• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Artem
  • Capitulo V

Info

Membros ativos: 9502
Membros inativos: 1631
Histórias: 1948
Capítulos: 20,235
Palavras: 51,302,523
Autores: 775
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: jazzjess

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (849)
  • Contos (476)
  • Poemas (232)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (183)
  • Degustações (30)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • RECOMEÇAR
    RECOMEÇAR
    Por EriOli
  • Horrores, delirios e delicias
    Horrores, delirios e delicias
    Por caribu

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Kairós
    Kairós
    Por Mabre 27
  • Under The Influence Of Love
    Under The Influence Of Love
    Por Silvana Januario

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (849)
  • Contos (476)
  • Poemas (232)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (183)
  • Degustações (30)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Artem por Maysink

Ver comentários: 2

Ver lista de capítulos

Palavras: 3948
Acessos: 1541   |  Postado em: 18/03/2024

Capitulo V

O dia seguinte amanheceu bonito e radiante, totalmente avesso ao meu estado de espírito nublado e tempestuoso. A cena da noite anterior se repetia como uma penitência infinita. Não sabia o que machucava mais, minha covardia ou a memória terrível de Adélia. Tinha ciência que eu não conseguiria passar por aquilo sozinha. Não daquela vez. Me sentia doente, destroçada. Então recorri a única pessoa capaz de me ajudar, naquele momento. 

Thomas entrou no meu apartamento a passos calmos, como se temesse se deparar com um temporal violento. Meus olhos, cheios de lágrimas, serviram-lhe de incentivo para me tocar. O cheiro de sal e água fresca vinha fácil de sua pele. O cuidado de se limpar antes de me envolver no conforto de seus braços fortes, rompeu de vez a resistência da represa de emoções mal contida dentro de mim. Eu chorei. Desolada. Abatida. Ele me ouviu, pacientemente, permanecendo em silêncio até o fim, mantendo-me sob o aperto necessário de seu abraço acolhedor. Ele era o único que eu permitia estar tão perto, o único cuja dor das próprias lembranças não o atormentavam.

— Porque não contou a verdade, nena¹? – sussurrou cauteloso. Thomas tinha o dom de me tirar da zona de conforto sem causar mais danos, de trazer a realidade à tona sem julgamento. Eu o amava por isso!

— Eu não consegui. Meu egoísmo não me deu escolha. – suspirei derrotada, escondendo meu rosto em seu peito. 

— É medo e não egoísmo, meu bem. Já conversamos sobre isso. – enfatizou, docemente. Não ousei contradizê-lo, era a pura verdade. Eu não sabia lidar muito bem com o medo, e fugir parecia muito mais simples. — Você pode controlar, Helena! – sua afirmação tinha tanta certeza que quase me fazia acreditar que eu tinha essa capacidade, que era poderosa o suficiente. Só que eu não era.

— A quanto tempo não ouço ninguém me chamando assim. – digo afetada, me aconchegando ainda mais em seu abraço, como um gato manhoso querendo carinho. Ouvir aquele nome abandonado a tanto tempo, causava um calor agradável no peito.

— Você pode se esquecer de quem é, mas eu não. – lembrou, com afeto transbordando na voz. Era quase impossível esquecer, aquela maldição cumpria muito bem o papel de me lembrar constantemente de quem eu era.

— Ela merece mais que uma pessoa amaldiçoada, Thom. – segredei.

— Não é você quem decide isso!

Thomas ficou comigo por toda a manhã, me ajudando a ocupar a cabeça com os preparativos finais para a noite que teríamos. Sua preocupação o tornava mais cuidadoso que o normal, fazendo-o ceder aos meus caprichos bobos. Fosse assistir meu filme favorito até um almoço totalmente não saudável. Apreciava seu carinho, e não me restringi em aproveitá-lo ao máximo. Não era sempre que me permitia receber algo parecido. Que me permitia ser tocada de propósito.

Depois de ser tão bem cuidada, enfim o momento do tão esperado baile havia chegado. Thom havia ido embora com a promessa de voltar para irmos juntos até o museu. A certeza de sua presença ao meu lado me deu a força necessária para enfrentar o que ainda estava por vir. 

Após um longo banho relaxante, o vestido tomara que caia de cetim preto que eu usaria, aguardava estendido sobre a cama. O tecido fino e macio deslizou facilmente por minhas curvas, abraçando-as com perfeição. Tinha escolhido uma sandália de salto no mesmo tom negro, com duas tiras simples que passavam pelo meu tornozelo e dedos. Apesar de ser longo e pouco decotado, o vestido tinha uma fenda generosa na perna esquerda, expondo minha pele bronzeada adornada pelo fino leg chain prata preso no alto da minha coxa. O coque bagunçado, mas sofisticado prendia meus cabelos castanhos expondo meu colo desnudo. O espelho do quarto refletia bem a proposta do visual que havia escolhido, elegância e sedução. Eu podia estar quebrada por dentro, mas não mostraria isso a ninguém.

Horas depois, Thomas trajando um terno azul marinho e cacharrel gola alta preta, nos guiou até a entrada abarrotada de fotógrafos. Os flashes junto a cacofonia de vozes nos recepcionaram, imediatamente, quando pisamos no tapete vermelho estendido até as portas largas do MAC. Ao meu lado Sohan posava numa distância respeitosa, mas perto o suficiente para impedir qualquer aproximação alheia indesejada. 

Apesar de cheio, não foi difícil chegarmos com rapidez dentro do museu. Toda a organização da antessala de entrada focava na apresentação dos artistas, sendo mostrada em vídeos curtos através de painéis estrategicamente posicionados num caminho irregular indicando o local da concentração do evento. O ambiente espaçoso do salão principal onde seria o baile, tinha uma estrutura predominante em vidro e vigas de aço, que durante o dia permitia a luminosidade natural do sol banhar as esculturas expostas no solarium. Naquela noite, entretanto, a iluminação estava a cargo do extenso varal de pequenas lâmpadas enquanto as esculturas tinham refletores individuais iluminando-as diretamente. O jogo de luzes junto a decoração de cores quentes oferecia um ar intimista, cativante. As mesas de forros brancos foram dispostas entre as esculturas, enquanto o palco e o bar ficavam cada um de um lado do grande salão. Sabrina havia feito um excelente trabalho, me lembraria de elogiá-la quando a encontrasse.

Depois de incontáveis sorrisos forçados e cumprimentos superficiais, enfim consegui escapar das garras daqueles empresários gananciosos. Em outro momento, aquilo já teria acabado com minha paciência, no entanto, minha atenção estava voltada para algo mais importante, ou melhor em alguém. 

Não conseguiria precisar o quanto procurei por Adélia, mas sabia com perfeição sobre o tamanho da minha aflição devido sua ausência. Meus olhos observavam com empenhada minúcia o mar de pessoas ao meu redor, na falha tentativa de encontrá-la e, com sorte, pôr fim ao desagradável gosto da culpa que amargava minha boca – um sabor que eu inutilmente tentava aplacar com taças e mais taças de champagne caro. A quantidade de álcool que eu tinha ingerido nas últimas 24 horas facilmente colocaria uma pessoa comum num estado vergonhoso de embriaguez, porém minha mente me bombardeando com dúvidas ridículas, fazia a ideia de beber parecer certa demais para conseguir encarar aquela situação totalmente sóbria. Precisava, urgentemente, rever meus métodos de lidar com cenários de grande estresse. Tinha sérias dúvidas se era sangue ou apenas álcool correndo por minhas veias, naquela altura.

Como uma verdadeira fã de piadas de mau gosto, a vida pregou mais uma de suas peças, colocando na minha frente as duas únicas pessoas que eu genuinamente não queria voltar a ver. O casal pesadelo sorria para um grupo pequeno de pessoas que estavam ao seu redor, estavam tão à vontade que quase me fez duvidar se de fato tinha dado ordens claras sobre a presença deles não ser permitida ali. A apreensão de antes, deu lugar a pura raiva dentro de mim. Não era um bom momento para aqueles dois me testarem. Para a sorte deles, Ian, meu guarda-costas, foi mais rápido do que eu poderia prever, se pondo entre nós quando Mathias e Cassandra DuCaine deram passos decididos em minha direção. Era só o que me faltava!! Que a Deusa me poupasse de morrer de desgosto naquela noite!

— Senhora Graham, posso intervir? – questionou-me sem tirar os olhos do casal que se aproximava devagar. 

Se as circunstâncias fossem outras, não negaria que teria adorado presenciar Ian subjugando aqueles seres intragáveis. Todavia, a inteligência daquelas pessoas era inegável. Forçar uma aproximação aparentemente amigável na frente de tantas pessoas, era uma jogada bastante ousada. 

— Não! É isso que eles querem. Deixe-os fazerem seu pequeno show de dissimulação. – suspiro, cansada. — Só mantenha-os o mais longe de mim! – sentenciei, vendo-o se colocar protetoramente ao meu lado. Sabia que bastaria um olhar para que ele os colocasse para fora, e foi esta certeza que me deu segurança para enfrentá-los.

O cheiro enjoativo do perfume masculino de Mathias foi o primeiro a chegar, me exigindo um esforço extraordinário para não demonstrar o quanto fiquei enojada. Ambos estavam elegantemente vestidos de preto, o homem trajava um smoking ajustado de lapelas de cetim e a mulher um longo vestido com a manga longa cobrindo apenas o braço direito. Seria uma imagem a ser apreciada se não fosse o caráter intragável dos dois.

— É sempre um prazer reencontrá-la, Eva! – disse Mathias, num tom que transparecia uma intimidade que ele sabia muito bem que não tinha. O terno caro dava-lhe um ar sofisticado, mas eram os olhos castanhos traiçoeiros que entregavam a soberba explícita. Ao contrário da esposa, Mathias era mais cordial e maleável. Se a conversa se mantivesse somente entre nós dois não teríamos problemas reais, porém, meu receio residia na mulher instável ao seu lado.

— Não lamento dizer que não é recíproco! – rebati, duramente. 

Uma satisfação inebriante dominou meu corpo quando vi seu sorriso galanteador se desfazer com a resposta cortante, enquanto Cassandra se remexeu inquieta. Podia jurar ter visto a sombra de um sorriso entusiasmado sob seus lábios carmim. Detestava saber que minha raiva alimentava-a de alguma forma prazerosa. Maldita!

 — Que isso, Eva! Desde quando nos tratamos como inimigos? – a fala mansa de Mathias me arrancou um sorriso irônico. A falsa consternação em seu rosto me irritava ainda mais. Dissimulado, filho da puta!

— Não seja presunçoso, DuCaine! Se me dão licença, tenho assuntos mais importantes a tratar. – respondi, indiferente. 

Quando estava me distanciando do casal pesadelo, o que quer que estivesse segurando Cassandra pareceu libertá-la, pois a mulher avançou na minha direção, por pouco conseguindo me segurar pelo pulso. A atitude impulsiva dela teve reflexo imediato em Ian, que também agiu, impedindo-a de chegar até mim. A intervenção abrupta do meu guarda-costas a deixou mais hostil, bem como me deixou em alerta. Cassandra não era uma mulher muito comedida quando contrariada e tudo o que eu menos queria era lhe dar abertura para fazer uma cena ainda pior.

— Quanta deselegância, Eva! É assim que trata seus convidados? – o sarcasmo escorria de sua boca tingida em vermelho sangue. O ódio brilhando nos olhos escuros, me despertaram algo entre contentamento e receio. Uma pequena parte de mim, queria lhes causar o mesmo aborrecimento que andavam me causando, mas a lembrança de Cassandra foi muito clara sobre não ser uma boa ideia cultivar seu interesse genuíno. Tinha plena consciência de que desafiá-los só os tornaria mais obstinados. O problema todo estava no fato de eu ser uma mulher voluntariosa por natureza, ou seja, detestava ser coagida ou manipulada. Dava pra imaginar que não estava sendo uma tarefa muito fácil não enfrentá-los. Meu sangue quente somado a impertinência desmedida daqueles dois me fazia propensa a soltar ofensas nada veladas. 

— Sua inconveniência persistente também não é nenhum pouco adequada, senhora DuCaine. – diigo com desinteresse, sem conseguir segurar minha língua. Sabia que estava flertando com o perigo, mas minha paciência se igualava a zero naquela altura. Eu os queria longe. 

Felizmente – ou talvez nem tanto – antes que pudessem despejar mais um gracejo indesejável, outra pessoa que também andava acabando com meu juízo se juntou àquele encontro desastroso. Andando em nossa direção, Adélia parecia empenhada em acabar com o que restou da minha tranquilidade – eu tinha certeza! A visão de tanto de sua linda pele exposta no vestido marsala, serviu de deleite não apenas para os meus interessados olhos castanhos, como também para os dois convidados indesejados que observavam vidrados sua belíssima imagem se aproximando de nós. As alças grossas cruzando seu busto em x, deixavam à mostra os contornos do colo e do abdômen muito bem desenhados. Duas fendas retas se abriam nas laterais exibindo as pernas torneadas equilibradas em saltos altos dourados. O tecido leve dançava a cada passo firme que aquela mulher dava rumo a minha destruição. Seus cachos estavam parcialmente soltos, e duas mechas enfeitavam delicadamente as maçãs de seu rosto levemente maquiado. Ela estava espetacular! Uma deusa em meio a mortais. 

— Gostaria de poder dizer que é bom vê-los, mas não aprecio mentiras. – Adélia soltou num tom inesperado de arrogância, olhando diretamente para o casal pesadelo, depois de se posicionar ao meu lado. Sua hostilidade gratuita me arrancou um sorriso perigoso, ao perceber que eu não era a única desgostosa com a presença deles.

— Adélia, como sempre muito espirituosa! – respondeu Mathias numa cordialidade fingida. 

A certeza de que eles se conheciam me incomodou um pouco, mas não mais do que a curiosidade de saber “como?”. Um frio desagradável cortou minha espinha com as ideias descabidas que surgiram na minha mente. Pela Deusa, que não fosse nada do que eu estava pensando!

— O que posso fazer, é o que a adorável presença de vocês me desperta! – rebateu em pura ironia. 

Eu estava adorando aquela nova versão de Adélia. Sua graciosidade habitual havia dado lugar a uma aura intimidante e soberba, reforçando minha idealização de uma divindade em terras mortais. Só me restava descobrir qual tipo ela era, benevolente ou impiedosa – e eu torcia muito para que fosse a última!

— Agradeça a Daniel por esse reencontro inesperado. – Cassandra soltou sardônica. O olhar mortal dela dirigido exclusivamente a Adélia, me pôs em alerta total. Prevendo o caos iminente, me coloquei entre elas. Não queria expô-la ainda mais ao veneno daqueles dois, mesmo que Adélia parecesse compartilhar da mesma imprudência correndo em minhas veias, ao demonstrar não temê-los.

— Aproveitem bem esta noite, garanto-lhes que erros como este não voltarão a se repetir! – intervi, pondo fim aquela conversa. Com todo cuidado, toquei o tecido do vestido de Adélia, indicando que nos retirássemos. Com uma última troca de olhares cheia de promessas ameaçadoras entre nós quatro, nos afastamos, sob a atenção vigilante de Ian.

—Vou querer saber a história de vocês? – questionei em tom de brincadeira, mesmo que minhas mãos ainda tremessem pela adrenalina. 

Ao contrário do que esperava, Adélia não me respondeu de imediato, apenas se limitou a pegar uma das taças que foram oferecidas por um dos garçons que passaram ao nosso lado. Num espaço de tempo que pareceu longo demais, ela me olhou de um jeito enigmático, ponderado. Se ela os conhecia como pareceu, eu podia imaginar o que passava por sua cabeça, porque era exatamente o que se passava pela minha.

— Na verdade, acho que sou eu quem deveria perguntar isso! – me respondeu ardilosa, tomando um pequeno gole do champanhe, em seguida. Sua postura irreverente desarmou minha preocupação. Ela não parecia estar tão incomodada como eu, com a simples suspeita sobre qual o tipo de vínculo possuíam. Na verdade, ela parecia bem interessada.

— Não sei se isso é uma boa ideia! – afirmei, tentando soar indiferente. A festa ao nosso redor continuava, música e risadas criando um cenário vibrante, mas eu só conseguia pensar no rumo perigoso que aquela conversa estava tomando.

— Por favor, Eva, não instigue ainda mais minha curiosidade! – ela provocou, inclinando-se ligeiramente para mais perto, como se revelasse um segredo. — Me fala!

Eu poderia contar outra mentira, mas a conversa com Thomas me veio fácil à cabeça. Aquele era um bom momento para tentar o jogo da sinceridade. Um risco calculado, que eu esperava que valesse a pena.

— Eu não dormi com eles, se é o que está pensando. É menos… complicado do que isso. – optei pela meia verdade. Percebendo a insatisfação no olhar dela e como arqueou a sobrancelha, soltei um longo suspiro. Não esperava que nossa primeira conversa fosse aquela, mas se fosse para começar a ser sincera, ainda que a contragosto, eu seria. — Se os conhece bem, sabe das interações não tão… convencionais. Digamos que dentro das minhas limitações… compartilhamos certas experiências. – digo fria. O silêncio constrangedor que se seguiu não me ajudou a dissipar minha tensão, principalmente, quando podia sentir o peso do olhar atento dela, arranhando minha pele. 

— Que… perturbador... – ela disse, soltando uma risada incrédula, enquanto tentava esconder o brilho de fascínio que iluminava seus olhos. — Pensei que você tivesse senso de autopreservação, Eva, mas acho que me enganei. – a ironia em sua voz, transpareceu a diversão que ela sentia com a minha inibição repentina.

— Em minha defesa, inicialmente, não sabia o alto nível de toxicidade daqueles dois. – respondi, fingindo estar ofendida.

Adélia olhou-me com zombaria reluzindo em suas íris escuras, me fazendo compartilhar consigo uma risada divertida. O clima tenso se dissipou, e uma onda de alívio me invadiu ao perceber que estávamos em bons termos novamente. Era como se a leveza da conversa estivesse trazendo de volta um pouco da minha confiança que havia se perdido por um momento.

— Então quer dizer que você é adepta ao voyeurismo… bom saber… – ela comentou, deixando transparecer uma malícia que me fez estremecer. O sorriso largo e predador de Adélia provocou arrepios deliciosos, enquanto sua ousadia elevava meu nível de inquietação a extremos que eu não esperava. A conversa estava voltando a ser um jogo perigoso, e eu não sabia se queria fugir ou mergulhar de cabeça.

— Adélia! – repreendi, a voz saindo torturada, não pela provocação descarada, mas pelos pensamentos intrusivos que insistiam em surgir na minha cabeça. Ela estava brincando comigo, só podia! Mexendo com minha cabeça com aquelas incitações veladas, e o sorriso devastador escorrendo promessas. Eu não podia com aquilo! Aquela conversa havia ido de zero a cem muito fácil.

— Não pode me culpar! Foi você quem começou esse assunto. – advertiu, dando de ombros como se suas palavras não fossem nada além de inocentes. Rimos juntas outra vez, e um silêncio confortável se instalou. Por mais leve que o momento estivesse, eu ainda sentia o peso da noite anterior nos rondando. Era como se a situação não resolvida flutuassem entre nós. Respirei fundo, buscando coragem.

— Eu… gostaria de me desculpar por ontem à noite! Existem coisas que não sei se consigo te explicar, não agora, mas preciso que saiba que gosto de você, Adélia. Beijá-la foi como tocar o paraíso sem merecê-lo. – assumi. 

Mesmo cercadas de pessoas, para mim, só existia ela. Queria poder dizer-lhe toda a verdade sem parecer louca, mas depois de todas as emoções que passamos em menos de 24 horas, sabia que o momento não era propício.

— Sei que reagi muito mal, Eva! Novamente, peço desculpa por isso. Minha intenção não foi pressioná-la, mas também não vou fingir que não me agrada muito saber da reciprocidade do que sinto. – o carinho transbordando de seus olhos me fizeram sentir o sabor agridoce entre admiração e temeridade. — Tome seu tempo, eu estarei o quão perto você me permitir estar.  – seu sorriso afetuoso me preencheu de um sentimento que não sabia nomear. Adélia era meu oásis particular.

O restante da noite ocorreu sem mais incidentes. Não voltamos a ver o casal pesadelo – um grande alívio, e após cumprida toda a programação encerramos o evento com a certeza de que havia sido um grande sucesso. Parabenizei Sabrina pelo trabalho muito bem feito, garantindo-lhe uma generosa bonificação, e diante a evidente troca de olhares calorosos entre ela e o guarda-costas, dispensei-os, rapidamente. Despedi-me também de um Thomas afoito e claramente dividido entre me levar para casa ou aproveitar o restante da noite ao lado de uma lindíssima mulher que havia conhecido durante a festa. Apesar de tocada com seu carinho, o tranquilizei dizendo que Adélia me levaria embora, mal precisei terminar a frase para ouvir suas gracinhas habituais. Em meio a sua petulância corriqueira, percebi sua felicidade por estar me permitindo como havia me sugerido.

Após um novo convite, Adélia e eu compartilhávamos, outra vez, uma garrafa de vinho na sacada da minha cobertura. Diferente da primeira vez, o assunto fluiu tranquilamente. Expliquei melhor sobre a situação com o casal pesadelo, e Adélia depois de muitas risadas e ofensas voltadas aos DuCaine, me garantiu que iria conversar com Daniel sobre o ocorrido. 

Não demorou para os inevitáveis efeitos de Adélia me embriagassem de desejo. Nossas trocas de olhares entregavam a reciprocidade, enquanto nossas vontades se tornavam cúmplices de um apego intenso. A hipersensibilidade da minha pele tornava-me inquieta sob os olhares cobiçosos da mulher à minha frente. Adélia mantinha-me presa em sua órbita sem nenhum esforço. Rompendo meu fascínio ela se levantou, fazendo-me refém de suas maquinações perversas com apenas um sorriso repleto de lascívia. Ela ditou o caminho até meu quarto, me induzindo a segui-la como uma vítima enfeitiçada. Na meia luz do quarto, Adélia se despiu lentamente à minha frente, seus gestos delicados convidavam meus olhos a acompanharem, ávidos por mais. Cada pedaço de pele desnuda enviava pontadas deliciosas em meu ventre. Com o vestido a seus pés, ela caminhou como uma felina espreitando sua presa, me rodeando para depois se afastar quando tentei tocá-la. Minha prudência há muito esquecida na varanda junto das taças vazias. A distância que ela impôs, de onde eu permanecia estática até a beirada da cama queen size, foi sendo marcada pelo perfume característico de cravo e morango de sua pele cheirosa.

— Adélia… não… – tentei negar, mas minha voz saiu quebrada, entregando o quão refém estava daquela vontade devastadora. Eu via em seus olhos, que não era sua intenção que eu me rendesse à vontade de tocá-la. Ela queria me vencer no meu próprio jogo, liquidar minha racionalidade através da tortura que era ter de apenas observá-la. 

— O quer que eu faça? – suplicou, deitando-se devagar sob a cama, acomodando seu corpo despido de qualquer tecido. Sua pele escura contrastava maravilhosamente com o tom pálido dos lençóis. Os longos cabelos estavam ainda mais ondulados, selvagens, indomáveis. 

—Adélia! – repreendi, fraca. 

Um sorriso predador enfeitou sua boca carnuda e deliciosa. A ânsia de observá-la se dando prazer escapava por meus olhos famintos. Ela sabia o que estava causando! Sabia muito bem o estado caótico que suas palavras me deixaram, e estava se aproveitando descaradamente disso.

— Peça… – sua ordem tão necessitada consumiu de vez minha racionalidade. A lamúria em sua voz corrompeu completamente minha prudência. Não me contive, e não conseguiria se quisesse. Eu a queria demais, pela Deusa como queria. Não negaria aquilo que me estava sendo oferecido de tão bom grado.

— Se toca… Mostra o que passa pela sua cabeça quando pensa em nós duas juntas. – o sorriso largo dela foi uma amostra das indecências que eu ansiava. 

Observei atenta o deslizar vagaroso de seus dedos em sua pele, tudo ia sendo feito com tamanha gentileza que quase cedi a urgência de tocá-la com minhas próprias mãos. Adélia expôs seu dorso desnudo ainda mais arqueando as costas com o desejo escorrendo por cada uma de suas curvas tentadoras. A magnitude do que eu estava presenciando, dilacerava meu corpo numa agonia gostosa. Podia sentir na minha boca a possibilidade do sabor delicioso de sua pele macia e sedosa. O som que fugia de seus lábios entreabertos soava como um pedido implícito à perversão crua. A dança erótica que Adélia fazia nela mesma vibrava em meus músculos, despertando a necessidade doentia de vê-la alcançar seu ápice. Eu era uma maldita desesperada por qualquer mínimo gesto que ela quisesse me dar. Os movimentos voluptuosos de seu quadril contra seu toque ansioso irradiavam um calor opressor em meu ventre. O cheiro único de prazer pairava sob todo o quarto, me alucinando. E quando pensei que a imagem à minha frente não pudesse piorar meu estado febril e desejoso, o clímax tão desejado, nos alcançou, simultaneamente, longo e arrebatador. Vibrando nossos corpos em sincronia. 

Um tempo depois, enquanto a via dormir deitada, confortavelmente, na minha cama, pensei em como Thomas estava certo, eu precisava perder o medo. 

 

Adélia merecia que eu fosse corajosa.

Fim do capítulo

Notas finais:

¹ Garota, em espanhol.


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 5 - Capitulo V:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 24/03/2024

Coragem Eva.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

SeiLá
SeiLá

Em: 18/03/2024

Fuego!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web