Capitulo 36
YANA KIMI
Depois que o final de semana terminou, voltamos para a nossa rotina. Deixei Lívia em casa e ela passou a manhã me mandando mensagem se gabando de como tinha sido genial pedir para Karen levar Cris para casa.
Namorada ♥️
Amor, elas estavam tão fofinhas se abraçando. Somos ótimas cupidas. 10:38.
Kimi
Ainda não acredito que ficamos como duas crianças espiando pela janela a vida das nossas amigas. 10:38.
Namorada ♥️
Foi por uma boa causa. Agora tenho certeza que elas vão se resolver.
10: 39
Lívia com seu jeitinho meigo, sempre me fazia sorrir. Estava torcendo para que Karen e Cris se acertassem. Eu mais do que ninguém sabia como era bom ter a chance de estar com a primeira pessoa que fez meu coração se apaixonar. E cada dia que passava com Lívia, só me fazia ter certeza que ela era a pessoa certa para mim.
***
A empresa estava numa correria hoje. Algumas pessoas seriam promovidas, e meu pai oficialmente deixaria seu cargo na presidência e passaria para mim. Me sentia nervosa, porque era uma grande responsabilidade. E além de tudo, ainda tinha meus tios e primos para criticar a escolha do meu pai. Júlio era o pior de todos, ele estava possesso desde a nossa última reunião. Toda vez que nos encontrávamos era para trocar farpas.
- Está pronta filhinha, vamos até ao salão principal. Todos os funcionários estão esperando. - Meu pai apareceu no meu escritório. Respirei fundo e o segui. Toda a empresa estava ali, meus tios me olhavam com desdém. Os ignorava e fingia que aquela situação não estava me afetando. Tentava me apegar nas outras pessoas presentes, eles realmente pareciam felizes com a novidade.
Depois das formalidades, recebi muitos cumprimentos. Era oficial, agora estava ocupando o maior cargo na empresa da família.
- Acho que te subestimei, querida priminha. - Júlio se aproximou e comentou com sarcasmo. - Você é mais articulada do que eu pensei. Meus parabéns. Aproveite enquanto pode.
- Júlio, meu querido. Cansou de não fazer nada e veio aqui dar o ar da sua graça. - Não deixaria que ele me afetasse.
- Não esqueça que enquanto você estava de férias em Nova Iorque, eu fiquei aqui. Devia me agradecer por deixar tudo em ordem. - Sua falta de noção me fazia rir.
- Não preciso te dar satisfação sobre nada na minha vida, mas é só você olhar ao redor e ver que cada mudança dessa empresa foi por minha causa. Diferente de você, não fiquei trancada na minha sala só lucrando em cima dos outros.
- Como você ousa sua...
- Júlio, já chega! - Meu pai se meteu em nossa conversa.
- Mas tio, como o senhor pode ser tão conivente. Não percebe que a Yana é uma desqualificada?
- Olha seu garoto mimado. Estou cansado das suas gracinhas. Você só trabalha aqui porque tenho um acordo com o seu pai. Mas se continuar a falar besteiras, vou dar um jeito de te colocar no olho da rua. - Meu pai que sempre era tão tranquilo, tinha perdido a paciência.
- Pai, não liga pra isso. As pessoas estão olhando. - Tentei amenizar a situação.
- É tio, me ignora como sempre. Sejam a família perfeita que vocês sempre foram. Escondam a humilhação e a desgraça que o senhor trouxe para a vida do vovô. Como diz o ditado: Quem sai aos seus não degenera. Papai e filhinha são duas aberrações. - Júlio tinha ido longe demais.
- Cala essa sua boca! - Ele poderia mexer comigo, mas não com meu pai. Fui pra cima do meu primo e quase o derrubei no chão. Mas meu pai me segurou. - Seu monte de merd*, aprende a ser alguém na vida e depois vem falar da minha família.
- Não vale a pena Yana. Se acalme. - Agora era meu pai estava me segurando, mas seus olhos estavam pegando fogo enquanto olhava para Júlio.
O pai de Júlio veio até nós e tirou seu filho dali. Todos ao redor estavam nos olhando. Júlio tinha conseguido estragar minha manhã. Pedi desculpa do funcuonários e fui direto para a minha sala. Estava com muita raiva. Como ele poderia falar com o meu pai daquele jeito. Ele devia pagar, não dava mais para manter aquele monte de estrume trabalhando aqui.
- Precisamos demitir o Júlio. - Falei assim que meu pai passou pela porta.
- Filha, eu sei que está com raiva.
- E o senhor não está?
- Claro que estou, mas não podemos demitir o Júlio. O pai dele tem uma pequena porcentagem na empresa e tudo que me pediu foi que o seu primo trabalhasse aqui.
- Alguém precisa colocar ele em seu lugar. Não posso permitir que ele haja dessa forma e não seja punido. - Falei frustrada.
- Podemos tirar suas regalias. Ele está muito confortável aqui neste setor. Vamos transferir ele para o RH, assim colocamos ele para trabalhar duro.
- Tudo bem, vou transferí-lo para lá ainda hoje.
- Agora se acalme minha filha, odeio que isso esteja acontecendo.
- Não se preocupe papai. Júlio não vai conseguir me desestabilizar.
As mudanças foram feitas e Júlio mesmo a contragosto e fazendo ameaças, foi transferido para o setor de Carlos no RH. Pelo menos eu não teria que encontrar com ele todas as manhãs. Já me sentia um pouco aliviada.
Meu celular tocou indicando uma chamada de Karen. Sua entrevista já devia ter terminado.
- Oi amiga, como foi a sua entrevista?
- Uma merd*. Acredita que eles exigem um ano de experiência? Como vou ter experiência se ninguém quiser me contratar. - Ela estava irritada.
- Poxa, sinto muito. Você sabe que posso te colocar aqui. É só você aceitar a minha proposta.
- Não Yana, já conversamos sobre isso. Sei que a sua intenção é boa, mas eu preciso conseguir um emprego por meus próprios méritos.
- Aceitar um emprego aqui não vai ser por falta de méritos. Eu conheço seu trabalho. Qualquer empresa teria sorte de te ter como funcionária.
- Fala isso para aqueles granfinos engravatados. Oh povinho metido em!
- Olha, vou respeitar a sua vontade. Mas se mudar de idéia, minha proposta ainda tá de pé.
- Tá, mas não precisa se...
- Senhorita Yana, desculpa entrar assim, mas acabei de ser informada que o Júlio tá arrumando lá no RH com a Cris.
- Já estou indo Samantha. - Falei apressada. O que Júlio tinha feito dessa vez.
- Amiga, vou precisar deligar.
- O que tem a Cris? Aconteceu alguma coisa?
- Ainda não sei. Mas vou te mandar mensagem assim que souber. Beijos amiga.
- Beijos.
- O que aconteceu Samantha?
- Parece que Júlio não ficou satisfeito com o seu novo cargo e está exigindo por outro, mas a Cris estava esperando uma promoção para esse mesmo cargo. Então eles estão brigando feio.
Meu Deus, não tinha um minuto de paz. E era só o meu primeiro dia como presidente. A vontade que eu tinha de colocar Júlio no olho da rua era grande.
Quando cheguei no andar do RH presenciei o bate boca de Cris e Júlio.
- Você pensa que é quem pra chegar aqui e mandar e desmandar nas pessoas? - Cris estava enfurecida.
- Eu sou um Charles, sou um dos donos dessa empresa. Você devia tomar mais cuidado com o que fala.
- Júlio, dá pra você se colocar no seu lugar. Vai cantar de galo em outro setor. As coisas já estão indo bem sem a sua intromissão. Eu tô pouco me fodendo para o seu sobrenome. Isso não te dá o direito de falar o que quiser. Nem de assumir o cargo que quiser. Existem regras e você não pode passar por cima delas.
- Olha, eu devia te demitir por me desacatar dessa maneira. Não percebe que está cometendo um grande erro? - Júlio estufava o peito e falava com arrogância.
- Ninguém vai ser demitido dessa empresa, a não ser que eu dê a ordem. Quero falar com os dois na minha sala. - Intervi na conversa. Meu Deus, quando aquele lugar tinha se tornado tão caótico.
Por incrível que pareça, Júlio não discordou e os dois me seguiram de volta para a minha sala.
- O que está acontecendo? - Perguntei.
- Esse babaca acha que pode mandar em todo mundo. Eu estou na fila para a promoção e ele quer o meu cargo. - Cris falou muito irritada. Entendia a raiva da minha amiga, não era fácil lhe dá com o Júlio.
- Garota, deixa de ser patética. É óbvio que eu sou mais qualificado para o cargo. Tenho formação e pós-graduação. Você, o que têm?
- Você acha que ser formado é o suficiente? Você nem tem experiência na área. E se for para falar de certificados, tenho uma lista enorme para te mostrar.
- Júlio, a Cris já foi testada para o cargo. E posso garantir que as duas qualificações são perfeitas para essa função. Você devia parar de arrumar confusão. Minha paciência está no limite. - Estava tentando falar com calma.
- Que se foda a sua paciência. Eu não me reporto a você. Meu pai é dono dessa merd* também. Mesmo que você tenha me chutado desse andar, eu não vou aceitar ficar em qualquer cargo. Então, não me interessa o que você vai fazer. Mas esse cargo vai ser meu.
- Acho que não fui bem clara. Ou você aceita ficar no lugar onde estar ou você está demitido. A escolha é sua. - Já estava cansada do seu desrespeito por mim.
- Com lincença, o que está acontecendo aqui? - O pai de Júlio entrou sem ser anunciado.
- Pai, a Yana está me demitindo. - Júlio era muito imaturo.
- Só se for por cima do meu cadáver. Eu e Roberto temos um contrato, o Júlio não pode ser demitido.
- Apenas disse que ele deve aceitar o cargo que estou lhe oferecendo. Mas ele se recusa, então não vejo outra opção a não ser demiti-lo.
- Criança, você não está aqui a tanto tempo. As coisas não funcionam assim. Deixa eu te falar uma coisa. Você pode querer entrar nessa briga, mas saiba que vai perder. Irei colocar tantos advogados na sua cola que é capaz até de perder sua parte na empresa. Não seja tola.
- As suas palavras não me afetam, posso parecer inexperiente e nova, mas o senhor não sabe nada ao meu respeito. Conheço essa empresa como a palma da minha mão, sei exatamente a parte que me cabe aqui. E se juntar as minhas ações com as do meu pai, é bem mais do que 70%. Sendo assim, agindo pelos meios legais, temos mais voz de decisão. Tudo o que vocês dois têm são orgulho e burrice. - Estava séria, mas nem um pouco alterada.
Parecia que finalmente tinha conseguido calar os dois. Apesar disso, sabia que tinha uma pequena chance do meu tio vencer aquela questão. Meu pai tinha me avisado daquele maldito contrato. Precisava encontrar meios de lhe dar com aquela situação.
- Para tornar a situação justa, irei passar as qualificações dos dois para o chefe do RH. Se ele achar pertinente que o Júlio assuma o cargo, assim será. Mas se ele decidir a favor de Cris, então esse assunto estará encerrado. Caso o meu priminho não aceitei a decisão. - Olhei fixamente para Júlio. - Irei demiti-lo e farei questão de que ele nunca mais consiga um emprego.
Os dois saíram da minha sala bufando. Respirei fundo e sentei.
- Mas Yana, eu já iria ser promovida hoje. Porque devo esperar? - Cris estava chateada. Era compreensível.
- Me desculpa, Cris.
Estou de mãos atadas. Eu sei que você é a pessoa qualificada para esta função, mas precisa manter o acordo que meu pai e meu tio fizeram. Eu sinto muito.
- Tudo bem, vamos ver qual vai ser a decisão de Carlos. Se ele favorecer o Júlio, saberei que essa empresa a qual dediquei anos da minha vida, não merece me ter como funcionária. - Nunca tinha visto Cris tão irritada. Só que ela sabia esconder muito bem. Só consegui perceber porque sou sua amiga.
- Cris, espera....
Ela saiu a passos largos. Era melhor que ela esfriasse a cabeça. E eu iria falar com o advogado para ver uma forma de anular aquele maldito contrato. Não pretendia manter Júlio na empresa, mas precisava de tempo para estudar minhas possibilidades. Já estava cheia da incompetência e falta de respeito que meu primo fazia questão de demostrar. Não seria como meu pai que permitiu essa situação, iria por um fim naquilo.
Ana Karen ( Pov especial)
Não foi difícil descobrir onde Cris morava. Falei com a tia Ju e logo ela me passou o endereço. Mesmo que Cris não tivesse respondido minhas mensagens, sabia que estava precisando de uma distração. Agora estava aqui, na frente do seu apartamento, com uma sacola de besteiras e várias latinhas de cervejas. Pelo que a Yana me falou, Cris teve uma briga feia com Júlio e isso fez com que ela tivesse que aguardar pela promoção que estava esperando há um ano.
Bati na sua porta com cautela. Mas ela não atendeu. Sem querer ser inconveniente, encostei o rosto na porta para tentar escutar alguma coisa. Tudo que conseguia ouvir era uma música muito alta. Bati novamente na porta, dessa vez com mais força. E Cris a abriu logo em seguida.
- Bebidas? - Perguntei mostrando as sacolas.
Desde nossa conversa na casa de praia eu e Cris resolvemos tentar nos aproximar de novo. Ela queria ir com calma e eu também. Tínhamos ficado muitos anos sem participar da vida uma da outra, mas pelo visto, seu gosto por bebidas não mudou.
- Por favor. - Ela me deu passagem e pela primeira vez entrei no seu espaço pessoal. Seu apartamento era de tamanho médio, não tinha muitos adereços, apenas o básico. Algo mais clean. Mesmo assim, era a cara da Cris. Tive acesso somente a uma pequena parte da sala, então não tinha muito o que ver. Estava curiosa para saber tudo sobre ela. As coisas que ela pensava e como sua vida estava.
- Vamos beber aqui mesmo? - Perguntei.
- Vem, vamos subir. - Ela indicou uma escada lateral que dava em um terraço. O prédio não era tão alto, mas a vista era bonita. No terraço tinha alguns varais com roupas estendidas e alguns vasos com plantas. Perto do parapeito, tinha uma mesinha com duas cadeiras. Foi lá que coloquei as nossas bebidas.
- Aqui é bonito.
- É meu cantinho particular. Nenhum outro apartamento tem acesso a essa área. Quando aluguei, a dona me empurrou esse espaço para cuidar. Era bem bagunçado e cheio de tralha, mas fui ajeitando e com o tempo e se tornou minha parte preferida da casa.
- Você fez um ótimo trabalho. - Sentei e entreguei uma cerveja para Cris. - Vem, vamos beber.
- Devo supor que a Yana já te contou o que aconteceu né? - Ela sentou e abriu a sua cerveja.
- Não a culpe, ela estava preocupada com você. - Abri a minha cerveja e brindei com Cris. Em seguida, ela bebeu todo o conteúdo da sua de uma só vez. Eu fiz o mesmo. Aproveitei para descontar as minhas frustrações também.
- Ela devia demitir aquele priminho de merd* que finge trabalhar. Ele só sabe me infernizar. - Cris me entregou outra cerveja e pegou uma para si.
- Você sabe que ela não pode. Mas você está certa. - Tocamos nossas latas e mais uma vez viramos o líquido de uma só vez. Estava bem gelada e me deixou mais relaxada.
- E você, não parece bem. - Cris colocou o indicador em meu peito. - Aconteceu alguma coisa?
Era engraçado que somente ela tivesse percebido que eu não estava bem. Peguei outra cerveja e abri, dessa vez dei alguns goles.
- Minha entrevista de emprego não deu certo. Eles queriam alguém com experiência.
- Sinto muito. Você já contou para nossa família?
- Não, eles estavam tão orgulhosos. Vou continuar procurando emprego, quem sabe não tenha mais sorte da próxima vez. - Cris pegou mais cervejas e me deu. A minha já tinha acabado.
- Vamos brindar. - Ela tocou a sua bebida na minha. - Aos nossos fracassos. - Ela falou rindo e eu sorri também.
- Que a gente se levante hoje para amanhã cair de novo. - Brinquei e Cris riu. A bebida estava começando a pegar.
- Vamos brindar mais uma vez. - Ela pegou novas cervejas. - Que o Júlio bundão tenha uma caganeira e esqueça que eu existo. - Ela virou todo conteúdo da bebida e eu me acabei de rir.
- Amém! - Lhe entreguei outra cerveja. - Que esses executivos de merd* parem de ser tão arrogantes e lembrem que também começaram sem experiência nenhuma. - Virei mais uma cerveja.
E assim fizemos um brinde atrás do outro. Uma bebida atrás da outra. Cada vez mais estava me sentindo leve e risonha.
- A bebida acabou. - Cris falou encostando sua cabeça em meu ombro. Nesse ponto, já estávamos sentadas em cima da mesa.
- Quer comprar mais? - Perguntei.
- Quero.
- Então, vamos. - Fiz um movimento para levantar. Mas Cris, segurou no meu braço.
- Só um minuto e já vamos. - Ela estava com os olhos fechados. - Um segundinho e já levanto.
- Você está caindo de sono né? - Ela não respondeu. Resolvi deixar com que ela descansasse ali, seu dia tinha sido difícil.
Olhei para o céu, ele não estava com estrelas, na verdade parecia que iria chover dentro de alguns minutos. Deixei com que Cris dormisse um pouco e fiquei lhe observando. Ela não parecia tão intimidadora quando estava assim, era até fofa. Passei a mão nos seus cabelos ruivos e longos para que eles não cobrissem o seu rosto. Ela tinha algumas sarnas sobre as bochechas e no nariz, pareciam pequenas constelações. Sempre gostei de suas marquinhas cor de cobre. Seus cílios eram longos e cheios, seu nariz pequeno, com o formato arredondado na ponta e levemente empinado, era uma graça. A sua boca sempre foi muito corada, ela era o tipo de pessoa que não precisava usar batom, pois seu lábios estavam sempre vermelhinhos, eles eram médios com o inferior levemente mais cheio que o superior.
Lembro que foi muito fácil me apaixonar por Cris, ela era cativante. Seu jeito brincalhão e nem aí pra vida me fez querer ter muitas aventuras com ela. De início, achei que ela só estava sendo gentil comigo por ser a filha do homem que casou com a sua mãe, mas ela não era assim com mais ninguém, então comecei a me sentir especial. E ela fazia questão de me mostrar o quanto eu era diferente das outras pessoas as seu redor. Quando vi Stephanie lhe beijando, tudo ao meu redor desmoronou, nem conseguia mais olhar no rosto de Cris. O sentimento de vingança me corroeu. Então usei o primeiro homem interessado em mim que apareceu. O levei para casa e isso afetou Cris, foi cruel ver o seu olhar de decepção sobre mim. O Peso da seu olhar foi tão grande que eu me sentia a errada, mesma que ela tivesse me traído. E agora, descobri que tudo não passou de uma armação que fez de nós duas vitimas. As vezes me culpava por não ter sido madura o suficiente para questionar Cris sobre o que o beijo que tinha presenciado. Apenas uma simples atitude poderia ter mudado o rumo das nossas vidas.
Senti os primeiro pingos de chuva em meu rosto. Então ajudei Cris a descer as escadas e com sua orientação chegamos ao seu quarto. Lhe coloquei sobre a cama e liguei o ar- condicionado. Já estava ficando tarde, iria me despedir e ir para casa.
Me aproximei e beijei seus rosto. Quando me afastei, Cris segurou o meu braço.
- Por favor, fique. Não quero ficar sozinha. - Ela estava com a voz pesada por conta do sono.
Pensei sobre o que devia fazer. Não queria que ela estivesse me pedindo para ficar por conta da bebida. Precisava ter certeza que ela estava consciente do seu pedido. Afinal, era sua casa e não queria invadir o seu espaço.
- Tem certeza?
- Está tarde, não quero que pegue um Uber estando bêbada. A chuva está muito forte e tem espaço para nós duas na cama. - Ela parecia bem consciente.
- Tudo bem, irei ficar. Mas vou dormir no sofá. Não quero incomodar.
- Porque você não relaxa e deita. Sei que seu dia foi tão longo quanto o meu. Sei que vamos com calma, mas estou com saudade. - Aquilo me deixou surpresa. Cris não era o tipo de pessoa que admitia nada. Mas desde que voltei, ela tinha falado bastante sobre seus sentimentos.
- Tudo bem. Irei ficar aqui com você. - Me sentei ao seu lado e encostei minhas costas na cabeceira da cama.
- Você dorme sentada?
Estava um pouco nervosa. A proximidade com ela me despertava sentimentos a muito tempo adormecidos.
Me deitei com a barriga para cima. Fiquei olhando para o teto, esperando o sono chegar. Passou alguns minutos e achei que Cris estivesse adormecido novamente.
- Posso te perguntar uma coisa? - Cris falou sussurrando. Estava enganada, ela estava bem acordada.
- Pode.
- Você está arrependida em relação a tentar comigo? - Precisei me virar de lado para lhe encarar.
- Porque está me perguntando isso?
- Só não quero te forçar a nada. Sei que já se passaram muitos anos, nada dura para sempre e não quero que você se sinta presa a mim por conta de culpa. Tudo já foi esclarecido, e não tenho mais mágoa de você. Então, se achar que isso é uma grande bobagem, pode me dizer.
Acariciei a lateral do seu rosto.
- Não é nada disso, me desculpa se passei essa impressão. Só estou nervosa. Não sei o que fazer ou onde colocar as minhas mãos. Sinto como se estivéssemos nos conhecendo de novo e ainda não sei o que posso ou não fazer. - Fui sincera.
- Entendo, eu também me sinto assim. Acho que ficamos com a guarda alta por tanto tempo que agora não estamos conseguindo relaxar. - Ela estava certa. - Se isso te deixa mais tranquila, não precisa ficar com receio de me tocar, eu não irei me afastar. - Cris colocar a mão em meu abdômen e fez leves carícias. - Espero que não se afaste também.
- Eu não vou. - Envolvi meu braço ao redor da sua cintura e lhe puxei para mais perto. - Assim está melhor?
- Quase. - Cris colocou uma de suas pernas sobre a minha e descansou sua cabeça em meu peito. - Agora está melhor. - Lhe abracei com mais força. Tudo que desejei era que é que com aquele abraço todas as suas frustrações desaparecessem. Mesmo que fosse apenas por aquela noite.
- Durma bem Cris.
- Durma bem Ana.
- Também senti saudades. - Foi o que falei antes de adormecer.
Fim do capítulo
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