Bom dia, leitoras!
Postando mais um capítulo novinho em folha pra vocês, espero que gostem!
Aguardo os feedbacks! =)
Capitulo 2 – Sr. Bigodão
Sofia
Infelizmente, eu me lembrava de quem se tratava.
O Clóvis foi o namorado da Júlia que veio um pouco antes dela finalmente fazer a tal viagem pra Nashville que ela queria ter feito logo quando eu nasci. Não lembro de ter durado tanto assim. Que eu saiba, eles terminaram uns dois meses depois dela ter ido, ou nem isso.
Ele era tão estúpido. Cheirava a menta e hortelã – super enjoativo – e tinha um bigode irritante, que eu imagino que devia irritar ainda mais na hora de fazer certas coisas, se é que você me entende.
Mesmo criança eu não entendia como a Júlia podia se interessar por alguém assim.
E é claro que hoje eu entendia ainda menos.
Parando para analisar agora, a Júlia tinha um péssimo gosto pra homem, puta que pariu hein.
Eu estava começando a ficar enjoada. Não sei se pela comida estranha que minha mãe tinha levado um dia inteiro pra preparar – sério, o que diabos ela tinha colocado ali? – ou se era pela conversa.
Dou as minhas últimas garfadas e decido sair dali, ou então vomitaria no prato se ouvisse mais.
– Sofia Maria, eu estou falando com você! – Ouço minha mãe esbravejar (só para a noite seguir normal, como em todas as outras) enquanto me direciono para o meu quarto.
Eu não sabia o que tinha me deixado mais irritada: Essa volta repentina do Sr. Bigodão – na minha cabeça de criança, ele sempre se chamou assim – ou simplesmente o fato dela não ter me contado. Por que ela não contaria? Acho que essa segunda parte deixava tudo ainda pior.
Deito na minha cama de colcha lilás com almofadas da Taylor Swift. Sim, eu sou esse tipo de pessoa, me julguem.
Olho pra a estante com minha coleção de DVDs. Alguns de terror, pouquíssimos de comédia romântica e a maioria de drama. Eu sempre venho pra cá e fico olhando pra eles quando estou nervosa. Eu sei que pra maioria das pessoas isso é super ultrapassado e não faz o menor sentido tê-los em casa. Mas eu amo e pra mim faz todo o sentido sim. Ponto. Além do mais, trabalhando onde eu trabalhava, não foi muito difícil chegar ao número de cento e oitenta DVDs. Meus olhos vão passando por alguns exemplares: Um Olhar do Paraíso, How I Live Now, Escritores da Liberdade, O Curioso Caso de Benjamin Button, Carol... A Júlia tinha me dado muitos deles também, principalmente os de edição especial ou de colecionador.
"Júlia"
Fecho os olhos enquanto aperto uma almofada com força, lembrando do motivo de eu ter vindo pra cá agora.
A Júlia nunca me contou dos seus outros relacionamentos com muitos detalhes, isso é verdade. Mas isso foi antes, quando eu era mais nova, e ela também nunca teve relacionamentos muito duradouros do tipo de 'trazer aqui em casa" – porque isso com certeza significaria um relacionamento sério, já que a minha mãe é basicamente a única figura materna que a Júlia tem e que a nossa família é praticamente a dela. Pelo o que eu me lembre, ela só ficou casualmente com uns dois caras do escritório onde ela trabalha, em festas de confraternização. E também teve alguns outros que foram tão insignificantes que eu nem me lembro. A Júlia nunca teve relacionamentos sérios e de um real compromisso, essa é a verdade.
Tanto que isso sempre deu motivos pra minha mãe ficar reclamando. Dizendo que ela deveria arrumar alguém pra dividir a vida e que não fazia sentido ter quase trinta e seis anos e não ter ninguém, porque na idade dela ela já estava grávida de mim e casada com meu pai há anos e todas as merd*s possíveis e tal.
Minha mãe deve estar pulando de felicidade agora. O que só me dá mais motivos pra ficar mais irritada ainda. Que ódio. E pelo jeito que ela tinha falado lá na sala de jantar, é como se eles realmente estivessem tendo algo um pouco mais sério do que uma trans* casual.
Eca, não sei porque eu tinha pensado nisso. Era a coisa mais nojenta de se imaginar.
Pego o meu celular e abro na nossa conversa. Então revejo o vídeo que editei rapidamente de todas as filmagens que tinha feito dela lá no Pub. Eu tinha escrito "guapa" e mandado pra ela quando ainda estávamos no Uber.
Sinto o meu peito apertar.
Eu me sentia tão traída, tão deixada de lado, tão insignificante. Começo a digitar:
"Quando você ia me contar????????"
"Pensei que fossemos amigas"
"Melhores amigas"
"Ah, não, esqueci, a sua melhor amiga é a minha mãe"
Uma lágrima involuntariamente brota do meu olho enquanto terminava de digitar aquela última mensagem.
"EU ODEIO A MINHA MÃE!!"
Digito, agora com as lágrimas já rolando pelo meu rosto.
"E EU ODEIO VOCÊ, JÚLIA!!1"
Fico encarando a tela do celular, que agora é só um borrão na minha frente.
Quanta maturidade, Sofia.
É claro que a minha consciência de jovem adulta me manda apagar tudo e enviar apenas um "E aí?", que é o que eu acabo fazendo.
xxx
Na manhã seguinte, quando acordo e pego meu celular, vejo que a Júlia tinha me respondido. Ela havia me enviado uma das fotos que eu tirei dela na noite passada. Era uma em que estava com o copo de tequila na mão enquanto mostrava a língua entre os dentes, sorrindo. Ela havia acrescentado uma legenda:
"Eu bebendo com 25"
Logo abaixo me enviou uma outra foto, aparentemente de minutos atrás, onde estava debruçada com os braços e cabeça sobre uma das mesas do escritório onde trabalhava. A descrição dessa segunda foto era:
"Eu bebendo com 35"
E ainda acrescentou:
"Aproveita enquanto ainda tem 18"
Ela era tão, tão idiota. Por um breve momento eu quase não me lembro de sentir raiva. Ela até havia conseguido me fazer sorrir, por uns breves segundos. Mas então o momento passa e eu só mando:
"Pode deixar"
Pelo menos ela tinha razão, já que eu estava praticamente com nenhum resquício de ressaca da nossa bebedeira de ontem à noite.
Jogo o celular em cima da minha cama, com raiva. Era mesmo inacreditável o quanto ela continuava a me esconder sobre o Clóvis.
Nossa, como eu me odiava por estar dizendo aquele nome, mesmo que por pensamento. Acho que eu deveria voltar com o "Sr. Bigodão", pelo menos dessa forma ele continuaria ocupando o espaço do ridículo que nunca deveria ter deixado de ocupar.
Começo a me arrumar rapidamente torcendo pra não esbarrar com minha mãe lá em baixo. O meu dia com certeza já não vai ser um dos melhores e dar de cara com ela logo cedo com certeza só deixaria tudo pior.
Como eu agradeço por ter um trabalho e não precisar ficar em casa com ela hoje.
Eu quase havia implorado – mentira, eu realmente implorei – por aquele emprego e por aquela função, que até então nem exista, diga-se de passagem. Eu adorava frequentar o Sebo de livros e DVDs que ficava perto da minha antiga escola, na Avenida Hercílio Luz, no Centro. Só que ele era tipo assim, um caos, juro, com DVDs empilhados no chão e coisa por toda a parte que fazia a gente tropeçar, fora que nada estava na ordem e era pura sorte se você saísse de lá levando o que realmente foi procurar. Foi com esse argumento (dizendo que eu ia ser uma ótima pessoa pra dar um jeitinho no lugar) que eu convenci o Seu Afonso a contratar uma única e exclusiva funcionária, só pra essa função: Eu.
A verdade é que – estando fora da escola e sem conseguir vaga pra faculdade – não tinha a menor condição de eu passar o dia todo com a minha mãe. Ou eu arranjava alguma coisa pra fazer ou nós duas íamos nos matar, mais cedo ou mais tarde. E foi assim que eu arrumei esse trabalho, na base do puro desespero.
Eu não trabalhava naquilo que eu sonhava em fazer um dia. Mas parando pra pensar, não era assim tão distante, já que eu lidava com o produto final. É, eu queria ser cineasta um dia. Quero dizer, talvez roteirista ou diretora de arte, enfim, são muitas as possibilidades, isso se um dia eu conseguir entrar em algum curso, claro.
Logo quando saí do ensino médio fiz alguns vestibulares, mas não passei em nenhum. Na época, absolutamente qualquer coisa parecia melhor do que decorar fórmulas ou tentar entender questões do tipo: Se num avião há 4 romanos e um inglês, qual o nome da aeromoça: a) Maria. b) Judite. c) Letícia. d) Ivone ou e) Luiza.
Não entendeu nada, né? Pois é, nem eu.
E pra falar a verdade, ainda hoje qualquer coisa continua parecendo muito melhor do que isso.
Acho que eu soube que queria ser diretora e roteirista ainda quando era criança, quando assistia Titanic ou Ghost – "do outro lado da vida" e ficava sonhando em um dia ser a pessoa responsável por dizer "ação" do outro lado da tela e fazer a magia acontecer.
Minha mãe adora dizer que é coisa de desocupado, de quem não sabe o quer da vida, etc. Justo ela, que fez ADMINISTRAÇÃO. Pois é.
A Júlia mesmo só fez administração porque era a vontade da mãe dela, e além do mais, segundo ela, todo mundo dizia que cantar e ter uma banda não dava futuro.
Às vezes me pego pensando em como seria a sua vida agora se ela tivesse continuado na banda de escola que ela tinha, se não tivesse desistido de cantar, se não tivesse feito administração. Nós provavelmente não teríamos nem nos conhecido caso ela tivesse seguido por esse caminho, mas... fico pensando se não seria muito mais feliz.
Ela não dá o braço a torcer, mas eu percebo que ela não é feliz de verdade. Bom, só sei que eu não vou cometer esse mesmo erro. Foda-se o que minha mãe acha ou deixa de achar.
Quando estou no canteiro central da Avenida Hercílio Luz prestes a atravessar a rua, vejo que a porta de entrada do Sebo já está aberta. Pego o prendedor de cabelo de cetim rosa choque com bolinhas amarelas que deixo no meu pulso pra qualquer emergência. Começo a fazer um rab* de cavalo enquanto atravesso. São nove da manhã e o totem de temperatura marcam 29º. Coloco algumas das longas mechas do meu cabelo castanho escuro para trás da orelha quando chego em frente a porta. Os aparelhos de ar condicionado que têm aqui com certeza não dariam conta do calor, não quando já está assim tão quente no início do dia.
– Por favor, Seu Afonso, me diga que teremos muito trabalho hoje. – Falo para o dono do Sebo (mais conhecido como o meu chefe), um homem negro e grisalho com seus sessenta e muitos anos que já estava a postos, atrás de seu balcão.
– Bom, dia. Teremos uma entrega hoje. Alguns livros para vendermos como coleção e... – Ele me olha por cima das lentes dos seus óculos arredondados, seu olhar iluminado. – Alguns DVDs antigos também.
Yes!
– É disso que eu estou falando. – Abro um sorriso.
– Você é uma boa garota, Sofia. – Ele me chama pelo meu primeiro nome. Foram horas de dedicação semanais convencendo-o a não me chamar de "Sofia Maria". – Qualquer marmanjo chegaria fazendo corpo mole em uma segunda-feira, mas você não.
Dou um sorriso de canto de boca.
No momento, eu só era uma garota precisando de muita distração. Mas não ia contrariá-lo. Deixo-o pensar que sou uma ótima funcionária. Melhor assim.
Começo o dia fazendo o que sempre faço: Dou uma geral pra ver se nenhum cliente deixou alguma coisa fora do lugar e aproveito pra me perder entre corredores e pequenos cômodos abarrotados – do chão até o teto – de livros, CDs, vinis, DVDs e tudo o que for desse tipo que você possa imaginar. Ano passado o Seu Afonso comprou a casa que era grudada do nosso lado e com isso pôde ampliar o seu acervo. Mas o que eu mais gostei dessa mudança é que antes o que eram banheiros, pequenos quartos e sala de estar, viraram pequenos labirintos secretos pra você poder vasculhar por uma vida inteira sem nunca conseguir ver tudo o que tem aqui.
Sério, esse trabalho com certeza estava no topo da lista dos empregos perfeitos. Pena que não pagava muito bem. Mas também era querer pedir demais.
Já passa do meio dia quando a encomenda do Seu Afonso chega. Eram quatro grandes caixas de papelão, o que significava que eu seria imensamente feliz pelas próximas horas, ou até dias, dependendo de como seria o movimento aqui na loja.
Tinham vários livros, como ele antecipou. Quando abro a primeira caixa entendo o que ele quis dizer sobre "vendermos como coleção". Haviam diversos livros repetidos e dos mesmos autores, como uma porção de exemplares de O Cemitério Maldito, O Iluminado, Carrie – A Estranha, o que significava que a gente poderia formar vários "combos" e vender por um preço camarada. É, fazer isso seria divertido.
Mas é claro que o meu coração de cineasta fala mais alto e me faz abrir a outra caixa onde eu suspeitava que estariam os filmes, e, surprise, lá estão eles. Meus olhos se iluminam ao encontrar as caixas de plástico retangulares de: Pulp Fiction, O Silêncio dos Inocentes, Amor Além da Vida, Clube da Luta, Meu Primeiro Amor, entre tantos outros que eu nem tinha esbarrado o olho ainda. Se isso não é um verdadeiro deleite para os olhos, eu não sei o que é.
Como você já deve ter percebido, acreditando ou não, o meu gênero preferido é drama. Não sei, talvez porque quando eu assistia um a minha vida parecia menos triste, menos trágica. Na verdade, acho que era porque eu sentia a minha dor acolhida. Tem algo de acolhedor em assistir a dor alheia. Eu provavelmente pareço estranha falando desse jeito – e também bastante dramática – mas aposto que isso teria alguma explicação. Uma explicação que eu provavelmente saberia se estivesse cursando Cinema.
Era melhor eu começar a estudar ainda nesse mês, ou então lá se vai mais um ano perdido. Apesar que só a ideia me fazia querer arrancar meus olhos. Mas eu tinha bastante tempo livre aqui, e eu aposto que o Seu Afonso não se importaria. Certeza que não. O grande problema é que eu era muito boa em arranjar desculpas para adiar o enfrentamento de certas coisas.
xxx
Estou agrupando a coleção de livros da Sarah J. Maas. Me lembro como se fosse hoje do dia em que uma garota veio aqui e me perguntou se a gente tinha pornô de fadas – nós tínhamos muito pornôs aqui sim, mas de fadas??? – e daí quando eu indiquei o mini cômodo onde ficavam os filmes adultos ela ficou toda errada e me explicou que estava falando da série de livros "Corte de Espinhos e Rosas".
Lembro de a Júlia e eu ficarmos rindo disso durante uma semana inteira. Eu adorava contar aquelas histórias, e ela amava ouvir. Ela era a única – além de mim mesma – que achava que aquele era o melhor trabalho do mundo, já que ela odiava o dela. Ela dizia que eu tinha sorte, por poder fazer aquilo que queria.
"Júlia" de novo, mas que merd*.
Já era quinta-feira – o que significava que já faziam quase quatro dias desde a última vez que a gente se viu – e aquela já era a quarta ou quinta vez em menos de uma hora que o seu nome surgia na minha cabeça. Não demorou muito para a tarefa com as encomendas virar um trabalho repetitivo e a minha mente vagar para onde não deveria.
O problema é que agora toda a vez que pensava nela eu me sentia na merd* de novo. Tinha sido assim a semana inteira, acho que só segunda-feira que consegui me distrair por mais tempo.
E era frustrante perceber o quanto ela estava presente entre os meus pensamentos diariamente, a todo instante. Ainda mais porque agora eu não deveria e nem queria pensar.
Tento me distrair enquanto coloco elástico pra agrupar os livros e corto pequenos pedaços de papéis para escrever o preço, mas eu não duvidaria se até esse elástico amarelo ou o cheiro da caneta permanente começassem a me fazer lembrar dela do nada.
Quando chego em casa, no final do dia, tudo o que penso é em como quero tomar um banho gelado pra tirar essa camada pesada de suor que foi se formando sob minha pela desde a hora que acordei até agora. Mas então algo me faz ficar em estado de alerta quando coloco a chave na porta e a empurro para entrar. Não demora muito para ouvir várias vozes diferentes vindas da sala de estar. Logo vejo que minha mãe está sentada no meio do nosso sofá de canto com várias mulheres a sua volta e... com ela, bem do seu lado.
Em frações de segundos os nossos olhares se encontram, e o meu coração chacoalha. Droga, como não imaginei que minha mãe daria uma de suas reuniões mal-assombradas hoje? Mas hoje era quinta e ela geralmente fazia na sexta-feira, e não era toda a semana.
A Júlia estava com o olhar um pouco vazio e com os braços cruzados em frente a cintura, provavelmente se arrependendo por ter vindo com uma blusa tão curta no meio de todas essas mulheres pseudo cultas. Será que todo mundo percebia isso, ou só eu que a enxergava desse jeito? Como ela conseguia ser tão transparente em alguns momentos e uma total incógnita em outros?
Eu nunca entendi porque a Júlia continuava participando desses encontrinhos sem futuro. Garanto que era só para agradar a minha mãe e, egoísta do jeito que Dona Marta era, ela nem percebia que a Júlia não gostava daquilo, que na verdade não gostava nem de administração ou do escritório, muito menos daquelas suas reuniõezinhas.
Primeiramente, aquela mulher odiava chá.
Sério, toda vez eu tinha vontade de chegar lá e dizer "gente, o negócio dela é tequila", mas ela me mataria se eu fizesse isso. Só não vou mentir dizendo que não seria engraçado. Ah, seria, ainda mais imaginando a cara da minha mãe na hora.
– Não vai cumprimentar as minhas amigas? – Minha mãe pergunta enquanto eu tentava (de maneira frustrada, como você deve ter percebido) passar desapercebidamente pela sala de estar para subir até o meu quarto.
– Oi. – Digo secamente olhando exclusivamente para a Júlia, porque, apesar de eu ainda estar bastante chateada, ela continuava a ser a única pessoa ali que tinha a minha atenção.
Ela me devolve um meio sorriso.
Eu sigo em direção as escadas e subo revirando os olhos para o que eu estou prestes a fazer.
Olho para trás na direção da Júlia antes de começar a subir o segundo lance e faço um sinal com a cabeça para que ela me siga.
A verdade é que a Júlia precisaria me chatear um pouco mais do que aquilo pra que eu a deixasse refém do egoísmo da minha mãe.
– Eu vou lá falar com ela. – Escuto a Júlia falar em baixo tom.
– A relação das duas é tão linda. – Uma das amigas da minha mãe comenta.
– A Júlia sempre fez questão de estar presente, mesmo não sendo a madrinha oficial. – Minha mãe responde com aquele tom de voz que fazia o meu estômago revirar.
Fecho a cara e vejo a Júlia rir (provavelmente da minha cara, literalmente), enquanto começa a subir as escadas atrás de mim.
– Oi, tia Júlia. – Meu irmão aparece no corredor do primeiro andar.
Reviro os olhos de novo. O fato dela ser a madrinha (real) dele não dava passe livre pra continuar chamando-a assim. Ah, pois é, quando o João Pedro nasceu – vemos aqui que tivemos uma evolução de nome composto na família já que ele não se chama "Pedro João" – a minha mãe chamou a Júlia pra ser a madrinha e não deu pra trás dessa vez. Mas hoje os dois têm praticamente nenhuma relação, como se fosse uma provocação da vida, vai entender.
Fora que eu também achava pateticamente bizarro o fato dele ainda chamá-la de tia enquanto encarava os seus peitos como um cachorro babão, ou coisa pior.
Eu odiava a forma com que ele passou a olhá-la de uns dois anos pra cá.
– Aposto que ele vai se masturbar pensando em você. – Digo quando o vejo entrar no banheiro do corredor.
– Sofia, ele é só um garoto.
Ela me olha com certo choque.
Será que só eu percebia que ele já tinha quinze anos?
– Você diz isso porque nunca viu as guias abertas do celular dele, ou os nudes na galeria. – Coisa que, infelizmente, eu já tinha visto.
– Que nojo. – Ela faz uma careta.
– Exatamente.
Agora estávamos falando a mesma língua.
Abro a porta do meu quarto para entrarmos e depois a tranco. Eu que não iria correr o risco de sermos interrompidas pelo pervertido do meu irmão, ou pela minha mãe, o que seria pior.
– Obrigada por ter me tirado de lá. – A Júlia começa. – Eu detesto ter que fingir que gosto de chá, ou do escritório... – Silêncio. – Eu trouxe a sua bicicleta, você acabou deixando lá em casa no domingo. – Mais silêncio. – Eu fiquei esperando você ir buscar durante a semana...
– Eu estava ocupada. – Sim, muito ocupada me esforçando a não pensar em você. O que eu falhei miseravelmente em todas as vezes que tentei. Não, eu não poderia terminar e começar a próxima semana desse jeito. Eu não aguentaria. – Quando você ia me contar sobre o Sr. Bigodão?
Aquilo que estava entalado na minha garganta desde que eu soube daquilo (infelizmente, através da minha mãe) sai de mim sem que eu consiga pensar direito.
– Quem? – Ela franze a testa, e depois parece refletir por alguns instantes. – Ah, você deve estar se referindo ao Clóvis, eu suponho. – E a quem mais eu estaria me referindo? É claro que era sobre o Clóvis, mas eu me recusava a dizer aquele nome. – Eu ia te contar... Merd*, eu disse pra Marta não te falar nada.
– A minha mãe estraga tudo, Júlia, isso não é uma novidade, não pra mim. E como você pode ver, eu adorei ficar sabendo por outra pessoa. – Disparo.
– Sofia, eu...
– Por que? – Pergunto irritada, mas não dou tempo para que ela possa me responder. – Que merd*, Júlia, eu te conto tudo, você sempre é a primeira a saber. – Na verdade, ela era a única a saber de tudo, sempre, afinal, para quem mais eu contaria? Exatamente. A minha vida era patética assim. – Você teve a oportunidade de me contar naquele dia enquanto te ajudava com o guarda-roupa, quando eu brinquei sobre a sua vida amorosa, e você não me disse nada. Ou depois, no Pub. Nossa, eu tô me sentindo tão idiota agora. – Deixo escapar aquela última parte.
– Eu sei, você tem razão. Me desculpa, Sofi. – Lá vinha ela com esse "Sofi" pra cima de mim, se ela acha que me chamar por aquele apelido idiota vai fazer com que meu coração amoleça ela está tremendamente... certa. Droga. – Você deveria ter ficado sabendo por mim, é claro. E eu tentei te falar várias vezes, mas...
Ela faz uma pausa, não tenho certeza se ela sabia se as palavras viriam ou não.
– A gente estava tão bem, uma com a outra... – Ela continua. – Nunca pareceu uma boa hora. Acho que eu só fiquei com um pouco de medo de que algo mudasse, entre nós duas, ou que você ficasse estranha comigo do jeito que parece estar agora. – Acrescenta.
– E por que eu ficaria? – Eu digo aquilo e não sei bem se estava perguntando pra ela ou pra mim mesma.
Eu a vejo dar de ombros, deixando a pergunta no ar. Parecia não ter resposta.
– Sr. Bigodão, sério? – A Júlia diz depois de um tempo e ri. – Esse apelido é péssimo, e está desatualizado. O Clóvis está sem o bigode agora.
– Droga, vou ter que arranjar outro.
– Você é tão boba. – Ela me acerta com uma das minhas almofadas e eu deixo escapar um sorriso.
– Mas admita... – Digo enquanto ajeito o meu cabelo bagunçado depois do seu arremesso. – Você detestava aquele bigode. – Provoco.
– Eu não detestava, acho que até dava um charminho a mais. – Ela me olha ao terminar aquela frase e nós deixamos escapar uma risada na mesma hora. – Tá, eu odiava. – Ela confessa.
– Obrigada. – Digo vitoriosa e Júlia revira os olhos.
– Você se importa? – Ela me pergunta indo até a minha janela enquanto tira uma caixinha de cigarros de dentro do bolso da calça.
Aquilo era uma coisa nossa. Quero dizer, minha mãe sempre falou mal de pessoas que fumam – ainda mais se for uma pessoa da nossa família – e a Júlia sabia muito bem disso. Uma vez, quando eu tinha uns seis anos, a encontrei fumando escondido no quintal dos fundos. Ela me fez jurar que eu não contaria nada para a minha mãe. Bom, foi assim que eu ganhei o meu primeiro patins.
– Eu não sou a minha mãe, Júlia. – Ela me olha com ar de reprovação. – O que você acha?
Ela acende um cigarro com o isqueiro que eu tinha dado pra ela de aniversário no ano passado – sem que minha mãe soubesse, é claro – dá uma tragada e depois solta a fumaça sorrindo para mim. Aquele sorriso que ela dava só quando estava comigo e com mais ninguém.
Talvez, só talvez, a entrada do Clóvis em nossas vidas não interferiria do jeito que eu achei que fosse interferir.
Mas é claro que... ainda era muito cedo para saber.
Fim do capítulo
Oooi pessoas!
O que estão achando do rumo da história?
O próximo capítulo será narrado pela Júlia, hein? Então preparem os corações!
Queria agradecer a todas que fizeram a história andar para a frente até agora lendo, divulgando, comentando, podem ter certeza que eu vibrei com cada interação, e continuarei vibrando, vocês são demais!
Então, se puderem continuar divulgando/comentando/etc, vai me ajudar muito e me deixar muito feliz!
Vamos fazer essa história chegar a mais e mais pessoas, né?
PS: Esqueci de avisar, mas vou sempre postar capítulo novo nas segundas-feiras.
Outra coisa, qual o melhor horário pra postar os capítulos, na opinião de vocês?
Aguardo vocês no próximo capítulo, até a próxima!
Comentar este capítulo:
jake
Em: 07/02/2024
Vamos lá vê oque a Julia pensa .Será que ela sabe da paixão de Sofia. Parabéns adoro essa história...Fique a vontade pode postar todos os dias se quiser...
alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Aaah muito obrigada pelo seu comentário! Fico muito feliz que esteja adorando a história.
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Brescia
Em: 31/01/2024
Boa tarde autora.
Amando a sua escrita, é tão real que a minha imaginação sobrevoa cada cantinho, cada olhar, cada fala como uma espectadora voraz de mais. Parabéns.
Quanto ao horário, eu amo ler à noite, então acontece a sua outra fã com capítulos matinais,rs.
P.S: caso queira postar mais de um ,winta-se livre.
alinavieirag
Em: 05/02/2024
Autora da história
Bom dia, Brescia!
Que comentário lindo e carinhoso, fiquei tão feliz com sua mensagem, pois, enquanto escrevo, desejo que fique o mais real possível e que as leitoras realmente acreditem que as personagens poderiam existir e estar entre nós. Acabei de postar um novo capítulo, espero que goste!
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Renata Cassia
Em: 31/01/2024
Bom dia querida autora , amando esse início da história, ansiosa pra vê o desenrolar dela. Que chegue logo segunda feira kkkk. Bjs
alinavieirag
Em: 05/02/2024
Autora da história
Bom dia, querida leitora! Muito feliz que esteja gostando da história, viu? E a segunda-feira chegou! Acabei de postar capítulo novo, espero que goste!
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patty-321
Em: 31/01/2024
Muito bom, gostando das personagens e a maneira que vc éscreve. Bjs
alinavieirag
Em: 05/02/2024
Autora da história
Muito obrigada pelo seu comentário, querida! Fico muito feliz de verdade que esteja gostando! Bjs
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Leidigoncalves
Em: 30/01/2024
Nossa mas essa agora, já não basta essa mãe da Sofia que é uma escrota, agora tem esse senhor bigodão que não é mais bigodão ???? Mas acredito que não vai durar muito, pelo menos é oq espero ????
Quanto ao dia de postagem, eu adorei que seja segunda já que é minha folga e tenho todo tempo pra ler, já o horário, quanto mais cedo melhor, até por quê nada melhor do que acordar e já ter um capítulo fresquinho pra ler ????
alinavieirag
Em: 05/02/2024
Autora da história
Bom dia, querida! Fiquei muito feliz com o seu comentário e por saber que está gostando da história! Sim, esses personagens ainda vão dar o que falar e muita coisa vai rolar, só isso que posso dizer! kkkkkkk Que bom que segunda-feira ficou bom pra você, inclusive, acabei de postar capítulo novo, espero que goste e te espero nos comentários!
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