Capitulo 2 Um negocio de conveniência
Chegar em casa tarde da noite era um desafio principalmente quando se morava com os pais.
Que fim de carreira
Uma puta bêbada como eu deveria agir como um ninja.explorar minhas habilidades e sentidos e andar como uma pluma pousando no chão, mas quando se morava num terreno cheio de trailers era óbvio que tudo ia colaborar para nada dar certo.
Depois que deixei Daniel no carro dele a dormir, peguei um busão e cheguei ao parque dos visitantes. O nome simples já dizia tudo. Ficava fora dos limites da cidade e foi criado para viajantes se hospedarem mas acabou se tornando um lar de lascados permanentes de Fortville.
As fábricas contratavam e demitiam como se não houvesse amanha e meus país não tiveram sorte em se estabelecer na cidade.cresci com meus pés fincados no chão nesta roleta russa que era nossa vida.dias bons e ruins eram como uma bala desta pistola.a gente girava e tinha um bico ali para meu pai,outro ali para minha mãe e um para mim, e quando era a vez da bala só queria dizer que a fome nos tornava verdadeiros animais. Bichos pensantes e cheios de ódio. Eu ainda tinha péssimas lembranças do mau humor do meu pai e dos gritos da minha mãe me implorando para esquecer minha boneca e procurar um emprego. Chegar na minha própria casa com dinheiro no bolso só me dizia que a bala estava longe das nossas cabeças.
Abri a porta cautelosa mas o barulho do ranger do metal tinha que me denunciar e minha mãe surgiu da cozinha veloz.
A cara dela era sempre a mesma, raivosa e puta comigo, mas respirei fundo e sorri.
--onde é que você se enfiou garota?--o tom preocupado dela era sufocante já que ele só existia quando eu saia pra trabalhar.
--não apareceu ninguém hoje, só um cara quase agora.--falei verificando o relógio e é, Daniel me custou mais duas horas.já era uma da manhã?!
--ah tá bom e achou prudente levar esse safado para o bar e voltar assim?tá fedendo a bebida.--reclamou ela enquanto que meu pai da sala nem olhou pra mim. A TV era mais interessante.
--a gente precisa de grana né!eu fiz minha parte!--passei por ela e sua pose de mãos nos quadris não me assustava,minha cabeça já pulsando só me alertava implorando por um bom descanso no meu quarto.
--garota não me estressa!é bom mesmo ter dinheiro por que se eu souber que gastou tudo pra se divertir te dou uma surra!--gritou ela me seguindo até a porta do meu quarto onde fechei minha porta a tempo.
Retirei minha jaqueta ao som de suas batidas na minha porta me enlouquecendo e joguei ela na cama, peguei minha toalha e deixei novamente o quarto.
--cadê o dinheiro?--perguntou minha mãe ainda na porta.
--ele tá seguro.não é como se fosse voar pela janela.--brinquei mas ela respirou fundo levando a mão aos olhos cansados.
--eu ainda preciso de cem conto para completar o aluguel.--me lembrou ela de mais uma cobrança.como aquilo me cansava.
--minha parte eu fiz! o que seu estupendo marido fez além de assistir TV hoje?
Entrei no banheiro ganhando a olhadinha dele da sala e como ele era caladão sabia que não me venceria nas minhas provocações. não valiam a pena tanto estresse,isto ele deixava para minha mãe.
A hora do meu banho era uma hora preciosa.como um monge das montanhas eu meditava sobre toda minha vida embaixo do chuveiro.Daniel tinha salvado meu dia, mas me peguei pensando naquela nossa conversa. Ele se preocupava mesmo com sua filha e com toda a merd* que ela sofria e me senti invejando ela apesar de tudo.
Eu só podia ser louca, mas aquele olhar, eu mesma nunca vi nos meus pais. Logo nós que deveríamos estar mais unidos do que nunca sempre estávamos em pé de guerra.ninguém lutava por mim naquela casa e soube disso quando ao invés de me protegerem me atiraram aos leões famintos no meu primeiro programa.
respirei fundo e enchi minha cabeça de shampoo e condicionador lavando meu cabelo do pó da estrada.lavei todo meu corpinho do suor e tirei todo o cheiro da bebida e daquele bar de mim.amanhã eu deveria estar novinha em folha como se não tivesse fodido loucamente hoje, por isso terminei escovando bem meus dentes mas seguindo para meu quarto procurei meu hidratante e não o achei na minha bagunça.
Minha mãe o pegou.
Sai do meu quarto e entrei no dela com ela me seguindo. eu o achei sobre sua mesinha perto da cama.
--pare de pegar minhas coisas.--reclamei e ao tentar passar por ela minha mãe me segurou no lugar.
--sabe que me preocupo com você não é?
--mãe eu..
--me escuta!--falou ela e parei para ouvir.--por mim não faria esses programas.
--claro.só preciso ter paciência.
--acha que pra mim é fácil?eu só peço um pouco mais de paciência. Eu sei que logo a dona Regina vai me contratar para trabalhar no restaurante dela e o salário de lá vai manter a casa.você sabe disso.--disse ela com aqueles olhos brilhantes e compreensão era tudo que ela sempre me pedia. claro, além do meu dinheiro.
--mãe...eu sempre acreditei em você.--falei e eu realmente acreditava, mas eu sabia que isto não só dependia dela.quem morava no parque dos visitantes sabia.ela sorria aliviada e mais um dia se encerrava como todos os outros.promessas vazias.
Voltei para o meu quarto e comecei a me hidratar e me deparei com uma surpresa no meu piso.
A foto da família de Daniel
A peguei e lá estava ele sorridente junto da família. Eles pareciam tão felizes nessa época e sua filha mais ainda.me sentei na cama e fiquei ali pensando.
Por que eu me sentia tão mal em relação a eles?
Vários dos meus clientes tinham problemas piores e não fiquei assim, talvez porque nenhum deles me implorou para ajudar.olhei para aquela garota e me atirei na cama. Aquele sentimento estava me consumindo.
--seu pai é um louco.uma amiga prostituta.. (rs) me odiaria certeza.--falei para ela naquela foto.
Amiga..
De todos esses anos que nasci e cresci ter amigos foi a última das minhas prioridades,claro eu tinha a..o...eu tinha conhecidos.um bando de velhos..Fortville era uma cidade industrial antes dos ricaços a tornarem seus lares de verão e todos que tinham minha idade estavam em Fortcastle.crescer aqui foi perceber que minha infância se resumiu em viajar no velho carro do meu pai para cursar o fundamental na cidade vizinha e antes de terminar o ensino médio perceber que para seu pai era trabalhoso demais para ele me levar e que segundo ele eu conseguiria muito bem viver sem meu terceiro ano.eu sobreviveria como ele sobreviveu e isso me fez ver que aquele velho trailer onde morávamos seria minha cova também.ter uma amiga talvez me fizesse esquecer essa minha vida.um acidente trabalhoso desde o começo como eu sonhando em ter alguém assim como o meu sono que me seduzia ao sonho perfeito.
O sol brilhava sobre os cabelos negros,longos e dançantes daquela garota sorridente.ela segurava minha mão e avançava a correr me levando pelo bosque em um dia quente de verão.eu sentia a grama nos meus pés, eu sentia a brisa que cortávamos veloz, eu sentia tão viva sua mão a minha.seu riso ecoava nos meus ouvidos e seu olhar buscava o meu como se buscasse minha aceitação para trilhar aquele caminho.
Eu ia..até ela parar e virar a mim sem mais aquele sorriso, sem mais aquela cor.seu olhar era revoltoso e entristecido e a chuva que caiu sobre nós tão incomum e densa para aquele dia de verão que a última coisa que vi dela foram palavras que não ouvi.
Me acordei com o sol forte invadindo minha janela e meu pai dentro do meu quarto xeretando.
--mais que merd*.--lembrei que dormi de toalha e cobri melhor meus seios e fechei bem as pernas ao me sentar. Ele foi direto a saia jogada no piso e pegou meu dinheiro.sonolenta do jeito que eu estava eu não tinha nem chances.
--vou precisar da grana pra comprar umas coisas e levanta são seis e meia.
--tá cedo.--rocei meus olhos e arrumei meu cabelo.
--se eu levanto todo mundo levanta.anda.--ele saiu e que duro era vida de pobre.
Tomei outro banho e vesti minhas roupas.o jeans colado,a blusinha básica e meus coturnos de guerra.arrumei meu cabelo vendo minha mãe passar de um lado a outro no corredor a procura de sabe lá o que.
--cadê seu pai?
--saiu.--falei começando a me maquiar de frente para o espelho e vi ela se irritar na hora.
--não me diga que deu o dinheiro pra ele.
--ele invadiu meu quarto mãe!e você sabe que ele não liga pra nada quando precisa de grana.
--arrgr!!eu ainda preciso pagar o aluguel garota!--esqueci do seu reflexo e olhei para ela diretamente.
--eu arranjo.
--(rs) vou ter que me esconder do Vitor até você voltar de madrugada?
--confia.vai dar certo.--falei e ela bufou saindo da minha vista e eu tinha que ter muita calma para não surtar.
Peguei minha jaqueta, meu cigarro e antes de sair do quarto vi a foto do Daniel sobre a cômoda e parei por um instante.
E se ele voltasse?era melhor me prevenir.
fui trabalhar.
Pelo menos por algumas horas eu estaria em paz,longe do peso das obrigações que esses loucos me davam.comigo e meus pensamentos naquela velha estrada para fora da cidade.fumando meu cigarrinho e remexendo meu cabelo. Era solitário?um pouco mas eu me sentia infinitamente melhor assim e fim de semana já estava batendo na porta, e sábado era sempre um ótimo dia pra ganhar dinheiro.
Eu olhava para o horizonte e o movimento já estava a mil. Enquanto uns saiam de viagem outros ainda trabalhavam,os caminhoneiros eram a maioria e cedinho deixando a cidade com suas cargas eles eram mansinhos como um gatinho.
Um deles parou e o magrelo baixou o vidro sorridente,fui até ele e subi nos degraus da porta.
--tô precisando de uma rapidinha..só pra dar aquela força sabe.--esse foi meu bom dia vindo dele.
--é mesmo?posso te ajudar rapidinho.
--mas eu só tenho uns trocados.vale um boquete pelo menos?--era muita ousadia dele me falar essa merd* ainda mais catando algumas notas de dois e cinco contos no painel do caminhão e me estendendo.eu ri.
--tá achando que eu sou alguma cadela?qual é cara..você é o assalariado aqui.mostra as notas altas.te deixo acordado até o seu destino. (Rs)--falei e ele sorriu tentado enquanto brincava com meu cabelo.
--sou o primeiro do dia gatinha?
--novinha em folha.--assim que falei vi ele se apressar para alcançar a mochila na parte de trás do seu banco e seria perfeito.a grana mais rápida do dia.
--nossa!nunca pensei que te encontraria aqui tão cedo.--a voz familiar me fez olhar para baixo na estrada e avistei Daniel e suas roupinhas formais.o charmosinho sorria mas aquilo ia ferrar meu negócio.
--quem é esse otário?-- perguntou meu cliente já bravo pela intromissão.
--bom dia senhor.espero não estar atrapalhando.--respondeu ele calmamente.
--fala sério. Ela que se ofereceu cara!--falou ele já religando o caminhão,que ótimo.
--sai fora Daniel.--falei e ele sorriu tão fofo sabendo que estragou meu novo programa.
--eu só vim te convidar para tomar um café na cidade.--respondeu ele não ligando para toda aquela confusão.
--desce.eu não tenho tempo pra perder. Ainda mais esperar por vadia de beira de estrada.--mandou o caminhoneiro para finalizar.
Desci puta mais do que já sou e enquanto o caminhão partia para além do horizonte Daniel permaneceu ali,esperando.será que sempre seria assim?
--Acho que ele pensou que eu fosse da polícia.--ele riu e nisso virei a ele.
--qual é a sua Daniel?!eu tô trabalhando!se quer foder de novo espera a sua vez cara.
--você comeu alguma coisa hoje?
--o que?não!
--então vamos?
Eu sabia o que ele queria com toda essa gentileza.seu plano louco ainda não tinha saído da cabeça dele.
--lembra do que conversamos ontem?
--claro. Era um plano brilhante!--fui sarcástica mas ele acelerou seus passos parando a minha frente.
--eu pago Summer!!
--o que?
--eu pago tudo!!
--o que eu quiser?
--um valor justo.
--(rs) justo? Ela vai te odiar pelo resto da vida se descobrir Daniel.
--então não contaremos. Eu só preciso que me escute.
--me deixa pensar!!--falei alto e ele se calou finalmente.
Deixei de lado um pouco do meu ranço por aquele plano e resolvi usar um pouco a cabeça.eu precisava de dinheiro HOJE e se eu negar era certeza que Daniel estragaria todo o meu dia como um encosto charmoso botando meus clientes para correr, mas pensando logicamente se eu colocasse as rédeas da situação nas minhas mãos eu não me foderia. Sem contar que magoar uma garota já quebrada não estava nos meus planos.
Rrrooooooorororor
Minha barriga roncou alto e acenei concordando.
Eu era patética e ele um cara feliz.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 20/11/2023
Justo é justo problema resolvido para os dois.
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