Capitulo 37
Nunca Te Amarei -- Capítulo 37
Deu-se um silêncio e depois Kristen explodiu:
-- Não.
-- Não? -- Jaqueline sentiu o ar ficar preso na garganta -- O quê?
-- Não, eu não vou aceitar a carta de demissão dela. Eu é que vou demiti-la.
Jaqueline ficou olhando para ela, observando-a.
-- Que importância tem isso? Melhor para a empresa, pedindo demissão ela só terá direito ao salário do mês proporcional; décimo terceiro salário proporcional; férias vencidas e férias proporcionais.
-- Não interessa, eu que vou demiti-la.
Jaqueline respirou fundo.
-- E o que eu faço?
-- Fala para o RH cancelar o pedido de demissão dela e depois demiti-la.
-- Que besteira! Pra que isso?
-- Deixa de fazer perguntas e faça o que eu pedi.
Jaqueline ficou em silêncio por alguns segundos, depois balançou a cabeça e saiu.
Luciana demonstrava uma calma que não sentia.
-- Eu posso arrumar outro emprego.
Matilde cerrou os olhos, preocupada.
-- Você sabe que não terá direito ao seguro desemprego, não é mesmo?
-- Eu sei, mãe. Eu sei tudo o que eu perdi pedindo demissão. Mas está feito, agora tenho que ir à luta. Não tem outro jeito.
-- Posso saber o motivo que a fez pedir demissão?
Luciana levantou-se.
-- Vou fazer café.
-- Me responde Luciana, qual foi o motivo?
Luciana se virou e ficou de frente para ela.
-- A filha do Arthur descobriu tudo.
Matilde deu um risinho irônico.
-- Eu sabia que cedo ou tarde isso aconteceria. Era óbvio.
Irritada, Luciana abriu a boca pronta para dar uma resposta malcriada à mãe quando o interfone tocou.
-- Deixa que eu atendo -- disse Matilde.
Luciana pegou uma chaleira elétrica do armário e encheu de água.
-- Você conhece alguém chamado Francesco? -- perguntou Matilde, da porta.
Luciana levou um susto ao ouvir o nome do avô de Kristen.
-- Conheço, porque?
-- O porteiro está perguntando se ele pode subir.
-- O senhor Francesco está aqui? -- perguntou num misto de surpresa e desespero -- Meu Deus! O que será que ele quer?
-- E eu que sei? -- Matilde abriu os braços -- Nem sei quem é esse homem.
-- Claro que a senhora não sabe. Pede para o porteiro deixar ele subir, mãe.
Sem fazer ideia do motivo para um bilionário ocupadíssimo querer falar com ela, Luciana sentia-se cada vez mais nervosa. Será que ele tinha novidades com relação a Kristen? Será que Kristen mandou algum recado? Não parava de pensar que estava sendo ridícula. A campainha da porta soou, fazendo-a enrijecer o corpo ainda mais, embora já estivesse o aguardando. Tinha o coração acelerado, a respiração curta, mas não se moveu. Porém, precisava atender a porta e receber o avô da Kristen. A campainha soou novamente e, dessa vez, Luciana deu um pulo e correu para abrir a porta.
-- Bom dia, senhorita Luciana.
Olhos verdes como folhas novas em um rosto muito amável a fitavam em expectativa. Ela sorriu e respondeu muito feliz.
-- Bom dia, senhor Francesco.
Ele sorriu.
-- Desculpa por não ter avisado. É que estava aqui perto então, resolvi procurá-la.
-- Sem problema algum, senhor Francesco. Apesar da surpresa, estou muito feliz pela visita.
-- Acredito que será mais fácil conversarmos se me deixar entrar -- disse ele, com expressão tranquila.
Luciana ficou constrangida.
-- É claro. Vamos entrar -- murmurou, indicando o caminho para a sala onde havia uma poltrona enorme para uso das raras visitas e uma mesinha lateral. Era suficiente. Luciana apontou para o sofá -- Sente-se, por favor -- ela observou que apesar da idade, o senhor Francesco era um homem forte e charmoso. O terno elegante que usava era mais apropriado para um evento social, mas isso não parecia incomodá-lo.
-- Com licença -- ele sentou-se e logo começou a falar -- Sei que não é muito elegante visitar as pessoas sem avisar e ainda mais a essa hora da manhã -- ele sorriu -- Mas como disse, estava passando pela redondeza.
Luciana balançou a cabeça.
-- Não se preocupe com isso -- ela sentou-se ao lado de Francesco -- A Kristen está bem?
-- Sim, claro, aquela cabeça dura está bem -- havia um leve traço de irritação na voz suave e sofisticada -- Já passou do estágio da negação, agora está no estágio da raiva. Nesse estágio nem é bom tentar dialogar. A pessoa pode ter raiva de si mesma, se estiver sofrendo, e concluir que a responsabilidade pela separação foi dela. Ela fica hostil, pode perder a confiança nos relacionamentos, sente-se injustiçada, vitimada e não merecedora de tanta dor. Outra situação comum é falar mal da ex para as pessoas, tentando provar para o mundo o quanto ela é ruim e ligar para ela a fim de tirar satisfações, ofender e até ameaçar.
-- O senhor parece conhecer do assunto.
Ele riu divertido.
-- Ah, minha filha, já perdi a conta de quantas vezes passei por esses estágios.
-- Devo me preocupar?
-- Com a Kristen? Não, não, com a Kristen não, mas com a Donatela... com essa sim você deve se preocupar.
Kristen franziu o cenho.
-- O que a senhora quer dizer com isso?
Donatela puxou a cadeira para trás e sentou-se encarando a filha.
-- Que não podemos deixar as coisas como estão. Você não pensa no bem estar do seu irmão? Essa mulher não tem a menor condição de criar uma criança. O seu pai não amava essa mulher, foi um golpe, ele foi enganado.
Kristen não concordava com a mãe, acreditava que o pai realmente amava Luciana. As fofocas não lhe despertaram interesse na ocasião de sua morte. Agora eram de suma importância. Eles viveram um grande amor e o pai morreu. E havia, obviamente, o fruto daquele amor. Ela viu quando o pequeno menino de cabelos loiros correu na direção de Luciana, chamando-a de mãe. Algo nela transformou-se em cinzas ao lembrar da cena. Não tinha como o pai não estar apaixonado por uma mulher tão maravilhosa.
-- O Eduardo tem direito a herança, Donatela. Em breve ela terá tanto dinheiro que poderá criar o Eduardo da melhor forma possível.
-- Você não vai impedir isso? -- ela fez uma carranca de preocupação -- Não vamos lutar pela guarda da criança?
-- O que? -- ela arregalou os olhos e olhou para a mãe. Donatela devia estar delirando -- O Eduardo é filho dela, ao contrário de você, Luciana é uma mãe que ama e cuida e não suportará perder-lhe a guarda.
-- Isso preocupa você?
-- Não quero ver o meu irmão em meio a uma batalha judicial de custódia. Permitir que o menino se torne um fantoche, apenas para satisfazer o meu desejo de vingança?
-- Não é isso. Quero que ele carregue o sobrenome Donati. Essa mulher enganou o seu pai e pretende enganar você também.
Se Donatela soubesse que ela já enganou. Kristen levou a mão à face. Tanta farsa. Tantas mentiras.
-- Obviamente, Luciana planeja requerer a herança e levar a criança para bem longe e esquecer que os Donati existem -- instigou Donatela.
Luciana provavelmente conseguiria esquecê-la, mas agora era ela que não podia esquecê-la. Pensou Kristen. Tinha um irmão cuja existência acabara de descobrir e uma namorada que foi amante do seu próprio pai. Não a perdoaria, como poderia?
-- Não vou ficar parada, esperando Luciana tomar metade da nossa empresa -- continuou Donatela.
-- Nunca pensei que ficaria -- sussurrou Kristen. O comportamento da mãe a preocupava, Donatela não costumava deixar os assuntos sentimentais afetá-la tanto, mas quando se tratava de bens materiais, ela virava uma fera. A revelação de mais um herdeiro parecia ter mexido com ela mais do que qualquer outra coisa nos últimos anos -- Por mais que eu esteja chateada com o que o pai fez, o garoto está feliz junto à mãe e eu não moverei um dedo para requerer a guarda da criança.
-- Pois eu vou provar que ela não tem condições emocionais de criar a criança. Grave isso!
Kristen ficou observando enquanto a mãe saia batendo a porta. Por mais que ela tentasse, não conseguiria tirar o Eduardo de Luciana. Não é fácil tirar a guarda de uma mãe. Pensou.
Luciana ficou assustada com a afirmação do senhor Francesco.
-- O que ela pode fazer contra nós?
-- Não sei, a Donatela é uma mulher muito perigosa e você deve ficar bem atenta.
-- Eu sei, o problema é que não faço ideia de que forma ela vai atacar.
-- Mamãe! -- a vozinha risonha fez Luciana virar a cabeça para ver Eduardo ainda de pijama entrar na sala, arrastando um boneco de pelúcia da Patrulha Canina e esfregando os olhos -- Mamãe, acordei -- murmurou o menino, apoiando-se nela. Os olhos verdes suavizaram quando ela pegou a criança no colo, sorrindo para a face sonolenta.
Francesco precisou se esforçar para controlar sua vontade de pegar o menino do colo e afagar aqueles cabelos loiros idênticos aos de Kristen. Aquele era o filho de Arthur e o seu neto, era impossível esconder a sua emoção.
Luciana viu a expressão na face do homem mais velho. Carinho. Conhecia bem aquele olhar.
-- Dudu, esse é o vovô Francesco.
-- Eu quero fazer xixi, vovô Francesco -- murmurou Eduardo -- Será que pode me levar ao banheiro?
-- Claro, meu netinho -- os olhos dele brilharam quando o menino abriu os braços para ser erguido. Francesco se inclinou e o tomou nos braços, abraçando-o bem apertado -- Me mostra onde fica o banheiro.
-- Por aqui vovô -- ele apontou na direção do corredor.
-- Vou levá-lo.
-- Obrigada -- agradeceu ela. Luciana os observou se afastar, contemplando a conexão imediata entre os dois.
Minutos depois, Matilde entrou na sala olhando curiosa ao redor.
-- Onde está o homem?
-- Estou aqui -- respondeu Francesco, colocando Eduardo no chão.
Matilde enrubesceu, envergonhada, mas mesmo assim não conseguiu deixar de admirá-lo.
-- Muito prazer -- ela estendeu a mão -- Me chamo Matilde, sou a mãe da Luciana.
Ele tomou a mão dela e a beijou com suavidade.
-- Muito prazer, Matilde. Me chamo Francesco.
Luciana achou fofo o cavalheirismo do senhor Francesco e a admiração da sua mãe.
-- O senhor Francesco é o pai do Arthur, mamãe.
Matilde a princípio ficou chocada, mas disfarçou muito bem.
-- Desejaria beber alguma coisa? -- sugeriu Matilde, por polidez -- Café ou suco de laranja?
-- Quero café, obrigado.
Francesco sentou-se ao lado de Luciana no sofá.
-- Sua mãe é uma bela senhora.
-- Sim, ela é muito bonita.
-- A vovó é bonita, mamãe?
-- Sim, querido, a vovó é muito bonita.
-- Mamãe, onde está o papai?
Aquela pergunta a pegou de surpresa. Luciana olhou para ele com carinho.
-- O papai morreu, meu amor. A mamãe já te falou.
-- Eu sei, mas ele não volta nunca mais?
Francesco passou a mão pela cabeça do neto.
-- Não, meu neto. Ele nunca mais voltará, mas isso não quer dizer que você não vai mais lembrar dele. Você tem fotos do papai?
-- A mamãe tem.
-- Então, sempre que sentir saudades, você pode olhar as fotos -- ele sorriu de forma compreensiva e carinhosa -- Você sabe desenhar?
-- Eu sei, tenho até lápis de cor que a mamãe me deu -- contou o menino.
-- Então, porque você não faz um desenho do papai pra mim ver?
Eduardo deu um pulo do colo da mãe.
-- Eu faço, eu faço.
-- Pode ir desenhar lá no quarto -- disse Luciana -- A mochila com o caderno e os lápis estão em cima da cômoda.
O menino saiu correndo, animado com a ideia de desenhar o pai.
-- O senhor tem jeito com crianças. Tenho uma dificuldade enorme em falar sobre morte com ele.
-- Conversar sobre a morte de um ente querido é um desafio para os adultos, e muitas vezes a conversa não se estende para as crianças. No entanto, esse assunto precisa ser abordado, pois o luto faz parte da vida de todas as pessoas. É importante ficar atento aos sentimentos dos pequenos nesses momentos difíceis e de perceber como isso os afeta. Por conta da falta de compreensão das crianças pequenas, o ideal é comunicar sempre de maneira clara que a pessoa morreu e não irá voltar. Para isso, você deve usar uma linguagem adequada à idade, sem entrar em detalhes desnecessários, exceto que ele pergunte, e evite metáforas. Dizer apenas que ela virou uma estrelinha ou foi para o céu, pode confundir a criança pequena, que tem um raciocínio concreto, então passa a acreditar que a pessoa só está em outro lugar de onde é possível retornar. Desenhar ou escrever uma carta agradecendo os momentos vividos também são formas de assimilar aos poucos a morte.
Matilde vinha entrando com uma bandeja. Luciana foi ao seu encontro.
-- Preparei um café reforçado -- disse Matilde, depositando a bandeja sobre a mesa.
-- Não tenho fome -- respondeu Luciana.
-- Mas você deveria se alimentar bem, de manhã -- disse Francesco -- O café da manhã é a refeição mais importante do dia.
Luciana riu.
-- Isso parece conversa de mãe.
-- E ele tem toda razão -- Matilde fez questão de apoiar o senhor Francesco -- Quer torrada, senhor Francesco? Ovos?
Matilde estava encantada pelo senhor Francesco, observou Luciana, sufocando uma risadinha.
Leticia olhava incrédula para o papel que suas mãos trêmulas seguravam. Seus olhos iam do pequeno pedaço de papel para o rosto de Donatela, com incrível rapidez. Estava pálida e se recusava a acreditar na quantidade de zeros escritos naquele documento.
-- Não entendo, sra. Donatela. Quando a senhora telefonou me chamando para a sua sala, pensei que fosse me solicitar os documentos do mês passado.
O sorriso de Donatela se alargou, e Letícia fitou com olhos confusos a mulher sentada atrás da mesa, na cadeira de vice -presidente da construtora.
-- O que você achou desse valor?
-- Mas, isto aqui é real?
-- Posso lhe assegurar que esse valor é absolutamente verdadeiro -- declarou Donatela -- E será seu, se você quiser, é claro.
Fim do capítulo
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Em: 05/05/2024
Boa noite, Vandinha!
Donatela não consegui fazer a cabeça da filha para brigar judicialmente pela guarda do Dudu. Mas, ela não desiste, busca aliar - se a Letícia, secretaria de Armando, para derrubar Luciana, e para isso oferece um valor exorbitante, que vai ser difícil não aceitar.
Essa mãe de Kristen é extremamente vil, apegada ao dinheiro. Defende que o dinheiro de Arthur pertence unicamente a sua filha, não aceitando outro herdeiro.
Essa história de querer a guarda do Dudu é apenas para desistabilizar Luciana e manter o controle sob os bens que pertencem ao filho da Lu, por direito.
Até o próximo!
Marta Andrade dos Santos
Em: 03/05/2024
Essa jararacuçu vai pegar pesado.
Se prepara Luciana que vem chumbo grosso.
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