Depois de ter ficado chateada com as minhas próprias atitudes impensadas, não consegui parar de pensar sobre o assunto. Eu estava visivelmente com ciúmes e não tinha nenhum direito de sentir isso. Afinal, ela não era nada minha além de amiga e não tivemos algo no início porque eu não dei espaço.

    Eu evitei tanto a Ágatha pela manhã que ela já nem mais estava ligando pra mim. Mas como ainda tínhamos uma boa cumplicidade, ela havia me informado que chegaria mais tarde naquele dia e que era pra eu não me preocupar. Claro que fiquei com um pouco de ciúmes, mas o que eu poderia fazer?! Quem se afastou fui eu, então eu tinha que aceitar. Por mais que no fundo eu soubesse que não era porque seus pais eram meus chefes que eu estava inacessível a ela, mas porque eu estava com medo de amar e sofrer novamente. 

    Ela saiu e eu fiquei refletindo sobre o dia anterior. Ela disse mesmo que estava apaixonada por mim? Um sorriso bobo se instalou em meus pensamentos ao pensar nisso. Não podia ficar o dia todo nesse looping, então resolvi colocar as minhas energias em cuidar da casa e de mim. Preparei o almoço e ainda por cima já deixei tudo no esquema para fazer uma pizza mais tarde para maratonar uma série que eu já estava doida para assistir "Stupid Wife".

    O dia foi passando, a casa já estava impecável de tanto que eu limpei para ocupar a mente, não tinha mais uma roupa para lavar e a pizza já estava no forno. Estava angustiada com a demora da Ágatha, eu a queria comigo. E comecei a aceitar que eu estava sentindo a sua falta, que não estava mais aguentando ficar sem ela e que eu tinha que deixar de ser besta e enfrentar os meus medos. 

    Refleti um pouco sobre como um possível relacionamento refletiria em nossas vidas, sobre os impactos no trabalho por eu estar com a filha da chefe. E se não desse certo?! Como seria depois? Será que seus pais aceitam normalmente a filha se relacionar com uma mulher? Eu seria vista da mesma forma no trabalho? Aliás, eu estou sozinha aqui, tenho medo de algo der errado e meu mundo desmoronar, eu ficar sem emprego, por exemplo, ter que me mudar novamente em tão pouco tempo.

    Sem contar que estávamos morando juntas. Como seria a nossa dinâmica se começássemos algo?! Sei que na maior parte dos relacionamentos lésbicos tudo acontece rápido demais principalmente pela intensidade. Eu queria ir com calma, não queria me precipitar, queria conhecê-la melhor, será que eu conseguiria ir dessa forma?

    Arrumei tudo para a minha sessão de maratona. A pizza estava pronta e eu estava doida para começar a assistir essa série lésbica e brasileira de que tanto falavam nas redes sociais. A princípio fiquei um pouco receosa de não gostar, mas conforme a história foi passando, mais eu me encantava.

    Era tarde quando ela chegou. Eu estava esparramada no sofá quase cochilando com um lençol parcialmente me cobrindo e já no penúltimo episódio da primeira temporada. Ela veio até mim, viu o que eu estava assistindo, disse que ia tomar banho e me deu um beijo na bochecha.

    Fiquei surpresa quando ela saiu do banho, parecia que tinha a intenção de me perturbar ainda mais. Com um cheiro um pouco cítrico exalando pelo ambiente e com um pijama totalmente sexy que eu ainda não tinha visto, veio até o sofá e simplesmente se deitou atrás de mim. Parei de respirar por alguns segundos com a sua atitude. Meu coração não parava de acelerar e eu confesso que estava gostando demais de tê-la colada em mim.

- Quero assistir com você. Tudo bem? - Ela perguntou.

    Murmurei um “uhum” quase incompreensível, ela passou um braço por baixo do meu pescoço, ficou com a cabeça apoiada na almofada mais alta, se adentrou no lençol e abraçou a minha cintura ficando com a respiração no meu pescoço e o corpo totalmente colado no meu. Se eu fiquei tensa?! Com certeza. Mas aos poucos fui me permitindo sentir o que estava acontecendo. Eu não sabia se eu prestava atenção na série ou nas sensações que o contato estava me fazendo sentir.

    O último episódio começou e eu não fazia ideia do que estava por vir. Comecei a me arrepender a partir do 5º minuto quando as personagens principais estavam exatamente no sofá se acariciando. Ao mesmo tempo que começo a me excitar com a série, sinto a Ágatha acariciando a minha barriga levemente e conforme vão se passando os minutos, eu a sinto enfiar a sua mão por baixo da minha blusa continuando as carícias bem suaves.

    As cenas que passam na tela não ajudam. Percebo que estou perdendo o controle do meu corpo e começo a empurrar a minha bunda contra ela. Minha respiração já está mais ofegante e eu necessito urgentemente do seu toque. Sinto sua mão apertar a minha cintura com mais força e um beijo molhado no meu pescoço. Viro o meu corpo para ela e simplesmente me permito sentir os seus lábios nos meus, ch*pando-os, ao mesmo tempo suave e intenso. Uma de suas pernas se encaixam entre as minhas. Enfio a minha língua na sua boca e vou encaixando o beijo. Que delícia de beijo, a sua língua se esfregando na minha, os nossos corpos se quase se fundindo. E de repente, em um momento de lucidez, eu me dou conta do que estamos fazendo.

- Lia, é melhor a gente parar por aqui.. Eu não estou conseguindo mais me segurar. Preciso ir com calma. - Sinto-a suspirar a contragosto - Eu tenho meus medos também. Tenho medo da gente trans*r e amanhã você não querer mais. Se eu entregar o meu corpo e você se arrepender depois, eu vou me sentir mal.

- Eu não vou me arrepender, fica tranquila. Estou aqui com você e como eu disse antes, vamos no seu tempo.

- Podemos ficar assim essa noite? Quero te sentir perto de mim.

    Ela assente, mas logo se levanta me puxando para a cama dela. Ela deita me indicando para fazer o mesmo e assim que eu me acomodo, ela se encaixa no meu pescoço me abraçando delicadamente até dormirmos.

Fim do capítulo