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Inefável por Maysink

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Palavras: 3517
Acessos: 249   |  Postado em: 29/01/2024

Capitulo XI

O barulho da sineta da porta da cafeteria sendo aberta anunciou a chegada de alguém. Estávamos conferindo o estoque, e, por levar bastante tempo o lugar não ficava aberto aos clientes, portanto, somente eu e mais um funcionário estávamos por lá, o que me levou a conferir quem havia chegado. Não fui surpreendida quando a cabeleira ruiva de Madison seguiu até o balcão onde eu e Aidan nos encontrávamos, o rapaz moreno logo ficou inquieto quando a inconveniente presença a nossa frente lhe cedeu o sorriu excessivamente largo de dentes brancos. Céus que preguiça desses dois! Nenhum pouco animada para servir de plateia para aquela novela mexicana, tomei a frente da conversa antes que fosse impossível.

— Aidan, por gentileza, confira se as garrafas foram bem alocadas lá nos fundos? – o barista apenas acenou em concordância, se despedindo minimamente da ruiva que persistia em evitar meu olhar mal-humorado em sua direção enquanto acenava displicente para o rapaz. 

— Você já foi melhor nisso ruiva! – impliquei com a garota enquanto dava a volta no balcão me aproximando dela, que sorriu amarelo desprezando a provocação, se ajeitando no banco próximo. 

— Vai demorar muito ainda? — ignorou minha implicância.

— Na verdade, já acabei, por quê?

— Depois que saímos da biblioteca no outro dia, fiquei com o sobrenome da bonitona lá na cabeça, me pareceu bem familiar. Então, hoje quando fui almoçar com um dos professores da universidade, vi que a loja de antiquário vizinha do restaurante que costumamos ir tem esse mesmo sobrenome. Fiquei meio paranoica se tinha ou não ligação, e bem...depois de uma rápida pesquisada, voilá! Pertence à família dela. Daí pensei que minha querida amiga rabugenta e tatuada gostaria de ir lá dar uma sondada. – deu-me um sorriso conspirador. 

— Se você já estava lá do lado, por que não foi sozinha?

— Capaz, querida! Vai saber o que vamos encontrar por lá. Fora que sua doce personalidade pode vir a calhar. – gracejou.

Muito possivelmente meus olhos se reviraram impacientes no mesmo instante pelo seu tom afrontoso, mas a ideia de termos uma nova pista se tornou bastante atraente. Um parente distante poderia nos ajudar em alguma coisa, não seria de todo mal tentar, não é mesmo. Meu otimismo tentava me convencer.

— Aham, ta bom! Vamos até lá então. — concordei meio animada. Depois dos últimos ajustes no estoque, enquanto Madison se despedia melosamente — devo enfatizar, de Aidan, seguimos até o tal antiquário da família Montelo. 

A cidade de Vitório Guerra não se comparava a São Valeriano, não por seu tamanho quatro vezes maior, ou pela quantidade superior de cidadãos, mas sim pelo aspecto de capital que possuía. Ao contrário da minha humilde cidadezinha, Vitório Guerra continha prédios comerciais abrigando a diversidade de escritórios ao longo de suas estruturas de concreto e vidro, ruas abarrotadas de carros tão apressados quanto estrelas caindo do céu, produzindo uma trilha sonora ensurdecedora. A notável indiferença estampada na cara das pessoas que passavam umas ao lado das outras sem sequer se olharem, tão preocupados consigo mesmas a ponto de não se atentarem aos detalhes ao redor. Qualquer um poderia ser invisível ali se quisesse, ninguém se importaria.

Ao meu lado, Madison, habituada àquela rotina dirigia, habilmente por entre as ruas congestionadas, nos levando o mais próximo que podíamos do nosso destino. Claramente não encontramos vaga tão perto da loja, seria pedir demais, porém depois de alguns passos nos encontrávamos, as duas, olhando a placa pouco chamativa do antiquário. A estrutura frontal da loja dava o mero vislumbre do que iríamos encontrar lá dentro, os ornamentos em madeira envelhecida no arco da porta, a pequena placa branca pendurada com os dizeres “estamos abertos” passavam bem a ideia de antiquário. Respirando fundo, ergui a mão até a maçaneta abrindo a porta para o mundo de objetos antigos guardados atrás de si, e como esperado a porta rangeu ao ser afastada. Em outra ocasião, me deixaria perder por entre os corredores abarrotados de relíquias sendo embalada pelo rico cheiro de verniz em madeira velha, caçando a história por trás delas, mas só uma história detinha meu interesse. 

Ansiosa, liderei o caminho pela caótica loja, até chegarmos ao fundo, onde vimos o largo balcão que abrigava algumas quinquilharias. Na parede atrás viam-se molduras e telas de pintura abstrata a cobrindo desordenadamente. Ao meu lado Madison se aventurou a tocar a pequena sineta de bronze que encontrou encima do balcão, seu tilintar ecoou por toda a loja, fazendo o som se propagar em ondas sinistras através do silencioso ambiente, já que aparentemente éramos as únicas pessoas ali. 

Alguns minutos se passaram, até que ela o tocasse outra vez, fazendo aquele barulho fino e estridente reverberar por todo o ambiente de novo. Ao longe, o tic-tac incessante do pêndulo de um daqueles relógios velhos contribuía com a crescente aura densa que se formava ao nosso redor, nos fazendo ficar visivelmente tensas. Um barulho qualquer nos fez dar um passo para trás como se a qualquer momento algo fosse sair do nada para nos atacar. A impaciência da espera me consumia devagar, enervando meus sentidos e arrepiando minha pele. Instintivamente, elevei minha voz questionando a existência de outra presença, mas o precário silêncio permanecia imperturbável, a não ser pelo balançar incessante do maldito pêndulo em algum lugar daquela loja. 

— Mads, acho melhor irmos embora, parece que não tem ninguém aqui. – digo baixinho. 

— Sendo sincera, esse lugar é …. 

— Um tanto macabro não? – Madison e eu, arquejamos apavoradas pela terceira voz que se fez presente, e por não termos sequer notado a aproximação de sua dona. Àquela altura meu coração pulsava assustado, parecendo que saltaria para fora de mim, tamanha a força de suas batidas. A garota ao meu lado estava em estado idêntico ao qual me encontrava. Nossa atenção se voltou à dona daquela voz profunda e levemente cansada, encontrando a mulher aparentemente na casa dos 60 e poucos anos, nos encarando com o sorriso brincalhão que se estendia até as brilhantes safiras que eram seus olhos azuis. A energia tensa logo foi dissipando conforme ela se aproximava de nós, em passadas lentas. Pude notar melhor sua aparência, ao redor da cintura o avental verde musgo estava sujo com o que pareciam ser pedaços de serragem e cola, na mão direita carregava um pano laranja que passava entre os dedos da outra mão, limpando-os.

— Olá, me desculpem pelo susto. Em que posso ajudá-las, minhas queridas? – emitiu a senhora, divertida e culpada. Seu sorriso agora era gentil.

— Oh não se preocupe! Muito prazer, meu nome é Madison e esta é Ayla. – passado o susto inicial, Madison tomou a frente daquela conversa, o que agradeci. Toda aquela situação no mínimo estranha havia me roubado a fala. A senhora assentiu aliviada alargando seu sorriso e virou os olhos preocupados em minha direção quando viu ainda calada.

— Está tudo bem com você, querida? Quer um copo de água? Me parece meio pálida. – demorei um pouco para entender que falavam comigo, mas o cutucão de Madison acabou me despertando. 

— Ah, não, obrigada. Está tudo bem! – ofereci um sorriso agradecido, ou pelo menos acho que tentei. 

— Então senhora…? – quebrando o momento constrangedor, Madison voltou a puxar conversa, tentando sutilmente fazê-la se apresentar.

— Liana! – disse docemente.

— Senhora Liana, estamos procurando informações sobre a família Montelo. Poderia nos ajudar? – completou minha amiga de forma cuidadosa. 

— Isso é bem curioso, o que exatamente querem saber? – Liana nos olhou confusa, e não tirava sua razão, é para lá de suspeito duas garotas desconhecidas saindo por aí perguntando especificamente sobre a família de alguém, talvez a abordagem menos direta seria melhor. 

— É que… alguns meses atrás meu namorado comprou algo que acredito pertencer a sua família, me parece prudente devolvê-lo. Por isso gostaria de ter certeza se ainda havia parentes, apesar de a loja ter o nome. – arrisquei apelando para o lado sentimental.

— Oh querida, quanta gentileza. Devo dizer que desconheço a existência de tal objeto ligado à minha família, se me permite, do que se trata? – sorrio comedida.

— Um relógio de bolso. – havia verdade em suas palavras, pude notar isso por sua postura curiosa e resignada, da mesma forma como também percebi quando se tornou tensa à simples menção do relógio. Interessante!

— Agradeço a consideração, mas não sei do que estão falando! Se me dão licença, preciso voltar ao trabalho. – Liana disse se retirando apressada, mal nos dando tempo de assimilar suas palavras enquanto se afastava rapidamente, dando a volta pelo balcão na intenção de seguir para os fundos da loja. Sua atitude nervosa contradizia sua afirmação. A rápida troca de olhares com minha amiga, me mostrou que não era a única pensando nisso. Instintivamente avancei por trás do largo balcão elevando minha voz no intuito de impedi-la. Sabia que aquela atitude soaria grosseira numa situação normal, mas a normalidade havia sumido faz tempo, então minha mente gritava um grandíssimo FODAS para as boas maneiras. 

— Perdi alguém, e estou prestes a perder outra pessoa, por causa desse relógio. Preciso da sua ajuda, Liana. Então por favor, nós só queremos conversar, nada além disso! – deixei toda angústia evidente na última frase. 

Para meu alívio, Liana parou seus passos, ainda de costas, a vi abaixar a cabeça vencida, seus ombros subiam e desciam pesadamente numa respiração ofegante. Ela entendia perfeitamente o meu sofrimento, e de maneira estranha eu agradecia internamente por mais alguém saber o que era conviver com aquela dor. A mulher de cabelos brancos se virou de volta para nós, suas lindas safiras banhadas em lágrimas contidas me causaram culpa, tentei lhe pedir desculpas com os meu olhar nublado, tendo como resposta apenas o leve balançar de cabeça como aceitação muda. Com um gesto pequeno de mão nos chamou para segui-la. Demos a volta no balcão, e pude sentir a mão de Mads em meu ombro num aperto de incentivo, passando segurança. Ambas seguimos Liana até o pequeno espaço que deveria ser seu escritório, lá dentro ela nos pediu para que nos sentássemos no sofá marrom de três lugares que havia ali. O cômodo era bem iluminado devido ao vidro temperado substituindo a parede, com visão de toda a loja.

 — O que querem saber? – Liana nos perguntou cautelosa, fazendo minha atenção voltar-se para ela. 

— Ylena. – me ouvi dizendo no mesmo tom usado pela senhora. A suposta integrante da família Montelo à minha frente, passou as mãos sob os curtos fios grisalhos presos num coque, os ajeitando precariamente num gesto de puro nervosismo, seus olhos tornaram-se opacos assumindo um ar nostálgico, nos fazendo aguardar ansiosamente em silêncio. 

— Ylena era minha irmã caçula. Ela… Ela foi uma garota amável, curiosa, determinada. Em nada parecia com as outras moças da sua idade e condição privilegiada. Todos da cidade a adoravam. Um dia ela nos contou que seria jornalista, queria mudar o mundo e começaria pela visão das pessoas. No início, nossos pais não gostaram muito, por conta da ideia de qual era a função da mulher naquela época, mas ela conseguiu, como tudo o que se propunha a fazer. – tomou fôlego. – Não foi surpresa alguma quando seu nome se tornou destaque no meio jornalístico do Estado, fazendo a cobertura de eventos do alto escalão até grandes escândalos políticos. Tudo isso antes de completar a faculdade, ela era um verdadeiro prodígio. Também não foi surpresa quando começou a cobrir a série de assassinatos que estavam deixando todos preocupados. Nossos pais pediram para ela se afastar daquela história, mas claro, ela não deu ouvidos. Ela tornou aquilo sua missão de vida, queria trazer justiça a todas aquelas famílias. – Liana se levantou contornando a mesa a qual estava sentada, logo encostando na beirada, ficando a nossa frente, cruzando os braços. – Não sei exatamente como tudo aconteceu, não estava na cidade na época, mas meus pais disseram que um dia Ylena não voltou para casa após sair do jornal que trabalhava. Preocupados, acionaram a polícia, que não a encontrou de imediato. Somente alguns dias depois, identificaram seu corpo na casa de campo da família na cidade vizinha à nossa. – suspirou pesarosa. – Ela foi asfixiada, da mesma forma que as outras vítimas do serial killer. – finalizou com a voz embargada. Aquela parte nós já sabíamos, foi a mesma história que encontramos na biblioteca, portanto, o que queríamos, ia além do fim trágico da garota, precisávamos entender onde o relógio se encaixava naquela história.

— E onde o relógio entra nisso? – Madison verbalizou meus pensamentos. Liana deu um suspiro alto antes de responder, soltando seus braços e apoiando ambas as mãos sob a mesa abaixo de si, demonstrando o quão desconfortável aquele assunto a deixava.

— Agora começa a parte inacreditável, mas acredito que se estão com o relógio devem ter noção do quão improváveis, as coisas se tornam ao redor dele. – tanto eu quanto Madison rimos tensas, concordando com aquele fato. Improvável era pouco para descrevê-lo.

— Meses depois do seu assassinato, a polícia nos devolveu alguns pertences que foram encontrados com ela, dentre eles estava o relógio. 

— Não foi considerado como evidência? – perguntei confusa.

— Inicialmente sim, mas como subitamente os assassinatos cessaram e a identidade do serial killer não estava nem perto de ser descoberta, encerraram o caso. Naquela época não tínhamos as tecnologias atuais, senão com certeza teriam encontrado. Por isso, alguns itens considerados irrelevantes foram devolvidos às famílias das vítimas. – ouvir aquilo fez meu sangue ferver no mais puro ódio. Infelizmente, em algum momento de nossa vida sentíamos o peso de sermos ressignificados a meras vítimas das consequências brutais das palavras “e se”. E se tivessem investigado mais, e se… e se… A vaga ideia, de que se eles tivessem mantido aquele maldito objeto guardado nada daquilo teria acontecido, pairava inconsequentemente na minha cabeça.

— E o que aconteceu depois? – Madison se pronunciou, ainda curiosa.

— Bem, meus pais não quiseram manter os pertences de Ylena, acabaram doando tudo, assim como também venderam a casa. Mas… eu não estava preparada para renunciar à sua existência como eles estavam tão empenhados a fazer. Guardei o relógio, mesmo sabendo que ele não pertencia a ela. – Liana nos olhou entristecida. Minha mente só conseguia pensar se aquela senhora havia passado pelas mesmas coisas que Caleb e Kiara, se de fato Ylena teria conseguido atentar contra a vida da própria irmã. Não conseguia imaginar tal cena, ainda mais depois de tudo o que ouvimos sobre a garota. 

— Por favor não me perguntem o que me levou a guardá-lo, sendo bem sincera não sei. – riu com amargura. — Pouco depois os sonhos começaram a acontecer… não conseguia enxergar nada a princípio, apenas ouvia uma voz distante que com o tempo foi se tornando mais nítida, até ser possível reconhecer a dona dela. 

— Ylena! – Eu e Madison sussurramos ao mesmo tempo. Concordando, Liana elevou o rosto engolindo em seco, os olhos voltando a ficar úmidos com as lembranças. Meu coração se apertou pela familiaridade, por mais que meus sonhos não fossem tão macabros quanto os de Liana e Cal, eu os entendia bem demais. 

— Na primeira vez que ela tentou me machucar, meus pais conseguiram chegar a tempo para impedir. Aquilo nos assustou tanto. Naquela noite não tive controle nenhum sobre minhas ações, como se estivesse presa num looping infinito de acontecimentos confusos, não sei explicar, mas sei que voltava a ter consciência quando me afastava do relógio. Para eles, havia feito aquilo devido à tristeza de ter perdido minha irmã, mas eu sabia que não. – relatou cansada. – Na última vez, acabei o perdendo em meio à confusão que meus pais fizeram, e nunca mais o vi ou ouvi sobre ela, não até hoje! 

— Meu Deus! – a ruiva se manifestou aturdida ao meu lado. 

— Eu sinto muito, Liana! Principalmente, por fazê-la reviver tudo isso. – me pronunciei após digerir toda a avalanche de lembranças dolorosas daquela senhora, tão similares às minhas. 

— Espero que tenha ajudado em alguma coisa, minha querida! – certificou direcionando-se a mim. — Seja lá o que estiver passando, espero que entenda que aquilo não é Ylena. Minha irmã seria incapaz de machucar qualquer pessoa! – me limitei a acenar a cabeça concordando. Não queria lhe causar ainda mais incômodo debatendo sobre sua irmã ser uma assassina inescrupulosa ou não. Afinal, ela havia sido o mais gentil que a situação permitia, ao dividir conosco aquela história dolorosa. Não demoramos a nos despedir de Liana, renovando nossos sinceros pedidos de desculpas recheados de agradecimento. Seus relatos serviram para completar mais uma das muitas peças daquele quebra cabeça, ainda que saber quem foi Ylena não parecesse relevante perto do que havia se tornado. Sentia que estávamos a um passo à frente de ajudar Kiara, portanto, a visita tinha valido a pena.

Dentro do carro, cada uma estava presa em seu próprio mundo de conjecturas. As palavras de Liana Montelo ecoavam em minha mente, revivendo minhas próprias memórias, que, apesar de não serem idênticas, tinham o mesmo traço de perda e obscuridade.  Nenhum de nós merecia continuar sofrendo com os jogos de Ylena. Tudo aquilo precisava acabar, e eu não deixaria qualquer chance, ainda que mínima, escapasse tão facilmente. Nem que tivesse que agir contra o bom senso, e esperava sinceramente que não precisasse chegar a este ponto. 

Mal percebi o momento que chegamos e seguimos o restante do caminho para dentro do loft. No modo automático segui Mads até o sofá do apartamento, me sentando ao seu lado, ela parecia igual ou mais entretida em suas próprias maquinações. Se nos esforçássemos, provavelmente logo sairia fumaça de nossas cabeças.

— Estava pensando…. – começou, sem me olhar. — E se Kiara estiver certa, e destruir o relógio seja a melhor opção que temos? 

— Sem chance! – cortei, me endireitando no sofá virando de frente para ela.

— Pensa bem! – asseverou a ruiva espelhando meu ato. — O relógio é uma espécie de catalisador entre elas. Talvez sem ele, temos a real chance de ajudá-la. Sem relógio, sem ligação com Kiara.

— Não faz sentido. Liana disse que a "influência" acabou quando se afastou dele. Kiara sequer esteve perto para que tudo isso acontecesse, mas Cal esteve em contato o tempo todo. Se houvesse essa ligação, a distância de Kiara já teria quebrado a influência. – muitos pontos ainda não estavam claros. O menor dos detalhes não poderia ser ignorado, e apesar de termos boa parte das peças para sairmos daquele beco sem saída, ainda assim elas não se encaixavam muito bem.

— Vejamos... Kiara falou que Ylena tem uma ligação mais forte com o relógio. Entretanto, Liana disse que o relógio não pertencia a ela. Então qual é a ligação dela com ele? Como consegue “ativá-lo”? – a ruiva continuou divagando. Isso não havia passado despercebido por mim também, mas, pela forma como Liana narrou os fatos, não restou dúvida de que ela não sabia sua real origem e sequer se atentou em descobrir. 

—  Porque talvez não seja Ylena quem está por trás disso. – pronunciei, quando uma possibilidade voltou a passar pela minha cabeça. Minhas palavras quase sussurradas chamaram a atenção da ruiva, que agora me olhava curiosa, me incentivando a continuar aquele raciocínio. —E se Ylena for só mais uma vítima? O relógio pode ter chegado a ela, e acabou matando-a. Faz um pouco de sentido, até porque nunca conseguiram nenhuma pista do serial killer e ele parou depois de sua morte. – arrisquei.

— Não acredito que seja o caso, serial killers geralmente tem um modus operandi, e ela foi assassinada como as outras vítimas. Ou seja, o que houve com ela em nada se parece com o de Caleb. Qual a probabilidade, sei lá, dela ter possuído o relógio? Porque ele segue sendo o único elo em comum entre os três. – confabulou.

— Olhando de outra perspectiva, o que Kiara difere de Caleb? Já que em vez de matá-la, trocou de lugar? – contrapus, mas não descartando a ideia da possessão, ainda que fosse loucura cogitar aquilo. 

— Suponho que chegou a hora de fazermos uma visitinha de boas-vindas a senhorita Santiago-barra-Montelo. – Mads propôs desafetada. – Evitamos esse embate o quanto pudemos, Aly! Chegou a hora de irmos direto na fonte. Sei que é arriscado, mas sem o relógio por perto talvez não corramos tanto perigo, afinal até agora ela não causou nenhum mal à família Santiago. – completou antes que eu conseguisse contrapor.

 

Ela tinha um ponto! O tempo não estava a nosso favor, em todos os sentidos. Compreendia que em algum momento teríamos que enfrentá-la, e esse momento havia chegado. Indecisa sobre ser ou não uma boa ideia irmos até o inimigo, acabei concordando com Madison. A simples ideia, de ver Kiara fora da esfera imaginativa dos sonhos acabava com qualquer tranquilidade que eu tivesse, mesmo sabendo que não seria Kiara quem de fato iríamos encontrar. 

Fim do capítulo


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