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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 4767
Acessos: 869   |  Postado em: 21/03/2024

Capitulo 43

Capítulo 43 - Acontecimentos premeditados - Flávia


Pouco tempo depois que eu saí do apartamento da Bruna ela me ligou, chorando, pedindo pra eu voltar. Quando cheguei não era uma cena de guerra, mas  possivelmente ela estava em uma. Encontrei ela sentada no chão, com o corpo encostado no sofá, olhos e rosto vermelho, quase babando, provavelmente pelo quanto chorou da hora em que eu saí até esse momento. 

Corri rapidamente até onde ela estava deitada e a abracei. Só abracei a Bruna, sem perguntas, sem “respira”, sem “olha pra mim”, sem “assoprar a velinha”. Fiquei ali muito tempo, não sei quanto tempo, mas posso garantir que foi tempo das minhas costas doerem, formigarem e eu parar de sentir, me mantive, na resistência. Apenas fiquei ao lado da minha namorada em um momento ruim, uma tempestade. 

Ela não me contou o que aconteceu, eu não perguntei. Sei que tem a ver com o padrinho dela, que se houvesse permissão, eu teria quebrado ao meio, sem pedir nem permitir, só soco, murro e pontapé. Eu não fiquei cutucando, deu pra ver que algo estava doendo nela e doendo fundo. Aquele dia eu só fui a namorada, apoio, beijinhos e muito carinho. 

Isso não significa que eu não tenha colhido mil informações indiretas e não tenha traçado um milhão de hipóteses na minha cabeça. Durante toda a semana ela dormiu comigo aqui em casa, eu indo buscar ela no jornal e jantando juntas antes da minha aula da faculdade. Na sexta feira, quase uma semana depois, quando fui buscar a Bruna no jornal esperei na rua, como sempre, ao lado da minha moto de pobre, que paguei em muitas prestações. Fiquei lá quase 15 minutos, esperando, observando, só estando lá. 

Nesse meio tempo, bem antes da Bru aparecer, eu vi a Mayra saindo do jornal para fumar, sempre com o mesmo estilo de roupa, muito bem vestida com o mocassim dela. O treino em dia, apesar da viagem rápida que fez para Londres, porque se sábado estava brigando com a Bruna e sexta já estava no jornal, foi bem rápida para uma viagem internacional, seja qual for o motivo. Enfim, esse é um ponto. 

Observei ela de longe, tentando não aparentar que eu olhava a mayra. No tempo que fiquei ali olhando ela, foram 2 cigarros bem rápidos e duas coçadinhas no nariz que meu faro levantou a antena. Será que essa garota usa alguma coisa além de cigarro, álcool e falta de noção? Enfim, ponto dois. 

Mas me chamou a atenção o carro que o manobrista deixou para ela entrar, um SUV, audi, lindo. Juro que o carro era maravilhoso, lindo mesmo. E eu daria muita coisa para ter um desse, mas quem sou eu, estudante, prouni, funcionária pública para ter um SUV audi de 300 mil? Sabe quando as peças se juntam de um jeito que não dá mais pra soltar? Nesse mato tem coelho, só preciso procurar. 

Quando a Bru chegou para montar na minha CG, uma moto usada, comprada em árduas parcelas, me deu um aperto no peito, um incômodo. Eu não tenho como competir com isso. Ela pode até estar tentando, aceitando uns barzinhos mais baratos, andar em uma moto popular, dormir em um apartamento dividido. Mas sabe quando o encanto da uma quebrada? Minha vontade era pedir pra ela descer e seguir o caminho dela. Mas vamos com calma, eu não posso decidir nada por ninguém em um momento, em um incomodo imediato. 


- Pronto, pronto. Desculpa a demora - apareceu a Beatriz falando, toda estabanada, com uma mochila e uma mala de viagem. 

- Bia, é um bate e volta no interior, precisa de tudo isso? - não tive como não comentar. Eu estou levando só mais uma calça preta, duas camisetas, três calcinhas, duas meias. Realmente é um bate volta, 8 horas para chegar em votuporanga, dormir, acordar e pegar os depoimentos, dormir e voltar - O que tanto tem nas malas?

- Ai Flávia, o básico, o básico - respondeu com se aproximando do carro. Desci e ajudei ela a guardar as bolsas no porta mala da viatura e a mochila foi no banco de trás da Meriva, toda identificada com os adesivos da polícia civil. Entramos no carro, dava para ver uma certa expectativa da Bia, não sei explicar. Ela colocou o celular para tocar uma música, já que na viatura o rádio é um transmissor para comunicação, realmente animada. Não lembro se já vi a Bia assim em algum momento.

- Podemos ir? Pronta para 8 horas de carro?

- Ah, vamos! Melhor do que ficar no laboratório vendo foto de gente morta. 

- Com que frequência? 

- Afff, todo o tempo  - demos risada da piadinha infame e antiga. 

Iniciei o caminho entrando pela marginal, até chegarmos à rodovia do bandeirantes. Fomos calmas, tranquilas, eu nem xinguei tanto no trânsito. Quando pegava algum lugar mais complicado de passar, eu ligava rapidamente a sirene da viatura, ativando o giroflex, só para que os carros a frente saíssem, dando passagem. Na primeira vez que fiz essa contravenção ela ficou me olhando, na segunda que eu  fiz ela deu risada. Confesso que achei graça e comecei a fazer com mais frequência, sempre tirando um sorrisinho dela.

- Você sabe que isso é errado né Flavinha?

- Ah, pra colocar um sorriso no seu rosto vale tudo! - e meti mais uma sirene no final, fazendo ela rir. Depois dessas brincadeiras, a Bia se soltou, ficou cantarolando as músicas, puxando papo, um clima leve, gostoso. 


Já estávamos na estrada há quase duas horas, rodado uns 150 km, para mais, passamos por uma antiga pedreira, “Pedreira de Iracemápolis”. Na hora que a Bia viu que tinha gente escalando, praticando esportes na pedreira ela me fez um pedido:

- Consegue entrar ali naquela pedreira? É rapidinho. 

- Dá, dá pra desviar. Por que?

- Ah, eu quero tirar umas fotos, o lugar é lindo.

- Bia, estamos com o horário curto. 

- Para de ser ranzinza. É só uma foto. Vai… olha a entrada ali. Eu prometo umas fotos e vamos embora - Claro que eu não consegui dizer não, dava para ver nos olhos dela a vontade de parar lá e fazer a arte dela. Fiz a curva no trevo e dirigi por uns 500 metros, até a entrada da tal pedreira. Claro que  uma viatura da polícia civil chegando em qualquer lugar chama a atenção. Assim que estacionamos, ela se esticou para trás, pegando a bolsinha do material fotográfico. Ela começou um ritual de montar a câmera, vestir um cinto, apoiar lentes. Eu nunca tinha visto essa dança dela, confesso que foi encantador. Devo ter ficado olhando fixo pra ela, porque a própria Bia comentou, olhando diretamente: Tô desidratando com essa secada!

O que foi isso? E eu deixei aparecer assim? Que deselegante Flávia, deselegante. E que falta de noção essa minha. Mentalmente eu me puni na mesma hora Eu claro desviei o olhar, comecei a olhar pra baixo.

- Ei, tá tudo bem! - ela me chamou a atenção novamente - Vem, vou pedir para tirar umas fotos daquele moço que vai começar a escalar. Vem comigo - ela quebrou o clima estranho com um sorriso lindo, genuíno. Foi andando para perto de um rapaz que estava montando seu rapel, eu fiquei mais distante, deixei ela fazer a magica dela. Ela calmamente se apresentou, sorrindo, contente. Uma Beatriz que acho que nunca vi, alguém que realmente gosta de tirar fotos e não fotos de mortos, fotos vivas, reais, divertidas. O rapaz aceitou fazer fotos da descida dele de rapel. A Bia voltou para o meu lado, enquanto eu estava encostada na viatura, nitidamente desviando meu tempo da missão. 

- É rápido aqui Flavinha. Ele vai subir lá na plataforma. Quando ele estiver pronto, vai descer e eu vou fazer as imagens. 

- humm, ele topou fácil? 

- Estranhou eu estar em uma viatura da PC, mas entendeu que sou fotógrafa. Mostrei alguns trabalhos meus antigos, e ele topou. 

- Você mostrou aquelas fotos que você fez na cracolândia?

- Achei essas muito agressivas pro momento, mostrei umas que fiz no mês passado, enquanto te acompanhei no rugby. Achei mais esportiva. 

- Fez fotos enquanto eu jogava rugby? 

- Ah, fiz. Você foi jogar, eu fui lá para me distrair. Levei a câmera. 

- Você não me mostrou essas. Deixa eu ver!

- Negativo, é para um projeto meu, especifico. Estão sob sigilo. 

- Beatriz - falei em um tom de brincadeira - eu sou a modelo dessas fotos. 

- E eu a fotógrafa. Segredo de Estado. Não vou mostrar. Olha lá, o menino vai começar a descer - A Bia se afastou da viatura que eu estava apoiada e foi mais próximo ao menino. Ele estava no topo da pedreira e iria começar sua descida em rapel. Eu deixei a Bia em paz trabalhando, na verdade se divertindo, e acho que me perdi secando ela novamente. 

Eu nunca tinha olhado para a Bia desse jeito até o dia que a Isa me falou sobre ela. Teve aquele dia que ela bebeu e tentou me beijar, mas nesse dia não conta, foi efeito do álcool, reduz os filtros,  essas coisas. Mas aquele dia que a Isa dormiu lá em casa, que ficamos conversando e vendo filme, quando a Bia chegou e ficou puta, ali naquele dia eu comecei a ligar alguns pontos. 

Tenho que dizer que ver a Bia assim é um grande problema. Primeiro porque ela é namorada do meu amigo, brother, Cantão. Isso é no mínimo uma traição com ele, uma furada de olho sem precedentes. Não posso perder minha amizade com ele. Segundo ponto é que eu estou namorando, estou com a Bruna, tentando fazer certo, dando uma segunda chance pra ela. Ela vem se mostrando mais dedicada, que quer me conhecer mais, estar mais comigo, me aceitar como pobre, financiada. Eu gosto da Bruna, ficar com ela me deixa leve, é gostoso, mas tem algumas coisinhas que ainda não encaixaram. 

Eu  não posso tomar mais nenhuma decisão crítica agora, estou no último semestre da faculdade de direito, meu estudo para o concurso de delegado está ficando em segundo plano, o que é errado. Estou perdendo um tempo gigante nesse caso do trafico de orgaos. E nesse meio tempo tentando sobreviver, me sentir bem, não pensar tanto na Fabiola e na sua finitude. Está tudo tão complicado, tudo tão nebuloso que talvez o sorriso despretensioso e tímido da Bia seja um oxigênio, um levantar das ondas. 

           Perdemos uma hora nas fotos do garoto escalador. Mas a Bia estava sorrindo, calma, quase flutuante. Dava para ver o quanto ela gosta e se diverte fazendo fotografias artísticas. Ela já havia me contado que fazer fotografia de crime é um sustento, não o que ela gosta, que sua paixão mesmo é a fotografia artística. Infelizmente quando não se nasce rico ou em uma situação financeira muito tranquila, temos que trabalhar para poder fazer nossa arte, seja qual for nossa arte. 

                 Quando o menino terminou de descer o paredão, ela continuou fotografando ele. Enquanto ele desmontava o equipamento e se preparava para buscar um segundo local de escalada, ela ficou acompanhando ele. Quando ele disse que subiria novamente no paredão, ela finalizou o trabalho. Agradeceu o garoto, rindo, sorrindo. Pediu o contato dele e prometeu que enviaria as fotos depois de preparar elas. Ele pediu para ver as fotos sem filtros e logo sorriu também, conversando com a Bia. Acho que os dois não iriam parar a conversa se eu não fosse lá chamar ela. 

      - Desculpa incomodar vocês, mas não podemos atrasar mais Bia. Você terminou?

      - A chefe falou, está falado né, Thiago? - pelo que entendi era o nome dele - Nós Vamos indo, vou te mandar as fotos depois que eu trabalhar elas. Vamos rodar o mundo com elas hein?! - o garoto concordou com o rosto sacudindo para cima e para baixo, e terminou com um aperto de mão. Quando voltamos para o carro eu podia ver os fogos de artifício saindo da Beatriz. 

       - Pronto, posso seguir viagem? 

       - Sim, desculpa a demora. 

       - Fica tranquila Bia, seu sorrisão supera o atraso de uma hora. 

       - Não sei se isso é um elogio ou uma clicada - falou voltando a mexer no celular, para ligar uma playlist. 

       - é um elogio pelo sorriso lindo que você está e uma clicada por atrasarmos uma hora. Mas tudo bem, sabe que eu calculo sempre com uma boa margem de segurança. Vai dar tempo. 

        - sutil e delicada como sempre. 

        - É um elogio ou uma clicada? - rimos de nós mesmas. Uma das coisas que eu gosto em relação a Bia é como as coisas são leves, divertidas. Acho que por isso deu certo de nós duas dividirmos o apartamento. Apesar que nunca fico analisando esse tipo de coisa. 

         Iniciamos a viagem, apertei um pouco o acelerador, mas sempre mantendo a atenção e segurança. Ela foi cantarolando a música da playlist e todo o tempo ficou comentando sobre as fotos -  Humm, essa ficou linda… hum, essa aqui da pra maquiar um pouco. Olha essa Fla, olha essa, que linda. 

       - Bia, tô dirigindo. Não consigo ver. - ela não insistiu, mas voltou a ver as fotos na camera, conversando. Fomos segundo mais uma hora e meia de estrada, quando passamos por um chalezinho que servia café. Um casebre de madeira muito bonito e bem cuidado que servia café, bolo e tals, mas também vendia queijo, doce de leite, essas coisinhas. Eu virei um pouco mais agressivamente o carro e embiquei na entrada do casebre. 

        - Vamos tomar um café bonita? Pra eu não dormir no volante. 

        - Você quer que eu leve o carro? - ela me perguntou. 

       - Claro que não. Vamos toma um café caipira, um lanchinho gostoso. Vem - desci do carro, esperei ela descer também, sentamos em uma mesinha do lado de fora do casebre. Esperei um tempinho até não sermos atendidas e eu levantei e fui até o balcão. Peguei o cardápio e levei pra Bia poder escolher o que ela queria. Pedi um café preto, um queijo quente e um biscoitinho doce lá. A Beatriz, também viciada no café, pediu um, um pão de queijo e mais um lanchinho. Ficamos conversando, jogando conversa enquanto o café não chegava. Era uma cidade quente já, com a temperatura quente do interior de São Paulo. 

        - Flávia - falou com uma voz aveludada, suave. Levantei o rosto e me assustei num clique. 

          - Bia!  Que susto! - eu não havia visto ela levantar da mesa. Fiquei mexendo no celular e não vi ela levantar. E vou dizer que ela levantou muito sutilmente, e eu não vi. Ela fez o gesto pra eu sorrir. Um clique! Fez um outro gesto, levantei a caneca. Fomos conversando em gestos e atitudes, fazendo um ensaio fotográfico. A Bia fotografa é delicada, sorridente, capaz de se comunicar em olhares, na leveza.de movimentos. Quando vi já havíamos feito várias fotos. 

            - Já tenho o que eu preciso - curta e direta.

            - Acabou? 

            - Já tenho o que eu preciso Flávia. Volta pro seu café! - ela mesmo deu risada. 

             - Vai me mostrar essas fotos? 

              - Claro que não. Já falei que é pra um projeto pessoal. 

              - Isso é mancada Bia! Se eu sou a modelo posso ver as fotos. 

             - Não. Toma seu café e vamos pegar a estrada. Um dia te mostro, elas trabalhadas.

             - Pode ser elas assim, sem Photoshop - fiz uma cara de pidona. 

             - Não vou te mostrar as fotos. Nem com essa cara de cão caído na mudança. 

             - Porque não? 

            - Pelas minhas fotos, vai se ver pelos meus olhos! - ficou vermelha, olhou seriamente pra mim e depois pra baixo, escondendo o olhar, e voltou a falar: não sei se estou pronta para isso. 

        Um silêncio se instalou na mesa, levantei a caneca e engoli meu café quase raspando na garganta. Eu e a Bia nunca havíamos chegado nesse ponto, na verdade eu nunca havia nem percebido, só depois da Isa ficar me falando mesmo. Eu sempre tive um carinho gostoso pela Bia, não havia olhado ela como mulher. E falo mais, olhar ela como mulher é preocupante, porque eu namoro e porque ela namora meu amigo. Terminamos nosso café em silêncio, não um silêncio constrangedor, mas um silêncio de falta de palavras. 

        - Vamos seguir viagem Bi? - ela me olhou meio constrangida, sem entender eu não ter dado nenhum retorno. - Vamos ir direto agora tá?! Já paramos pra fotos, já estamos alimentadas. Se eu puxar com segurança, chegamos em 6 horas lá. Eu não quero pegar a estrada escura. 

        - Tudo bem. Está certa Flávia - respondeu seria, desconfortável. 

        - Bia, só vai ter climão se criar. E não tem motivo! Vem, coloca uma playlist animada pra aguentar até lá. Abre o sorriso e vamos embora - falei calma, mas do jeito direto e simples que sempre falei, curta e direta. Seguimos nosso trajeto pela rodovia por muitos kilometros. Eela ficou mexendo na câmera dela, às vezes cantarolando uma ou outra música. Minha cabeça estava rodando, uma preocupação bateu em mim, ao mesmo tempo que uma ansiedade que eu não queria sentir. A preocupação é pelo óbvio, mas a ansiedade me assustou, eu gosto da conversa da Bia, ela é toda envergonhada, o que acho lindo. Ela tem um coração enorme, machucado, em processo de cura. De uma certa forma me deu vontade de arriscar, de olhar ela como mulher. Mas não posso fazer isso estando em um compromisso, é uma questão de caráter. 

         Rodamos as 6 horas faltantes, sem conversas constrangedoras, sem novos temas pesadas. Fomos batendo papo leve, conversando coisas do dia a dia, não entramos no tema Bruna, Gabriel, nem nada sobre relacionamento. Entramos na cidade de Votuporanga, ligamos o GPS e fomos seguindo até a pousada que a Bia havia reservado para nós. Eu deixei essa tarefa na sua responsabilidade para dividir meios. Eu fiquei com organizar a viatura, abastecer, dirigir, essas coisas. Com a Bia ficou a responsabilidade de agendar os quartos, levar o material fotográfico, levantar a vida da ex esposa do Puca, agendar minha visita ao presídio onde ele havia ficado preso. 

  • Vou lá na recepção fazer o check in - falei assim que estacionamos. 

  • Não, deixa que eu vou - a Bia falou insistindo. 

  • Não Bi. Vou lá porque já peço a nota fiscal e tudo mais - ela fez uma carinha desconfortável, mas continuei seguindo. Não me custa nada ser cuidadosa e ir lá abrir nossa ficha. Cheguei na recepção da pousadinha e me apresentei, explicando que temos reservas de dois quartos. 

  • Senhora, temos a reserva de apenas um quarto de casal para o nome de Beatriz Coelho. Não há reserva para Flávia Albuquerque Silva. 

  • Não faz sentido isso senhor. Reservamos os dois quartos separados. Tem algum livre que eu possa ficar, pode ser de solteiro, simples. Uma barraca na piscina. 

  • Desculpa senhora. Estamos lotados. Está tendo um congresso médico na cidade, estamos completos. 

  • Puta merd* - pensei alto - me dá a chave desse aí mesmo. Vou ver o que eu faço - sai da recepção quase chutando o ar. Será que a Beatriz que aprontou ou houve um erro mesmo? Ah Beatriz! Quem não conhece que te comprei! - retornei ao carro e não precisei perguntar absolutamente nada para a Bia. Ela estava com o rosto abaixado, batendo a perninha compulsivamente. Cheguei perto e ela levantou o rosto, vermelho como um pimentão, uma expressão de preocupada que não conseguiu disfarçar. 

  • Tudo bem? - ela me perguntou. 

  • Ah Bia - eu ia falar, mas percebi que ela já estava toda contraída, provavelmente com medo da minha reação ou algo assim - houve algum desencontro. Não tem um quarto reservado pra mim. O seu está certinho. 

  • Não tem nenhum livre para você poder usar? - falou bem baixinho, pra dentro. 

  • Não tem. Essa pousada está esgotada. Acho que vou pegar a viatura e rodar aí pela cidade para pegar algum quarto. Em algum hotel deve ter vaga - falei seria, mas sem grosseria. 

  • Se você não se importar, pode dividir comigo - a bochecha continuou vermelha - serão só dois dias. Que mal pode acontecer? - 

  • Ah, se não se importar, eu divido com você.- eu mesmo queria dar risada do teatro dela. A Bia toda sempre certinha, delicada, às vezes até medrosa, mostrou que é capaz de tudo e um pouco mais para expor suas vontades e desejos. Isso é algo que me encanta em uma mulher. Alguém que não perde a oportunidade.

    Talvez sem a intenção, houve uma troca de olhar tão intensa entre as duas que eu entendi que eu já estava no jogo, que ela foi comendo pelas beiradas com tanta calma e cuidado que já havia me envolvido sem eu nem perceber. Ajudei ela com as três malas que havia levado, coloquei minha mochila nas costas e seguimos para o quarto da pousada. Abri a porta e entramos. Quartinho simples, mas muito bem arrumado e claro, uma cama de casal. Se a Bia que programou isso, ela não erraria em 2 camas de solteiro. Aí Flávia, como você é pamonha! Caiu na programação toda. Mas a Bia namora, é toda cheia de princípios, algo certo está errado. 

        Apoiamos as malas no chão, dava pra ver que ela estava tensa, talvez com medo do que ela mesmo provocou e organizou. Eu não vou deixar isso queimar a.viagem, que a pesar de ser de trabalho, é um refrigere, um período de paz espiritual. 

  • Bia, como amanhã vamos começar bem cedo, pensei em tomar um banho e pedir uma pizza ou sairmos para comer algo na cidade. Para otimizar. 

  • Ah Flavinha, pode ser. Aqui fora na sacada tem mesinha para comer. Podemos já fazer o pedido e pedir pra entregar aqui. Aí nem gasta tempo em ir na cidade. 

  • Tá bom. Vou ver na recepção se indicam alguma. Quer algum sabor específico? 

  • Ah, você sabe o que eu gosto. Me surpreenda - mais um olhar intenso. Não de me despir com os olhos, não. Um olhar de avança! Eu me enfiei nisso como? Era só uma viagem de trabalho. Sai do quarto, sem graça, provavelmente com o rosto vermelho. E pra mim o pior é que não estou conseguindo frear, não consegui ainda bater o pé e falar para, talvez porque de alguma forma eu não queria parar, eu queira continuar, ver até onde isso vai. Não sei exatamente. 

      Fui até a recepção da pousada e pedi indicações de pizzaria, em pouco tempo eu já havia feito nosso pedido, metade lombo porque gosto muito e metade 4 queijos que é a paixão da Beatriz. Sentei na parte de fora do quarto, na sacada, para esperar a pizza, mas principalmente para dar um espaço físico da Bia. Aproveitei, pela segunda vez no dia, para olhar meu celular. E a realidade lá estava, me esperando, várias mensagens da Bruna. Eram mensagens suaves: Já chegou na cidade? Está tudo bem? Quando puder me liga, estou com saudades. 

        Meu coração apertou, de saudade dela, de saber que ela está em um momento crítico no jornal sem o padrasto e eu aqui flertando, me deixando envolver. Isso não é justo com a Bruna, não é correto. Aproveitei o tempo da pizza e liguei pra ela. Me atendeu com uma voz cansada, que eu poderia dizer que estava dormindo, mas o som das diversas vezes ao fundo me diz que está no jornal. Me falou que o Antônio ainda não voltou e a Mayra já vai viajar para Londres novamente, e que a Bruna está preocupada com isso, alguma coisa estranha está acontecendo e não querem contar para ela. Eu queria que ela me contasse o que eles conversaram naquele dia da briga, mas eu não quero me envolver, mais do que o meu instinto investigativo já me alertou. 

          Conversamos sobre o dia dela e sobre a viagem a Votuporanga, com calma, eu mais ouvindo ela, dando apoio emocional. Desse tempo que estou com a Bru, só de conversar com ela percebi e entendi que ela está sobrecarregada, exausta e que vai trabalhar até tarde hoje, talvez emendar com amanhã. Ela realmente está cansada, da pra sentir isso pela voz dela. Fiquei no celular com ela acho que uns 20 minutos, tentando acalmar ela, passar boa energia, sei lá, apenas apoiando, como uma namorada habitualmente faz. 

   

           - Bi, a pizza chegou! - abri uma brechinha da porta e já chamei ela, sem olhar muito lá dentro - Podemos comer aqui fora? Tá mais fresquinho. 

            - Tudo bem! Estou indo. Quer prato e garfo? 

        - Ah, aceito - menos de um minuto depois ela estava na escadinha do quarto da pousada. E claro que ela havia programado alguma coisa, estava vestindo um pijama curtinho, preto, bermuda curtinha e a blusa de alça, decotada. Nitidamente um sexy sem ser vulgar. A Beatriz, nunca usou uma roupa dessa nesse tempo que dividimos apartamento, não comigo pelo menos. Eu, em automático, olhei ela de cima a baixo, depois tentei disfarçar, mas não deu, a Bia estava linda! As gordurinhas preenchendo os espaços e caraca, que arte. Tentei disfarçar, mas ela me olhou de um jeito que eu soube que eu não consegui, linda, linda. 

            - Pronto, prato e talher. Pego alguma coisa para beber? - perguntou naturalmente, voltando a ser a Bia que mora comigo. 

           - Eu esqueci. Desculpa - não havia pensado em bebida, ela até toma refrigerante, não pensei mesmo. 

              - Tudo bem - abriu a pizza e olhou - hummm, pediu quatro queijos, minha preferida. 

              - Tá vendo, eu cuido de você! Até sei a pizza que você gosta - acabamos voltando a nos  olhar estranhas, intensas.

             - Hummm, você sempre cuida muito bem de mim, sempre foi carinhosa. 

             - Bia…. - eu não sabia exatamente o que falar, parece que as palavras fugiram da minha boca. 

              - Flávia, eu não estou mais com o Gabriel. Terminamos - eu que tava colocando um pedaço de pizza no meu prato, parei e sentei, chocada com a informação simplesmente ejetada. 

              - Como assim? Agora? 

              - Não, já deve fazer uma semana ou mais - ela levantou com total naturalidade e me serviu um pedaço de pizza, onde o decote mostrou-se intensamente, e lindos, grandes, cheio de corpo real. Eu me perdi em mim mesmo, o que devo dizer? Devo ter ficado nitidamente sem resposta - Tudo bem Flavinha? 

          - Hum, eh… - respirei fundo - porque me contou isso Bia? 

          - Achei importante! Como você diz, todas as cartas na mesa. 

          - Porque vocês terminaram? - perguntei com certo medo da resposta. 

          - E isso importa Fla? - olhou novamente de um jeito intenso - estou gostando de outra pessoa. 

         - Bia, você já ficou com mulher alguma vez? - fui direta na pergunta. 

         - Isso tem alguma importância Flávia? Alguma importância real?

         - Bia, como você sabe que está a fim de mim? Não está confundindo as coisas? O carinho, o cuidado que eu tenho com você com outro sentimento? 

         - Quem disse que é de você que estou gostando? - ela tentou amenizar o clima, voltar a fazer daquele dia algo sutil, com as bochechas super vermelhas. 

          - Não precisa verbalizar, falou o dia todo Bia. 

          - Quer que eu pare? - direta, direta como eu sou e como adoro em uma mulher. 

          - Não. 

          - Ótimo! 

         - Isso não quer dizer sim. Eu namoro Bia! 

         - Ah Flávia, me poupe! Você e a Bruna mais se desgastam do que se cuidam, que se amam. Você sai pra casa dela, sempre volta chateada. Você nem percebe, mas se reduziu tanto para.caber no mundinho dela - que porr*da, fiquei em silêncio. A Bia com muito cuidado encostou a mão na minha mão, fez um carinho, eu não puxei a mão, dei espaço - Eu gosto de você, e não é pouco. Não estou confundindo cuidado, amizade. Eu terminar com o Gabriel foi algo muito pensado e calculado, não quero nada de mentira. Eu gosto de você Flávia. 

         - Bia… - não tirei a mão. 

        - E eu posso nunca ter dormido com uma mulher, isso não importa. Eu estou encantada pela Flávia, pela pessoa que você é. Isso não é sobre nome, categoria, classificação, é sobre isso aqui - respirou fundo - é sobre eu estar arrepiada segurando sua mão, é sobre o brilho que está no seu olhar nessa conversa, é sobre a vontade louca que eu tenho de te beijar!  

Fim do capítulo


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Comentários para 43 - Capitulo 43:
mtereza
mtereza

Em: 06/04/2024

Acho que a Bia ver a Flávia mais como uma tábua de salvação do ex  abusivo que ela não consegue denunciar do que outra coisa só está confundindo os sentimentos, prefiro o casal Bruna e Flávia rsrsr 

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polenazareth
polenazareth

Em: 28/03/2024

Olha,

Primeiramente, parabéns pela história novamente.

Esse desenrolar já imaginava desde o começo quando a flávia falou que deu em cima da bia, só que notei que ela não tinha nem percebido. Embora não sei se você chegou a mudar a versão antiga para essa nova, mas eu gosto de saber que a Flávia tem opção caso não dê certo com a Bruna. Só que fico meio que dividida, porque a Bruna e a Flávia vivem é um clichê romântico e talvez não seja sustentável na realidade, claro que essa história não é feita para ser, não sei se o termo verossimilhança se encaixa aqui, mas o fato é que seria triste ver a personagem que idealizamos trair a Bruna, ou seja, outra vez indo para o lado da utopia e não do carne osso, espero não ter sido confusa.

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yelli
yelli

Em: 24/03/2024

Gostei do capitulo... isso ai Bia ?

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DR3
DR3

Em: 24/03/2024

pelo início de leitura dessa "viagem" já deu pra ver que caminho a senhora quer levar ¬¬
lamento, nem terminei de ler e nem vou. "casal" totalmente nd a ver se vier a acontecer. então, dispenso!

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jake
jake

Em: 22/03/2024

Eita até que fim  .. Parabéns Bia pela iniciativa. 

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Socorro
Socorro

Em: 21/03/2024

Nada haver Bia e Flávia afff

 

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 21/03/2024

Vixe é Flávia vai dá um pé na bunda da Bruna.

Nada haver Bia com a Flávia.

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edjane04
edjane04

Em: 21/03/2024

Agora a minha mente bugou!!!

 

A Carol disse pra Fernanda que deu o depoimento para a namorada da Flávia, algo meio off. Ela jornalista, completamente diferente da Flávia. 

Será a Bia jornalista TAMBÉM?! 

Socorro!!!


jake

jake Em: 22/03/2024
Sim nesse período a Fla era delegada e Bia trabalha com ela acho q é jornalista sim


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