CAP 13

POV ANA VITÓRIA

Vazia, essa era a palavra que me definia vendo Sophie partir naquela manhã e eu não conseguia me mover. Naquela manhã lembrei de como eu era feliz, parecia um tempo tão distante, sempre fui uma pessoa extrovertida e de vários amigos e pra falar a verdade a maioria era de homens inclusive casei com um deles, lembrei que foi esse o motivo de afastar meus amigos depois do acidente, eles me lembram o Vitor, toda vez que me encontrava com algum deles as lembranças vinham e as vezes ela é cruel, agora eu estava aqui dentro do carro infeliz, solitária e vazia vendo partir a única pessoa que me colocava um sorriso no rosto. Me doía saber que minhas palavras a feriram, unca soube me expressar corretamente e minha conversa com Sophie foi tão desastrosa quanto toda a minha vida. Eu tinha certeza que não conseguia recuperar nossa amizade como antes, mas eu precisava ajeitar as coisas, se eu conseguisse com que ela não me odiasse já era grande coisa. Liguei o carro e sai com destino certo, passei em uma cafeteria e comprei um belo café da manhã, cheguei na portaria do prédio dela e quando o porteiro já ia falar me antecipei.

- Qual é o apartamento da Sophie? 

Agora tu imagina uma mulher desse tamanho com um distintivo e uma moral da peste. O pobre do homem gaguejou tanto que eu quase gargalhei, mas mantive a pose.

- É... é o ... o 31 bloco B.

- Não precisa avisar.

- Sim senhora.

Não queria correr o risco dela me colocar pra correr e pela nossa última conversa percebi que a bichinha é meio braba, entrei com as mãos cheia de sacola bater na porta da única pessoa que me suporta. Toquei a campainha uma vez e nada, toquei novamente e nada.

- Como que ela sabe que sou eu? Se aquele porteiro bocudo tiver ligado pra ela, ele me paga.

Bati na porta diversas vezes e toquei a campainha freneticamente quando a porta se abre de repente me desenhando uma cena linda, Sophie enrolada na toalha ainda toda molhada. Paralisamos, eu por sentir meu corpo corresponder de maneira vergonhosa e ela por não imaginar que bateria em sua porta. Saí da minha paralisia com uma secada de cima a baixo e uma voz trêmula.

- Você precisa se trocar.

- Eu ia fazer isso, mas tinha alguém batendo na minha porta feito louca, achei melhor vim saber o que estava acontecendo, vai que o prédio estivesse pegando fogo? ( Ela tinha um sorrisinho de deboche tão lindo)

- Desculpa? Pensei que não ia abrir a porta pra mim. ( Dei de ombros)

- Desculpa minha de indelicadeza, entra por favor, eu vou me vestir e já venho, pode ficar a vontade.

- Obrigada. Posso usar sua cozinha? Trouxe um café da manhã pra gente.

- Claro que sim, vai mexendo ai e pegando o que quiser, já volto.

Passei a retirar as coisas dos sacos e comecei a ouvir um barulho vindo do quarto, parecia alguém quebrando as coisas.

- Sophie, tá tudo bem aí?

- Tá sim, já tô indo, só um minutinho. (Ela gritou e parecia agitada)

Voltei a organizar a mesa então ela voltou, com um short jeans, uma blusa maior que ela, cabelos penteados, descalça e um cheirinho de hidratante que me tirou o fôlego. Nós olhamos por alguns segundos e aquela cena parecia um dejavu, era como se aquela fosse a nossa rotina, parecia normal ela sair do banho e me encontrar pra tomar café. Ela me tirou daquele momento.

- Vem mais alguém pra tomar café com a gente?

- Não, porquê? Tá esperando alguém? (Pensa num medo dela responder que sim)

- Não, é que você trouxe comida demais pra duas pessoas.

- Ah sim, é que comida geralmente me acalma e pensei que faria o mesmo efeito em você.

- O que quer dizer com isso senhora delegada? (Apesar de me chamar de delegada o seu tom era zombeteiro)

- É que o que você não tem de tamanho tem de brabeza. (Prendi o riso) 

- Mas olha como ela é afrontosa, só vou te perdoar porque trouxe comida.

- Eu sabia que iria funcionar.

- Acho melhor manter seus pontos, se falar besteira eu posso não ficar tão calma.

- Calei a minha boca.

Comemos em um clima menos tenso, minha brincadeira tinha quebrado a seriedade da nossa situação, o que não serviu muito pois logo após estar satisfeita Sophie me trás a realidade.

- Você vai falar o motivo da visita? Não que eu esteja reclamando, pelo contrário, estou feliz que veio e ainda trouxe comida.

- Você não faz comida é isso? Está deslumbrada desde que cheguei.

- Não enrola Vitória.

- Eu só não quero perder sua amizade. 

Falei de uma vez e não entendi quando ela levantou da cadeira indo em direção a sala. 

- Sophie me desculpa eu não sou boa com palavras, vim até aqui com um discurso pronto, mas...

Parei diante do pedido mudo dela.

- Se você não sabe o que falar eu sei. A quase dois anos eu entrei no curso de treinamento da PRF e meus olhos foram de encontro a garota mais linda que meus olhos já viram, tentei falar com ela mas dei com os burros n'água, ela é linda mas muito séria, ao longo do curso as histórias me foram chegando e eu entendi a dor no seu olhar, percebi que existia um muro impedindo ela de ver o quão lindo é o mundo desse lado então, coloquei uma meta de todos os dias tirar um tijolo daquele muro só pra mim poder ver um sorriso naquele rosto lindo e a cada tijolo eu percebia que aquela garota além de linda ela é gentil, carinhosa, bem bravinha, mas com um senso de justiça incrível, humilde, mas sabe se impor, tem o coração tão grande e o sorriso mais irradiante do mundo pra mim, mas esta sozinha e ferida do outro lado e eu quero cuidar dela, quero sarar suas feridas, quero colocar um sorriso no seu rosto todos os dias. (Me aproximei tocando seu rosto que desciam lágrimas doloridas e passei a limpar) Eu me apaixonei por você Ana Vitória desde o primeiro dia que te vi e desde então venho tentando fazer com que me note, mas eu entendo que não está pronta pra ultrapassar esse muro. Só quero deixar claro que a minha meta ainda está contando, eu ainda tenho alguns tijolos pra retirar e eu sei que vai chegar o dia que você vai dá um pulo pra fora e esse vai ser o meu prêmio, quero deixar claro que não quero sentimento de gratidão, eu quero seu amor e vou lutar por ele, mas se não for recíproco por favor me fala, eu vou entender.

Fim do capítulo