• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Inefável
  • Capitulo III

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,495
Palavras: 51,977,381
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entrelinhas da Diferença
    Entrelinhas da Diferença
    Por MalluBlues
  • A CUIDADORA
    A CUIDADORA
    Por Solitudine

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Sob
    Sob o céu estrelado
    Por Merida
  • A Vizinha
    A Vizinha
    Por Dud

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Inefável por Maysink

Ver comentários: 0

Ver lista de capítulos

Palavras: 3449
Acessos: 380   |  Postado em: 29/01/2024

Capitulo III

Duas semanas haviam se passado desde o episódio desagradável na praça, e com elas, vieram novos sonhos estranhos com a garota desconhecida e sua energia confusa e densa. No início, me assustava, tentava escapar das garras invisíveis que pareciam querer me consumir com deleite. Com o passar do tempo, uma aceitação vertiginosa de que não tinha como escapar recaiu sobre mim. Era como estar numa teia de aranha, quanto mais tentava fugir mais presa ficava. Já a garota desconhecida, agora presa por trás de uma das muitas janelas do velho casarão, assistia totalmente impotente meu trágico destino. 

Enquanto o mundo dos sonhos se tornava cada vez mais perturbador, na vida real minha rotina se mantinha quase a mesma, contando apenas com alguns acréscimos agradáveis, como o retorno da minha melhor amiga, Madison Taylor. Em consequência da proximidade de nossas mães, havíamos crescido juntas e nossa amizade também acabou acontecendo. Nos abraços desengonçados daquela garota que eu encontrava conforto e compreensão, eram suas brincadeiras mais bobas as responsáveis de me arrancar o maior dos sorrisos. A tinha como a parte mais importante de mim. Um dos vários momentos emblemáticos da nossa amizade, foi aos meus 12 anos, quando recorri assustada a sua precoce sabedoria juvenil, quando um menino do colégio me pediu em namoro e eu nem sequer beijara alguém em toda minha vida. Claro que, Madison sendo mais velha por três anos, já passara por situações a qual nem sonhava na época. Então, naquele dia ela me contou detalhadamente a dinâmica entre lábios e línguas. Não preciso dizer o quão fiquei horrorizada com sua explicação calorosa, acabei ganhando certa aversão a beijos – o que não durou muito tempo, obviamente. 

Nossa amizade quase poderia ser considerada um clichê adolescente reverso, a patricinha descolada amiga da antissocial marrenta. A patricinha obviamente sendo a Madison, com seus cabelos castanhos acobreados cortados estilo long bob, olhos verdes azulados, traços delicados, rosto salpicado de um punhado de sardas claras, tínhamos a mesma altura, 1,70m, ao contrário de minhas curvas sinuosas, ela era magra como uma modelo de capa de revista, e tão estilosa quanto uma. Encantadora, vaidosa, comunicativa, carismática, a típica rainha de baile de filmes americanos, enquanto eu, era a garota excêntrica de personalidade contida. 

Sentia muito sua falta, já que nos últimos dois anos, ela esteve num intercâmbio do outro lado do Atlântico, e, apesar de mantermos contato com certa frequência não era a mesma coisa. Sentia sua ausência, assim como sentia das nossas noites de filmes de animações banhados a besteiras doces, as falhas tentativas de me maquiar espalhafatosamente, mas principalmente os desabafos no amparo de seus braços. Não tinha como negar o quão estava aliviada com seu retorno, ninguém me entendia como ela. Quando soube de seu retorno, fui imediatamente à sua procura. Ela estava na casa dos pais. Estando ali agora, do lado de fora daquela casa que fora palco da maior parte da nossa infância e adolescência, pude ouvir a música de uma banda qualquer junto a sua voz meio esganiçada e estridente de Madison tentando acompanhar a letra. Depois de cumprimentar os pais da minha amiga, familiarizada com o ambiente, subi as escadas para o segundo andar. A cada passo em direção ao quarto de Mads, mais alto o som ficava. De frente a porta de madeira branca aberta, encostei-me no batente, observando minha amiga digitando algo em seu celular e balançando o corpo de forma desengonçada, acompanhando o ritmo da música sintonizada no volume máximo na rádio local. Meu Deus, como sentia falta de toda aquela animação! No breve intervalo entre as canções, o som que fiz com a garganta chamou sua atenção. Quase não tive tempo de firmar o corpo quando a vi correr na minha direção quase nos jogando ao chão pelo entusiasmo com que me abraçou. Aproveitei aquele momento para apertar meus braços suavemente ao redor de seu corpo quente, lhe dando um abraço saudoso.

— Que saudade de você, emburradinha. – ela disse meio abafado contra meus cabelos.

Após alguns minutos abraçadas e sorrindo feito duas idiotas carentes, nos soltamos, e logo em seguida me joguei de qualquer jeito no colchão macio da sua cama king size, esperando a costumeira enxurrada de perguntas. Estava prevendo, ela quem estava fora por meses e eu quem iria sofrer os ataques inquisidores. A curiosidade brilhava em seus olhos astutos enquanto abaixava o som e se aproximava da cama onde eu estava, colocando a mala abarrotada no chão.

— Pode começar! Conta tudo o que perdi! – pediu animada, se sentando ao meu lado.

— Não tem nada novo. Aliás, é você quem deveria contar alguma coisa! –  enrolei tentando mudar o foco da conversa, totalmente ciente que ela iria reclamar da minha rotina monótona.

— Jura?! Como assim não tem nada? – a ruiva arqueou a sobrancelha, incrédula.

— Nada mudou. –  dei de ombros.

— Ainda bem que voltei, então. Vou agitar esse marasmo todo! – decretou convencida, jogando seus cabelos dramaticamente, me fazendo bater com o travesseiro na sua barriga, causando risadas em ambas.

— Na verdade... tem uma coisa sim. –  deixei com que meus olhos vagassem perdidos nos adesivos de estrela que enfeitavam o teto, os havíamos colocado lá durante o início da nossa adolescência. A ruiva dizia que dormir sob a luz delas contribuía para o sono de beleza, mas ambas sabíamos que ela ainda não tinha superado muito bem o medo do escuro. 

— Não me torture, mulher! Fale de uma vez! – a ruiva exasperou animada, se agitando sob a cama quase caindo sobre mim durante o processo, aguardando impaciente. 

— O que acha de dividirmos o apartamento? – soltei de uma vez. O silêncio que pairou sobre nós poderia ser cortado com uma faca de tão denso. Poucas foram às vezes que a ruiva ficava sem palavras, era incomum vindo dela que sempre tinha uma resposta na ponta da língua, fazia parte da sua personalidade esperta e atrevida. Olhei seu rosto de testa franzida, pequenas lágrimas nasciam nos cantinhos de seus olhos junto ao semblante emocionado. Ainda sem dizer nada, a garota se jogou, me envolvendo em seus braços, apertando-os fortemente ao meu redor, me deixando ouvir apenas seus murmúrios abafados.

— Hey Mads, não gostou da ideia? – perguntei-lhe, tentando me afastar para olhar seu rosto ruborizado, possivelmente devido ao quase choro. Mesmo depois de tantos anos de amizade, não conseguia me acostumar com seus rompantes emotivos, ou das calorosas demonstrações de afeto. Não que eu fosse indiferente ou fria, mas aquilo me desmontava, a ponto de não saber o que fazer. Foi com o tempo que fui aprendendo a retribuir, fosse com um gesto ou dois de carinho, como fiz naquele instante em que a abracei de volta, a deixando lidar com seu momento. O silêncio agora não era incômodo, sabíamos que eu estava esperando-a se acalmar, o que não demorou muito para acontecer. Alguns minutos depois, Madison voltou a deitar ao meu lado na cama, ambas agora olhávamos o teto com adesivos brilhantes. Novamente, senti o colchão afundar, vendo que ela havia sentado encostada na parede junto à cama. Seu rosto gradualmente ia voltando a cor normal, os cabelos meio bagunçados em nada interferiam em sua beleza deslumbrante. Lentamente, também me ajeitei, encostando na cabeceira da cama ficando de frente para ela.

— Está falando sério, Aly? – sua voz saiu num tom baixinho, inseguro, se não estivéssemos próximas com certeza não a teria ouvido direito. A verdade é que não estava entendendo muito bem o porquê do seu espanto, vivíamos falando sobre morarmos juntas quando houvesse a oportunidade. Certa vez até discutimos sobre a decoração, pois ela queria plantas pela casa inteira enquanto eu achava absurdo transformar o lugar numa floresta, sendo que havia espaços próprios para isso. 

— Claro! Era o plano, só estava esperando você voltar. O que acha? – assegurei, fazendo um carinho em uma de suas mãos tentando lhe passar segurança.

— Acho maravilhoso! É só que… depois de todo esse tempo, não imaginei que a ideia se manteria. Achei que logo o faria com Caleb. – fiz careta com sua fala, não por desagrado, e sim porque nós dois ainda não havíamos chegado nessa etapa do relacionamento. Gostávamos de ter nosso próprio espaço, fora que meu namorado dizia que a saudade era saudável, e que tínhamos tempo para amadurecer aquela ideia.

— É um tema bem resolvido entre nós dois, não se preocupe. Então...topa ou não? – A encarei por longos minutos, em expectativa. Ao meu ver, nossa amizade continuava a mesma. Independente de quanto tempo havia se passado até ali ou da distância. Não posso negar que me incomodava um pouco sua hesitação, não seriam detalhes inconvenientes como distância que apagariam uma conexão como a nossa, muito menos tempo. A considerava mais irmã do que o meu próprio irmão, visto que com Gael meu relacionamento não era nenhum pouco estreito. Tendo cinco anos a mais, ele se sentia o dono da razão, sua personalidade irreverente e presunçosa por vezes acabava gerando conflitos bobos, como, por exemplo quando notava qualquer detalhe de seu quarto fora do lugar. Além do mais, tratava-me como a criança tola que nada sabia da vida, ainda que em meus 19 anos tenha adquirido responsabilidades maiores do que ele na mesma idade. Nestes momentos, me limitava a não o contradizer, era perda de tempo discutir com alguém tão cabeça dura e orgulhoso como ele. 

Rompendo minha espera, Madison pulou – nenhum pouco delicada, sob meu corpo nos jogando sobre a cama outra vez, seu gritinho eufórico veio como confirmação ao convite.

No decorrer dos dias seguintes, recrutamos Caleb para nos ajudar com sua mudança para o apartamento no centro de São Valeriano. O imóvel não poderia ser bem considerado um apartamento de verdade, estava mais para um loft. Possuía dois andares, no primeiro ficava a cozinha estilo americano elegantemente conjugada com a sala com acesso à varanda com vista para um dos jardins da praça principal da cidade, havia também um banheiro social no pequeno corredor que levava a um dos quartos, no segundo andar havia um pequeno espaço para o escritório e a suíte. O lugar era simples mas tinha lá seu charme, com suas largas janelas de vidro permitindo a luz natural iluminar o ambiente pintado em cores sóbrias, as paredes de tijolos e detalhes em madeira referenciavam os antigos galpões comerciais reformados para serem utilizados como moradia, e o mezanino servia de base para a pequena suíte que seguia o mesmo padrão do restante do imóvel carregando o aspecto rústico das antigas fábricas, diferenciando-se tão somente devido às paredes de gesso, a qual inclui no design de ambos os quartos quando me mudei. Ganhei o pitoresco imóvel de presente de meus pais, já que não decidi qual faculdade queria ir e acabei permanecendo na cidade os ajudando a cuidar da cafeteria. Eles acharam um belo presente de consolação. Meus pais não nos pressionavam para seguir uma carreira sólida como a maioria dos pais faz, na verdade, nos incentivavam a percorrer nossos sonhos seja quais fossem, e aparentemente ainda não havia encontrado os meus.  

Ao som das músicas estrondosas de Madison e os olhares tortos do vizinhos pela bagunça e barulho, carregamos as últimas caixas com seus pertences. Depois do episódio digno de um dramalhão mexicano na casa de seus pais, alguns dias haviam se passado, e, finalmente demos início a organização do que iria para o apartamento ou não. Naquela altura, minha amiga já havia arrumado o quarto extra no primeiro andar a seu gosto, com todos os detalhes exagerados e coloridos aos quais ela apreciava. Depois de uma acirrada conversa concordamos em não alterar demais a decoração pelo restante do loft. Suas dezenas de plantinhas foram para a varanda, dando ao arejado local um pouquinho mais de cor e vida. Na sala a ausência do tapete foi preenchida, agora via-se um longo conjunto felpudo perolado combinando perfeitamente com o sofá chumbo de seis lugares no formato de L. Outros detalhes podiam ser vistos pelo restante do lugar o enfeitando graciosamente a costumeira sobriedade do ambiente.

Ao fim da mudança, nos deitamos no sofá improvisado de pallets na varanda – obra de Caleb, estávamos degustando das long necks de cerveja já pela metade, tentando decidir entre pedir pizza ou sair para comer em algum lugar da cidade – o que muito provavelmente seria uma ida ao Middlem. O incentivo para irmos ao pub era que nas noites de quinta-feira servíamos aperitivos gordurosos e rodada dupla de chopp, e aqueles dois não podiam ver uma promoção de cerveja. 

— Vamos ao Midd! – Cal tentou pela enésima vez, dando o último gole na sua cerveja.

— Não tenho força, melhor pedir alguma coisa! – retruquei desanimada. Mal sentia minhas pernas devido as tantas idas à caminhonete para pegar as caixas com as coisas da ruiva. E por Deus, ela tinha muitas!

— E tudo continua igual sob o sol! Chega, vamos de pizza! – Mads suspirou impaciente encerrando a discussão, pegando seu celular já discando o número da pizzaria não deixando brecha para discordâncias. 

Pouco tempo após comermos, minha amiga se retirou dizendo que tomaria um banho para descansar, já que no dia seguinte teria uma entrevista na universidade da cidade vizinha, para completar o corpo docente da Universidade Mael Vásquez como professora do curso de Relações Internacionais.  

Me levantei recolhendo as garrafas e a caixa de pizza vazia, os levando para a cozinha. Cal vinha logo atrás com o restante das coisas, compartilhamos aquele silêncio confortável que nos precedia. Enquanto lavava os copos, ele estava ao meu lado encostado na bancada da pia de braços cruzados com o olhar perdido, aguardando-me terminar para secá-los e guardá-los. Pude notar uma leve tensão nele. Na verdade, há alguns dias vinha percebendo essas nuances de comportamento dele. Sua postura antes relaxada dava lugar para ombros retraídos e olhos atentos, quase assustados. Por vezes parecia estar com a cabeça em outro lugar, constantemente aflito e inquieto. Ao longo daquelas duas semanas, incontáveis foram as minhas tentativas de conversar sobre o que estava causando aquilo, porém, suas respostas se mantiveram vagas, “estou apenas cansado” seguido de um apressado “não se preocupe”. Seu estado de aflição vinha nos afastando, impondo pequenas barreiras silenciosas, e isso estava me deixando verdadeiramente preocupada. Não sou o tipo de namorada controladora e desconfiada, longe disso, nosso relacionamento tinha essa dose insana de liberdade em que falávamos sobre tudo tomando nosso próprio tempo, porém não era o que estava acontecendo. Cal não sustentava mais meu olhar, nossos diálogos não duravam mais que alguns minutos e suas visitas repentinas se tornaram escassas. A situação estava tão estranha a ponto de as irmãs mais novas dele, Samira e Évora, também terem notado o comportamento incomum e virem me perguntar o que estava acontecendo. Nem preciso dizer que entrei em estado de alerta máximo depois disso.

— Estou enlouquecendo! – afirmou, de repente.

— Por que acha isso? – respondi comedida, desligando a torneira, e me virando para pegar o pano para secar minhas mãos, lhe dando minha total atenção. Escorei no lado contrário de onde ele estava, ficando frente a frente. Segurei bravamente a expressão de alívio que queria tomar meu rosto ao escutá-lo começar a se abrir sobre o que de fato o estava afetando tanto.

— Venho tendo uns … sonhos perturbadores, que estão mexendo muito comigo, não durmo direito a dias. – disse suspirando cansado. – Não sei o que está acontecendo, Ayla. – seus olhos abalados pousaram sobre os meus, sua frustração sendo quase palpável. Saber daquilo causava fisgadas dolorosas em meu coração, pois o entendia – como eu entendia! Muitas vezes meus sonhos com a garota desconhecida deixavam um rastro de pura angustia. Só de lembrar do primeiro sonho, podia sentir o aperto sufocante daquela mão invisível. Demorei dias para me acalmar. Então eu compreendia bem o bastante a aflição e desconforto de Caleb. 

— Quer me contá-los? – sugeri cautelosa.

Cal desencostou o corpo da bancada se dirigindo até o sofá em passos lentos, logo se sentando com os cotovelos apoiados sob os joelhos. Suas mãos inquietas passavam por seus cabelos, os desalinhando mais que o costumeiro aspecto bagunçado. Ele tinha a postura consternada mantendo sua visão baixa. Me aproximei, cuidadosa. Não querendo o amedrontar ainda mais do que já aparentava estar. Minhas mãos cobriram as suas devagar tentando minimizar o efeito de sua atitude agoniada sobre seus lindos fios castanhos. Ambos olhamos nossos dedos entrelaçados, o visível contraste do tamanho de nossas mãos o distraiu, diminuindo sua tensão. Eu sentia o aperto ansioso de seus dedos calejados sob os meus, segurando-os firmemente se assegurando de estar acordado e não alucinando.

— No início eram imagens desconexas... Depois, me estou andando por vários cômodos com móveis antigos cheios de poeira, pelas janelas vejo um jardim negro e tem… essa porta no fim do corredor. Ouço uma voz atrás dela, me chamando, e a cada passo que dou em sua direção sinto o ar sumir, um aperto estranho no peito, um sentimento desesperador de fugir, mas toda vez que tento retroceder meus pés não respondem, como se algo me prendesse... Então um vulto surge e me empurra para fora, me expulsando. Mesmo de olhos abertos, consigo sentir o ódio visceral e o tormento daquele lugar tomando cada parte de mim… – Cal voltou seus olhos amedrontados para mim. – Ayla… não estou conseguindo entender o que está acontecendo comigo, toda maldita vez, acordo num lugar totalmente diferente de onde estava antes. Por favor… me diga que não estou ficando louco!

— A quanto tempo vem tendo esses sonhos? – enlacei seu corpo meio de lado nos aproximando mais, o mantendo firme sob meu abraço sem jeito. Repousei meu queixo em seu ombro esquerdo, tentando lhe transmitir segurança e conforto com o simples gesto.

— Acho que desde aquela noite que te dei o relógio. – comentou cansado.

— Cal.. era no velho Château que você estava? – afastei o rosto voltando a olhá-lo. Analisando a situação, me ative a cada detalhe do que me contou desde o jardim negro, a aflição constante, até o bendito relógio. Eram coincidências demais para serem ignoradas, minha mente trabalhava em todas as teorias possíveis, mas com outra pessoa tendo reações tão próximas das minhas, era latente como tudo parecia estar estranhamente interligado.

— Acredito que sim, não dava para ver muito bem. Por quê? – respondeu, me olhando confuso.

— Hum…. Digamos que também tenho tido sonhos estranhos depois daquela noite. E eles sempre acontecem do lado de fora do Château, no jardim negro. Acho que estão ligados de alguma forma. – confessei.

— Você acha que tem algo a ver?

— Seria coincidência demais se disse que não. 

— Por que não me contou sobre os sonhos? – questionou meio letárgico.

— Por que não me contou antes, sobre os seus? – devolvi irônica. Nós travamos uma pequena batalha de olhares em meio às perguntas-barra-acusações, falar em voz alta sobre aquilo o tornaria mais real do que queríamos permitir, mas visivelmente ele estava sendo mais afetado com tudo aquilo. 

— Tudo bem! – deu-se por vencido quando viu que eu não iria ceder além de entender que também não queria preocupá-lo. – O que faremos? 

— Sinceramente, não sei. Sinto como se algo estivesse pedindo pela nossa atenção. E não é de um jeito bom. – suspirei apreensiva.

— Ayla…não aguento mais conviver com essa sensação incômoda. Podemos ir até o Château, já que lá é um ponto comum, seria um bom começo!

— Não acho prudente irmos lá sem nem mesmo saber o que procurar. Antes, vou buscar alguma informação e depois decidimos o próximo passo, ok? – Cal não gostou muito da ideia, pude notar imediatamente, mas mesmo contrariado nada falou. Seu semblante carregado transparecia uma angústia inexplicável, sentimento esse totalmente mútuo. Desde o episódio na praça, um grande incômodo me acompanhava insistentemente e o vendo daquela forma tão acuado e preocupado fiquei num estado maior de aflição. Eu sentia que algo de muito ruim estava por vir, e teríamos que tomar muito cuidado para que não se tornasse algo pior.

Depois de nossa conversa subimos para dormir, o que de fato não aconteceu facilmente. Embalados pelo silêncio denso cercando o quarto, compartilhamos veladamente nosso receio de pregar os olhos, e embarcássemos no perigoso e traiçoeiro mundo dos sonhos. Deitada sobre o peito largo e firme de Caleb, com os braços envolvendo seu torso forte, quase podia ouvir a engrenagem de nossas mentes unidas maquinando cada aspecto daquela situação tão inusitada, em como tínhamos nos metido nela. Isso me causava medo. 

 

Estávamos preparados pelo que estava por vir?

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 3 - Capitulo III:

Sem comentários

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web