Marcela

Os dias se seguiram mais felizes do que nunca e eu andava um pouco menos preocupada com o fato de nos descobrirem. Continuávamos sendo discretas e o Marcos havia parado de me importunar com ligações. Em meio a esses pensamentos, ouço batidas na porta da minha sala, na faculdade. Corri para abrir, achando que era a Sophia, mas logo meu sorriso de desfez:

- Marcos? O que você tá fazendo aqui?

- Bom dia pra você também Marcela. – ele foi entrando.

- Quem te deixou entrar aqui?

- O porteiro, claro. Eu disse a ele que era seu namorado. Ah, também devo ter mencionado o fato de ser amigo pessoal do reitor desse lugar.

Claro, típico do Marcos usar a influência dele para conseguir as coisas.

- Me diz logo o que você quer Marcos, e depois peço que vá embora, porque eu preciso trabalhar.

- Nossa, que rude! Nem parece aquela pessoa que abriu a porta com um sorriso no rosto...ou será que é porque você esperava outra pessoa?

Congelei.

- Claro que não, só não esperava você. Só isso.

- Engraçado. – ele disse, irônico. – Sabe Marcela, no dia do seu aniversário te liguei várias vezes e você não me atendeu. Então resolvi ir até sua casa, na esperança de te dar um presente. Você não imagina a surpresa que tive, ao chegar lá e ver você saindo de mãos dadas com a Sophia, amiga da Aninha e sua aluna.

Droga, droga, droga, droga. Ele tinha nos visto. Tentei contornar a situação:

- Sim, a Sophia foi me pedir opinião sobre a pesquisa que ela estava fazendo no laboratório.

- Ah é? E você a aconselhou numa cama de hotel?

Já era. Ele sabia de tudo.

- Como assim, Marcos? Do que você tá falando? Tá maluco?

- Eu vi tudo Marcela. Segui vocês naquele dia. Vi vocês jantarem, ela te pedir em namoro e até vocês se agarrando no corredor do hotel! Você não tem vergonha na cara? Uma mulher da sua idade, de caso com uma menina mais de 10 anos mais jovem que você?

- Eu não sei do que você tá falando Marcos. – tentei desesperadamente negar tudo.

- Ah é? Então o que é isso aqui?

Ele então mostrou uma série de fotos em seu celular que comprovavam o que eu já sabia. Ele havia visto tudo. E agora? Não sentia mais meus pés. Tentei falar, gaguejando:

- Marcos, é...isso foi só um deslize meu...foi coisa de alguns dias só...eu estava carente e cometi esse erro, mas agora percebi o quão errada eu estava...

Tentava desesperadamente convencê-lo de que eu e Sophia não tínhamos nada sério, mas era tarde, ele sabia a verdade:

- Quer dizer que você decide namorar uma menina, por impulso e carência? Do nada? Você é uma sapatona pervertida Marcela! Devia se envergonhar de quem você é! Vou mostrar isso aqui para o reitor e a sua carreira e a dela aqui estarão acabadas. – ele apontou para o celular.

Comecei a chorar:

- Marcos, pelo amor de Deus, para com isso. Você pode até arruinar a minha carreira, mas não estraga a carreira de uma menina que está só começando, por favor. Eu te peço.

- Você gosta dela não é? Diz a verdade! Mais do que gostava de mim?

Sim, infinitamente mais, eu queria ter dito. Em vez disso, disse:

- Gosto dela de um jeito diferente do que gostava de você.

Ele deu um sorriso maldoso:

- Então podemos fazer assim: eu me comprometo a não divulgar essas fotos e você termina o namoro com ela ainda hoje. Que tal?

Respirei fundo. Se esse era o único jeito de fazê-lo parar por enquanto, assim seria:

- Tudo bem. Mas nada de mexer com a Sophia, está me ouvindo?

- Fica tranquila. Sua amada não será atingida. Pelo menos, não enquanto você estiver longe dela. – ele piscou. – Até mais Marcela. Tô de olho em vocês.

E foi assim que ele me deixou. Eu chorava compulsivamente e não conseguia raciocinar direito. O que eu faria agora? Como eu falaria com a Sophia? Sabia que se eu contasse tudo, ela tentaria confrontar o Marcos, o que poderia não só levar à sua expulsão da faculdade, como colocaria em risco sua própria vida, porque eu não sabia mais do que o Marcos era capaz. Precisava terminar com ela.

Fim do capítulo