Capitulo 9

O Depoimento

Cheguei ao DP cedo, estava ansiosa para o depoimento do Sr. Paige, já havia revisado duas vezes as mensagens e tudo que havíamos recolhido sobre ele, a identificação do barco ainda não havia saído e eu tinha esperanças que saíssem ainda ao final do dia. Meu telefone vibrou e era um sms de Carolina me desejando bom dia, e depois de responder recebi uma foto sua e de Arthur sorrindo e aquilo foi o suficiente para me fazer sorrir aproveitei e coloquei no papel de parede do aparelho. Carolina em pouco tempo ganhava espaço em minha vida e isso me deixava com sentimentos muito conflitantes, já nem lembro quando me senti tão conectada a alguém que não fosse de minha família ao ponto de realmente sentir falta, mas era nítido como eu já contava as horas para ver ela e Arthur no sábado.

_ Terra chamando Valdez, você já tentou ver se esses apagões seus são normais? Podem ser sérios! - Disse Gonzáles se aproximando.

_ Só estava pensando deixa de ser chato... Gonzalez posso te perguntar uma coisa? - Disse quase sussurrando quando ele se aproximou.

_ Claro, o que é? – disse ao se sentar na cadeira em frente a mim.

_ Você acha que alguém pode se tornar... Acha que alguém pode... Sabe...

_ Por Deus mulher se tornar o que? – insistiu já angustiado.

Respirei fundo e olhei ao redor antes de responder.

Falei rápido quase sussurrando.

_ Você acha que alguém pode se descobrir gay na idade adulta?

González franziu o cenho para logo em seguida levantar as sobrancelhas em surpresa, porém antes de me responder Lisa chegou animada dando bom dia a todos, sinalizei para que o assunto fosse encerrado e eu queria acreditar que Roberto iria ficar com aquela boca fechada. Próximo do horário marcado Joseph Paige chegou ao departamento, parecia tenso e sua aparência era de alguém que não dormia há dias, sua barba por fazer denunciava dias de desleixo os cabelos despenteados que logo tentou arrumar ao perceber que alguns policiais o olhavam com certa curiosidade.

_ Sr. Paige, que bom que veio, acredito que saiba o motivo pelo qual foi convocado. - Disse séria ao lhe conduzir para a sala de interrogatório.

_ Na verdade não! Só vim por que quero esclarecer seja lá o que vocês querem e voltar ao meu trabalho este cujo fui afastado até o fim das investigações. - Se sentou claramente alterado.

Acenei positivamente, me controlando para não demonstrar minha repulsa, era impossível olhar aquele homem à minha frente e não lembrar das mensagens e ameaças que li, me sentei em sua frente abrindo meu bloco de anotações e minha caneta, Gonzáles já estava na sala e assim que entramos se sentou mais próximo do interrogado, Lisa como não era oficialmente detetive teve que ficar atrás do vidro fumê dupla face que impedia que o suspeito a visse, mas ela poderia ver e ouvir tudo.

Joseph demonstrava irritação e nervosismo.

_ Então por que fui chamado para um depoimento oficial?

O olhei friamente, peguei a pasta que González me passou e coloquei em sua frente, percebi que o homem engoliu em seco e desviou o olhar da pasta.

_ Sr. Paige aqui dentro quem faz as perguntas sou eu e o detetive Gonzáles ok? Como conheceu Jenifer London?

_ Que pergunta é essa? Ela era aluna de minha instituição. - Disse em um tom debochado.

_ Pois bem, e qual era sua relação com ela? - Disse cruzando meus dedos em cima da pasta.

_ A mesma que tenho com qualquer aluno, estritamente profissional. – Gritou já se alterando.

_ Sr. Paige, poupe o meu tempo e me diga o seu real envolvimento com Jenifer London, sabemos que sua relação com ela era mais que profissional, então que tal começarmos de novo?

Disse olhando fundo em seus olhos fazendo o homem entender do que eu estava falando o homem engoliu em seco e se manteve calado o que me fez prosseguir.

_ Ok, já vi que será da maneira difícil, dentro desta pasta temos inúmeros e-mails muito comprometedores e que eu adoraria compartilhar com o juiz e claro com sua esposa, agora o senhor tem a opção de confessar e ter os direitos de um réu confesso ou negar e termos que prolongar toda essa história para os tribunais, você que sabe. -Meu tom era frio e comedido como se eu já tivesse tudo o que eu precisava do caso.

_ Você está blefando, independente do que encontre Jenifer era maior de idade e sabia exatamente o que fazia e você sabe que não tem como me ligar à morte dela porque não fui eu! - Disse gritando e se levantando.

_ Acho melhor abaixar seu tom senhor, não quero ter que detê-lo por desacato e preciso que se sente. - Disse González se aproximando e o empurrando de volta à cadeira.

_ Bom, não é isso que seus e-mails dizem, queira nos esclarecer por gentileza Sr. Paige. - Disse em tom sério e lhe dando a pasta.

Após algumas leituras finalmente ele se pronunciou, sua postura arrogante havia se desfeito como água e o que se via era um homem em pânico.

_ Olha, eu não marquei com ela nesse dia... Eu... Eu Tomei remédios para dormir e não saí de casa... Vocês têm que acreditar eu não a matei! - Disse desesperado.

_ Sr. Paige, nos esclareça os e-mail desde o princípio. - Disse sem paciência.

_ Ok, tá eu... Eu e Jenifer tínhamos um caso.

_ Um caso? Você chama chantagem de caso? Olha eu realmente estou querendo ajudá-lo, mas se não nos contar tudo será difícil...

_ Ok... Ok... Eu conto... Há alguns meses conheci Jenifer nas consultorias para alunos bolsistas com notas baixas, é um programa que temos na universidade, depois de algumas consultorias nos envolvemos e eu me apaixonei por ela...

_ Então me deixe entender, você se aproveitou de uma oportunidade para chantagear e usar uma jovem para fins sexuais a seu bel prazer em troca de boas notas, ela se cansou e você a descartou voltou para sua casa e dormiu a noite toda como se nada tivesse acontecido... É nisso que você quer que eu acredite? - Disse claramente irada, mas mantinha minha voz em um tom baixo e frio.

_ Não é assim que eu via a situação. - Disse com ar obsceno o que me deixou indignada.

_ O Senhor tem um barco não tem? - Disse jogando verde e querendo colher maduro e tentando mudar o rumo daquele depoimento medonho.

_ Sim tenho. - Disse sem rodeios.

_Deixe-me lhe dizer como Jenifer foi encontrada, a menina foi encontrada boiando perto do píer com feridas nos pulsos e tornozelos, depois de muita perícia e investigações concluímos que ela foi morta por sufocamento e seus pés foram amarrados em algo pesado para ajudar a afundar quando fosse jogado na água. - Disse sussurrando para lhe causar ainda mais pânico e ignorei as feições de incredulidade de meu parceiro ao contar ao interrogado detalhes da investigação, Joseph por sua vez apenas arregalou os olhos e começou a transpirar de nervoso então continuei.

_ E o mais interessante Sr. Paige é que recentemente confirmamos que o único barco que transitava pela área no horário em que Jenifer foi assassinada era o seu.- Disse o blefe com serenidade torcendo que Gonzáles não me desmentisse ou reagisse ao que falei.

_ O que? Eu não a matei! Meu barco deve ter sido roubado ou estão armando pra mim! - Disse ele claramente exaltado e em pânico.

_ Sr. Paige, o senhor aliciou, abusou e chantageou uma aluna e ao que tudo indica a matou a sangue frio, tudo indica que foi o Senhor, quem mais teria motivos para tal ato?

_ Eu. Não. A. Matei! - Disse ele gritando totalmente transtornado. - Eu... Eu quero o meu advogado.

_ É bom, pois irá precisar... Eu não posso lhe prender hoje, mas não pense que sairá impune dessa e é melhor que não se ausente da cidade.

Saí da sala batendo forte a porta, eu colocaria Joseph Paige atrás das grades nem que fosse a última coisa que eu fizesse. Fui para minha mesa enquanto Gonzáles terminava de apurar o depoimento e liberava o interrogado, este ainda teria que dar mais esclarecimentos depois que seu advogado fosse convocado, por hora ele estaria em vigilância, pois era o principal suspeito eu não poderia fazer mais que isso.

_ Rubí você enlouqueceu mulher? Como você afirma algo que nem temos certeza e se o barco não for dele? - Disse Gonzáles aos sussurros e aflito.

_ Olha eu sei que foi arriscado mais você viu como ele entrou em desespero? Se ele for o culpado isso será o suficiente para tirá-lo a paz até o próximo depoimento. - Disse segura do que fiz.

_ Bom espero que esteja certa. - Disse ele rindo.

_ Rubí, aquilo foi demais você acabou com ele, apesar de que se o chefe estivesse vendo, ele a mataria por revelar tanto para um suspeito, mas mesmo assim foi incrível, ah claro eu também pensei que você iria enfiar um soco na cara dele, mas mesmo assim f...

_ Cala a boca Lisa- Disse eu Gonzáles ao mesmo tempo.

_ Ok, ok..., mas foi muito legal. -Continuou Lisa se sentando em sua mesa emburrada fazendo todos rirem.

_ Ei Valdez, tenho boas notícias. - Enzi se aproximou com alguns papéis nas mãos.

_ Fala logo Enzi, conseguiu o nome do proprietário do barco? - Disse em completa ansiedade.

_ Sim e pode comemorar, pois está no nome de Joseph e Samantha Paige. - Disse me entregando os papéis do barco.

_ Sério? Isso é perfeito. - Avaliei os papéis por alto só para encontrar os nomes que eu queria.

_ Olha Rubí você só pode ter um santo muito forte mulher porque não tem outra explicação. - Disse Gonzáles fazendo todos gargalharem.

_ Bom ou um sexto sentido apurado, Enzi solicite uma procuração para que possamos investigar o barco, Gonzáles e Lisa vão ao Píer onde ele está ancorado e solicite as gravações de todas as câmeras e isso inclui a do estacionamento, vamos pegar esse desgraçado. - Disse empolgada.

Fim do capítulo