Capitulo 5- Uma sadomasoquista Feliz?
Passei o dia trabalhando abobadamente por ter recebido meia palavra dela. Nem ligava para os comentários de Rubs, eu estava esbanjando alegria mesmo, imaginem o amor platônico de vocês, trocar meia palavra com você se retratando! Incrível! Sim, eu me sentia incrível mesmo.
Rubs havia subido para terminar de ajeitar o estoque, e eu estava limpando as mesas, após o almoço estava vazio. Até que alguém entrou.
Assim que meus olhos viram a figura, sorri espontaneamente.
--Ora, acho que estou sendo seguida! –disse em tom de brincadeira
--Em minha defesa, não sabia que trabalhava aqui! –Regina se manifestou.
--Por suposto que não! Nunca te vi aqui Professora.
--Ai não, Professora?! Apenas Regina!
--De acordo, então Regina, o que eu te traz aqui?
--Na verdade, eu estava saindo da universidade, quando meu carro furou o pneu, estou esperando o guincho, e para não ficar na rua entrei aqui por um café –disse se sentando em uma mesa.
--Sim...entendi, bem, vou te preparar minha especialidade, se me permite.
--Além de prestativa com moças enguiçadas com livros no carro, ainda sabe fazer café? Um achado! –ela disse sorrindo.
Sério, eu não estava interessada nela nem nada do tipo, mas a mulher era muito simpática, ouso dizer que não deve existir alguém que a odeie. Ela me deixava desconcertada.
--Você é muito contagiante ! –disse sem pensar
--Como assim? –Perguntou franzindo seu lábio.
Entreguei seu café, tomando a ousadia de sentar de frente para ela na mesa.
--Alegre, simpática, bem humorada, em dois dias que te conheço, ainda não te vi de mal humor! –falei
--Ah, procuro levar a vida da forma mais leve possível Elizabeth. Já há muitas pessoas de cara fechada por aí, digamos que estou aqui pra equilibrar o universo —disse ela piscando.
--É—disse me lembrando do triste episódio com minha crush.
--O que houve?
--Nada só...nada não –disse suspirando.
--Diga-me... você trabalha aqui durante o dia todo?
--Por suposto, trabalho até a hora da faculdade, subo, me arrumo e vou.
--Você mora aqui então? –Perguntou Regina
--Sim, minha família mora em Flora em São Paulo, moro com minha madrinha aqui.
--Deve ser bem puxado, mas admirável, muitas pessoas não teriam a metade do seu empenho.
--Não esqueça de adicionar salvadora de professoras a sua lista! –disse piscando a ela.
--Você é estranha menina! Mas tão humorada quanto eu!
Ela se levantou, deixou algumas moedas na mesa, pegou sua bolsa.
--Até mais então Liz!
Liz? Sorri pelo apelido.
Ela saiu, e fiquei olhando, porque eu não poderia ter me apaixonado por ela? Ela era muito simpática. Pf acorda Elizabeth, até parece que ela ia querer alguma coisa comigo! Mal a Carolina quer, quem dirá ela.
Rubs se aproximou de mim, estava atrás do balcão olhando a cena de longe.
-Olha, se tu não pegar, eu quero! É sério Liz!
--Você pode parar de dar em cima da Regina? Além do que ela parece Hard Hétero.
--Ah tá! Falou a pessoa que ta crushando uma professora horrível sem noção, sem brilho, sem nexo, e possivelmente hétero também.
--A Carolina não é nada disso não. Você pode parar de pensar tão mal dela?
--Ta. Mas o que a Regininha queria? Te convidou pra sair?
--Não, ela... na verdade ela veio porque furou o pneu do carro, e entrou aqui por acaso.
- Por acaso é? Sei...- disse desconfiada...
Voltamos a trabalhar, terminamos o trabalho e subimos para fazer o resumo da aula de ontem.
Passamos parte da noite estudando, e finalizando com sucesso, amanhã mesmo deixaria o escaninho dela.
*Escaninho- pequeno armário na sala dos professores com o nome de cada um deles, os trabalhos dos alunos das universidades são colocados ali.
Deitei em minha cama, liguei meu MP3 em uma estação qualquer e estava tocando uma música extremamente romântica, do estilo que gosto, mas a letra parecia uma pequena indireta para o meu sofrimento platônico, daquelas que você deita na cama e fica pensando na pessoa que com certeza não pode ter.
Bom acho que é a vida comendo pipoca em uma poltrona bem confortável, dizendo que Elizabeth vai sofrer por um amor platônico. No caso Eu.
Virei para o lado, com essa música dos infernos na cabeça, eu só podia ser sádica, e a única pessoa que ouvia uma música romântica, e a transformava em triste.
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O dia amanheceu ensolarado, diferente do dia anterior, acordei 05 da manhã, coloquei uma legging cinza chumbo uma camisa branca e tênis da nike pretos, sai da padaria, e fui correr, com meus fones, baixei a música de ontem á noite e ouvia. Geralmente eu era assim, descobria uma nova música, e a ouvia até estourar os tímpanos. Decidi transforma-la em minha mente em feliz. Eu deveria parar de atribuir as coisas a Carolina...
Que nada, eu era uma sádica bem conformada.
Corri 10 quadras, cheguei às 06 da manhã na padaria, corri subir e tomar um banho e me arrumar, Rubs olhou a cena atenta e boquiaberta.
--Desde quando você corre?
--Desde hoje? Preciso ocupar a cabeça apenas.
--Hum, tá fazendo os pensamentos correr da crush, ou ta fazendo isso pra ficar em forma pra alguém novo?
--Bem que eu queria..E alguém novo? –perguntei confusa
–Sim, começa com R e termina com uma gostosa simpática.
–Para com isso, é falta de respeito, sabia? –falei envergonhada.
–Hmm, defendendo a Regina agora? –falou sacana
Apenas maneei a cabeça negativamente.
--Falando no demo.. –Rubs apontou para a entrada.
Suspirei pesado, iria me dirigir para o balcão, mas Rubs colocou a mão em minha frente, e foi atendê-la.
Eu queria matar a Rubs, porque essa era definitivamente a melhor parte do meu dia.
Ela se aproximou do balcão, me fitou, fitou Rubs.
--Um café passado.
Pegou o celular, e fingiu que aquilo era super comum, trinquei as mãos. Como ela poderia não se importar? Eu estava tão errada assim? Tão errada em pensar que ela realmente sai daqui e nem lembra do meu rosto? Fugi para a cozinha.
Depois de 5 minutos Rubs veio atrás de mim, sentou na mesa comigo. Suspirou pesada e disse.
--Viu? Te mostrei que ela não se importa, e realmente achei que lá no íntimo do útero dela, ela se importasse ao menos com quem fazia o café dela, mas ela não está nem aí. Então vai por mim, esquece isso, e não para sua vida por ela.
Rubs beijou meus cabelos e saiu.
Tia Ellen entrou na cozinha, estava fazendo cookies, e me viu de cabeça baixa.
--Conheço essa cabeça baixa aí... O que houve? Mal de coração minha querida?
--É, ou cabeça. Acho que eu inventei uma pessoa na minha cabeça que não existe.
--Então desinvente! –disse titia
--O problema, tia... é que eu me apaixonei por essa ilusão.
Titia sorriu, pegou um cookie e deixou em minha frente, e disse.
--Às vezes a gente se apaixona por ilusões, porque é menos doloroso do que se apaixonar por pessoas de verdade. Pessoas de verdade, machucam de verdade.
Fim do capítulo
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