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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 5152
Acessos: 901   |  Postado em: 16/11/2023

Capitulo 31

Capitulo 31 - Bruna


           A Flávia tinha me deixado na redação e iria seguir para a academia. Quando desci da moto, eu estava me sentindo uma adolescente boba. Tivemos uma noite tão gostosa juntas, mas ainda sinto uma barreira tão grande em volta dela, é como se ela tivesse aberto um tijolinho, em um castelo gigante. Mas um tijolinho a cada dia, estamos quase chegando a uma porta. Ela é cuidadosa, amorosa, dedicada, cada dia me encanto mais um pouco por ela. 

      Me despedi dela com um beijo rápido, coloquei minha pasta na lateral do corpo e entrei no jornal, apreensiva, afinal eu estou com a mesma roupa de ontem. Eu sou muito organizada em não deixar minha vida pessoal aparecer na profissional, isso era até uma dos meus incômodos em relação a Mayra, que deixava claro que era ciumenta e eu era quase uma posse dela. 

          Passei meu cartão na catraca da portaria, rodei e entrei. Peguei o elevador, cheio de gente, desci no terceiro andar. Parei na frente do DOI Notícia, puxei o ar, o murmurinho, a agitação, o ar de correria, o vapor do café saindo das canecas é o que me encanta sempre. Desde os meus 13 anos, quando comecei a vir aqui, me encantei por esses detalhes, por esse ar intelectual. No princípio eu vim pra conhecer, saber o que era o trabalho de um jornalista. Mas assim que eu cheguei me encantei por esse lugar e aí comecei a vir sempre. Meu padrinho, o Antônio, quando viu que eu estava pegando gosto, começou a me ensinar o ofício, como escrever com personalidade, técnicas, ele fazia eu reescrever meus textos até estar alinhado com o ideal ideológico do jornal. Eu brinco que trabalho aqui desde os 12 anos, passei por todos os setores desse lugar, desde a recepção ao maquinário de impressão, do designer de classificados a arte da primeira página. Estou sendo treinada e moldada a tempos para assumir o editorial do jornal e quem sabe, a presidência do grupo em algum momento do futuro. 

           Minha sala já estava com o ar geladinho e cheio de papéis sobre a mesa, esperando eu ler, editar, aprovar, recusar. Sem contar os papéis que estão no computador, no email, no docs. Vai dar certo, sempre dá. Comecei a trabalhar, peguei os primeiros documentos e fui devorando. Meia hora já tinha passado e eu já queria o primeiro copo de café. A Drica é minha assistente, na teoria ela deveria trazer meu café, mas prefiro deixar ela ocupada em me ajudar na montagem  e no designer da edição, que pegando meu café. Então levantei e segui até o final do corredor, com minha caneca na mão, pronta para enche-la com o pior café do mundo. O pior, mas é o que tenho. 

           Aproveitei o tempo na copa e mandei uma mensagem para a Flavinha gostosa, agradecendo pela noite. Estou tão ansiosa para a viagem que faremos esse final de semana, vai ser surpresa pra ela, acertei com o Gabriel a folha dela e vamos ir ao interior de São Paulo, nada muito longe. Quero que ela tenha esse tempo de calma e relaxamento antes de retornar as aulas da faculdade de direito. Ela deve estar ocupada, pois não me respondeu, apesar que ela sempre leva um tempo para responder. 

            Nem tive tempo de voltar para a minha sala, o Antônio já me puxou para uma conversa. Depois emendamos na reunião do Bom dia, que alinha as demandas do dia e as possíveis matérias da edição do dia seguinte, avalia alguma pauta mais em alta. Fiquei quase 1 hora lá, sai cansada mentalmente, mas a primeira coisa que fiz foi pegar meu celular e mandar uma nova mensagem para a Flávia, sem resposta. Estranho, porque em geral ela responde na hora do almoço. Deve estar ocupada. Voltei para a minha sala quando já passava das 13h, sem parar um minutinho. Sentei e abri meu email, mal comecei a ler e fui interrompida com uma batida na porta. 

              - Entra! - falei sem desviar o olhar da tela do computador. Minha sala tem a lateral de vidro, permitindo ver quem está chegando, saindo, a correria da redação, o vuco-vuco do jornal. Mas pra isso, tenho que levantar pelo menos os olhos. 

              - Oiii, posso entrar? - levantei o rosto e vi a Mayra, toda sorridente, com a cabeça no espaço entreaberto da porta. 

              - Entra - voltei o rosto para a tela - você já tem o esboço da revista de São Francisco? Você ficou de fazer e eu ainda não recebi, preciso otimizar isso porque vou pra lá daqui 3 semanas. 

         - Vim te trazer esse esboço mesmo. Te enviei uma cópia digitalizada, mas quero que você sinta a revista nas mãos - o que? A Mayra nunca fez isso, ela é quem menos acredita em exemplar impresso. 

             - Você não gosta de nada impresso - falei olhando para a impressão na minha frente, sem ao menos levantar o rosto para olhar ela. 

             - Pensei melhor, fui estudar sobre o tema, achei válido tentar o impresso, usávamos anos atrás - continuei olhando apenas para o computador, não queria olhar pra ela, não queria arrumar papo. Ela mudar de ideia é uma coisa muito rara. 

           - Enfim, pensou em alguma coisa diferente desde a última vez que discutimos isso? 

           - Se você olhar pra mim e pro material, vai conseguir ver - fiquei sem graça com o puxão de orelha, mas ela falou com uma voz calma, aveludada, não costumeira. Olhei em direção ao material que estava na minha frente, passei as folhas rapidamente, fingindo que estava prestando atenção, mas na verdade estava impressionada por ela ter tentado fazer algo como gosto, ter tentado ou ter mudado de ideia. Não sei. - Ontem eu fui no Iguatemi, lembrei de você. 

           - Lembrou de mim? - pela primeira vez olhei pra ela, ela falou isso com um tom de voz tão aveludado, macio, que mais uma vez me surpreendeu, na verdade deixou uma pulga atrás da orelha - Porque lembrou de mim? 

          - Passei em frente aquela loja de chocolate belga que você gosta. 

       - Hum - balbuciei dando continuidade ao tema.

          - Aquela atendente perguntou de você. Falou que faz um tempo que você não vai lá. 

          - Ah, você entrou na loja? - mais uma surpresa - Você detesta o cheiro da loja. 

         - Não é tão assim Bru, você fala de um jeito como se eu fosse a pior pessoa do mundo. E eu não sou. 

         - Não Mayra, eu sei que você não é a pior pessoa, nem penso isso de voce. O foda é que você era esse caos comigo, só faltava gritar comigo cada vez que eu passava nessa loja. 

          - Claro que não linda. Só não gostava do cheiro. Enfim, passei ontem lá, lembrei de você e comprei esses aqui. São os que você gosta? - levantei a sobrancelha quase que em susto. A Mayra sendo carinhosa e me dando chocolate? 

             - May, não precisa fazer isso. 

        - Bru, não estou fazendo nada. Passei ontem lá, lembrei que você gosta e comprei. Só isso. So pega o chocolate e come quando quiser, não estou te cobrando nada. 

             - May, você está bem? Estou te achando mais cabisbaixa esses dias, com cara de cansada. 

            - Bru, sinto sua falta. É só isso. 

          - May, a gente não precisa conversar sobre isso. Eu estou seguindo em frente. 

           - Eu sei, já entendi isso. Enfim - levantou da cadeira - o chocolate é seu. E da uma olhada no material impresso que te entreguei, vê o que acha - sorriu com calma e plenitude, como se a dor realmente existisse no coração dela, e saiu da minha sala, rodando os sapatos mocassim marrom.

             Respirei fundo mais uma, duas ou dez vezes, querendo me acalmar. O ar entrou acelerado, esperando eu ter força para expulsá-lo. Olhei a sacolinha de chocolate, será que ela ao menos sabe qual chocolate eu gosto? Nunca prestou atenção em nada. Abri a embalagem mega elegante da loja, a experiência inicia na embalagem mesmo. Dentro havia duas caixinhas, uma de bombom e uma de trufa, exatamente as trufas que eu amo. Levantei as duas embalagens e embaixo ainda havia uma barrinhas de chocolate puro. Como ela acertou todos? Deve ter pedido ajuda de alguém, duvido que a Mayra por si só, consiga acertar meus gostos. Deve ter gasto uns 300 reais de chocolate aqui. Eu até compro de vez em quando, mas nunca comprei tudo isso junto. E também faz um bom tempo que nem consigo ir lá nessa loja, deveriam fazer uma unidade aqui na avenida Paulista.

Continuei meu trabalho, lendo esboço atrás de documento. De tempos em tempo surgia algum murmurinho na redação, alguém saindo acelerado, coisas assim. Eu continuava na minha redoma de vidro, cheia de cuidados, com o desejo de subir na moto  e ir correndo cobrir alguma coisa. É um pouco estranho, é como se eu estivesse nadando em uma piscina calma, tranquila, onde todos querem nadar, mas o meu desejo fosse me jogar no mar revolto, cheio de ondas, de difícil respiração, mas cheio de adrenalina. Eu me lembro de uma vez que eu estava em Portugal, no meio da graduação em jornalismo, que eu me enfiei em uma cerimônia de memória do ETA (Pátria Basca e Liberdade), um grupo separatista e terrorista espanhol, que buscava a libertação da porção Basco da Espanha. Foi em um bar, uma taberna, na província espanhola de Biscaia, homens barbudos, bandeiras penduradas, cobras enroladas em machados. Foi uma das minhas melhores materias e experiências. Acho que nunca me encantei por uma mesa e sim pelo perigo, apresentar verdades, expor segredos. Eu lembro que quando meu padrinho descobriu, ele queria me matar, gritava pelo telefone: “Olha o quanto eu gastei na sua educação! Você se enfia em uma reunião terrorista! olha o perigo”. E a segunda reação foi quando pediu para ler a matéria que eu tinha escrito e ele ficou encantado com o resultado: “Impactante, visceral, parece que você viveu anos nas sombras do ETA”. Às vezes eu só queria um pouco dessa liberdade de novo, por isso me passa tanto na cabeça ir para São Francisco e ficar lá de vez, me passa mesmo. 

Eu já estava bem enjoada da leitura, café, irritada com o chá de sumiço da Flávia, incomodada com o chocolate da Mayra, peguei o celular e mandei uma mensagem para a Lana. O consultório dela é no mesmo prédio que a redação, só que muitos andares acima do meu baixo terceiro andar. Levou um tempinho e ela respondeu aceitando ir comigo tomar um drink. A Drica havia me dito que o pessoal da redação iria beber depois do expediente, mas uma das chefes, eu, nunca sou chamada. Então chamei a Lana para nosso próprio happy hour. Encontrei a brasileira com mais cara de indiana na portaria do Edifício São Domingos, no comecinho da Paulista, e fomos com calma e classe andando até um bar grego na esquina da Rua Augusta com uma ruela que não me recordo o nome. Nos sentamos na mesa. 

A Lana com todo seu ritual espiritual pediu um Gin com umas ervas, que não faço ideia do que era, e eu um caipirinha de abacaxi, feita com vodka e que vem com uma cerveja de ponta cabeça. Ela estava calma, sorridente e leve, feliz. Sempre elegante, uma blusa de manga comprida, branca, com uns detalhes na beiradinha da manga, o cabelão moreno, liso, solto pelo corpo, sobrancelha sempre delineada e a maquiagem estava impecável, apesar das 18 horas e da expressão cansada. Não tive nem tempo de esperar a bebida chegar que a Lana já começou:

-   Vamos esperar a bebida chegar ou você já quer começar a falar?

- Começar a falar? Eu te chamei só pra gente beber alguma coisinha, bater papo. 

- Te conheço de muitos carnavais Bru. Olha sua cara, você no mínimo está com alguma coisa te incomodando. 

- Estou preocupada com a Flávia. Ela não me responde. Não costuma levar tanto tempo assim, tô achando que aconteceu alguma coisa. 

- Já tentou ligar.?

- Tentei, mas só cai na caixa postal. 

- Deve ter acabado a bateria. Manda mensagem pro Gabriel, ele não trabalha com ela.?

- Pô, verdade. Nem pensei nisso - aproveitei que nesse momento chegou o garçom trazendo nosso drink é uma porção de queijo empanado que a Lana tinha pedido e mandei mensagem para o Bibo. Vai que consigo falar com algum deles - Pronto. Agora esperar algum dos bonitos me responder.

- Tá, resolveu isso. E o que está rolando? Você só me chama para bater papo assim, ainda mais com bebida, quando você quer desabafar. 

- Ah, não é nada não. Só estou meio chateada, sabe? Pensando na vida.

- Eu não vou ser sua terapeuta. Nem posso, sou sua amiga. 

- Você é minha irmã de vida, mas você me entende em algumas coisas.  Hoje eu estava lembrando quando me enfiei naquela reunião do ETA, na Espanha. Você lembra?

- Claro que eu lembro, fiquei louca com você. Achei que era um passeio e você se enfiou numa célula terrorista. O pior é que consigo te ver repetindo essa merd*. Não vai ser estranho se um dia me falarem que você se enfiou em uma reunião das FARCs. 

 - É isso, não sei quando perdi isso. Hoje fico atrás de uma mesa vendo diagramação, qual foto encaixa melhor em qual fonte. Como melhorar a venda de uma revista. Que vida tem isso? Eu tava conversando com a Flavinha esses dias, ela é bem sincera sabe, ela soltou: parece que você vive a vida do seu padastro e não a sua! - falei tentando imitar a voz da Flávia e virando mais um gole cumprido da bebida de abacaxi, vodka e cerveja. 

- Acho que ela está bem da certa. Você deixou de viver sua vida, aceitou o cargo de sucessora, mas me incomoda como você se tornou submissa ao Antônio. A ponto dele reclamar de você ter terminado com a Mayra, onde isso vai chegar? - a Lana é perfeita, ela foi comendo, comendo, a ponto de chegar ao ponto que ela queria discutir - Eu tenho minhas diferenças com ela. 

- Hahahha, você nunca escondeu isso amiga. O Antônio ficou puto quando descobriu que a Flávia é policial. Por um tempo eu até pensei se ele ou o jornal não estava envolvido em algo ilícito ou se é apenas birra, porque é uma raiva tão grande. 

- Acho que deve envolver muita coisa. Ele é muito controlador e ver você com a Flávia, que ele não aprova, deve ser difícil lidar. Mas voltamos a premissa que sua vida é sua. E se ajuda, eu adorei a Flávia - falou abrindo um sorriso tão verdadeiro que acho que sorri junto. 

- Ela é gente boa né?!

- Ela é gente boa, educada, conversou comigo e com o Edu. Há um bom tempo não te vejo dançando. 

- E eu nem imaginava que ela sabia dançar. Ela é toda seria, toda cuidadosa, travada e do nada se soltou, dançou comigo. Eu adorei. 

 - Deu pra ver pela sua carinha. Você se soltou também, conseguiu aproveitar a noite sem regras, sem seus próprios filtros. 

 - a Flávia é perfeita. Só incomoda mesmo essa diferença de mundos, de cultura. Eu não quero forçar meu lado, mas tem coisa que ela faz que eu não vou me submeter. 

 - Se esse é o problema todo, oferece as coisas pra ela. Oferece os jantares, oferece as viagens. Vocês vem de histórias diferentes, você estudou fora, fala outras línguas, tem seu carro, apartamento, não tira seu esforço, de modo algum, mas você teve muita ajuda. Ela vem de uma história que chegar viva nessa idade já é lucro, ela é boa pessoa, comprou o apartamento com o suor dela, está terminando a faculdade. É uma pessoa que subiu na vida, uma velocidade diferente da sua. Qual o nome daquela menina que você namorou, dos olhos puxadinhos, gente boa. 

- Quem Lana? 

- Aquela que tinha o alargador, que os pais tinham a empresa de sapato, de tênis. 

- Ah, a Paula. 

- Isso, a Paula. Ela era de uma história excelente, escolas internacionais, faculdade fora, te enchia de presente, vocês viajavam e o que você fez Bruna? - olhei para o chão com vergonha - Traiu ela com a Mayra. Isso mostra que não é a história da Flávia o problema, e sim você e sua postura. Você tem tudo pra dar certo com a Flávia, da pra ver que ela gosta de você, que cuida de você da forma como pode. Ela da o recurso que ela tem. Vê se não trai ela com a Mayra, na verdade com ninguém. 

Olhei de volta para o chao, com vergonha do que eu já havia feito com a Flávia. Não consegui esconder, conversamos sobre isso, mas não muda o que eu fiz. 

        - Não me fala que você já fez isso com a Flávia? - olhei pra Lana confirmando, bebi mais um gole forte da bebida - Porr* Bruna! Você não tem jeito cara. A Flávia sabe? 

           - Sabe. Eu contei assim que eu voltei de São Francisco. Dessa vez foi diferente, eu realmente me senti mal em fazer isso, senti medo de perder a Flávia. Foi no comecinho, quando ela estava muito travada, eu não poderia deixar ela se abrir sem saber de tudo. 

   - Será que temos um mínimo de amadurecimento e responsabilidade afetiva? 

     - Eu estou cada vez mais afim dela, querendo estar com ela. Vejo a Flavinha como uma mulher maravilhosa. 

      - Então para de ser idiota e perder uma mulher dessas por conta de status social e uma mesquinharia sua. Valoriza uma menina que gosta de você, cuida, te protege. No final da história você quer alguém que esteja ao seu lado ou alguém que te de chocolate caro? 

           A Lana sabe me dar porr*da e mais ainda, sabe me ajudar e abrir meus olhos para muita coisa. Eu terminei de beber esse drink e pedi uma caipirinha de maracujá. A Flávia continuava sem me responder e o Gabriel também sumiu. A Lana percebeu que eu já estava bem abalada emocionalmente, ficou puxando outros assuntos, e eu bebendo. 

      -  Bru, deu meu horário. O Edu está lá embaixo me esperando. Você quer carona? Vai pra sua casa?

           - Não, acho que vou lá no apartamento da Flávia. Ela precisa me atender, não pode me ignorar assim. 

            - Miga… não é melhor você ir pra casa e amanhã conversar com calma com ela? Você está meio altinha já. 

              - Não. Eu vou insistir com ela. Ela não pode me ignorar. 

               - Bru, às vezes ela só está ocupada.

              - Deve ser, mas vou lá ver pessoalmente ela. 

               - Quer a carona ou vai de Uber? 

      - Me dá uma carona até lá, fica na Consolação baixa. - sai do bar acompanhada da Lana, ela deu um beijo no Edu e eles me deixaram em frente ao prédio da Flavinha. Me despedi deles e desci. Parei de frente para o edifício e liguei novamente para a Flávia, deu caixa postal. Aí saco. Olhei para a direita, esquerda e avistei uma pizzaria. Se tem pizza, tem cerveja. Entrei e de cara pedi um litrão, o copo gelado, cerveja rasgando. Estou tão frágil, de certo modo machucada. Nesse momento estou com tanto medo da Flávia estar me ignorando, não sei se fiz alguma coisa errada com ela, mas tenho esse medo. Ela não me atende, não fala comigo. Não dá pra ser assim. Tomei o litrão bem devagar, tentando ligar pra ela umas 10 vezes, todas na caixa postal. Eu estava quase chorando já. 

             Paguei minha conta e levantei, já dei uma desequilibrada pelo álcool. Atravessei a rua, por Deus não fui pega por um carro. Estou com tanta raiva por ela me ignorar, não me atender, quem ela pensa que é?! Parei na frente do prédio, toquei o interfone. O porteiro já me conhece, abriu. Subi a rampa em direção ao bloco B dando uma leve cambaleada e um pouco desequilibrada. Subi no elevador, até o 20 andar, escorada. Desci e fui cambaleando até o 2001. Bati na porta, sem sucesso. Toquei a campainha, sem sucesso. Bati de novo! Duas, três, quatro, aí lá, umas dez vezes. Até que a porta abriu. 

            - Oi! Oi! - saiu a Beatriz com cara de sono e a cara sonsa de sempre - Oi Bruna. Estava dormindo. 

             - Deixa eu falar com a Flávia! - falei direto

             - Mas ela está aqui? 

             - Você mora com ela e não sabe? 

         - Eu cheguei a pouco e apaguei. E você bebeu! 

         -  Quero falar com a Flávia! Foda-se que que bebi. 

       - Não estou gritando com você Bruna. Vamos manter o respeito né?! A Flávia não está em casa. 

         - E onde ela está? Ela não pode me ignorar. 

      - Ao invés de gritar no corredor, você não quer entrar? - antes de eu dar uma resposta pra ela, a Flávia apareceu no final do corredor e eu travei, sem reação. Conforme ela chegava mais perto da porta dava para ver melhor. Ela estava mancando, puxando a perna direita. O braço direito estava em uma tipóia branca, pendurado. A roupa suja, toda manchada. O rosto dela estava com gotas de sangue espirrado e com vários curativinhos no rosto. Eu cheguei a ficar com tontura na hora que vi ela por inteira, tentei me segurar na parede. 

     - Flávia, pelo amor de Deus. O que aconteceu? - a Beatriz falou, andando em direção a Flávia no corredor. A Bia pegou a mochila que minha namorada carregava e ajudou ela a entrar no apartamento. Eu continuei travada, sem reação. Quando ela passou por mim falou: 

         - Oi meu amor - me deu um selinho e entrou para o apartamento. 

          - O que você precisa Flavinha? Quer que eu faça algo? - a Bia perguntou, atenciosa, cuidadosa. 

          - Eu preciso de um banho. Estou suja, tem sangue meu, do Souza, sujeira. Um banho primeiro - Flávia disse

           - Entra Bruna, não fica aí fora! - a Bia falou ríspida, logo depois que entrei, ela fechou a porta - Fla, quer alguma coisa? Você comeu? 

           - Passa um café pra mim, pode ser? Me quebra essa?  Desculpa abusar - a Flavinha pediu 

             - Claro! Vai se ajeitando, quando voltar vai ter um café fresquinho - é claro que a Bia aceitou. Aí, ranço. - Ah, e o Gabriel? 

            - Tá bem, soterrado em papéis e nos mandatos e apreensões de hoje. Esquece ele, vai demorar ou virar a noite. 

            - Ufa! Me preocupei com ele. Vai lá se ajeita - a Flávia esticou a mão pra mim, oferecendo para eu seguir e acompanhar ela até o quarto. Eu já estava com uma ou duas lágrimas caindo no olho, assustada pela situação dela. Segui ela no pequeno corredor, ela abriu a porta e segurou pra mim, oferecendo a passagem. Dei dois passos e ultrapassei ela, entrando no quarto. Ela fechou a porta e seguiu colocando a bolsa ao lado da cama. Virou o corpo e veio em minha direção, acho que queria me abraçar, mas parou e segurou minhas duas mãos. 

               - Não imaginava te achar por aqui amor. Foi uma surpresa maravilhosa. 

             -  Ah, você não me respondeu. Vim atrás, você não poderia me ignorar assim do nada. 

     - Jamais te ignoraria linda. Só acabou a bateria no meio do caos. Se eu não estivesse tão suja te enchia de beijos agora. Só pra você saber o quanto jamais te ignoraria. 

           - Tava com tanto medo de não querer mais me ver. 

           - Oh meu amor, fica calma. Deixa eu tomar um banho, comer alguma coisa e conversamos com calma. Pode ser? - apesar de todo seu cansaço e angústia, abriu um sorriso lindo, daqueles que só ela sabe e que amolece minha perna. Abriu o guarda roupa e foi pegando suas roupas, passou por mim, me deu um selinho e seguiu ao banheiro. 

         Ela deve estar com fome, acho que vou ver um restaurante para irmos. Apesar que com esses machucados dela, é melhor ficar em casa e repousar. Eu estou um pouco deslocada e perdida, não sei exatamente como me portar, a muito tempo não bebia ou ficava com medo por uma mulher me ignorar. E na verdade ela nem me ignorou, acabou a bateria e ela estava em uma ação. Será que aquela tipóia é por que tomou um tiro? Estou bem sem caminho, trajeto. Acabei seguindo o cheiro de café, na cozinha, com a Beatriz, a prestativa. Cheguei com calma e tentei puxar uma conversa. 

            - O cheiro está bom hein Bia - tentei puxar assunto, um pouco envergonhada, afinal gritei com ela a menos de 20 minutos. 

       - Ah, café fresco tem um cheiro maravilhoso. É bem simples, mas a Flávia vai gostar. Ela deve estar exausta. 

        - Tem ideia do que aconteceu? 

  - Chuto que alguma abordagem mais complicada ou confronto. Ela deve estar exausta, viu a carinha dela? 

    - Sim, acha que eu levo ela pra jantar ou compro alguma coisa? 

    - Ah Bruna, você quem sabe. Mas conhecendo a Flávia, o ideal era comprar alguma coisa, ela comer por aqui mesmo e descansar. Mas você que namora ela, eu tô só dando opinião.

         - É, eu pensei nisso também, que ela está cansada. Será que pego um japonês? Uma massa? 

            - Bruna, ela é simples. Acho que talvez uma pizza resolva a situação. É rápido, ela gosta. Mas é só uma ideia mesmo. 

               - Ah, sim. Uma pizza. Eh, vou ver aqui - que sabor será que ela gosta? Nunca perguntei isso. Só comemos em restaurante ou na minha casa. Sei que queijo ela gosta de todos os tipos - Hummm, Bia, que sabor ela gosta? - estava com vergonha de perguntar, a Flávia é minha namorada e eu não sei o mínimo, não sei nem que pizza ela gosta. 

               - Pega de lombo com mussarela e o outro sabor pode ser de frango com milho. Sempre acabamos pegando essas. Brinco com ela que ela precisa descobrir novos sabores de pizza. 

               - Vou pegar essas. E pega alguma coisa pra beber? Ela não toma cerveja. Refrigerante ela toma? - eu realmente estava muito sem graça, não conheço a Flávia, não pergunto nada dela, de como ela é. 

              - Pede uma água tônica pra ela. Aqui em casa tem limão. Ela acaba espremendo o limão e toma. Pelo nível de cansaço dela, pode pedir umas tres.

               - Tá bom, vou pedir aqui. Obrigada pela ajuda. 

                - Não por isso, ela é muito gente boa, merece esse cuidado e carinho - só fui capaz de sacudir a cabeça e concordar. O que eu posso falar? A Beatriz conhece ela melhor, mas não posso me culpar, elas dividem apartamento, é normal haver essa maior proximidade eu acho. Fui acompanhando o app, esperando a pizza chegar. Nesse meio tempo, a Flavinha saiu do banho e foi em direção ao quarto, eu fui logo atrás. Ela sem roupa é excitante e uma delícia de ser olhada, mas dessa vez havia vários machucados. No joelho tinha alguns pontos. No braço direito, na lateral, um corte enorme, com mais pontos, sem contar os pontos falsos do rosto. Deve estar doendo, sei o quanto ela é forte fisicamente, mas estava com um olhar fundo, perdido. Talvez além do machucado físico, ela precise de carinho. A Flavinha colocou uma bermuda esportiva, de corrida, soltinha e um top. Ela realmente estava cansada, pois só se trocou, sem malícia, sem brincadeiras, sem olhares. 

         - O cheirinho de café está bom! Vamos lá tomar um pouquinho? Vou ajeitar alguma coisa pra comermos. Você jantou ou só bebeu? - senti calma na frase dela, talvez não tenha ideia do quanto eu bebi

            - Comi uns petiscos juntos. Eu pedi uma pizza pra gente, deve estar chegando. 

            - Hummm, que delícia. Adoro pizza. Pegou do que? 

            - De lombo e de frango - ela abriu um sorrisão leve, amigável. 

           - Sabia que gostava desses sabores? - não contei o segredo do padre - Ah, pensei em você e achei que eram esses sabores. Acertei?

         - Sim, adoro pizza de lombo. Vamos tomar um café? Vem comigo? - olhei pra ela simples, sutilmente, e a Flávia, voltando ao mínimo de sua malícia me beijou, rápido, intenso e firme - Acha mesmo que eu seria capaz de ignorar você e esse seu beijo maravilhoso? - devo ter ficado vermelha, pois ela deu uma gargalhada rápida, de satisfação, objetivo alcançado. 

       

Quando o primeiro gole de café desceu pela garganta da Flávia, foi possível ver a vida voltando para ela. Seu olhar foi acalmando e o corpo relaxando, como se o café fosse a bandeira branca de um porto pacifico. A Beatriz, que estava terminando de arrumar as coisas, ficou olhando a Flávia tomar o café, como se aguardasse no olhar dela a aprovação quanto a sua preparação. Eu também observei a Flávia, mas ela é minha namorada. Quando a pizza chegou, a Flavinha não me permitiu descer para buscar, mesmo ela mancando e machucada, desceu. Eu e a Bia nos propusemos a ir buscar, mas ela no cuidado e amor que tem, não deixou. 

A pizza chegou e eu estava sentadinha no sofá, a Bia havia se retirado para o quarto, coisa que achei ótimo.  A Flávia voltou com a pizza na mão, colocou em cima da pia e separou automaticamente três pratos e três copos. Ela foi com calma, mancando a perninha, me deu um beijo e perguntou onde a Bia estava. 

- A Bia ta onde?

- Acho que ela foi deitar, não sei amor. 

- Ai Bia, sempre com essa mania. Vou chamar ela para comermos a pizza, preciso descansar um pouco - eu observei ela, confesso que contrariada, ir até o quarto da Bia chama-la. Elas conversaram alguma coisa baixinho, que não consegui ouvir e logo em seguida as duas voltaram para a micro sala. A Flávia serviu nós três. É incrível como mesmo sem recurso físico algum, machucada ou com dor, ela é capaz de cuidar e proteger os outros, mesmo que em gestos e ações simples. Entregou o prato para mim e para a Bia, que estavamos sentadas no sofa e sentou no chão, na nossa frente, mesmo com nossos alertas. 

Olhei ela ali de bermuda, top, um pedaço de pizza, no chão e pude ver a menina doce que ela é, de origem simples, mas cheia de conteudo, de historia, encantadora, de um beijo e um sex* maravilhoso. Consigo olhar pra ela e pensar no que a Lana me disse, eu posso dar a Flávia esses lugares que eu gosto, estimular ela a querer também, mas tenho que aceitar que ela é exatamente assim, simples. 

Fim do capítulo


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Comentários para 31 - Capitulo 31:
jake
jake

Em: 20/11/2023

Olá autora  que namorada é essa que não sabe o gosto da própria mulher...aff Já deixei claro q não gosto da Bruna...Ela não tem estrutura para fazer parte da vida da Flávia. Flabia logo pf..Bruna  vc n merece a Flávia 

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mtereza
mtereza

Em: 18/11/2023

Affe a Bruna continua bem elitista espero que ela melhore viu rsrs

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tainateixeira
tainateixeira

Em: 17/11/2023

Escritora, sou apaixonada na sua história, ficaria o dia todo lendo. 

A Bruna precisa acordar pra vida e valorizar a Flavia, porque sério… Eu já tô apaixonada pela Flavia. Não se perde uma mulher dessas!

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Mmila
Mmila

Em: 16/11/2023

Aquele ditado, com um pouquinho de mudança: Aceita, que é melhor.

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 16/11/2023

Estava aqui ansiosa por esse capítulo que alívio a Flávia apareceu e quebrada mais viva.

Bruna tu acorda pra Jesus pra não perdeu a mulher maravilha.

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