Nunca Te Amarei -- Capítulo 32

Em alguns passos chegaram à sacada do suntuoso apartamento. Luciana parou diante dele, o rosto demonstrando preocupação.

-- Não imagino como posso ajudá-lo, mas vou tentar.

-- Ótimo, então, vamos lá -- o homem sorriu com dentes muitos brancos -- Não acredito que o Arthur atentou contra a própria vida.

Luciana sobressaltou-se com a afirmação do avô de Kristen.

-- Isso é grave.

-- Muito grave, por isso peço que essa conversa seja estritamente confidencial.

Ela balançou a cabeça positivamente, acenando com uma das mãos. Francesco deu um longo suspiro e olhou para as mãos cruzadas sobre a mureta de proteção da sacada.

-- Arthur me ligou às oito da noite do dia anterior ao acontecido.

Um garçom passou próximo a porta com uma bandeja de prata cheia de taças de champanhe. Francesco pegou duas e entregou uma para Luciana.

-- Ele estava feliz, mas preocupado com algo que estava acontecendo na empresa.

A curiosidade de Luciana, naquele momento, era maior que os seus receios.

-- Ele falou o motivo da preocupação?

-- Não, ele me prometeu voltar ao assunto assim que sua desconfiança fosse confirmada.

Intrigada e um pouco esperançosa, Luciana esfregou as mãos uma na outra.Talvez, finalmente tenha encontrado uma pessoa que dividisse com ela as mesmas desconfianças e que não a considerasse uma pessoa fanática por teorias conspiratórias. Sentiu uma vontade gigantesca de contar tudo a ele, mas preferiu ser cautelosa.

-- O senhor Arthur em nenhum momento demonstrou estar infeliz, depressivo ou passando por alguma situação grave.

Francesco balançou a cabeça desanimado.

-- Isso é muito pouco, pensei que você pudesse saber de algo, qualquer coisa, por menor que fosse.

Luciana mordeu os lábios, tentando decidir entre a verdade e a mentira. Estava tensa, abriu e fechou a boca diversas vezes, mas nada saiu.

-- Vamos voltar para a festa, a Kristen já deve estar achando que eu te raptei -- ele disse, indicando o caminho da porta de vidro.

-- Senhor, Francesco... -- ela chamou, com voz trêmula.

O senhor olhou-a com expectativa.

-- Sim?

-- Precisamos conversar -- sua voz saiu baixa e lenta -- Mas não aqui. É uma conversa longa e difícil.

O avô de Kristen animou-se.

-- Você sabe de alguma coisa?

-- Sei -- ela respondeu e a língua parecia cortar a parede de sua boca de tão difícil que era aquela confirmação -- Só tenho uma condição.

Ele levantou uma sobrancelha.

-- Qual?

-- Eu vou falar tudo o que sei, mas a Kristen não pode saber. 

Francesco estranhou, porém, concordou. Precisava de informações, precisava de algo que acalentasse o seu coração tão perturbado.

-- Tudo bem, minha filha. Podemos tomar um café na Confeitaria Colombo? Adoro esse lugar, fica no Centro do Rio. Você conhece?

-- Conheço, mas nunca entrei. Parece tão chique. 

-- Elegante, tradicional é o mais correto.

O diálogo foi interrompido pela chegada tempestuosa de Kristen.

-- Pensei que tivessem fugido. 

Francesco sorriu e colocou a mão no ombro da neta. 

-- Bem que gostaria, sua namorada é um amor, conversaria com ela por horas a fio -- ele fez uma pequena pausa antes de continuar -- Marcamos um café para amanhã.

Luciana gelou, que velho caduco. Pensou indignada. Acabamos de fazer um trato e ele já prevaricou!

-- Que boa ideia, vô! Qual a cafeteria que vamos?

Francesco balançou a cabeça e sorriu.

-- E quem disse que você está convidada? 

Kristen ergueu uma sobrancelha.

-- Como assim não estou convidada?

Ele tomou um pequeno gole do champanhe antes de responder à neta.

-- Eu já te conheço muito bem, minha neta. Tenho curiosidade e interesse genuíno pela Luciana. Quero criar uma bela conexão com a namorada da minha neta preferida.

Luciana sorriu aliviada, ele estava certo em não mentir, ela que vivia  se metendo em confusões por causa de mentiras.

-- Sua única neta, né vô -- Kristen afirmou, ríspida.

-- Isso não importa. O que importa é que vou descobrir o que essa menina tem de tão especial que a fez admirá-la tanto. 

-- O senhor é muito metido, vô -- disse Kristen, irritada -- A namorada é minha, eu que escolhi e a sua opinião não importa.

Francesco não deu a menor importância ao comentário da neta.

-- Não adianta espernear, Kris -- o senhor disse, sorrindo de forma irônica. 

Luciana interviu, sem paciência.

-- Chega! Parem, os dois! Me desculpa, senhor Francesco, mas não gosto quando me tratam como se eu não estivesse presente -- respirou devagar, colocou a taça vazia sobre a mureta e se dirigiu exclusivamente a Francesco -- Estarei na cafeteria no horário combinado, será muito bom conversar com o senhor.

Francesco sorriu. Fez questão de contar a Kristen que se encontraria com Luciana na manhã seguinte. Mentira tem pernas curtas e não vai se sustentar; a verdade será revelada eventualmente. Kristen não precisa saber qual será o assunto, mas deve saber do encontro.

 

A festa estava animada e Luciana percebeu que a maioria dos convidados eram lésbicas e gays. Ela viu Kristen de longe rodeada por um bando de garotas, que babavam por ela, e é claro que a loira se divertia com aquela disputa que elas faziam por ela. Luciana fez uma careta e viu Jefferson conversando com Rick. Andou até eles.

-- Ei Lu, não sabia que estava aqui. Quer uma bebida? -- Rick perguntou sorrindo.

-- Quero sim -- ela respondeu, pegou o copo que ele lhe entregou e bebeu tudo em um gole -- Que delicia! Que bebida é essa? -- ela perguntou, olhando para o copo vazio.

Rick riu.

-- Foi eu que fiz e não adianta pedir a receita, é segredo de família -- ele disse e se virou, girando no calcanhares -- Eu vou dar uma voltinha! Até mais -- ele saiu, deixando os dois balançando a cabeça.

Luciana começou a rir.

-- Vou pegar mais um copo. Você quer? -- ela perguntou a Jefferson, que fez que não. 

-- Você está bêbada.

-- Eu não!

-- Tá sim, você não para de rir.

-- Só um pouquinho -- ela enfim, concordou. Jefferson riu.

Começou a tocar uma música da Lady Gaga que os dois adoravam, o rapaz puxou Luciana para o meio da sala e os dois começaram a dançar animadamente.

De longe, Kristen viu a cena e sorriu.

-- Meninas, com licença -- ela disse e saiu, deixando as garotas decepcionadas.

Kristen foi até o meio da sala e começou a dançar com os dois. Luciana parou por um instante e a encarou.

-- Cansou do seu fã clube? 

Kristen fez uma careta.

-- Não começa.

Com um suspiro exasperado, Luciana decidiu não discutir e continuou dançando até a música acabar.

-- Vou até a sacada, preciso tomar um ar -- ela disse e seu olhar passou pelos olhos de Kristen. 

-- Eu vou com você -- disse Jefferson.

-- Não precisa -- ela falou, virando-se de costas para os dois e saindo, passou pelo meio dos convidados até chegar na sacada.

-- Ela não quer você, mas eu ela quer -- Kristen deu um sorrisinho maroto para Jefferson antes de correr atrás de Luciana.

Luciana andava meio cambaleando. Kristen se aproximou.

-- Você está bêbada? -- ela riu.

-- Não! -- ela respondeu de imediato, mas em seguida riu -- É, acho que sim.

-- Vem, vou te levar para o meu quarto. Você descansa um pouco depois volta para a festa.

Luciana disse que sim. As duas andavam em direção ao quarto quando viram a sombra do senhor Francesco saindo do quarto de hóspedes.

-- Vamos fugir dele -- Kristen a puxou, se esconderam entrando em outro corredor e encostaram-se na parede -- Se ele nos ver vai querer ficar conversando até de manhã.

-- Coitado, Kris.

-- Coitado nada. Ele fala demais -- ela pressionou Luciana contra a parede sentindo o hálito quente em seu pescoço. Kristen puxou de leve o queixo dela fazendo-a encarar -- Você está maravilhosa, minha linda -- ela disse, sorrindo. Um sorriso tão lindo que fez o coração de Luciana disparar, ela praticamente podia ouvir os batimentos.

-- Obrigada. Você também está linda.

Kristen olhou ao redor para ter certeza de que o avô não estava por perto.

-- Agora podemos ir.

Assim que Kristen abriu a porta, Luciana foi ao seu encontro, seu beijo ansioso foi impedido pelo indicador da loira.

-- Calma, não é tão fácil assim.

Luciana a olhou indignada. 

-- Qual é? Está me esnobando?

Kristen sorriu.

-- Não é isso, olha aqui -- ela puxou Luciana pela cintura sentando-a na cama, permanecendo de pé em sua frente -- Primeiro quero te contar uma coisa.

Luciana suspirou.

-- Então conta -- disse, ainda sentindo os efeitos da bebida.

-- Eu não consigo parar de pensar em você -- ela acariciou o rosto de Luciana, levando a mão aos seus cabelos e os puxando delicadamente aproximando seus rostos e sussurrando perto de seus lábios -- Eu te quero.

-- O que você quer fazer comigo? Me conte todos os seus desejos... -- ela a provocou com o olhar e o tom de suas palavras.

Kristen tirou calmamente a mão dos cabelos dela e aproximou os lábios de seu ouvido -- Eu vou te levar à loucura, vou te dar o mais puro prazer, vou fazer você sentir o fogo queimando nas veias.

Luciana sentiu suas pernas tremerem. A bebida é um estimulante  que aguça o desejo sexual e aumenta a líbido. Além de aumentar o fluxo sanguíneo dos órgãos genitais, aumenta a excitação e proporciona orgasmos mais fortes. Luciana com certeza lembrará disso no dia seguinte.

Suas respirações sintonizavam em ritmo acelerado, Kristen tentou beijá-la, mas ela levantou-se da cama, se afastando para longe.

-- O que foi? -- Kristen a encarou sem entender.

-- Aos meus pés... -- Luciana sussurrou provocativa.

Kristen estava admirada, ainda não conhecia essa Luciana extremamente provocante. 

-- Sério?

-- Sim -- ela disse, sorrindo sensualmente, desabotoando lentamente a blusa, mordendo o lábio inferior e olhando diretamente para ela.

Kristen abriu e fechou a boca diversas vezes, mas nada saiu, apenas sentou na cama e observou a morena tirar a roupa lentamente para ela. Luciana virou suas costas nuas para Kristen, tirando o vestido e deixando-o deslizar até o chão.

Luciana a hipnotizava, tudo nela a deixava maravilhada. Ela tirou a calcinha e virou-se para Kristen.

-- Você é incrivelmente linda, Lú -- murmurou Kristen -- Parece um anjo.

Luciana sorriu.

-- Serei um anjo amanhã, hoje estou pensando em coisas nada angelicais -- disse e sentou-se no colo de Kristen, jogando os braços por cima dos ombros dela.

Luciana tinha algo no olhar que Kristen ainda não conhecia, ela queimava. A morena levou seus lábios para o pescoço de Kristen, subindo com seu beijo quente e molhado até a sua boca. 

Kristen segurou seus cabelos com carinho, tomando a língua dela para si, terminando o beijo com um selinho quando o ar faltou.

-- Teu beijo me enlouquece tem sabor de menta...

Luciana saiu de seu colo e a puxou, trocou a posição e sentou na cama apoiada nos cotovelos.

-- Tira a roupa, tira tudo -- ela pediu não conseguindo esconder sua ansiedade.

Kristen obedeceu imediatamente. Luciana correu os olhos por todo o corpo daquela mulher linda e mordeu o lábio inferior olhando-a nos olhos com um sorriso safado. Kristen estava indignada com o poder que Luciana tinha sobre ela. "Aos seus pés", a morena sempre a mantinha aos seus pés.

-- Eu te quero muito -- Luciana murmurou.

Kristen não esperou por mais nada, colou seus lábios sobre os lábios de Luciana e deitou sobre ela na cama.

-- Eu te quero muito mais -- seus lábios desceram para o pescoço trilhando um caminho e deixando marcas em cada ponto onde a sua língua passava. 

Luciana gemia baixo com os olhos semicerrados e a cabeça inclinada para trás. Kristen tomou um dos mamilos, mordiscando de leve, e Luciana começou a apertar-se ao redor dela. A loira beijou calmamente cada coxa, levou seus lábios até sua intimidade passando a língua por toda a extensão, fazendo-a contrair os músculos e soltar um gemido abafado. Kristen levou a língua até seu clit*ris brincando com o ponto e o ch*pou com força fazendo a morena apertar o lençol entre os dedos e gem*r alto.

-- Ahhh... -- ela gem*u perdida nas sensações que a língua da loira lhe causavam.

Kristen a ch*pava com maestria enquanto Luciana se contorcia na cama. Os quadris se moviam com maior velocidade, mas Kristen mantinha o ritmo lento, constante, querendo que ela chegasse ao orgasmo antes dela.

-- Mais rápido... mais rápido...

Então, Kristen aumentou o ritmo, o barulho de seus corpos se chocando tomava conta do local. Ela sugou o mamilo sentindo as mãos de Luciana em seus cabelos, apertando, quando ela jogou a cabeça para trás e o clímax tomou o corpo dela. Desejava que aquele momento, enlaçada pelas pernas sedosas, durasse para sempre. Então, Luciana arranhou suas costas e chegou ao ápice chamando por ela. 

-- Kristen...

Entre gemidos altos de ambas e o suor de seus corpos juntos, a energia que elas trocavam ao estar juntas. Elas chegaram juntas ao ápice. Seus movimentos foram parando aos poucos. Kristen se jogou ao lado da morena na cama, ambas olhavam para o teto recuperando suas respirações.

-- Você é a mulher da minha vida -- disse Kristen e a olhou.

-- É uma honra -- respondeu Luciana, ela riu e se apoiou em seu peito olhando em seus olhos -- Para você.

-- Sua idiota.

Luciana sorriu aconchegando-se ainda mais em Kristen.

-- É tão bom ficar assim com você -- ela disse mexendo nos cabelos encaracolados da loira enquanto Kristen acariciava os seus.

O som da música e o barulho das vozes foi ficando longe, longe... até que pegaram no sono. 

Luciana acordou sozinha na cama, sentindo aroma de café fresco. Quando se sentou, as cobertas escorregaram até a cintura e ela ficou surpresa com a própria nudez. Então, tudo lhe voltou à mente. 

-- Bom dia, meu amor. Dormiu bem?

Ela olhou à esquerda da cama e encontrou Kristen segurando uma bandeja com café e pãezinhos de queijo.

-- Dormi muito -- disse ela, assustada -- Perdi o encontro com o seu avô.

Kristen sorriu.

-- Calma. Ainda são sete horas da manhã. Um cafezinho e um pãozinho, não vai tirar a sua fome.

-- Tá bom -- respondeu, então enrolou os lençóis no corpo e se recostou na cabeceira -- Ainda é cedo. 

Quando Luciana estendeu a mão, Kristen manteve a xícara fora de alcance. 

-- Pode me entregar a xícara, por favor?

Kristen entregou o café e sentou-se na cama.

-- Estou curiosa em saber o que o meu avô quer falar com você.

Luciana deixou o café sobre o criado-mudo.

-- Você é muito cismada, o seu avô só quer conhecer a namorada da neta. Que mal tem nisso?

-- Meu avô nunca se interessou em conhecer as minhas namoradas.

-- Acho que ele gostou de mim. Você deveria estar feliz por isso.

-- Deveria, mas não estou.

-- Bem, preciso me mexer, pega um robe pra mim?

-- Desculpe-me -- disse Kristen com uma pequena reverência -- Prefiro que você mesma busque.

-- Kristen, não me deixa irritada -- disse de cara feia, com vergonha de sair nua da cama.

Kristen deu uma risadinha enquanto se afastava.

-- Onde está a Luciana safadinha da noite passada?

Luciana ficou vermelha. Muito vermelha. Ela se inclinou na beirada da cama se olhando no enorme espelho da parede do quarto. O cabelo estava horrível. Passar os dedos não adiantaria para arrumá-los. 

-- Pronto, se era esse o problema, aqui está -- disse Kristen ao voltar. 

Ela esqueceu os cabelos, pegou o robe que lhe era estendido e o vestiu. Assim que se ergueu da cama, Kristen a tomou nos braços e a beijou. 

-- Tem certeza que prefere tomar café com o meu avô do que ficar comigo?

Luciana enlaçou a cintura dela e apoiou-se em seu corpo por um momento. 

-- Temos todo o tempo do mundo, tenho certeza que umas horinhas com o seu avô não fará diferença alguma em nossa vida.

Kristen balançou a cabeça concordando.

-- Tá certo. Vá fazer o que tem que fazer, depois conversaremos.

Luciana se apoiou em Kristen, ficando na ponta dos pés para encontrar sua boca. Ela tinha sabor de pasta de dente de menta.

As línguas se encontraram em beijos longos e lânguidos. Os braços de Kristen a envolveram, arrastando-a com firmeza para junto do corpo, Luciana se agarrou aos ombros dela e soube que, acontecesse o que acontecesse, Kristen seria para sempre o grande amor de sua vida.

 

Fim do capítulo