Na manhã seguinte quando acordou, Andressa viu que Márcia ainda dormia. Porém, percebeu que a esposa estava muito vermelha e ao colocar a mão em sua testa, viu que a coronel estava queimando de febre. Pegou o termômetro para aferir o grau de febre que Márcia estava. Quase caiu dura quando viu que ela estava com quase 43 graus. Imediatamente ligou para a cunhada Francesca que era médica, porque o coronel Magalhães estava em um congresso fora da capital.

Assim que Francesca chegou, ela foi até o quarto do casal. Andressa já tinha feito Márcia tomar um banho morno e os remédios de costume. A esposa da coronel não quis dar um remédio para a febre porque ficou com medo que fosse algo mais sério. Então, resolveu esperar a cunhada chegar junto com o filho caçula Hussein que também era médico e o único solteiro dos três filhos homens.

-- Andressa minha querida cunhada bom dia! – O que houve?

-- Bom dia Tchesca, bom dia Hussein.

-- Bom dia tia Andressa. Mas o que houve com a tia Márcia?

-- Eu não sei, ontem ela estava bem. Jantamos, assistimos televisão e depois tanto eu como ela e as crianças fomos dormir. Meus pais já tinham ido e hoje quando acordei estranhei que ela estivesse dormindo porque a sua irmã adora levantar cedo. Quando vi a vermelhidão, peguei o termômetro e quase cai de costas. A febre estava chegando a 43 graus. Por isso te chamei! – Desculpa cunhada ter atrapalhado você.

-- Imagina Andressa, hoje eu só tenho paciente na parte da tarde. Fica tranquila. Mais a Márcia passou ou tem passado algum nervoso por esses dias?

-- Sim Tchesca ela tem passado muitas provações, ouviu coisas que talvez a tenham abalado. Inclusive do major Bergamota de quem é amiga há muitos anos.

-- Entendi. A Márcia tem um problema muito sério desde que era criança. Qualquer nervoso ou pressão que ela passava, a febre subia demais. Minhas avós ficavam doidas quando isso acontecia. Uma vez meu pai disse que era frescura então, minha avó Marieta deu um tapa na cara dele. Disse que ele era uma merd* como pai, que não percebia o que acontecia com os filhos. Principalmente com a Marcinha. Com o passar do tempo ele começou a ser mais pai e com isso, as coisas em casa mudaram. Foi aonde ele ficou mais amoroso.

-- Então o coronel não era uma flor de candura!

-- Meu pai? – Era um verdadeiro tirano. Minha mãe teve que lapidar o velho. A sorte é que ela nunca abaixou a cabeça pra ele e com isso os dois acabaram se adaptando ao casamento e hoje é esse amor que vocês todos veem.

-- Mas o que você recomenda?

-- Andressa eu vou examinar a Marcinha e depois te passo os procedimentos. Ah, e também ficará quatro dias em casa para se recuperar. Ou seja, seu fim de semana começa hoje terça-feira. Portanto se quiser fazer suas reuniões, que sejam online. A senhora escutou coronel Mantovanni?

Márcia olhou seriamente para a irmã, mas não falou nada. Ela tinha muito respeito pelos irmãos principalmente por Francesca e Genaro que eram os dois mais velhos. E também tinha a diferença de idade que entre ela e Thesca era de quatro anos.

Francesca examinava a irmã enquanto Andressa e Hussein olhavam. A esposa da coronel conversou bastante com o sobrinho e cobrou que ele viesse mais na casa delas.

-- É falta de tempo tia. Essa vida de médico toma toda a nossa vida.

Andressa olhou seriamente para o sobrinho perguntando:

-- Ou é porque a sua tia e eu temos um casamento nos padrões não convencionais?

O rapaz olhou assustado para a tia ao qual estranhou a reação da mesma.

-- Não tia Andressa, a tia Márcia sempre foi uma pessoa reservada, séria, de grande caráter e muito respeitosa com todos. Jamais eu teria algo a dizer contra vocês ou o seu casamento. Infelizmente escolhi uma profissão que me toma muito tempo. Tanto que nem namorar eu consigo!

Andressa sentiu sinceridade nas palavras do rapaz e resolveu deixar pra lá.

Depois que terminou de examinar a irmã, Francesca aplicou-lhe uma benzetacil.

-- Francesca sua filha da puta! – Porquê você não aplica essa merd* no seu rabo. Puta que pariu, eu tinha me esquecido como praga dói.

-- Marcinha para de frescura que eu já apliquei. Agora Andressa você vai pedir na farmácia esses remédios e na sexta-feira eu passo aqui pra saber se a fera melhorou. Aliás, virei na quinta com o Samir e ficaremos até domingo.

-- Ótimo Thesca então está combinado. Te esperamos não é meu amor?

Márcia olhou para a esposa, o sobrinho e a irmã respondendo:

-- Fazer o quê? – E você Hussein, vê se vem junto com seus pais. Sua avó tem reclamado muito dizendo que nem liga para ver como ela e seu avô estão. Não deixe que seu pai saiba disso.

-- Eu venho sim tia! – E pode dizer pra vó Carlota que eu vou ligar!

-- Ou você começa a participar mais das coisas da família ou eu mesma vou falar com o seu pai. Você está me ouvindo Hussein? – Eu não vou admitir essa falta de respeito com as suas tias. E saiba mocinho que se não fosse a sua tia Márcia, eu teria sido escorraçada de casa pelo seu avô e sabe porquê? – Porque eu casei com o seu pai já gravida do seu irmão e quem também ajudou foram os seus tios Genaro e Marieta. Portanto, comece a se acostumar com os acontecimentos.

Márcia viu que a coisa iria ficar feia entre a irmã e o sobrinho. Resolveu colocar panos quentes na discussão.

-- Thesca por favor, deixa o menino em paz! – Ele é conservador e temos que aceitar. Você não vê como o tio Sebastian vive me espinafrando? – Só que com o passar do tempo, eu aprendi que eu sou mais eu. Não dependo de ninguém a não ser do meu trabalho. Tenho minha família, meus filhos são bençãos e minha esposa meu bálsamo. Se o Hussein não aceita, não será por isso que ele deixará de ser meu sobrinho e bem vindo em minha casa. Afinal, querendo ou não, ele tem o sangue dos Mantovanni e isso ele nunca vai poder negar.

-- Marcinha ele tem que respeitar a opção sexual dos outros. A individualidade de cada um somente pertence a esse cada um. E eu tenho muito orgulho de ser a sua irmã, você já ajudou muita gente na família e fora dela e agora, já está na hora desse povo mimizento acabar com a hipocrisia.

-- Obrigada minha irmã!

-- Obrigada Thesca por ter vindo examinar a Márcia. Agradeço que você Hussein tenha vindo.

-- Não há de quê cunhada. Bom Marcinha estou indo. Hussein, vamos logo por que tenho coisas a fazer e seu pai está na loja esperando que eu vá buscá-lo!

-- Até logo tia Marcia e tia Andressa!

Assim que saíram Andressa comentou com Márcia:

-- Meu amor estou de queixo caído. Nunca vi a Thesca tão brava desse jeito.

-- É Andressa, ela não aceita esse posicionamento do Hussein em relação a mim. Mas é por influência daquele turco safado do avô dele. Aquele velho não gosta de mim porque eu sou a única pessoa que encara ele de igual pra igual. E claro que ele joga o menino contra a nossa família e o alvo principal sou eu!

-- Mas que velho filho da puta! – Por isso é que o seu pai não se dá bem com ele?

-- Sim e o meu pai quase deu um tiro nele quando a Francesca ficou noiva do Samir.

-- É sério amor? – Porquê?

-- Porque ele disse na cara do meu pai que a Thesca era uma caçadora de dotes assanhada e que ela não servia pra ser nem empregada quanto mais esposa! – E aí você me pergunta o que aconteceu? – Aconteceu que o seu sogro enfiou o revólver dentro da boca dele. A coisa só não ficou pior porque o meu avô Manolo chegou e resolveu a questão e isso porque meu pai sempre escutou os conselhos do velho. Senão, o pai do Samir, já estaria morto há muitos anos porque meu pai teria atirado sem pensar nas consequências. Justo naquele dia, eu não estava em casa!

Fim do capítulo