Bom dia, queridas leitoras! Mais um capítulo pra vocês. Lembrando que esse é especial, pois é o primeiro na versão da Júlia! Espero que gostem, aguardo o feedback de vocês <33
Capitulo 3 – Uma velha tradição
Júlia
O farfalhar de vozes no Dona Delícia – o meu restaurante preferido do Centro – está intenso hoje. Motivos? Estamos em janeiro e em plena sexta-feira no horário do meio dia. Mas nem por isso desvio a atenção do pequeno pedaço de papel que está em minha frente.
Nem sei quando foi a última vez que tive inspiração pra escrever algo assim. Acho que a última vez que compus alguma coisa que se parecesse meramente com uma música tinha sido em Nashville, quando – embora já tivesse saído da banda há anos ou já estivesse formada em administração – eu ainda mantinha uma certa chama de esperança acesa dentro de mim.
As coisas que você deseja conquistar ainda se parecem possíveis quando se está na casa dos vinte anos. Mas é tudo um pouco diferente quando você tem trinta e cinco e já vê vislumbres dos seus quarenta anos chegando.
Só que, estranhamente, estar com a Sofia quase me faz ter a sensação de ser aquela Júlia de novo, a com brilho no olhar que via uma vida inteira de possibilidades pela frente. Talvez porque, ao menos pra ela, eu realmente seja.
Quase sinto uma pequena faísca querer se acender de novo. Não uma forte o suficiente pra me fazer desejar mudar de vida a essa altura e recomeçar algo que eu tinha começado com uns quinze anos de idade. Mas uma faísca brilhante o suficiente pra me fazer ter vontade de compor e experimentar melodias no meu antigo violão durante toda a semana, desde que tínhamos ido ao Pub e ela tinha me encorajado a voltar a cantar.
Olho para o meu celular pra verificar se ela não tinha me mandado alguma mensagem.
Pensei em buscá-la no Sebo para almoçarmos juntas, assim como temos feito na maioria das últimas sextas-feiras, até cheguei a clicar na nossa conversa, mas então desisti na metade do caminho.
A Sofia tinha basicamente me ignorado a semana inteira em quase todas as mensagens que eu havia mandado pra ela, e eu só fui descobrir o motivo ontem, quando conversamos em seu quarto. De qualquer forma, eu já vou precisar lidar com ela amanhã à noite, e eu nem sei como vou me sair com isso.
Apesar de que pareceu que ficamos bem, depois da nossa conversa. E antes dela ficar sabendo do Clóvis, nós duas estávamos bem até demais. Esse é o problema.
Deixei pra contar pra Marta só quando completou dois meses. O que não era muito quando a gente se via esporadicamente, só no meio da semana, quando ele estava livre do trabalho, ou em alguns domingos. Bem, mas foi suficiente para a Marta se empolgar demais, com certeza, e para falar mais do que deveria. Apesar de eu achar que a Sofia se comportaria da mesma forma, mesmo se ela tivesse ficado sabendo por mim, e não por ela.
E eu só acabei contanto a Marta pra ver se ela parava de dar os seus sermões sobre eu já ser "tia" – acrescente muitas aspas aqui – e continuar sozinha. O que é injusto já que ela quem me colocou nessa posição quando eu ainda era bem jovem, então não conta, né?
Mas acho que concordava com ela, de certa forma. Eu já tinha trinta e poucos e minha vida com certeza estava muito longe do que deveria estar, ou do que eu queria que estivesse. Bom, eu tinha uma casa própria, já era mais do que muitos tinham, mas não era o suficiente. Já estava na hora de eu ter alguém a quem recorrer, não é?
E foi bom tê-lo na minha cama, depois de muito tempo. Além de ter o fato de eu já o conhecer. Eu já sabia o que esperar e sabia de todos os seus defeitos também. Era melhor do que se decepcionar com uma cara novo, de novo, que com certeza faria outras merd*s que me decepcionariam ainda mais.
xxx
Retiro algumas latinhas de Smirnoff Ice – a bebida alcóolica preferida dela – do engradado que eu trouxe enquanto aguardo a Sofia sair do banho. Resolvi esperar aqui fora pra evitar qualquer coisa desnecessária. E por coisa desnecessária, quero dizer acabar vendo ela tirar a roupa ou algo assim.
Era umas dezenove horas quando cheguei para a nossa "noite de filme na piscina". Nós já tínhamos enchido a piscina inflável retangular e ela pareceu agir normalmente enquanto fazíamos isso, mas ainda assim continuo com a sensação de que não deveria estar aqui. Quero dizer, agora que estou sozinha na área de Jardim da Marta – a que é envolta por piso de travertino – parece ainda mais uma má ideia.
Mas eu não poderia deixar de vir, isso com certeza só estremeceria ainda mais as coisas entre a gente, sem falar que essa era uma velha tradição, quase que sagrada para nós duas.
Começou quando a Sofia e o João Pedro eram bem pequenos. Eu ajudava o Seu Olavo a projetar o filme em uma lona branca e a encher as piscinas infláveis enquanto a Marta preparava as pizzas caseiras na cozinha externa deles. Costumava a ser um "programa em família", e era bem divertido, até as crianças – principalmente a Sofia – se darem conta de que passar tempo com a família não era assim tão divertido, principalmente pelas discordâncias dela com a mãe.
Mas depois de alguns anos, quando a Sofia tinha uns treze, ela me contou que sentia falta daquilo e percebi que eu também, então decidimos voltar a fazer. Aí virou uma tradição reinventada, só nossa. E a gente escolheu o dia 13 de todo o mês, quer dizer, a Sofia escolheu. Por que? Eu só sei que tinha a ver com a Taylor Swift. Um dia eu até tentei entender, mas desisti na metade da explicação, e é isso.
Mas enfim, agora nós colocávamos a piscina inflável dentro da piscina de verdade para "elevar a experiência a outro nível", como a Sofia gostava de dizer.
Alguns objetos também foram substituídos por outros, com o passar do tempo. Não enchíamos mais a piscina inflável com ursinhos de pelúcia, como fazíamos antes, ao contrário, a gente colocava um pequeno cooler para mantermos as bebidas geladas. Nós não víamos mais filmes de aventura ou de ação, hoje a gente assistia mais terror, muito drama e algumas comédias românticas, quando a Sofia estava afim de me agradar. A Marta e o Seu Olavo não faziam mais "a noite da pizza", ao invés disso, eu e a Sofia pedíamos uma pelo ifood.
– Não deixa a Sofia fazer o que quer. – Desperto das minhas lembranças ao sentir a Marta logo atrás de mim. – Da última vez o rapaz que trabalha na manutenção da piscina ficou encontrando azeitonas por uma semana.
Seguro o riso. Eu me lembro disso, foi quando a gente ficou tentando acertar azeitonas e ervilhas na boca uma da outra até constatarmos que definitivamente aquilo só dá certo em filmes. É claro que a Marta nunca ficava sabendo dessas coisas.
– Ei, pode deixar. – Dou um toque em seu ombro, tentando tranquilizá-la.
É o que eu sabia fazer de melhor: apaziguar as coisas. Eu não concordava em como a Marta se colocava na relação das duas, sempre jogando ainda mais lenha na fogueira. A Sofia nunca facilitou as coisas, é verdade, mas ela não era a mãe? Não tinha que dar o exemplo ou algo assim?
Era cansativo estar sempre no meio das duas tentando neutralizar a situação ou sendo a "Suíça" na relação, mas acho que eu ainda continuava fazendo isso – e continuaria por muito mais tempo – pela Sofia.
A Sofia era a minha.... hm, sei lá, a única pessoa que conheço desde o seu primeiro dia de vida e que mantenho uma relação tão forte assim até hoje? Acho que isso fazia eu me sentir responsável por ela, de certa forma. Muito mais do que como eu me sentia em relação ao João Pedro, o que era estranho quando eu era a madrinha dele, e não dela.
Observo a Marta se afastar e ir em direção a grande casa que estava toda iluminada por fora, na varanda e sacadas, e com uma meia luz na parte de dentro. Essa tradição havia se tornado algo meu e da Sofia e ela sempre respeitava não ficando em cima de nós duas ou disputando pela a minha atenção.
Como uma filha pôde ter saído tão diferente da mãe assim? Porque as duas eram como água e azeite, incompatíveis, além de nunca se misturarem muito bem. E eu sabia que não tinha a ver com a idade. Não conheci a Marta com a idade da Sofia, mas tenho certeza que ela nunca foi assim. A Marta sempre agiu guiada pela razão, – intensa? sim, mas contida – enquanto a filha era puro coração e estava em outro patamar de intensidade. A Sofia se fazia de durona e indiferente por muitas vezes, mas eu sabia como ela era. Ainda me lembro do dia que ela me ligou dizendo que precisava muito falar comigo, quando estava no ensino médio ainda, e quando a gente se viu ela me abraçou e começou a chorar dizendo que ela tinha ficado sabendo que os filhotinhos de patos do lago onde ela passava todos os dias tinham sido comidos por outro animal.
Quero dizer, ela era esse tipo de garota. Ela diz não se importar com as coisas, mas ela sente isso de verdade, e se importa como ninguém.
Estou terminando de transferir as latinhas de Smirnoff Ice para o pequeno cooler quando a vejo saindo de dentro da casa e depois atravessando o jardim para chegar até aqui. E, ridiculamente, me sinto nervosa, aquele nervosismo completamente sem sentido que venho sentindo quando estou com ela agora, como se eu já não a tivesse visto assim um milhão de vezes antes.
Ela está vestindo uma camiseta bem larga bege e um shortinho vermelho com bolinhas brancas tão curto que mal dá para notar que ele está ali. Meus olhos acabam descendo até as suas coxas, como se fosse inevitável. As suas pernas eram um pouco parecidas com as da Marta, mas tinha algo só dela ali, no jeito único de como eram compridas e grossas no lugar "certo". Desvio o olhar antes que ela perceba para onde eu estou olhando.
Vejo que está trazendo aquele notebook mais velho do que sei lá o que em baixo do braço, o que ela continua usando só porque tem entrada para CDs e ela pode usar pra rodar os DVDs que ela traz do trabalho. Eu que já tive que trabalhar usando disquete dava graças a Deus por poder usar streamings e colocar tudo na nuvem hoje em dia. Mas acho que a Sofia gostava de dificultar as coisas, só pode. O que era meio fofo também, mas eu não falaria isso pra ela.
– O que vai me fazer assistir hoje? – Pergunto de uma forma que faz parecer que vir até aqui assistir algo com ela é uma obrigação, só para provocá-la.
– Serpentes a bordo. – Ela agita o DVD no ar (que não percebi que estava segurando) e sorri parecendo verdadeiramente feliz. Em algum momento eu tentei entender o gosto da Sofia por certos filmes, mas agora já tinha desistido depois de perceber que não fazia sentido algum e que não seguia nenhuma lógica.
Pelo menos era um filme de terror e não de um romance ou drama que quase sempre envolvia cenas românticas também. Já cobras atacando todo mundo em um avião? Por que não? Parece um terreno seguro pra mim.
A gente termina de colocar tudo dentro da piscina inflável: o notebook, alguns travesseiros e almofadas, um lençol, – porque cobertas nesse calor definitivamente não iria acontecer – o cooler e algumas trufas pra comermos depois do jantar.
Tiro uma uma foto pra postar nos Stories e digito a frase:
"Noite de filme na piscina com a minha baby girl".
Sorrio já imaginando a cara que ela faria quando visse isso, mais tarde.
Eu adoro a chamar de "baby girl" ou "quase afilhada" e essas coisas. Eu adoro vê-la com a cara fechada e deixando escapar um sorriso quando pensa que não estou mais olhando. Eu sei que ela não fica irritada de verdade. Sei que ela gosta disso tanto quanto eu porque é uma provocação nossa que só a gente entende. Algo que eu tenho certeza que a família dela jamais vai entender.
Aproveito para pedir a nossa pizza. Seleciono o "peça de novo" já que a gente sempre fazia o mesmo pedido todos os meses: Uma pizza grande com borda de catupiry dividida entre três sabores: pepperoni (o meu preferido), estrogonofe de filé – eca! – que era o preferido da Sofia, e quatro queijos, que nós duas gostávamos.
Colocamos a piscina inflável dentro da água com cuidado e, como de costume, ela entra primeiro e depois me estende a mão para me ajudar a entrar. Ajeitamos os travesseiros para deitarmos uma do lado da outra e quando ela finalmente coloca o DVD no compartimento do notebook e dá o play em seguida, me sinto estranhamente desconfortável com a sua presença tão próxima do meu lado. Não lembro desse espaço ser tão apertado assim antes, mas não poderia ter encolhido, poderia?
Tá, isso com certeza seria mais complicado do que imaginei.
Os nomes dos atores começam a surgir em tela na cena inicial quando a Sofia se aninha do meu lado, pousando a cabeça sobre meu ombro. Seu corpo está tão próximo ao meu agora que eu até consigo sentir o quanto ela está cheirosa depois do banho.
Acho que ela havia trocado de shampoo. O antigo dela cheirava a coco enquanto esse tinha cheiro de melancia, melão ou algo assim. O seu cabelo ainda está úmido, de modo que passa certa umidade pra minha blusa e consequentemente para minha pele, mas nem por isso a sensação é de algo frio, pelo contrário, tudo está tão quente aqui agora.
Merda.
Sinto um involuntário desejo de encostar alguma parte do meu corpo nela também, mas me detenho.
Quantas vezes ela ficou nessa posição enquanto eu "penteava" os seus cabelos com os dedos, despretensiosamente? Mas agora tudo o que eu penso em fazer parece ter uma vozinha que grita em resposta: "Está louca? Não faça isso!" E eu só obedeço, ou pelo menos tento.
Me esforço a manter os meus braços fixos ao redor do meu corpo como se eles estivessem realmente presos ali e não soltos e livres para colocá-los onde eu bem entendesse. Balanço a cabeça, como se assim eu pudesse afastar esse último pensamento.
Eu tô muito fodida.
Percebo ela se mexer do meu lado e prendo a respiração quando vejo ela esticar o braço, envolvendo a minha cintura. Eu me sinto aquecer sob minha pele com aquele seu toque, meu ventre de repente é invadido por um calor repentino que desce lá para baixo e... puta merd*, se ela ouvir o quanto meus batimentos estão descontrolados agora?
Estou prestes a tirar o braço dela dali dando alguma justificativa estúpida do tipo: "está muito quente hoje" (o que não seria nem uma desculpa, na verdade) quando a sinto se movimentar novamente. Droga, será que a Sofia percebeu alguma coisa? Já que afasta a cabeça do meu peito e volta a ficar ereta do meu lado.
Mas melhor assim, de qualquer maneira.
Tento me concentrar na tela em minha frente, apesar de as imagens se parecerem muito mais com borrões agora do que com cenas que fazem algum sentido, porque nem sequer consigo me ater ao que está em frente dos meus olhos.
É só cobras matando todo mundo, Júlia, você consegue fazer isso.
Fico falando comigo mesma.
Mas aí é que eu me engano. Quando estamos em menos de meia hora de filme eis que começa uma cena de sex* – completamente fora de contexto, diga-se de passagem – no banheiro do avião. Cadê a porcaria das cobras, pelo amor de Deus? Como pude me esquecer de que esses filmes de terror dos anos 90 e início dos anos 2000 adoravam usar a imagem de mulheres com peitos de fora gratuitamente e sem propósito algum?
A cena nem é tão longa assim, mas parece durar uma eternidade. Tento ignorar a presença da Sofia bem aqui do meu lado me atentando apenas ao filme e... meu pensamento voa enquanto acabo imaginando como seria a sensação de apertar os seios de uma mulher assim e... brincar com o seu mamilo durinho com a ponta da língua. Quero dizer, era muito gostoso quando um homem fazia isso em mim, então... o quão excitante poderia ser causar essa sensação em uma outra mulher?
Me lembro da Sofia me dizer que era uma experiência única, mas havia sido a primeira vez dela, quando ela me contou, é claro que tinha que ser algo único mesmo, né? Mas... seria assim também, pra mim?
Mordo o lábio inferior com tanta força que começo a sentir o gosto de sangue na minha boca logo em seguida.
Puta que pariu, qual é a droga do meu problema?
– Casais héteros e a sua falta de criatividade quando o assunto é fazer sex* em locais "inusitados" – Ela fala de repente, fazendo aspas no ar na última palavra, me tirando daquele meu delírio fantasioso. – Você não deve fazer muito isso com o Clóvis, não é? Quer dizer, trepar em locais inusitados. Ele parece bem careta, pelo pouco que me lembro dele.
Sinto a pulsação entre minhas coxas martelar só de ouvir ela falar aquela palavra.
Ah, ótimo, mais essa agora. Da onde ela tirou isso, porr*?
Aquela garota vinha com cada uma. Tinha vezes em que ela ainda se parecia com a Sofia de antigamente. Outras vezes, no entanto, ela falava coisas que me pegavam completamente desprevenida. Tão confiante, sincera e verdadeira. Como quando ela me falava que eu deveria voltar a cantar.
Sei que para ela, provavelmente eu era aquela figura imutável, como se eu sempre tivesse sido aquela mesma pessoa que ela admirava desde criança. Eu sei porque já fui criança e já admirei certos adultos próximos a mim, como uma figura de referência ou algo assim.
Mas as coisas eram muito diferentes sobre a minha perspectiva. Para mim haviam três "Sofias", cada uma com suas próprias características:
A Sofia de antes de eu viajar, a garotinha mais fofa que eu já vi e que me via como uma super-heroína ou algo assim. Depois, a Sofia de quando eu voltei. Ainda continuava sendo uma criança, óbvio, mas já não era mais a mesma.
Ela não me chamava mais de "Tia Júlia", mas também foi quando passou a me chamar de "Jules". Logo depois seus seios começaram a aparecer e ela também começou a menstruar. Já sentia atrações amorosas. Me confidenciou que achava que gostava de meninas, depois de um ano ou dois começou a querer falar de sex*, o tempo todo. Bom, como ela era adolescente, eu não me importava que me contasse, ela precisava recorrer a alguém, e eu também não me importava de ser esse alguém, até porque ela nunca se deu bem com a mãe dela. Dentro desse contexto, foi natural ela me procurar. É claro que eu não falava pra ela sobre o que eu fazia, por mais que ela ficasse curiosa e quisesse saber.
E bem, tinha a Sofia de agora. Acho que nós tínhamos ficado muito mais próximas depois que ela terminou com a última garota com quem estava ficando. Acredito que tenha sido muito conveniente, para nós duas, já que não tínhamos mais ninguém. Além do mais, nós não éramos muito de ter amigos, a Marta com certeza era a minha amizade mais sólida, então.
Agora deveria parecer normal compartilhar essas minhas coisas com ela também, com ela já adulta e tudo o mais. É o que ela parecia estar esperando. Só que continuava sendo um pouco estranho pra mim.
– Sabe, existem coisas mais importantes do que o sex*, quando tiver a minha idade você vai entender. – Digo finalmente, relutando em ter aquela conversa com ela.
– Isso parece uma boa desculpa para não assumir que ele não é bom de cama.
Como é que é?
Sinto o sangue do meu rosto ferver por debaixo da pele, não sei se de raiva ou constrangimento.
Quem ela acha que é pra ficar insinuando essas coisas? O que a faz acreditar que ela tem esse direito?
– Na verdade, o pau dele é de um tamanho médio e de circunferência bem ok, e quando eu digo bem ok eu quero dizer que é grosso o suficiente, portanto, acredite, o sex* não é ruim. – Acabo soltando e ela me olha como se eu tivesse a insultado.
Ah, merd*, será que eu falei demais? Talvez a Sofia não fosse tão adulta assim quanto pensei, no final das contas. Sem falar que esse é o tipo de coisa que eu sempre comentei com a Marta, mas nunca, absolutamente nunca, com ela.
– Você sabe que sex* não é só sobre isso, não sabe? Pelo menos não deveria ser.
Ela fala e sinto o soco no estômago. Tá aí a Sofia adulta atacando novamente. Ela me faz parecer ter uns dezesseis anos e me sinto uma idiota. Quando ela tinha ficado assim tão inteligente?
– Dã... É claro que eu sei. – Digo tentando recuperar a credibilidade, se é que isso ainda é possível. – O Clóvis é... – Fico pensando no que dizer, mas me faltam palavras.
Ele era o que? Eu sabia que ele não era nenhum príncipe encantado, personagem de filme nem nada parecido, ele não fazia eu me sentir nas nuvens ou no paraíso enquanto transávamos, nem mesmo sabia me tocar nos lugares certos, se é o que ela queria saber. Como explicar que a gente não tem muita opção de escolha, a partir de uma certa idade?
– Ele é muito bom no que faz. – Minto um pouco. – E eu conheço ele há tanto tempo, nós temos uma história e... tem sido muito bom, estar com ele. Ele me faz bem, faz eu me sentir segura.
É isso.
Fico torcendo pra que o assunto morra aqui e ela não me pergunte mais nada. Eu não saberia mais o que dizer.
Se faz um silêncio, ela me olha de um jeito sério e fico tentando decifrar o que está pensando agora, mas não consigo.
– Por que estamos falando do Clóvis? Quando não é a minha mãe é você. – Ela me acusa de repente.
– Hã? Foi você que me fez falar dele! – Estou terminando de dizer quando escuto algumas buzinas vindo do portão principal.
– Deve ser a nossa Pizza. – Ela diz parecendo aliviada por não precisar continuar com aquela conversa. Bem, pelo menos eu estava. – Quer me ajudar com isso? – Pergunta notando que a piscina inflável já tinha flutuado para o meio da grande piscina e que precisaríamos "remar" para chegarmos até a borda.
Esse era o problema da nossa "grande ideia". Parecia uma boa ideia no início, mas uma péssima no final.
– Eu não sei como você pode gostar de comer isso. – Digo quando a vejo pegar o seu segundo pedaço da pizza de estrogonofe com as mãos e enfiar a pontinha em sua boca.
Eu gosto de estrogonofe, mas não entra na minha cabeça que era algo que se come em uma pizza. Tipo, por que não adicionar arroz também pra já não virar uma refeição completa?
– Você gosta de homens, Júlia, e nem por isso fico te criticando. – Ela retruca com certo humor e sinto que está bem mais relaxada agora, depois da pizza. Relaxo também.
– Aham, tá, cala a boca e come, vai. – Digo em tom de brincadeira e ela revira os olhos e depois sorri daquele jeito que ilumina todo o seu rosto, aquele que faz com que eu me sinta a pessoa mais especial do mundo, já que eu não a vejo sorrindo assim pra mais ninguém.
Ah, Deus, como eu odeio esse maldito sorriso. Odeio como ele me faz querer abrir aquilo que eu tranquei dentro de um lugar seguro em minha mente desde o ano novo, para que eu não tivesse mais acesso e, principalmente, para que nunca, jamais, ninguém encontrasse.
Fim do capítulo
Ooi leitoras! Já estava com saudade de vocês!?
Prometo que no próximo capítulo vocês ficarão sabendo o que "quase rolou no ano novo". Não quero ninguém esperneando e me ameaçando de morte até lá, tá? kkkkkkkkkkk amo vocês <33
Agora, a perguntinha do dia que não quer calar: O que acharam da Júlia??
Perguntinha número 2: Vocês estão achando os capítulos muito longos? Pretendo começar a fazer alguns um pouco mais curtos daqui pra frente (se eu conseguir kkk), pra facilitar a leitura, o que acham?
Mais uma vez queria agradecer de coração a todas que estão acompanhando a história e engajando com ela, vocês alimentam a minha vontade de escrever e fazem tudo valer a pena.
Então, por favor, continuem favoritando a história, comentando pra que eu saiba o que estão achando do desenrolar das coisas (vocês não fazem ideia do quanto fico feliz com cada comentário) e divulgando da forma que puderem, para que assim a história possa chegar em mais pessoas. Gratidão!
Comentar este capítulo:

Letticia.lima
Em: 24/06/2024
Em 2014 eu li uma história incrível nesse mesmo site, nunca mais eu encontrei uma história tão boa que me prendesse tanto quanto aquela até ontem quando me bateu uma curiosidade com o título da história. Você é uma autora incrível parabéns de verdade. Eu tô amando cada capítulo

alinavieirag
Em: 24/06/2024
Autora da história
Aaaaah querida, que comentário LINDO. Emocionada aqui! Muito obrigada pelo carinho e pelas palavras. Significa tanto pra mim. Espero que continue acompanhando
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Sem cadastro
Em: 20/02/2024
Continue com capítulos longos!
Adorando a história!
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Brescia
Em: 12/02/2024
Oi, é tão, tão desafiador, sexy e até sádico não poder esprimir tudo que se passa nessas cabecinhas que contar os minutos para nós e quase enlouquecedor,rs.
Vamos ao próximo!

alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Aah querida, obrigada pelo seu comentário, fico muito feliz que a história das duas esteja despertando tantas sensações!
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jake
Em: 07/02/2024
E bom saber oque a Julia pensa.Acho que o Clóvis é apenas uma saída, um passatempo. Os cap estão perfeitos. Parabéns

alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Aaah, muito obrigada pelo carinho e pelo seu feedback!
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patty-321
Em: 06/02/2024
Adorei saber o que se passa na cabeça da Júlia.bjs

alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Obrigada pelo seu comentário! Fiquei muito feliz em saber.
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Mmila
Em: 05/02/2024
1) Jules, está em processo de aceitação.
2) Os capítulos estão de bom tamanho.

alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Obrigada pelo feedback, querida! Realmente, Júlia tem um processo longo pela frente kkkkkk
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SeiLá
Em: 05/02/2024
Obrigada pelo capítulo! Elas meio que se parecem sei lá kkkkk, continua com os capítulos longos kkkkk.

alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Obrigada pelo seu comentário! Continuarei com os capítulos longos depois de todas as minhas leitoras preferirem assim kkkk inclusive, postei o capítulo 4 hoje!
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RafaVieira
Em: 05/02/2024
Amei o ponto de vista de Julia! Capítulo incrível!
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