. 

- Samantha, o que está fazendo?

- Só achei que iria gostar de se divertir um pouco, ainda mais agora que fiquei sabendo sobre seu mais novo status de relacionamento. Deve ser estressante ter que lhe dar com tanta pressao. Posso te ajudar a relaxar um pouco. - Fiquei chocada com a sua falta de noção.

- Não sei que tipo de pessoa você acha que eu sou, mas a partir de hoje é melhor manter uma posição profissional quando fala comigo. - Falei friamente, mas ela não se abalou.

- Vamos Kimi, onde está aquela garota espirituosa e divertida que eu conheci? Você pode ter tudo que quiser, basta me pedir. - Ela estava passando de todos os limites, e eu estava começando a ficar chateada. 

- Olha, Samantha. Eu não sei quando você se achou no direito de pensar que podia ter essa liberdade comigo. Sempre fui gentil com você, mas não terei um pingo de gentileza se você continuar a se colocar numa posição que eu não permiti. Olhe para si mesma e haja com mais respeito com a sua chefe, respeite a minha mulher e respeite seu ambiente de trabalho. 

- Yana, porque dá tanto valor a uma qualquer como a Lívia? Ela não te merece. É uma aproveitadora..

- Cala a boca Samantha. Se não quiser perder o seu emprego é melhor se retratar. Não vou permitir que fale assim da minha mulher.

Pela primeira vez ela ficou calada, então continuei a falar. 

- Eu amo e idolatro a Lívia, ela sempre foi a mulher dos meus sonhos. É melhor você começar a beijar o chão por onde ela pisa e nunca mais pensar em tratá-la com indiferença ou desrespeito. Eu sempre soube dos desentendimentos de vocês, mas não quis me envolver, mas não vou permitir que a ofenda.

- Você não ver que a Lívia faz de tudo para deixar as pessoas contra mim, olha como ela conseguiu te enganar. - Minha secretária estava a ponto de chorar. Em outro momento, eu poderia até me deixar enganar pelo seu drama. Mas agora as coisas estavam bem claras pra mim.

- Pelo visto você não vai parar de tentar colocar a minha mulher como a vilã da história. Pois, bem. Não tenho outra escolha a não ser te demitir.

- Espera Yana. Eu preciso desse emprego.

- Você devia ter pensado nisso antes de dar em cima de mim e ofender a Lívia. Saia da minha sala e vá direto para o RH, seus assuntos são com eles agora. 

- Yana, você tem razão. Eu me excedi um pouco. Prometo que essa situação não vai se repetir, mas por favor. Não me demita.

Eu queria que ela saísse da minha frente, estava com raiva pela maneira como ela falou da minha noiva. Mas sabia que Samantha ajudava a sua família e esse emprego era a única fonte de renda deles. 

- Tudo bem, mas volte para a sua área de trabalho e eu não quero mais ter que chamar a sua atenção sobre isso. Vou te dar apenas uma advertência verbal desta vez. 

- Obrigada Yana. - Ela deu meia volta e saiu da minha sala. Estava totalmente desconfiada com ela agora e pensava seriamente em mudá-la de setor.

Fim do capítulo