Capitulo 8- De paralelo em paralelo se cria um elo
Fiquei a aula inteira desenhando coisas aleatórias no caderno. Não estava com a mínima vontade de nada. Desviei por segundos meus olhos para a porta que estava fechada, mas tinha um vidro permitindo ver o corredor. Vi um vulto de cabelos negros passar pelo corredor, era Regina. Sem pensar muito peguei o pequeno saco e sai da sala para ir ao banheiro. Fechei a porta, ela estava indo para a cantina aparentemente.
— Regina! — Gritei no corredor, caminhei rápido. Ela virou o corpo para trás, estava séria. Sorriu largo ao me ver. Era sempre assim, sorriamos instantaneamente ao nos vermos, parecia uma espécie de código.
— Ei! Deveria estar na aula.
Nos aproximamos, eu nunca sabia como cumprimenta-la. Ela se aproximou e me deu um breve abraço, confesso que foi estranho. Mas nada falei.
— Ham, eu fiz algo pra você de aniversário.
Ela juntou as sobrancelhas em sinal de confusão. Entreguei o pequeno pacote a ela, pegou e abriu.
— Foi você quem fez? — sorriu.
— Sim— mordi o lábio inferior, fazia isso quando estava nervosa. Ela me encarou. Seus olhos ficaram encarando meus lábios, e subiam para meus olhos, mas logo ela tratou de desviar e encarar o corredor. O que foi isso afinal?
— Obrigada menina. Chegou na hora certa, estou indo tomar meu café.
— Posso te acompanhar? — disse sem pensar.
— Mas e sua aula?
— Pego as anotações com a Rubs depois. Preciso de um café.
— Ótimo vamos.
Como se fosse a coisa mais comum do mundo, caminhamos lado a lado. Nos encaminhamos até a cantina.
— Como está passando seu aniversário Regina?-- Ela suspirou pesada.
— Bem. Ontem tentei ficar em casa mas minha mãe e meu irmão não permitiram essa façanha, quando vi estavam meus colegas de trabalho e familiares na casa de minha mãe, foi tenso. Mas no final me diverti. Hoje nenhuma surpresa, o que agradeço, mas o dia ainda não acabou.
— Que bom, que bom que se divertiu, eu quis ter lhe desejado parabéns melhor no shopping, mas não quis atrapalhar seu encontro, afinal seu aniversário é hoje também né?— disse envergonhada.
— Meu encontro? — disse confusa
— É, o tal de Jonas. É seu namorado ou algo assim né ?
Chegamos à cantina, Regina sorria desta vez.
— O que te faz pensar que ele é meu namorado? — sorriu
Fiquei vermelha, tirei suposições.
— Me desculpe, eu não tinha direito de...
— Calma Elizabeth! Apenas uma curiosidade — sorriu meiga.
Chegamos à máquina de café, pegamos dois cafés e nos encaminhamos para fora da universidade, fomos em direção a pequena praça com bancos e árvores que havia ali.
— É que... não sei foi a primeira coisa que me veio à cabeça.
Ela sorriu. Nos sentamos, ela cruzou as pernas. Regina estava com uma saia social cinza lápis, camisa preta de cetim com alças e um cardigan cinza também.
— Jonas é meu irmão por parte de pai.-- Ela bebericou o café, abriu o pacote que continha o pequeno cupcake e mordiscou.
.— Vocês não se parecem.. — eu disse mirando a paisagem, caiam folhas, estávamos no outono, o que dava uma bela paisagem.
— É verdade, minha mãe é latina, meu pai era alemão.
— Era? — a encarei.
— Sim, ele faleceu quando eu era adolescente ainda. Jonas veio morar com minha mãe e nosso pai quando era pequeno, meu pai havia criado sozinho quando nossos pais se conheceram, foi instantâneo a afinidade, então depois eu nasci, ele é meu irmão mais velho.
— Entendo. Quantos anos você tem?
—Não se pergunta isso a uma dama! —Ela gargalhou.
A risada dela era contagiante.
— Ah vamos lá! Juro que guardo segredo.
— Tenho 33 anos .
— Genética boa. — sorri sem graça.
— É! Devo concordar.
— Então você tem só um irmão?
— Não, tem mais uma irmã, a Clara. Ela tem 22 anos. Jonas tem 37.
O clima estava “confortável entre nós”, eu sentia que ela tinha coisas mais profundas a dizer, mas talvez ainda não queria falar sobre aquilo; mas eu também sentia um conforto silencioso ao estar com ela em um banco de praça compartilhando coisas pessoais.
— Gostou do cupcake? — Perguntei distraindo-a.
Ela sorriu. Parecia entender o que estava acontecendo.
— Está ótimo. Você cozinha bem, foi o melhor presente que ganhei.
— Tá falando isso para eu me sentir melhor? — Perguntei sorrindo.
— Não. — disse séria. — Você foi a única pessoa que me deu um presente caseiro, todo mundo comprou algo, eu não gosto de presentes comprados.
Regina disse tão seriamente, que me causou vertigens. Eu acertei em cheio então
--Fico... fico feliz em ouvir isso.
— Que dia você faz aniversário!? — perguntou bebericando seu café.
— Mês que vem...
— Setembro jura? O que quer ganhar?— Perguntou- me.
Olhei sinceramente para ela, eu deveria responder que gostaria de ganhar minha crush de presente? Sorri internamente.
— Que tal um presente caseiro?
— Eu... eu não acho que seja boa em fazer presentes caseiros Liz...—jogos os cabelos para o lado, pendendo a cabeça, apoiando em sua mão.
Ela havia me chamado pelo apelido? Não era comum... estava me surpreendendo com essa quase nova Regina diante de mim.
— Qualquer coisa que você fizer sei que se saíra bem. — Sorri sem mostrar os dentes.
— Pensarei em algo. Mas agora acho que precisamos voltar, logo tenho aula a dar...
— Certo, tens razão. --- Nós levantamos. Ela sacudiu um pouco das migalhas que estavam em seu cardigan, ajeitou os cabelos. Eu apenas observava, Regina parecia ser uma mulher muito gentil e amável, pelo que entendi solteira, não fazia sentido pra mim. Mas isso também não era da minha conta, não é? Caminhamos em silêncio para dentro da universidade.
—Obrigada.
Olhei para ela esperando o motivo daquele agradecimento.
— Pelo que exatamente ?— Perguntei.
— Por me fazer sentir bem, quando eu estava começando a me sentir mal. Você é sensível, tão sensível a ponto de perceber exatamente o que as pessoas sentem, mesmo sem falar. Obrigada também por dispor de 20 minutos do seu dia para passar comigo no meu aniversário.
Fiquei parada no meio do corredor, um pouco confusa com aquelas palavras.Ponto para ela, me desconcertava de uma forma, impressionante.
— De nada, eu acho.
Ela saiu caminhando em direção a sala dos professores. As palavras dela ficaram martelando em minha cabeça o resto da aula, assim que entrei me aquietei em minha mesa, olhando para fora e pensando, e na aula, não prestei atenção na verdade. Rubs me observava de longe, sabia que logo teria que lhe dar satisfações. Agora não queria pensar nisso, eu estava realmente pensativa. O encontro de hoje cedo com Carolina mexeu muito comigo, eu tentava a todo custo descobrir palavras nas entrelinhas que ela pudesse ter dito, mas não conseguia raciocinar direito. As palavras gentis de Regina confesso que detiam 40% da minha atenção nesse momento, mais do que deveriam.
Fim do capítulo
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