Capitulo 17
Por Isabela:
No domingo, após o almoço, decidi voltar para o meu apartamento. Enquanto realizava qualquer tarefa em casa, a imagem de Helena se inclinando persistentemente invadia meus pensamentos. Era como se aquela cena estivesse gravada na minha mente, e eu constantemente me pegava afastando esses pensamentos, julgando-os inadequados e confusos.
À noite, enquanto me preparava para dormir, recebi uma ligação de Lucas e atendi.
— Oi!
— Oi, meu amor! Que saudade de você e de ouvir sua voz. Como foi o final de semana na casa da sua tia?
— Foi bem tranquilo… Passou voando, na verdade — respondi, mas minha mente voltou ao encontro com Helena.
— Interior é assim mesmo, né? Tranquilo… — Lucas riu, tentando manter a conversa leve.
— Verdade — concordei.
— E aconteceu algo diferente por lá? — Lucas perguntou, notando uma sutil distância em meu tom de voz.
— Nada diferente… tudo normal — menti.
Depois de me contar algumas notícias relacionadas à política, ele se despediu, dizendo que me amava e que mal podia esperar para me ver na reunião do hospital no dia seguinte.
— Ah, é verdade... temos a reunião amanhã. Nos vemos amanhã então. Também te amo — respondi tentando ser mais calorosa, mas meu pensamento novamente recaía sobre Helena.
Na manhã de segunda-feira, o hospital estava em sua habitual movimentação. Percebi quando Helena entrou, cumprimentando a equipe com um "bom dia" e ao me notar na recepção conversando com a enfermeira, nossos olhares se cruzaram inevitavelmente. Ao vê-la, senti um frio na barriga. O simples "bom dia" dela, com a voz levemente rouca de sono, fez meus pensamentos se embaralharem novamente.
Concluí o assunto com a enfermeira e me dirigi à sala de reunião, com a sensação de que alguém me seguia. Ao me virar, deparei-me com Lucas e Cássio. Lucas, abrindo um sorriso, colocou a mão na minha cintura e me deu um selinho. Cássio, com um sorriso amarelo, me cumprimentou, e seguimos juntos para a sala de reunião.
Helena já nos aguardava. Cumprimentamo-nos, e ela deu início à reunião, abordando o contrato e algumas propostas de alterações apresentadas por seu advogado. Durante a reunião, o clima entre nós permaneceu carregado, com olhares que se encontravam e se desviavam, como se uma comunicação silenciosa estivesse acontecendo.
Cássio e Lucas acompanharam a reunião com atenção, trocando olhares significativos em alguns momentos. Eu tentava manter a concentração, mas a presença de Helena na minha frente tornava isso desafiador.
Helena explicou detalhadamente as alterações, destacando os pontos que considerava cruciais para ambas as partes. Cássio estreitou os olhos, indicando com um sinal de cabeça para que ela prosseguisse.
— Considero importante destinar parte da minha carga horária no hospital para ficar na posição de médica auditora, analisando despesas e custos com tratamentos, e também autorizando procedimentos conforme a urgência de cada caso — disse Helena.
— Acredito que não é necessário você destinar carga horária para isso. Meu pessoal na prefeitura já realiza essa seleção, Dra. Helena — Cássio respondeu, visivelmente alterado.
— Tenho certeza de que você conseguirá direcionar esse pessoal para outras tarefas, prefeito. E como acionista majoritária, estou aqui apenas para lhes informar das mudanças — Helena retrucou firmemente.
Lucas, Cássio e eu nos entreolhamos em silêncio. Lucas pigarreou e argumentou:
— Vi que você pretende contratar dois psicólogos para grupos terapêuticos no hospital. Sou obrigado a me posicionar contra, pois isso afetará nossos custos e haverá uma despesa maior do que o habitual.
— Sim, mas já conversei com a Isabela antes sobre isso. Pretendo diminuir meu salário nos primeiros meses até que o financeiro se equilibre e, futuramente, acrescentarei uma taxa em determinados procedimentos para que esse valor a mais seja abatido. Não se preocupe, Lucas — Helena respondeu.
Quando Lucas ouviu Helena mencionar meu nome, instantaneamente me olhou, buscando tirar satisfação. Uma parte de mim, odiou Helena por ter me exposto daquela maneira, mas outra ponderava, já que ela não sabia que eu havia omitido tantas informações do meu noivo.
— Vejo que não temos mais o que argumentar e que devemos apenas aceitar suas propostas, não é, Dra. Helena? — Cássio disse, sem esconder o sarcasmo em sua voz.
Helena apenas estreitou os olhos em direção a Cássio.
— Mas em um aspecto, você está certa. Com a chegada do festival, precisarei do meu pessoal empenhado no evento. Nisso, ainda tenho total autonomia e ninguém poderá dar pitaco — Cássio disse de maneira rude ao se levantar e despedir-se de todos.
O clima na sala de reuniões ficou tenso com a saída de Cássio. Lucas, quebrou o silêncio que persistia, dirigindo-se a Helena:
— Então, Helena, pretende ir ao nosso festival?
Helena, com sua postura segura, respondeu prontamente:
— Vou sim e até convidei alguns amigos.
— Ah, que bom! O festival movimentará bastante a cidade, e aposto que você e seus amigos vão adorar provar os produtos locais — Lucas comentou, tentando ser simpático.
Helena, com um olhar malicioso, acrescentou:
— Sim, com certeza. Já experimentei o vinho da região e, no final de semana, também provei outras delícias. Confesso que foi impossível não ficar com um gostinho de quero mais.
Helena me lançou um olhar carregado de intenções que não me passaram despercebidas. Senti meu rosto corar, enquanto um desconforto sutil se instalava, me deixando sem palavras.
Lucas se aproximou de mim ao se despedir, e me beijou demoradamente, sua mão pousou firme na minha cintura. Era um gesto familiar, mas, naquele momento, senti o peso dos olhos de Helena, que permaneceu na sala por razões que eu não conseguia entender. Isso tornou a situação constrangedora, mas Lucas não pareceu notar.
Quando Lucas finalmente se afastou, me lançando um último sorriso antes de sair, deixei escapar um suspiro que eu nem percebi estar segurando. Helena, no entanto, não se moveu. Eu podia sentir seu olhar me observando, e o silêncio que se seguiu foi quase insuportável.
Resolvi quebrar o gelo, tentando soar casual.
— Você ainda precisa de algo, Helena?
— Só estava pensando... Se esse tipo de comportamento é adequado ao ambiente de trabalho — ela disse sorrindo de maneira irônica.
Minha primeira reação foi de surpresa, mas logo a sensação de desconforto tomou conta.
— Lucas gosta de... demonstrar afeto, mas isso não vai mais acontecer, chefe — murmurei, tentando parecer indiferente, mas também ironizando a postura de Helena.
— Ah, sim — ela disse, inclinando levemente a cabeça. — Ele é muito... demonstrativo.
Depois de falar isso, ela se afastou, deixando-me sozinha na sala. O modo como ela enfatizou a palavra "demonstrativo" fez com que eu sentisse um calafrio subir pela espinha. Havia algo nos olhos dela que me deixava inquieta.
Fim do capítulo
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