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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 5300
Acessos: 809   |  Postado em: 27/01/2024

Capitulo 38

Cap 38 - Flávia


- Comigo foi só isso? A disputa até um beijo? 

- Isa.. não precisamos voltar nesse ponto. 

- Sabe que eu gosto muito de você né Flavinha?! E você não é pra mim uma figurinha só, queria a chance de ser seu álbum todo - Me mantive no mesmo lugar, sentadinha na banqueta, mas a Isabelle levantou e veio até a minha frente, querendo dar continuidade a conversa - Não mereço mais uma chance Flávia?

A Isa encostou a mão no meu rosto, do lado esquerdo. Eu deixei. Mão quente. Ela esperou alguns segundos, olhando pra mim, esperando alguma ação minha. Ação que não teve, que não existiu. Me mantive ali, parada na mesma posição. A Isa então se aproximou de mim e encostou lábio no lábio, mas logo se afastou sem nenhuma retribuição minha.

- Sem chance Flávia? - falou ainda próxima a mim, na minha frente. 

- Isa, não vou me forçar - ela tombou o corpo e me deu um beijo na testa. 

- Entende que eu precisava tentar de novo, né?! - falou voltando a sentar na outra banqueta

- Isa, seria estranho se você não tentasse. Já esperava isso - falei levantando da bancada e começando a recolher os pratos para lavar. 

- Sou tão previsível?

- Não acho que seja previsibilidade, você só não gosta de perder. 

- Já que estamos na sinceridade, por que não?

- Sério que precisa disso? Retórico não?

- Sim, relatório para melhorias de processo - ela deu risada do próprio comentário. 

- Você é possessiva, nós nem tínhamos nada e você já estava exigindo mensagem, postura de namoro. Você é muito intensa, de 10 a mil em segundos e eu não sou boa para lidar com isso, preciso de calma, constância. 

- Sou explosiva mesmo. Acho que te devo desculpas. 

- Não tem que pedir desculpa, é um jeito seu, eu que não sei lidar, mas tenho certeza que tem alguém que sabe lidar com o seu jeito, que entenda você. Só não sou eu. 

- Você é linda Fla, como pessoa, ser humano - deu dois passos para tras e pegou novamente a cerveja. 

- Eu tento ser do bem, não prejudicar os outros, mas a cada dia tenho mais vontade de ficar isolada, longe de tudo. 

- Não faça isso, muita gente precisa dessa luz sua - ela abriu um sorriso tão sincero, bonito, leve. Entendi ali que foi um ponto final nessa loucura sutil e desnecessária. 

- Vou terminar a louça e se quiser, podemos ver  um filme?

- Não, Fla, acho que vou embora. 

- Não, fica aí. Você bebeu, não é bom dirigir. Fica aí, vemos um filme, ficamos batendo papo. 

- Não vou incomodar? - falou negando, mas já aceitando

- Claro que não, convite meu!

- Então vou pegar mais umas cervejas ali embaixo e uns petiscos. É o tempo de você terminar a louça, pode ser?

- Sim, a chave está ali atrás da porta.


           A Isa voltou uns 10 minutos depois, com um box de cerveja de garrafa e uma sacola de porcarias, chocolate, amendoim. Convidei ela para se acomodar na sala, liguei a televisão e escolhemos juntas um filme. Acabamos escolhendo um de ação, com invasão a comunidade, crime organizado, acho que não poderiamos escolher algo diferente. Nem havia começado o filme já estávamos jogando mil conversas fora, depois pegamos no sono ali no sofá mesmo. No final nem acabamos assistindo o filme. Acordei já era umas 2 da manhã com as costas doendo, chamei a Isa para deitar no quarto comigo. Ela foi sem nem raciocinar muito, apenas deitou e apagou. 

            

             Apesar do sono intenso, meu despertador já programado me salvou de não perder a hora. Eu rapidamente o desliguei. A Isa estava em um sono profundo, do outro lado da cama, deitada de ladinho. Levantei da cama com cuidado e fui até ela, agachei para ficar na mesma altura. Fiz um carinho na testa dela, nada. Fiz mais um carinho, agora chamando ela, nada. Fiz um carinho no ombro, um pouco mais forte. Primeiro ela se mexeu, se aninhando e abriu os olhos. Tomou um susto enorme. 

        - Calma, calma. Está tudo bem - ela nem chegou a sentar na cama, mas o susto passou quando me viu e voltou a consciência o “ontem”. Alinhou o lugar a pessoa e acalmou. 

           - Nossa, apaguei! 

- Que bom que conseguiu dormir - falei levantando e seguindo pelo quarto. Ela sentou na beira da cama, ainda reiniciando o windows. Passou a mão sobre o cabelo cacheado, como se tentasse pentear ele com as mãos. 

         - Com o tanto que bebi era esperado! 

         - Eu vou tomar um banho, vou me arrumar. Já já libero o banheiro pra você. 

     - Hum Hum - respondeu ainda desnorteada. Peguei minhas roupas e segui para o banheiro. Na sala havia várias garrafas de cervejas no chão, as embalagens das porcarias que comemos. Pensei em recolher, mas dei preferência a entrar pro banho. A água caiu no corpo com leveza, refrescante e esquentando. Saí do banho já trocada, com uma bermuda e top, secando o cabelo com uma toalha. Procurei a Isa com os olhos e ouvidos e não tive trabalho, estava na sala agachada, recolhendo as garrafas.

            - Deixa aí Isa, eu recolho! - antes dela responder nos duas olhamos para a porta do apartamento que se abria atrás da gente. A Bia entrando no apartamento foi uma cena no mínimo estranha. A Isa se manteve agachada no chão, mas por reflexo olhou para trás. Eu com a toalha pendurada no pescoço, cabelo molhado, recém saída do banho. Não que eu devesse me importar, mas é uma questão de respeito. A Beatriz tão leve, sutil e calma, mudou ardentemente a expressão quando viu a Isabelle. Sua expressão suave foi rapidamente transformada em ira, seus lábios afinaram e a sobrancelha direita elevou, de um modo que eu fiquei desconfortável com a reação da Bia. A Isabelle que estava agachada pegando as garrafas subitamente levantou e nós três ficamos alguns milésimos de segundo em silêncio, nos olhando, em uma cena grotesca. Fui a primeira a ter alguma reação e soltei um:

- Bom dia Bia! Humm, chegando de manhã - falei rapidamente, tentando puxar papo e com todo o carinho que tenho pela Bia fui dar um beijo nela. Mas a resposta que tive foi bem diferente do nosso habitual. A Bia apenas respondeu - Oi, Flávia! - e seguiu pelo corredor minúsculo até o seu quarto. Eu não entendi foi é nada. O que eu fiz?

- Hummm, alguém ficou puta com você. Eu te avisei! - A  Isabelle falou baixinho, irônica e rindo de mim. 

- Mas o que eu fiz? Tava de boa aqui - falei baixinho também, olhando incrédula para a Isa, com as mãos abertas, sem entender nada. Ela pegou rapidamente as garrafas que faltavam no chão e sacudiu a cabeça, me chamando para ir na cozinha - O que foi?

- Você é muito lerda Flávia. O que eu te falei ontem? Que ela ia se irritar por eu estar aqui, te falei. 

- Mas não fizemos nada… ou melhor, nem tem nada. 

- Isso pra você amiga! - Ela colocou as garrafas sobre a pia - Oh, eu tô indo embora antes que sobre pra mim. 

- Não, fica aí, vou passar um café. 

- Eu? jamais. Não vou me meter nesse rolo não. Tomo café em casa - Ela esticou o braço, me dando um abraço gostoso, amigável e maduro.

- Tem certeza? Passo um café rapidinho. 

- Flávia do céu, o café é o menor dos problemas. Eu to indo. Quando chegar na delegacia te chamo, preciso alinhar umas coisas com você. 

- Tá bom, vou te levar até a porta pelo menos - Acompanhei a Isabelle até a porta. Eu agradeci imensamente o cuidado que ela teve comigo ontem, afinal foi um carinho ao ver o quanto eu estava mal com a situação com a Bruna. Por sorte ou azar, a Bia saiu do quartinho dela enquanto estavamos nos despedindo, quando a Isa viu a Bia perto, claro que aprontou com sua ironia:

- Não precisa me agradecer nada meu amor, faria isso e muito mais. A noite foi linda! - ela falou me pegando de surpresa, juro que não estava esperando essa atitude da Isabelle maluca - Nos vemos na delegacia! - e me tascou um selinho, sem eu nem anotar o numero da placa. Deu dois passos para tras, saindo do apartamento, mas antes de seguir o caminho, olhou pra mim com cara de quem estava aprontando, piscou com o olho esquerdo e falou bem baixinho: “Abre o olho, você merece mais” e saiu andando em direção ao corredor como se nada tivesse acontecido. 

Eu fiquei um tempo parada na porta, tentando entender o que havia se sucedido, mas entendi que foi só a Isabella no seu surto de 0-100 em um segundo, lábil, volátil e exacerbada. Entrei no apartamento, na verdade nem tinha saído, fechei a porta. A Bia não estava mais no corredor, eu estava sem saber exatamente o que fazer. Não sei se vou na Beatriz e peço desculpas, se preciso me desculpar de algo, se ignoro. Ai que situação chata e sem nexo algum essa. Quer saber, vou passar um café, arrumar minhas coisas e ir trabalhar. Perdi meu treino já mesmo. 


O cheiro de café recém coado já estava espalhado pelo pequeno apartamento quando a Beatriz passou atrás de mim, silenciosamente, rumo à lavandeira. Ela voltou também por trás de mim, sem querer conversar, sem puxar papo nem nada. Eu me mantive em silêncio, mas quase rindo da situação. Será que ela está brava? Não faz sentido isso. Não deve ter gostado porque a Isabelle estava no apartamento, sei lá, no espaço dela. Mas eu moro aqui, é meu espaço. Eu já trouxe a Bruna aqui, qual o problema com a  Isa? Sem contar que a Bruna era minha namorada e a Isa nada. 

Mesmo a Beatriz tendo entrado no quarto dela, muda e calada. Eu enchi uma caneca de café bem quentinha, coloquei as 7 gotinhas de adoçante que ela toma e segui pelo corredor, com cuidado para não derrubar. Com calma e delicadeza, dei tres batidinhas  na porta, com a ponta do dedo. Sem resposta, sem som. Sorri pra mim mesma, como sou idiota. Fui de novo, três batidas com a ponta do dedo. A resposta foi uma bufada monumental lá de dentro do quarto, consigo imaginar a expressão da Bia bufando de raiva, as bochechas vermelhas de raiva. Esperei em silencio, mas se precisar vou bater novamente. Por sorte não foi preciso, pouco tempo depois, a Bia abriu uma pontinha da porta, realmente com o rosto vermelho. 

- Fala - seca e direta, mas eu conheço bem a peça, estava me esforçando para não rir. 

- Te trouxe um café fresquinho.

- Não quero, obrigada. 

- Hummm, café quentinho, recém passado, sente o cheirinho - estiquei a caneca perto dela - Vai dispensar assim meu café? - A Bia não aguentou a cara de raiva por muito tempo, virou os olhos para cima, por deboche e acabou sorrindo, ao mesmo tempo que tentava ficar brava. Esticou a mão e pegou a  xícara. 

- Se vier tomar na cozinha, faço aquele pão na chapa que você gosta! - ela sorriu mais uma vez, rapidamente voltando a cara de “raiva”, de “não vou aliviar”. Juro que eu só queria rir da reação da Beatriz. 

           - Não quero tomar café com a sua amiguinha! - e foi fechando a porta. 

           - A Isa já foi embora. Não tem ninguém na cozinha. 

         - Foi embora? Porque? - falou cinicamente abrindo a porta e sem conseguir esconder o riso, tentando na verdade - Tão cedo! - Claro que eu fiquei quieta, quem sou eu na fila da humanidade para responder esse indivíduo. Se eu for analisar, ela pode simplesmente estar puta com o mundo, ter tido uma péssima noite com o Cantão ou qualquer outra situação que não seja ciúmes pela Isa estar aqui. Mas não acho que seja o caso de agora, hoje, retrucar ou tentar descobrir. A paz vale mais que estar certa. 

- Vai querer o pãozinho na chapa? - falei tentando acalmar mais ainda os ânimos

- Ah, se colocar manteiga eu aceito - respondeu 

- Cara de pau hein Bia. Vou fazer pra você - voltei ao fogão e pia organizando as coisas . 

- Ah, não sou cara de pau. Você que está querendo me agradar, então aceito - Olhei pra ela com calma e sorri, sei que pelo menos por algum tempo a Bia não vai me questionar sobre a Isabella. Não imaginei que fosse o tempo de um gole de café apenas - Hummm, ea Bruna, Flavinha?

- O que da Bruna?

- Nada? Nem sinal?

- Ai, ta foda! Encontrei ela ontem. 

- Sério? Onde? Encontrou por acaso ou ela apareceu, mandou mensagem?

- Eu fui ao sepultamento do jornalista. E a Bruna estava lá. Veio conversar comigo e tals. Falei que estava trabalhando, que não podia conversar. Assim que acabou o sepultamento do cara, ela veio novamente puxar papo. 

- E você deu um fora nela? - eu devo ter feito uma cara autoexplicativa que a propria Bia completou - Claro que não. Olha essa sua cara de cão perdido. 

- Não é assim Bia. 

- Nem vou entrar nesse assunto. Só vim pelo pão na chapa - falou bebendo mais um gole de café 

- Bem cara de pau. Tá quase pronto seu pão - e assim ela se manteve, esperando o pão em silêncio, sem questionar mais sobre a Bruna, sobre a Isabelle. E eu, do outro lado, não perguntei porque ela chegou hoje cedo, nem o motivo, nem nada. Tomamos nosso café praticamente em silêncio, só entrecortado pela programação de irmos juntas para a delegacia. 


Vocês sabem que eu não presto atenção no meu celular, nem sou muito adepta. Meio que quem precisa falar comigo ou liga ou vai ficar sem resposta. Fui mexer no meu celular quando finalmente sentei na minha mesa, com uma caneca quente de café e esperando meu computador lento ligar. Várias mensagens dos grupos da faculdade e da Ana Lu, algumas perdidas e lá embaixo “ Bruna Raíssa”. Apesar de estar lá embaixo, não é de duas semanas atrás não, de quando ela deveria ter me pedido desculpa ou me chamado para conversar, são de ontem as mensagens. Apesar de tudo, me deu um calorzinho no coração ao saber que ela me mandou mensagem. 

“ Oiii Flavinha! 

  “ Sei que está chateada comigo, mas juro que tive meus motivos”

“ Foi muuuito bom te ver hoje, apesar da situação e o lugar”

“ Tenta me responder, me dá mais uma chance”

“ Só mais uma, não vou te decepcionar”

“ Não esquece que juntas é mais gostoso”

Eu li a mensagem, ao mesmo tempo que quis rapidamente responder, me lembrei da Isabelle brigando comigo sobre eu estar me desgastando, gastando minha energia com a Bruna. Não respondi. Não vou cair assim, na primeira. Se não tivéssemos esbarrado no cemitério, será que teria me mandado mensagem, teria me visto? Será que teria voltado a conversar comigo? Não quero dar essa brecha tão assim não, a Bruna precisa entender que não vai ter tudo que quer assim, do nada. 

Minha equipe, na verdade a equipe do Cantão e a equipe da Isa, estamos trabalhando juntas no prosseguimento da investigação do tráfico de órgãos. Esse caos está ficando cada vez mais embaraçado. Desde que eu e o Souza fomos atacados na favela de Heliópolis e conseguimos um retrato falado do Grilo, as coisas estão evoluindo. Já descobrimos que o Grilo chama-se José Manuel da Silva, tem 37 anos, usuário de cocaína, maconha e álcool. Herdou a liderança e organização da quadrilha de tráfico de órgãos após a morte do Pinote, seu tio, que organizava a rede. O Pinote sempre cuidou do Grilo como filho, mesmo este sendo “só” seu afilhado. Grilo já cumpriu pena por tráfico de pessoas e formação de quadrilha, é uma figurinha carimbada. Depois que tínhamos um rosto, um cara-crachá, desenrolar a capivara dele foi muito fácil.

Uma equipe de investigadores está se revezando na comunidade, pegando detalhes, rotinas, pontos que só quem é do morro sabe. Estamos tentando descobrir se ele “apenas” gerencia tudo ou se ele cuida de produtos, medicamentos, essas coisa. Esse cara não estudou nem uma vírgula, quem dirá medicina. O médico que acompanha o dono da clínica roubada, que fez transplante renal clandestino é o mesmo que orienta o Grilo? É quem opera? Onde eles fazem a cirurgia? É só em São Paulo ou tem tráfico de pessoal para fora do país? 

Essas são perguntas que precisamos ter respostas e provas, sem contar que pegar o Grilo não é o suficiente, temos que quebrar a rede ou pelo menos fragilizar o suficiente, atrapalhar a ponto de retardar o retorno, fazer algum bem, proteger a população.  Eu ainda acho que lá em Heliópolis mesmo deve ter um hospital, algum centro cirúrgico. É habitual que esse tipo de organização trabalhe com equipamentos próprios, não é comum invadir hospital para operar ou alugar sala de cirurgia. Sem contar que o roubo de ventiladores, materiais e medicamentos, faz mais sentido para um hospital ou centro cirúrgico próprio. 

Meu celular em cima da mesa me assustou com o toque. Vibra daqui, vibra dali. Na tela: “Bruna Raíssa”. Era só o que me faltava, não quero falar, muito menos em horário de expediente. Puxei para a esquerda, rejeitando a ligação. Menos de um minuto depois ela me ligou novamente. Que saco, não quero. Joguei para a esquerda novamente, não vai me ganhar fácil não Bruna. Vai ter trabalho nesse cabo de guerra. 

- Flávia?! - a voz do Cantão ao fundo me chamou. 

- Pronto. Oi?! - respondi levantando o rosto. 

- A tarde, eu e a Isa vamos falar com aquele antigão - falando em relação ao policial civil que já é aposentado, que está na fila do transplante renal - Você tem mais alguma coisa pra mim?

- Senta aí delegado - falei esticando a mão para ele sentar na cadeira à minha frente - Estou só com a capivara do Grilo e do Puca. Você conseguiu ler?

- Po, ainda não. Eu ia ler ontem a noite, mas a Bia foi lá pra casa. Nem consegui ler nada. 

- E tá com essa cara de cachorro perdido porque bonitão?

- Ela me contou do ex namorado dela. 

- Contou? - me surpreendi, não achei que ela fosse um dia contar mesmo. 

- Ah, nem sei. Nem sei se ela me contou tudo, se escondeu alguma coisa. Cara, já to com ela faz um tempo e ela estava com medo de me contar, de como eu iria agir. “Tô” mais chateado por isso. 

- Aff Gabriel, para com isso. Você tem que ficar feliz que ela confiou em você, teve coragem de te contar, buscou seu apoio. 

- Você já sabia de tudo Flávia? - ele me perguntou em um olhar baixo, cansado, chateado.

- Ah, não sei se tudo, uma coisinha aqui, uma ali. Em defesa da Bia, eu fui montando o lego. Ela não me contou nada diretamente, eu fui pescando as peças. 

- Nossa, eu sou uma bosta de namorado mesmo. A amiga estava sabendo mais que eu. 

- Ah, quanto choro Cantão. Sério, fico muito feliz que ela tenha confiado em você. 

- Eu falei pra ela que se eu encontrar aquele imbecil eu mesmo quebro a cara dele.

- Sabia que essa era uma das preocupações dela? Que você ficasse tão puto que fosse atrás do Ricardo? Que saísse no soco com ele?

- Ah, e eu faço o que? Espero ele aparecer e meter a mão nela? 

- Pode ser… ou você pode dar apoio a ela, estimular ela a denunciar ele, acompanhar sempre e aí sim, se o imbecil aparecer de novo, ai mete um soco nele. 

- As vezes eu nem sei se sou mesmo namorado dela, estou muito chateado com essa situação toda, de verdade. 

- Bonitão, que tal olhar pra Bia de um jeito diferente? Ela está toda machucada, quebrada, com medo de você se meter em problemas por causa dela, querendo te proteger. Mas todo o tempo ela esteve com você não foi?  - de alguma forma a cena dela, alcoolizada e  tentando me beijar veio a minha mente, cheguei a perder a voz. 

- Que foi sapatão? 

- Nada, nada. Chega bonitão, para de reclamar da mulher que você gosta e deixa eu trabalhar. 

- Delicada igual dois mamutes - olhei séria pra ele, afinal, não existe justificativa para essa história da Beatriz. 

- Em relação ao jornalista, o Evangelista, você tem alguma novidade?

- Nada, não consegui achar nada. Mas essa investigação está com a equipe da Isa. 

- Sim, eu sei que está com a Isa. Mas você com a Bruna não conseguiu nada?

- Cantão , como vou conseguir alguma coisa? Nem com a Bruna eu estou. Não tenho acesso ao jornal. Eu falei isso para a Isa. 

- Verdade. Mas, entre nós, não rolou nada mais entre você e a Bruna? Ela nem tentou conversar com você?

- Ah, nada importante na verdade - falei quase fugindo do assunto - encontrei ela no sepultamento de ontem, discutimos e agora ela está me mandando mensagem. Ainda não decidi se dou uma segunda chance ou se ignoro.  

- Flávia, para de ser turrona. Só de você estar se perguntando já significa que vale tentar de novo. A Bruna é imatura, tem coisas que ela não tem noção. Sempre viveu em um mundo que todos queriam tanto dela que ela nunca pode viver o que ela queria. 

- E eu tenho que mostrar isso pra ela Cantão? Aguentar os rompantes de raiva, as audácias?

- Claro que não, não estou dizendo isso sapatão. Mas acho que você pode ser a pedra no pé, a corrente que traz ela pra realidade. 

- Eu até posso mostrar o mundo real pra ela, mas a Bruna tem que querer. Me tratar mal porque não faço o que ela quer, porque não vivi as mesmas experiências que ela é desgastante. 

- Ela está sentindo sua falta. 

- Será mesmo? Se ela não tivesse esbarrado comigo ontem, será que teria vindo atrás? 

- Eu olho por outro lado, será que ter te visto ontem não foi o empurrão que ela precisava? Será que ela não estava com vergonha do jeito como agiu com você? 

- Você conversou com ela?

- Nem preciso Flávia, conheço a Bruna de mil carnavais atrás. Maior que o salto dela é o ego e a vergonha. Dá mais uma chance pra ela. Acho que vale a pena. 

- Ela tem que sentir que eu não estou a disposição dos caprichos dela não. 

- Você prefere estar certa ou com ela? Para de ser turrona. Olha como você melhorou depois que começou a namorar. Está mais leve, mais sociavel, menos agressiva. 

- Aff Cantão, ganhou quanto pelo serviço hein? Já pago terapeuta. 

- Isso que estou dizendo, até terapia se propôs a fazer. 

- Estou fazendo isso por mim, não por ela. 

- Eu sei Flávia. Nem deve ser por ela, deve ser por você mesmo. Pelo menos conversa sobre a Bruna com o psicólogo. Enfim, já dei minha opinião como amigo, você melhorou muito com ela. 

- Anotado!

- Deus é mais, grossa. Quando meu conselho prestar pra algo me chama. 

O Cantão saiu bravo da sala dos investigadores, irritado na verdade. Ele é meu amigo, mas cara, ele deixa muito claro o quanto é amigo da Bruna. Isso me incomoda um pouco, sabe?! Eu já estou me sentindo mal por estar sem responder ela, eu tenho muita facilidade em trazer a culpa das coisas pra mim, mas não pode ser assim, não posso voltar com tanta facilidade. A Bruna precisa aprender a me respeitar,  precisa entender que não é assim, que não é estalou os dedos e eu estou lá. Ela cometeu vários erros, seguidos, que mesmo com meus toques foi sem importância. Espero que me perder de uma acordada nela, dê um choque de realidade. Sai de uma questão de Ego, passa a ser uma questão de amor próprio. 


Apesar do caso de tráfico de órgãos estar rolando e eu estar realmente inserida nele, eu tenho mais 6 casos que estão comigo, que tenho que entregar as diligências no prazo. Isso sem contar uma ou outra equipe que me pede opinião ou ajuda por eu já ser uma investigadora mais experiente, mais antiga. Enfim, passei minha manhã toda voltada a fechar alguns relatórios pendentes. Apesar dos relatórios, uma pessoa não sai da minha cabeça, a Beatriz. 

Estou aqui pensando, a Isa conhecesse o Ricardo e a Bia de tempos atrás, e o que ela soltou ontem foi: melhor lugar de bandido se esconder é na corregedoria, ou alguma frase desse nível. Então posso acreditar que esse imbecil comete ou cometeu algum crime, claro que além do óbvio que é a violência contra mulher.

Eu não consigo puxar essa informação da Bia, na verdade acho que ela já está tão fragilizada com esse tema que nem quero forçar, apertar nada. Ao mesmo tempo que preciso, quero ajudá-la de alguma forma. Se eu pelo menos entender quem é o Ricardo, como as coisas evoluíram, consigo traçar uma estratégia ou simplesmente entender que não dá, abrir mão. A primeira pessoa que vou buscar como informante é sim a Isabelle, se ela começou a falar, vai continuar. 

Separei os relatorios, dois estou devendo ao Cantão, tres para o Alcino e mais dois para a Isabelle. Esses relatórios são de casos simples, coisa do dia a dia, do tipo “estava na rua e um cara na bicicleta puxou meu celular”, “ vi o vizinho pegando minha moto”, relatórios mais burocráticos que reais. Levantei da mesa, com eles bem separadinhos, nem comecei a andar e meu celular tocou. Puxei o celular do bolso enquanto andava pelo corredor do DP, na tela “Bruna Raíssa”, já era a terceira tentativa de puxar papo comigo. Não estou pronta, não quero conversar agora, puxei para a esquerda e coloquei o celular no bolso novamente. 

Primeira sala, Delegado Alcino, uns 50 anos,  corpo de apito, barrigudo e cabeça fina. Gosto de trabalhar com ele? Mas nem por reza brava, só pego os casos dele quando, infelizmente, estamos no plantão juntos. Bati na porta, pedindo licença ao “doutor”, como ele gosta de ser chamado. Entreguei os relatórios na data certa e ainda tomei bronca do porque não entreguei antes. Ele é um colega que não faço questão nem do bom dia. 

Segunda sala, bem conhecida porque é do meu chefe de equipe, Cantão. Ele estava em uma ligação. Bati rapidinho na porta, ele acenou para eu entrar, sem desligar o celular. Me aproximei da sua mesa e falei baixinho “Os relatórios que estava te devendo”. Ele continuou no celular e acenou pra cima e pra baixo com o rosto, entendendo do que se tratava. Dei um sorrisinho e sai da sala, pelo menos a expressão dele está mais leve, espero que não tenha ficado com raiva de mim. 

Segui até a sala ao lado, sala da isabelle, onde eu queria finalmente chegar. Dei duas batidas na porta e ouvi lá de dentro, sem nem mesmo ela ter levantado o rosto para saber de quem se tratava: Entra! ela continuou lendo o papel que estava sob sua mesa e apenas quando parei na sua frente, levantou o rosto: 

- Flávia! Você na minha sala é novidade. 

- Nem tanto assim, vai?! Estou te devendo esses tres relatórios aqui - estiquei os papeis. 

- Senta aí - pegou os papeis enquanto eu sentava - Eu acho isso aqui uma perda de tempo tão grande. Por mim, tudo isso era digitalizado e feito só se fosse necessário, são burocracias complicadas. 

- Concordo que poderia ser tudo online. Já é digitado mesmo. 

- Enfim, se um dia podermos, modificamos isso aqui.  

- Você já almoçou? Vai almoçar por agora?

-  Ainda não sai desse lugar. 

- Larga tudo isso aí, vamos almoçar! Vem! - falei no tom mais convidativo possível. 

- Nossa, tô bem na fita com você. Até fui convidada pra almoçar. Devo me iludir? 

- Para com isso Isa. “Bora”? - ela deu uma risadinha e acenou com a cabeça, pra cima e para baixo, aceitando o convite.

Ela mexeu rapidamente na mesa, organizando alguns papéis e pegando a carteira. Descemos os 2 lances de escada do DP, passando pela recepção e seu característico cheiro de mofo, ar fechado e suor. Nem por mil vidas vou me acostumar ao cheiro horroroso que um DP tem. Mais um lance, de escada externa e rua. Fomos batendo papo de tudo e qlq coisa por dois quarteirões até o kilo mais perto do DP. 

- Um restaurante de kilo para nosso almoço de casal, não entro, não aceito - ela falou tentando imitar a voz da Bruna. Confesso que eu achei um barato, apesar de ficar sem graça com a piada. Tentei sorrir e responder, mas ela mesmo entendeu e deu um tapinha nas minhas costas - Relaxa Flavinha, vem que eu tô com fome. 

          Entramos no restaurante já procurando mesa. Lá no fundo eu avistei e sai na frente. A Isa foi me seguindo calmamente. É um restaurante simples, normal. Comida, PF, Kilo, nada diferente do almoço de um trabalhador. Sentei na cadeira e já olhei para a Isa, oferecendo para ela ir se servir antes de mim enquanto eu segurava o lugar. Para passar o tempo puxei o celular do bolso e fui mexer, quando menos percebi já tinha aberto a mensagem da Bruna: 

- “Amor, vou te mandar mensagem até você me atender” 

  - “Flavinha, para disso, já podemos conversar”

- “Será que vou ter que ir no DP pra você me atender?”

- “ Não quero te forçar a nada, longe de mim isso, só quero conversar, te ver”

- “Me dá uma chance”

Eu sempre fui muito direta nos meus relacionamentos, e posso dizer que com a Fabi não precisava disso, nós sempre fomos claras, sem jogos, só duas pessoas normais tentando e se esforçando para as coisas darem certo. Então ficar com esse joguinho com a Bruna não me alimenta, mas preciso me impor e fazer ela entender o que é respeito, companheirismo, sei lá, essas coisas básicas de todo e qualquer ser humano. 

- Ei, vai pela ponta, pula a maionese e acerta no fricassé. Tá fresquinho - A Isabelle  voltou com o prato feito e apoiando sobre a mesa.  Eu, em automático, levantei da mesa, ao mesmo tempo que meu celular, em cima da mesa, começou a tocar. Eu olhei rápido “Bruna Raíssa”, não deu tempo de dar um passo pra frente que a Isa já pegou ele na mão. Me olhou pedindo permissão e eu retornei o olhar negando, mas claro que a ousadia da Isa não respeita nada. A Isa atendeu o celular, olhando pra mim e vendo nitidamente meu pânico, tenho medo da Isabelle.

          - Alô…. Não, não, não é a Flavinha não…. Ah, ela está almoçando agora, quer deixar algum recado…. Ah, é urgente? Precisa falar agora com ela - a expressão da Isabelle era de risada - Tá, vou ver se ela pode atender….- olhou pra mim e soltou: Linda, amor, tem uma tal de Bruna querendo falar com você. Quem é essa Bruna, amor? 

         Ah Isabelle, filha de uma égua, vai piorar minha situação. Esticou o celular pra mim, rindo, quase que pedindo um agradecimento verbal e sonoro pelo que causou. 


Fim do capítulo


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Comentários para 38 - Capitulo 38:
jake
jake

Em: 09/02/2024

Isa é uma figura abriu os olhos da Flávia em relação a Bia.Ah Bruna cai fora vc e de mundo diferente Flávia e guerreira, lembro que você nem sabia o sabor da pizza preferida dela.Aff foi pedir ajuda a Bia fala sério né...Cai fora vai ...

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 02/02/2024

Eita agora Bruna surta de vez.

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mtereza
mtereza

Em: 28/01/2024

Torcendo para que elas conversem e se entendam vamos Bruna vai a luta mulher rsrsr

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FENOVAIS
FENOVAIS

Em: 28/01/2024

Adorei Isa. Faz de novo! 

Ainda continuarei minha campanha: Bruna não. A esperança é a última que que morre.

Bia, Bia.... me ajude a te ajudar... se tu for mais transparente até a negacionista da Flávia vai perceber. 

Realmente é chato sentir que seu amigo é (ou está) mais amigo do ex. Nessas horas bate o arrependimento de namorar amigo de amigo. 

Até o próximo capítulo!

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