CAPITULO 34
CAPITULO TRINTA E QUATRO
Ainda não consigo entender como as emoções da Nara, me puxam para dentro da sua mente o tempo todo, isso não é nada bom, quer dizer duas coisas; a primeira, eu posso estar ficando mais poderosa com a maioridade. A segunda, Nara estar ficando relapsa com a sua defesa, deixando baixos seus escudos o que eu duvidava muito dizem que ela aprendeu a erguer seus escudos antes mesmos de passar pelo primeiro cio.
Erga seus escudos Nara, está me deixando entrar com facilidade. — Ela me olhou séria e em silêncio por uns segundos.
—Meus escudos estão erguidos. — Sentou em posição de meditação, o que me fez olhar com admiração para suas coxas musculosas e panturrilhas perfeitas.
—O que está acontecendo? Por que eu estou invadindo sua mente com tanta facilidade? Muitas vezes sinto que esta ao meu lado e quando viro não tem ninguém.
A pergunta foi feita com certo esforço para tirar os olhos das suas pernas. Nara me olhou erguendo as sobrancelhas em completa surpresa, mas a resposta veio da minha avó, que parecia esperar por esse comportamento, o que me deixava mais intrigada ainda.
Acho que a ligação de dupla em batalha de vocês, está ficando mais sólida. E quando uma está sob fortes emoções, como no seu caso, Nara, agora a pouco, em relação ao que sua irmã passou, nesse caso a Nyxs invade sua mente porque entende que sua outra metade está em perigo, é natural entre duplas de guerra, foi o mesmo que aconteceu com a Iara, enquanto a Calíope dormia e teve pesadelos, seu espírito puxou o da Iara, que teve acesso a tudo que estava amedrontando a garota. — O que Esther estava explicando fazia todo sentido, se eu fosse a dupla da alfa.
—Mas Esther, a minha dupla nunca foi oficializada, recebi o direito nas provas para usar meu arco e a espada, mas não foi dito quem seria minha dupla. — Tive a impressão que a notícia não foi de todo surpresa para a alfa que me olhava tranquila, com as duas mãos abertas apoiadas na areia tranquila e relaxada até demais, suspirou levemente, tirou as mãos da areia limpando na perna da bermuda, com aquele ar de mistério como se fosse contar um segredo e acabou que era mesmo.
—Tem outra coisa que não contamos Esther, ontem quando estávamos na praia, eu toquei nas asas da Nyxs, elas se abriram toda e bateram como se fossem voar. — Nara começou a explicar e parou me oferecendo a chance de explicar, diante do olhar surpreso da minha avó, que se virou para mim, parando de mexer em seus bolsos e de sobrancelha erguida, aguardando uma explicação, antes de falar, olhei ao redor, observando a possibilidade de alguém escutar o que dizíamos, ao não notar nada de anormal, além de casais se abraçando dentro do mar enquanto recebiam o novo dia, e ao longo da areia outros tantos iam chegando, sentando ou deitando abraçados, indiferentes a nossa presença, virei para o lado onde minha avó estava sentada e falei a verdade.
—Minhas asas só abriram uma vez quando entrei na adolescência, logo depois que passei pelo meu primeiro cio, e foi assustador.
—O que estava acontecendo ao seu redor, quando elas abriram a primeira vez? — A pergunta clara, me deixou sem ter para onde fugir, eu lembrava exatamente como foi, mas escondi a lembrança até de mim, não queria na época falar sobre isso, e não me sentia à vontade de falar agora, depois, pensando bem, eu e Nara já passamos por tantos momentos de intimidade, que parece besteira não compartilhar.
— Eu tinha ido deixar a Nana em casa e fui ao banheiro de visitas quando abri a porta Nara estava tomando banho… —
Parei abruptamente, a revelação que eu ia dizer, não sei como elas iriam interpretar. Não podia dizer que senti o cheiro original no momento em que ela cantava aquela música linda, isso seria dizer que sabia que ela era minha companheira, e colocar a alfa numa situação constrangedora, as duas me olhavam cheias de perguntas e impaciências.
— Bem, quando fiquei admirando o corpo dela, eu nunca tinha visto ela pelada, nem em nossas corridas como lobas, para mim foi novidade, nessa hora, ela começou a lavar os cabelos com um xampu que cheirava a tempestade, pinho, terra molhada e cantava uma música, que me partiu ao meio de tanta dor e sofrimento e eu me teletransportei para o pico do morro, quando aterrissei estava de asas abertas e chorando desesperada, olhando para todo lugar procurando o caminho de volta, um caminho que me levasse de volta a minha vida, que eu sabia que estava em outro canto.
Nara ficou incrivelmente calada, acho que ela pensava que eu a culpava por alucinar ainda criança, sim, porque nessa época, eu estava com doze anos e de lá para cá, eu vivo e respiro para conquistar a alfa.
— Lembra que música era essa? Eu gosto de tantas e de vários ritmos diferentes.
Não conseguia ler a expressão de seu rosto, porém percebo um sorriso disfarçado quando escuta o título da música.
— “ Jesus to a Child.” — Eu passei a amar essa música, depois que ela me deixou depressiva por umas oito luas seguidas, procurei nas internets da vida, música, letra e melodia, aprendi a tocar em todos os instrumentos.
—Uma bela música, tem gente que acha que é música de velho. Sabe do que se trata a letra? — Nara quando falou isso tinha um sorriso lindo estampado no rosto.
—Fala de amores que se perdem no tempo e se reencontram depois de muitos anos, e das pessoas que nunca esqueceram esse amor, eu não acho que seja música de velho, é uma música atemporal, só isso. — Quando terminei de falar, o semblante da alfa era de completa alegria, rindo da minha resposta, acredito que ela concordava com meu modo de pensar, minha avó era quem parecia que não estava gostando muito das besteiras que eu dizia.
Continue o que estava falando sobre abrir as asas. — Minha linda avó estava perdendo a paciência que nunca teve.
—Como eu não estava acostumada com o peso eu caí, passei mais de uma semana com dor em toda parte do corpo.
E agora sente alguma dor? — Esther tinha um olhar enigmático.
—Não, ontem foi diferente, quando a Nara as tocou, elas vibraram, mexendo com todo o meu corpo ao mesmo tempo que se abriram, eu senti e ouvi a canção do vento me chamando, tudo que eu queria era voar além das nuvens e acasalar. — Quando terminei de falar, Esther me olhava com um olhar cheio de malícia, desses que as avós tem, quando sabe que a gente está escondendo coisas que elas fizeram quando eram jovens, depois mais séria olhou para a Nara.
—E você, minha alfa, como se sentiu? Quando as suas asas se abriram pela primeira vez.
—Cheia de dor, nos ombros, costas e estômago, doía tudo, e ficaram arriadas arrastando no chão, não conseguia manter elas na posição normal, e do nada se fecharam e nunca mais abriram.
—E da última vez? — Aquele mesmo olhar cheio de malícia voltou, e dessa vez dirigido a alfa que me olhava sem querer dizer toda a verdade, talvez para não me envergonhar.
— Ela alucinou vovó, eu passei a mão nas penas, e foi como se eu tivesse colocado a mão dentro da sua calça e acariciado seu sex*, foi uma explosão e ela ficou passada de vergonha.
Esther fazia esforço para não rir, e Nara olhava para todo lugar menos para nós duas, eu achei fofo isso nela, parecia uma adolescente descobrindo as emoções e não o lobo Mau que, segundo eu soube, chegava a levar três mulheres humanas ao mesmo tempo, para a cama.
Bem, garotas, parece que suas almas se escolheram, agora são uma dupla, e é bom começarem a treinar juntas, todas as guerreiras vão entender quando verem os movimentos sincronizados das duas. — Esther deu o veredicto, agora era oficial, não tinha mais como retroceder.
—E quanto ao lance da parte sexual? Se quando as nossas asas abrirem e sentirmos vontade de trans*r? — Eu fiz a pergunta que estava entalada na garganta.
—Acho que nenhuma das duas é mais criança, e vocês são responsáveis o suficiente para tomar a decisão certa nessa hora. Confio no que vão fazer. — Esther é a avó que eu mais amo, e ela estava confiando em mim, ela só não sabia que minha vontade era, na verdade, trans*r até desmaiar nos braços da alfa, porém Nara olhou séria para sua beta ao responder.
—Acho que o perigo está em tocar as asas uma da outra, é só evitar essa carícia, que ficará tudo bem, não corremos o risco de fazermos algo para nos arrepender depois.
—Virei rápido o rosto para examinar sua fisionomia quando falava tal barbaridade. Quando eu iria me arrepender de trans*r com ela? Me arrependo de nunca ter tido esse prazer, mas eu ia tomar coragem qualquer hora dessas.
— Acredito que seja impossível não ter esse contato, principalmente agora, que somos duplas. — Eu estava para lá de feliz, só uma coisa ameaçava acabar com minha alegria; o fato de a alfa não querer ser minha dupla. — Tudo bem para você ser minha dupla?
Nara me olhou sem dizer nada por alguns segundos, que me pareceram uma eternidade, passou todo um filme de rejeição e abandono na minha cabeça fantasiosa, sobre um possível não, e quando eu já estava para levantar, mandando ela esquecer a pergunta, ela segurou minha mão, olhando dentro dos meus olhos.
—Só tem três pessoas no mundo a quem eu posso confiar minha vida quando estiver na grande guerra, a primeira é minha beta, a segunda minha filha, e quando tudo tiver virado um inferno, eu só confio em você para me tirar de lá. Sempre soube que você seria minha dupla. — Nara respondeu de uma forma que não deixava dúvidas, tudo em mim virou um reboliço só, minhas emoções subiram no limite, de tanto que fiquei feliz com sua confiança.
—Se chegar esse dia, ou eu te trago de volta o inferno, ou morro tentando. — Eu sei lá porque fiz um juramento tão sério como esse, mas era o certo a se dizer, pois na hora que estava jurando senti as peças do destino se encaixando.
— Esther, quanto ao lance das asas, eu gostaria de manter em off por enquanto, não sabemos como voar ou para onde devemos voar. — Nara falou mais baixo do que o necessário, mesmo nós estando em uma bolha.
Desconfia de alguém ou alguma coisa? — Esther agora olhava para os lados, buscando enxergar entre os mundos.
Não sei, mas deve ter um motivo, para elas nunca terem se mostrado para outras além da família, e o motivo delas nunca se abrirem, só agora quando tocamos uma na outra. Quero descobrir o porquê primeiro. A Nyxs acha que devemos aprender a voar longe daqui, vamos viajar para a corte noturna e aprender com eles, eu também acho que não devemos treinar em Salém, temos um convite e vamos só nós duas, sem ninguém saber.
—Eu sempre confiei no seu sexto sentido. Quando quiser viajar avise que abro o portal de sangue, como foi o Israfil que viajou até lá, vou sondar como chegar nas terras mágicas em segurança. — Esther estirou as pernas alheia totalmente a tudo, apreciando o sol esquentar aos poucos.
Derrubei a bolha e senti a brisa do mar com as marés lambendo meus pés e voltando cheia de espumas, me convidando para um mergulho.
Eu vou tomar banho, me esperem aqui.
Antes de entrar no mar ouvi e senti Nara baixando e erguendo os seus escudos, no entanto, eu conseguia entrar por uma passagem secreta, como um canal que nos ligava, esse lance de dupla era mais sério do que imaginei.
NARRADOR
Sentadas na areia olhando a loba prateada entrar no mar, Nara e Esther conversavam.
— Sabe que as lembranças dela estão voltando o mais rápido possível, está ciente disso não está? — Esther sorria satisfeita, enquanto brincava com um pedaço de papel, que encontrou dentro do forro do macacão curto que estava vestida. — Aqui está você, seu desgraçado. — Balançava o papel na mão.
— O que tem nesse papel, que tanto você se remexe procurando?
— Paguei um peixe cozido na telha com legumes e castanha de caju para Sandy que ficou dormindo. Mas não mude assunto.
— Não mudei, só fiquei intrigada com você o tempo enfiando a mão nos bolsos sem tirar nada de dentro, mas eu estou sentindo a mudança na Nyxs, ela vem entrando na minha mente a cada emoção forte que eu tenho ao mesmo tempo que me deixa feliz, me deixa também apavorada, tenho medo, dela não reagir bem, achar que eu estou a obrigando ficar em um relacionamento que ela não quer.
—Acho meio difícil essa possibilidade, para mim é como se o espírito dela aguardasse o momento para despertar para a vida, pense bem, todas as lobas começam a vida sexual muito cedo, a maioria arranja namoradas ou não se prendem a ninguém, Nyxs nunca namorou, não tem essa vontade como as outras.
— Ainda bem, acho que enlouqueceria se outra loba ou lobo ganhasse seu coração.
Esther olhou para a neta que se banhava e às vezes acenava chamando-as para um banho, nem louca que iria, se despediu da Alfa que ficou admirando a mãe de sua filha. E foi pegar as comidas para Sandy, sua companheira.
Fim do capítulo
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