Oi oi leitoras!
Essa é a primeira história que compartilho com vocês, espero que gostem! <3
Capitulo 1 – Melhores Amigas
Sofia
Estou começando a passar esmalte amarelo pastel na unha do meu dedo mindinho – já tinha pintado as unhas dos dedos anteriores de rosa, verde e azul – enquanto ouço "We're Not Friends" quando escuto o telefone residencial tocar.
Esperei que minha mãe atendesse, ou então o meu pai. Mas ele apenas continuou a tocar com persistência.
Decido dar um basta ao som irritante.
– Alô? – Pergunto com voz emburrada. – Júlia. – Digo ao identificar quem estava do outro lado da linha.
Eu reconheci a sua voz antes mesmo que ela terminasse de dizer "alô".
– Quem é? – Minha mãe grita da cozinha.
Ela estava inventando uma receita nova, era a única explicação para o cheiro de urubu queimado vindo daquele cômodo da casa.
– É a Xuxa. – Respondo com os lábios propositalmente colados ao telefone, para que a Júlia também ouvisse.
Ela odiava que eu a comparasse com a Xuxa, ou com a Angélica.
Mas na minha cabeça, quando eu tinha uns seis anos, ela era a própria Kira naquele filme "Xuxa e os Duendes". Além da sua aparência – que contribuía muito: olhos azuis, cabelo loiro e cumprido e seus quase 1,70 de altura – naquela época ela adorava colecionar plantas e coisa e tal e eu estava muito convencida de que falava com um Duende preso na parede da sua casa.
Louco, né?
Eu sei.
Nunca duvide da capacidade criativa de uma criança.
Era para a Júlia ter sido a minha madrinha. Pelo menos essa era a história que minha mãe não se cansava de contar: Elas se conheceram durante a faculdade de Administração, quando minha mãe tinha trinta e cinco e a Júlia tinha quase dezoito anos. Aparentemente, a Júlia foi a única da turma a querer fazer os trabalhos com a minha mãe (mesmo ela sendo uns dezoito anos mais velha do que todo mundo ali) e elas viraram tipo melhores amigas, o que é muito bizarro e algo que eu nunca vou conseguir entender já que a Júlia é simplesmente demais, sério, a melhor pessoa que já pisou na Terra e a minha mãe é... bem, só posso dizer que ela está bem longe de ser como a Júlia.
Ah, só pra constar, a minha mãe já estava grávida de mim nessa época. Então, um pouco antes de eu nascer, ela convidou a Júlia para ser a minha madrinha, é claro, e estava tudo certo para isso, mas então ela decidiu fazer mestrado sanduíche nos Estados Unidos e a minha mãe quase surtou – como ela sempre faz – dizendo que não deixaria mais a Júlia ser a minha madrinha porque não queria uma madrinha ausente pra filha dela, o que não era verdade, isso foi só um jeito que ela achou de fazer com que a sua queridinha não saísse de baixo de suas asas.
O que deu certo, porque a Júlia só foi fazer essa viagem anos depois, mesmo minha mãe já tendo arranjado uma nova madrinha pra mim – que também é uma das minhas tias mais distantes hoje, diga-se de passagem – e feito um batizado relâmpago sem quase ninguém da família ficar sabendo, porque a minha mãe é doida desse jeito.
Moral da história: Apesar disso tudo, a Júlia sempre se esforçou pra mostrar pra minha mãe que seria a melhor madrinha possível para mim e, sendo assim, ao menos para a minha mãe, a Júlia vai ser sempre a minha madrinha, mesmo não sendo de fato (por culpa dela mesma).
Mas a verdade é que nós duas estávamos mais para amigas.
Melhores amigas.
– Oi, Sofia Maria. – Ela provoca de volta.
Ela sabia que eu detestava o meu segundo nome. Não exatamente ele, mas a combinação dos dois, que, vamos combinar, não era das melhores.
Eu nunca a perdoaria por não ter convencido a minha mãe a escolher outro nome. Se bem que, com a idade que ela tinha na época – ou seja, a idade que eu tenho hoje, basicamente – não duvidaria se eu concordasse com um nome parecido (ou até pior) para a minha possível futura afilhada.
– Espero que seja importante. Eu estava em um momento sagrado aqui. – Digo assoprando as unhas recém pintadas.
– Me deixa adivinhar, estava stalkeando a Taylor Swift de novo?
– Hahaha – Digo com ironia. – Eu estava pintando as minhas unhas. – Admito.
– Claro, porque Sofia Maria sem suas unhas coloridas não é a Sofia Maria.
– É a última moda feminista. Está até em Bela Vingança.
– Tá... Eu vou fingir que eu entendi o que você falou. – Ela disse em tom de riso. – É que eu encomendei um guarda-roupa novo e ele já deve estar chegando por esses dias, só que antes eu preciso me livrar desse antigo e colocar lá pra fora. Eu juro que até tentei, sabe, ser como você me fala: uma mulher independente que troca uma lâmpada sozinha ou que consegue abrir um pote de pepino sem a ajuda de ninguém... – Deixo escapar um riso do outro lado da linha. – Mas o negócio aqui tá bem pesado então... pensei em pedir uma mãozinha.
– Que decepção, Júlia. – Digo em tom de brincadeira. – Minha mãe está ocupada, e, pelo silêncio que está a casa, suponho que o meu pai também esteja. E você não vai querer a ajuda do idiota do meu irmão, eu acho. – Respondo.
– Na verdade... eu estava pensando na minha quase afilhada preferida.
Acabo deixando escapar um sorriso. Na mesma hora agradeço mentalmente por estarmos nos falando por telefone, e não pessoalmente. Caso contrário, ela teria visto o sorriso ridiculamente insistente que vem se formado no meu rosto ultimamente.
Olho a minha mão esquerda, para a unha do dedo mindinho que estava pintada pela metade.
– Chego aí em uns quinze minutos. – Respondo.
Eu o pintaria, mas quando voltasse.
Vou até a garagem e pego a bicicleta que minha mãe havia me dado de presente de aniversário. Antes de sair, faço o ritual de sempre de olhar para o guidão direito de forma automática, só para constatar que a fita de franja azul e prata que a Júlia havia me dado – quando ganhei a minha primeira bicicleta – ainda estava lá. A do guidão esquerdo havia se perdido há muito tempo. Por isso eu guardava aquela como quem guarda um objeto sagrado, e, para ser bem sincera, ela era. Eu só nunca admitiria isso para a Júlia.
São cinco da tarde e o sol ainda está quente, a presença do mar a algumas quadras de distância não alivia o calor bem típico para o primeiro fim de semana de janeiro. Tento andar em baixo das sombras das árvores o máximo que eu consigo. Ainda bem que a Júlia mora só a algumas ruas de distância da nossa.
O verão é a nossa estação favorita. Minha e da Júlia. Também era quando passávamos mais tempo juntas, desde a minha infância, o que já era o bastante pra me fazer amar o verão.
A Júlia foi a primeira pessoa para quem eu contei quando beijei uma menina pela primeira vez, com quinze anos. Eu estava apavorada, quero dizer, em relação a minha sexu*l*idade e ao o que todo mundo ia achar disso, mas ela me manteve calma e reagiu incrivelmente bem, pra minha surpresa. E alívio.
Depois ela me ajudou quando minha mãe "acidentalmente" leu uma conversa minha com a garota num aplicativo de mensagens e começou a dar um de seus melhores shows.
Acho que a Júlia até tentou ser imparcial nessa situação, para não ficar contra a minha mãe, mas acabou puxando mais paro o meu lado, no final das contas.
É estranho quando paro pra pensar que isso era algo que eu deveria ter contado para a minha melhor amiga de infância, ou qualquer merd* desse tipo, quero dizer, se eu tivesse mesmo uma.
Acho que eu sempre tive uma tendência estranha a me entender melhor com pessoas mais velhas. Não com minha mãe, isso estava óbvio. Mas eu me dava bem com o meu pai, ou com o Seu Afonso, que era dono do Sebo em que eu trabalhava, e era fácil me abrir com a Júlia, mesmo ela sendo mais velha, ou a melhor amiga da minha mãe e a minha quase madrinha e tudo aquilo que vocês já sabem.
Nem nisso eu me parecia com a minha mãe. A sua melhor amiga era dezoito anos mais nova.
O fato é que nós duas tínhamos apenas uma coisa em comum: Ter a Júlia como melhor amiga.
– Então aqui está o problema? – Digo quando chego em frente ao antigo guarda-roupa da Júlia. Ele estava levemente fora do lugar provavelmente graças as suas tentativas frustradas de movê-lo de lá.
– É, bem aí. – Ela me responde de braços cruzados.
Começo a fazer uma vistoria abrindo todas as portas até ela me interceder:
– Ele já está vazio. – Diz ao perceber que eu estava à procura de algo. – O que está fazendo?
– Só conferindo pra ver se você não esqueceu nenhum poster do Tom Holland sem camisa.
– Sua idiota! – Ela empurra o meu braço. – E ele é muito novo, pra mim.
– Achei que você podia curtir esse lance de papa-anjo. – Sugiro, erguendo uma das sobrancelhas.
– Eca, não... – Ela faz uma careta e sorri. – E então, você vai me ajudar ou não? – Ela pergunta e eu concordo com um aceno de cabeça.
Pego um dos lados do guarda-roupa enquanto ela segura o outro, eu fico de costas abrindo o caminho. Paramos no meio do curto trajeto vez ou outra para recuperarmos a força, até chegarmos na sua varanda. A gente senta no seu sofá de vime com acolchoado branco e almofadas com estampa de folhagem tropical, voltando para a nossa respiração normal, aos poucos.
– Eu provavelmente ainda estaria tentando arrastar essa coisa até agora se você não tivesse vindo até aqui me socorrer. – Ela diz depois de algum tempo.
– Eu sei, eu sou demais. – Nós compartilhamos um sorriso. – Sabe, você ainda pode contar comigo entre os membros da minha família louca e insana.
– Para a minha sorte. – Eu falo e ela fica me olhando, mas não diz mais nada. Tento desviar o olhar, mas nem isso consigo, como se o meu corpo todo virasse pedra com o seu olhar em mim. Eu já era capaz de reconhecer aquele silêncio. Aquele silêncio estranho que vinha acontecendo nos últimos dias, como se estivéssemos pensando na mesma coisa, no mesmo dia, no mesmo momento, quando...
– Ainda é domingo... – Ela quebra o silêncio, de repente. – E eu não quero começar a pensar no trabalho. Quer sair e beber alguma coisa?
A Júlia tinha um bar incrível em casa, com tequilas importadas e tudo mais, mas eu gostava de quando ela apenas parecia esquecer desse fato e simplesmente me convidava para sair. Se não fosse por ela, é bem provável que eu só saísse para ir trabalhar, o que não era de todo o ruim também, porque eu gostava do meu trabalho provisório, mas era um pouco constrangedor se pensasse bem.
– Eu não vim preparada para grandes eventos. – Digo segurando a barra da minha camiseta com a estampa de uma flor sorridente que eu estava usando e que quase sempre usava para ficar em casa.
– Pode pegar alguma coisa minha, eu deixo. – Ela diz, com um tom descontraído.
– Eu não vou usar essas coisas.
A Júlia tinha essa mania de vestir – basicamente sempre – blusas super curtas que mostravam quase tudo, eu até achava legal, nela, obviamente, mas nunca daria o braço a torcer.
– Eu coloquei todas as minhas camisetas de banda naquela caixa ali. – Ela diz apontando para uma de tamanho médio que estava do lado de outras maiores. – Pode pegar o que quiser. Eu vou no banheiro me trocar.
Me aproximo das caixas enquanto vejo ela se afastar.
Começo a retirar com cuidado uma a uma das camisetas que haviam sido previamente dobradas antes de serem colocadas ali. Não queria fazer muita bagunça.
Queen, Lil Wayne, Metallica, Rancid, Dolly Parton...
Que gosto estranho esse o dela, meu Deus.
É, a Júlia adorava vestir essas merd*s também, principalmente pra dormir ou pra ficar de bobeira em casa. Eu achava engraçado porque aquele não era exatamente o tipo de música que ela costumava ouvir, pelo menos é o que eu acho. Mas aquilo com certeza era a sua cara e elas caiam perfeitamente bem no corpo dela.
Resolvo escolher uma cinza do Rolling Stones. A língua, marca registrada da banda, havia sido pintada com as cores da bandeira dos Estados Unidos, o que deixava a estampa alegre e colorida, de modo geral.
Resumindo, fazia mais o meu estilo do que todas aquelas outras, de tons monocromáticos.
Desfaço o nó que ela havia feito na altura da cintura.
Júlia e essa mania idiota de mostrar a barriga, penso.
Noto que o tecido tinha pequenos furos também. A dúvida é: isso aqui é da camiseta, ou a Júlia furou? Porque é muito capaz de ela ter furado.
Sem me dar conta, levo a peça até o nariz.
A princípio, sinto o cheiro de amaciante, mas depois percebo que o seu cheiro ainda está ali, também. Algo floral, mas não um floral qualquer, estava mais para cheiro de floresta encantada, se é que esse tipo de cheiro existe, e um leve toque de incenso.
– O que foi agora? – Escuto a sua voz bem atrás de mim e o meu corpo inteiro paralisa, como se tivesse levado um choque.
– Só me certificando de que você lava isso direito. – Dou uma das minhas melhores improvisadas.
– Meu Deus, como eu posso ter uma quase afilhada tão estúpida. – Ela pega uma almofada do sofá e joga na minha direção.
Eu acabo sorrindo com o impacto do objeto em mim, aliviada por ela não ter desconfiado de nada.
– Para de frescura e veste isso aí logo, Sofia, quanto mais rápido a gente chegar mais cedo a gente volta, ou assim eu espero.
– O que você tá fazendo? – Ela pergunta ao perceber que estou apontando o meu celular para ela, quando já estamos na segunda dose de Tequila Sunrise.
Há quanto tempo estamos aqui? Meia hora? Uma hora? Ou muito mais do que isso?
– Só alguns vídeos para o dia que você lançar o seu primeiro clipe. – Digo pegando o meu copo em cima da bancada que dava de frente para o bar.
Nós tínhamos vindo no nosso Pub favorito. Se parecia muito com aqueles bares rústicos de cidade pequena, com uma luminosidade quente e acolhedora e mobilha de madeira.
– De novo você com essa história. Eu mesma já me conformei que isso nunca vai acontecer. Te aconselho a fazer o mesmo.
– Esse é o problema: conformismo. Você tem uma voz incrível, só que ninguém vai ficar sabendo se você continuar se escondendo do mundo.
– Você nunca me ouviu cantar, e não, aquelas filmagens de quase vinte anos atrás não contam.
– Eu teria versões mais atualizadas se você cantasse pra mim.
– Vai sonhando.
Eu reviro os olhos.
– Pelo menos faz alguma coisa, vai. – Peço fazendo beicinho, ainda com o celular em mãos.
Ela então começa a fazer algumas caretas para mim. O meu sorriso sai de maneira involuntária quando a vejo mostrar a língua entre os dentes enquanto sorri. Eu não sei como, mas ela conseguia fazer disso algo bonito. O nariz suavemente maior do que o padrão de beleza feminino (seja lá o que isso realmente signifique) estava franzido, o que ela faz com bastante frequência, mas acho que não se dá conta.
Ela finge cantar, mas nenhum som sai de sua boca.
– Eu não posso te ouvir. – Zombo, e ela me mostra o dedo.
– Não seja mal-educada, Júlia. – Tento imitar o tom de voz da minha mãe.
– Tá, agora chega, e depois apaga isso, eu devo estar ridícula. – Ela diz apontando para o meu celular enquanto segurava o copo com a outra mão.
Ah, se ela soubesse.
– Você só precisava ver o que eu vejo, Júlia. – Acabo soltando sem querer.
– Ah é? E o que você vê? – Ela parece curiosa de repente.
O meu coração bate descontroladamente. Eu não sabia explicar o motivo, mas tinha sido assim ultimamente, não sei bem desde quando.
Bem, eu tinha um palpite. Talvez, desde o ano novo, ou melhor, desde o que aconteceu no ano novo, ou do que quase aconteceu.
O que eu vejo?
Repito a pergunta mentalmente enquanto a observo beber mais um gole de tequila e passar a mão no cabelo talvez pela milésima vez só naquela noite. As mechas naturais que iam de castanho claro na raiz até chegar em um loiro branco nas pontas – o que com certeza fazia qualquer mulher de cabelo pintado morrer de inveja – estavam com uma coloração levemente rosa pink agora por causa das luzes do Pub. Ela tinha escolhido uma saia xadrez em tons de vermelho, cinza e preto para acompanhar a blusa branca e curta que deixava boa parte da sua barriga a mostra.
Tão ridícula e tão linda ao mesmo tempo, tão... tão ela.
– Eu vejo que você é uma mulher foda, linda... Incrível pra caralh*. Você ainda pode conquistar o mundo, Jules. Se você quiser. – As palavras saem da minha boca antes que eu seja capaz de detê-las.
Ela engole, com a testa franzida de um jeito que nunca vi.
Ah, merd*. Mas o que acabei de dizer? Aquilo aparentemente soou bem estranho, o que ficou confirmado com o silêncio que veio depois.
Quer dizer, não era um silêncio literal, é claro. Há uma porção de sons variados ao nosso redor: pessoas conversam e riem enquanto copos se colidem a cada brinde, a bebida de uma coqueteleira é sacudida por mãos ágeis e habilidosas de algum bartender ao mesmo tempo em que uma música Country, que eu chutaria ser alguma do Lord Huron (aposto que a Júlia saberia me dizer o nome), toca ao fundo.
Mas ali naquele pequeno espaço entre nós duas, a ausência de sons, ou melhor, de palavras, era quase que sepulcral. O que eu acabara de dizer parecia ter gerado um momento de silêncio completamente desconfortável, pelo menos para mim, até ela finalmente me responder:
– Uau, você tá muito bêbada. – O seu rosto vai descontraindo aos poucos enquanto começa a rir.
Dou um meio sorriso. Por algum motivo, não era o que eu queria ouvir.
Acho que nós duas vínhamos usando a bebida para justificar coisas que não faziam o menor sentido, e como temos bebido muito, isso estava se tornando algo bem possível e bem frequente também.
Na verdade, ela já tinha bebido bem mais do que eu essa noite, mas realmente aquela era a única explicação pra eu ter surtado e falado aquelas coisas.
Obrigada, Tequila, por justificar de forma plausível e simplificada o que tinha acabado de acontecer sem que eu fizesse ideia do porquê.
– É, só não mais que você. – Digo por fim.
– Ah, merd*, a Marta vai me matar. – Ela diz repousando a cabeça e braços no balcão. Matar ela eu não sei, mas me matar, provavelmente sim. Ficar puta comigo era a atividade esportiva preferida da minha mãe. – Vamos terminar esses copos, depois a gente vai embora.
– Ah, já ia esquecendo. – Júlia fala enquanto parece vasculhar algo dentro da sua bolsa. Nós tínhamos pedido um Uber e já estávamos quase chegando em frente à minha casa. – Comprei para a minha sobrinha preferida. – Ela me entrega um algodão doce rosa e sorri.
– Vai se foder.
Ela sabia que eu odiava aquela palavra e o quanto eu a achava broxante em todos os sentidos possíveis, mas fazia mesmo assim, só pra provocar.
– Tudo bem, se você não gostou eu posso dar para outra garota. – Ela diz tirando-o da minha mão.
Eu imediatamente o arranco de volta e Júlia sorri.
Que se foda. Quem em sua sã consciência recusaria um algodão doce?
– Obrigada por hoje. – Ela me fala e demoro alguns instantes pra entender do que estava falando.
Ah, o guarda-roupa, é claro.
Seus olhos estão em mim e os meus nos dela.
Droga, ficou tarde demais para dar uma resposta? Provavelmente sim.
E então vem aquele silêncio de novo. Aquele silêncio que grita: "precisamos falar sobre isso". Seja lá o que "isso" signifique.
Sinto o carro parando aos poucos e percebo que é a minha deixa.
– Eu preciso ir.
Bem no time.
Assim que chego em casa, vejo meu pai sentado na sua poltrona verde musgo favorita assistindo TV, enquanto minha mãe terminava de colocar os pratos na mesa da nossa cozinha americana.
Meu irmão não estava fazendo parte daquele momento familiar inusitado. Era bem provável que estivesse trancafiado no quarto dele tirando nudes pra mandar para alguma pobre infeliz. Mas essa não era uma imagem que eu queria ter na minha mente.
O fato é que se alguém se deparasse apenas com essa cena isolada, diria até que parecia uma família normal. O que não era o caso, é claro.
Minha mãe passava 95% do seu tempo diário gritando comigo por motivos que jamais irei compreender e os 5% restantes acabava sobrando para o meu pai. O que significava que essa casa era um verdadeiro campo de guerra 100% do tempo. O meu irmão ficava fora dessa porcentagem. Minha mãe o adorava. Aposto que se pudesse escolher ela teria o optado no meu lugar e ele seria filho único. Mas a vida não era assim e aqui estou eu, para a minha falta de sorte.
– Com a sua tia de novo? – Meu pai pergunta assim que me vê entrar com o algodão doce em mãos. Ele também deve ter estranhado a camiseta dos Rolling Stones, já que não era algo que fazia exatamente o meu tipo.
Fecho a cara por ele ter se referido a ela daquela maneira.
Se ele soubesse o quanto aquilo me deixava irritada.
Apesar de eu achar que ele sabia, não é possível que não.
– Eu estava com a Júlia, se é o que você quis dizer.
– Aposto que ela já te contou sobre o Clóvis. – Minha mãe diz com um sorriso estranho na cara.
– Clóvis? Não... Ela deveria ter me contado? – Pergunto enquanto me sirvo da comida radioativa.
Eu não fazia ideia de quem era esse Clóvis, mas quando pronunciei aquele nome, me pareceu estranhamente familiar, só que não no bom sentido.
– Eu não sei se vai se lembrar dele, acho que você tinha uns cinco ou seis anos na época, enfim. Ele e a Júlia voltaram. – Minha mãe parece assustadoramente reluzente ao terminar aquela frase.
De repente um flashback de memórias e imagens percorrem pela minha mente, como se sempre estiveram ali.
Ah, puta merd*, o Clóvis.
Fim do capítulo
Nem todo homem, mas sempre um homem pra estragar tudo kkkkkkk
E aí, o que estão achando?
Me falem, por favor, quero ouvir opiniões <3
Comentar este capítulo:
Elliot Hells
Em: 05/08/2024
Olá autora,
como uma autora, também sei e reconheço o quanto é importante marcar a presença e não se transformar em um leitor "fantasma"...
Estou dando início a sua obra, necessariamente, demoro um pouco a ler, devido as inúmeras responsabilidades do meu dia a dia, mas certamente aqui e acolá irei dar o ar da graça.
Até o momento estou curiosa, principalmente para entender o que exatamente aconteceu no ano novo, já que remete que alguma coisa aconteceu entre elas. E sendo este o momento que possivelmente algo começou a mudar na jovem Sofia.
Agora me pergunto sobre o Clovis... principalmente se elas tem uma relação tão "amigável" como dizem ter, certamente Júlia já deveria ter contado para ela, mas por qual razão ainda não fez? Medo? Receio... o que? e se esse sentimento existiu é por qual motivo? por já ter também sentimentos e emoções inconscientes com Sofia?
Eita que começamos a pensar...
Boa escrita e até breve
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Ester francisco
Em: 16/02/2024
Olá autora!!!! Boa tarde!!
Demorei um pouco, mas cheguei!!
E já estou torcendo muito por Sofia e Júlia!
Amando acompanhar o desenrolar desse sentimento verdadeiro que as une. Elas se amam. Estão se descobrindo apaixonadas uma pela outra, na minha percepção...rsrsrs. E isso é lindoooo!!! Mágico mesmo!! Adoreiiiii sua escrita!! Bem vinda!!!
Tô meio enrolada e sem tempo,então vou lendo aos poucos tá? E comento sempre que der!! Adorooooo!! Beijos e muito obrigada por partilhar seu dom conosco!!
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Brescia
Em: 12/02/2024
Querida autora.
Não achei justo a minha falta de delicadeza em não comentar todos os capítulos, já que os li e agora após relê -lo , comentarei,rs. Já foi ótimo desde o início e os indícios de que a Sophi está com os 4 pneus arriados é claro como uma gota de orvalho no meio de lindas flores.
alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Aah querida, muito obrigada por comentar! Fico muito feliz por você estar acompanhando essa saga da Sofia e da Júlia hahaha Realmente Sofia tem muita dificuldade em esconder o que sente kkkk Postei o capítulo 4 hoje!
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jake
Em: 07/02/2024
Comecei a ler e já estou torcendo para elas se entenderem, acho q Julia já percebeu os olhares de Sofia.Por isso resolve voltar pro Clóvis...
alinavieirag
Em: 12/02/2024
Autora da história
Então... Uma boa suposição hahaha muito obrigada por dar uma chance para história e pelo seu comentário!
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Sem cadastro
Em: 27/01/2024
Quero muito saber como essa família doida vai aceitar essa relação, mas eu já aceitei kkk
Parabéns, autora, continua firme.
alinavieirag
Em: 27/01/2024
Autora da história
Oooi, nossa, amei muito o seu comentário, saber que as duas estão sendo aceitas por vocês, e mais do que isso, que estão torcendo por elas, significa tanto pra mim. Então, vamos aguardar os próximos capítulos pra descobrir como cada um vai reagir, mas esperem por muitas emoções kkkkkkk E mais uma vez, obrigada pelo incentivo, continuarei firme sim, por vocês!
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Sem cadastro
Em: 27/01/2024
Quero muito saber como essa família doida vai aceitar essa relação, mas eu já aceitei kkk
Parabéns, autora, continua firme.
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Sem cadastro
Em: 23/01/2024
Gostei muito do primeiro capítulo.
Ansiosa pelos próximos.
alinavieirag
Em: 25/01/2024
Autora da história
Fico muito feliz que tenha gostado =) segunda-feira tem mais
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Leidigoncalves
Em: 23/01/2024
Gostei muito desse primeiro capítulo, espero que não demore pra postar o próximo. Normalmente eu nem leio histórias recem começadas pq fico ansiosa pelos próximos, mas é muito raro ler algo com esse tema por aqui, então resolvi começar logo.
Tô muito curiosa pra saber como vai ser o desenrolar dessa história, e como vai ser a reação da mãe da Sofia quando souber sobre isso kkk, já prevejo o caos ????
alinavieirag
Em: 23/01/2024
Autora da história
Ooi, querida, obrigada pelo comentário e pelo voto de confiança. Vou me esforçar pra postar semanalmente (e/ou, quando for possível, postar duas vezes por semana). Realmente eu não vejo muitas histórias desse tipo, e eu adoro romance proibido kkkk Prevejo o caos também (futuramente), aliás, adoro kkkkkk
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