CAPITULO 28
CAPÍTULO VINTE E OITO
NYXS
Ao me deitar de barriga para cima, ergui o braço esquerdo e coloquei sobre os olhos tapando a claridade da luz solar, que mesmo já sendo 1nal de tarde, ainda estava muito claro para nosso tipo de retina. Senti que Nara me examinava minuciosamente, sua análise percorria todo o meu corpo e isso me causava arrepios. Voltei a sentar ao seu lado, meio aérea, peguei o protetor solar, não sei bem por que 1z isso, já que o dia estava quase acabando, em pouco tempo seria noite alta.
Enquanto passava creme no meu corpo para disfarçar o nervosismo, procurei a garrafinha de água na bolsa térmica próximo do local onde Nara estava e sem nem mesmo olhar senti suas mãos me entregando a garrafa, como se ela soubesse o que eu queria, o que era impossível, haja visto, meus escudos estarem erguidos, ninguém poderia ler meus pensamentos, confesso que o clima de intimidade entre nós duas estava me sufocando de uma forma boa e, ao mesmo tempo, apavorante, eu não sabia o que fazer ou como me comportar se ela descobrisse o que sinto.
Acredito que a cumplicidade entre nós aumentou depois do que aconteceu com nossas asas, no momento em que foram tocadas. E só piora com o passar dos minutos, eu sempre travo quando estamos a sós, uma timidez cobre todo meu ser, nos últimos dias, eu estava mais solta e me arriscando a seduzi-la, mas nada comparado com o que estava acontecendo agora, não sei explicar em palavras, o que eu vejo em
Nosso comportamento, ultimamente, a verdade é que parecemos um casal de recém laçadas, ou namorados, como os humanos costumam dizer. Eu só queria que Nara visse em meu olhar o desejo insano que me dominava, desejo de ser beijada, de ser tocada por ela, mas ela não via ou não tinha a mesma vontade, eu já estava quase me insinuando… então lembrei de algo importante.
— Esther passou no chalé mais cedo, como você estava dormindo não deixou te acordar, mas pediu para você a procurar, parece que ela descobriu alguma coisa lá para os lados da mata fechada, do outro lado da ilha.
Me viro de uma vez ficando cara a cara com ela, quero ver se Nara, realmente, estava me observando ou se tudo era eu fantasiando minha cabeça. NÃO ERA! Nara estava realmente me secando, vi desejo em seus olhos, principalmente, quando sua língua passou vagarosamente umedecendo os lábios, não sei nem dizer como, ou por que, mas esse gesto me deixou vermelha e com o rosto pegando fogo. Toda mole, como se eu fosse aquelas virgens puras dos romances que meu irmão, Jamil, costuma ler, acho que ela percebeu que fiquei ruborizada, pois fingiu que não notou.
Do nada, minha boca grande perguntou só para ter algo para falar.
— Sabe surfar? — Achei a pergunta mais cretina que alguém pode fazer ao outro quando sabemos que a outra pessoa sabe fazer com maestria o que perguntamos e mesmo assim não lembrei outra coisa, de tanto nervosismo, qualquer um pode me criticar por ser tão medrosa, a1nal é só uma pergunta, mas entenda: eu sou uma loba de vinte anos completamente apaixonada e obcecada pela loba mais desejada da nossa alcateia. Desde os meus doze anos, venho fantasiando perder a virgindade com essa loba, é só de pensar em realizar esse sonho, meu coração acelera.
— Se eu sei surfar? Garota, eu sou a maior medalhista olímpica do último século. — A cara de moleque safado cheio de trejeitos, ao declarar tal mentira, me deixou à vontade para embarcar na brincadeira e tornar o momento mais leve, acabando de vez com a tremedeira das minhas pernas.
— Eu acredito em você, Italo Ferreira, quando chegou do Rio Grande do Norte?
Dessa vez foi fácil entrar no clima, pelo fato dela continuar com a cara de sem-vergonha fazendo caras e bocas como se estivesse posando para fotógrafos.
— Eu sei que não é uma apaixonada por água salgada, que prefere lagoas e cachoeiras, mesmo a praia não tendo ondas boas para surfar. Ainda assim, quer surfar comigo na mesma prancha? — Criei coragem, fiz o convite e recebi de volta um olhar curioso cheio de perguntas.
— Eles têm pranchas com dez pés ou mais? Para surfar duas pessoas só se a prancha for grande. — Enquanto falava, olhava a praia, examinando as pranchas expostas, fincada na areia, e seus donos no mar, próximos às lobas conversando ou discutindo.
— Um dos surfistas foi pegar pranchas maiores na loja, o tal do Bob está todo cheio de charme para cima da Helô e Calíope. — Parei repentinamente, meus pelos dos braços todos eriçados e um vento frio no pé da nuca, meu sangue correu rápido nas veias, tornando a pulsação do coração duas vezes mais rápidas, avisando do perigo, tive a sensação de estar sendo observada, Nara acompanhou a mudança também.
Toda consciente do perigo e pronta para atacar ou fugir sutilmente, fui dando a volta mudando a posição observando tudo e todo lugar.
— Está tendo a sensação de ser observada? — Nara nem mexeu os lábios quando perguntou, ela só pensou e eu ouvi. — Meu corpo está dando alarmes para fugir ou lutar, mas não vejo nada. — Quando falou isso, aproveitei para fazer uma varredura discreta ao nosso
redor sem chamar atenção, mas tudo estava da mesma forma de quando chegamos na praia, momentos antes com minha família. Nara mantinha todos os sentidos em alerta ainda que continuasse olhando nos meus olhos, sua atenção não estava em mim, mas em tudo que estava acontecendo ao nosso redor.
— Vem vamos sair daqui, tem alguém nos vigiando. — Olhava indicando com os olhos o lado das árvores atrás de nós enquanto falávamos.
— Meninas estão vendo qualquer coisa diferente bem aqui próximo de onde Nyxs e eu estamos? — Nara perguntou usando nossa ligação, como se ela duvidasse que pudesse ser ouvida, enquanto falava não tirava os olhos do meu rosto.
— Aqui da praia não dá para ver nada. Mas tem uma energia inconstante que está bem atrás de onde vocês estão, do lado esquerdo, bem próximo a esse pé de juçara. Não podemos desaparecer e ficar invisíveis para investigar. Conseguem ver? — No instante em que Helô respondeu, um largo sorriso surgiu nos lábios da minha deusa grega e alfa, de contentamento, por ter a certeza de que também podia se comunicar como já havíamos dito.
— Não estamos vendo nada, só sentindo, a magia no sangue está gritando para permanecer e descobrir quem está vindo, enquanto a razão grita para fugirmos. — Respondi me afastando um pouco mais a frente, abrindo espaço para Nara usar a runa da clarividência e tentar descobrir o que estava acontecendo.
Sem nos afastarmos do local onde estávamos, Nara se abaixou juntando o frasco do protetor solar e garrafas de água vazias, colocando tudo dentro da bolsa larga e florida, que usamos nessas
ocasiões, com a mão direita aberta tocou a runa da clarividência no solo na intenção de ver alguma coisa invisível ou indício de portal
recém aberto, pela sua expressão parecia não estar tendo sucesso na busca.
— Não vejo nada, nem o calor habitual da magia, tem certeza que a tal energia continua aqui Heloise?” —Nara ficou de pé limpando as mãos no shortinho preto colado no corpo.
— Desapareceu não dá para ver mais nada no local, a não ser árvores, mas ela estava bem próximo a vocês duas . Inaê acha que é alguém que estávamos esperando que vai chegar, diga o que está sentindo minha vampirinha.
—Nara, não sei explicar mas minha loba está dando pulos de alegria com a presença que não vemos, é como se fosse rever alguém muito querido, Iara e Manon sentem a mesma coisa.
— Também estou me sentindo mamãe, um sentimento que não sei dar nome, mas me faz ficar feliz.
O que poderia estar vindo para deixar algumas lobinhas com esse pressentimento, nunca vi as meninas assim.
—Vou pedir a Esther para detectar se existem portais aqui na praia e descobrir o que está vindo, enquanto estamos nesse paraíso. E também vou ter uma conversinha com o Darius, tentar entender onde apareceram os corpos e ver se tem uma relação com o que estamos sentindo aqui.
Enquanto falava Nara limpava minuciosamente a mão tatuada com a runa para tirar o excesso de areia Não resisti e fiquei admirando seu corpo malhado, incrivelmente cheio de músculos, suas coxas grossas dentro daquele shortinho preto curto, que mais parecia uma sunguinha, fazendo par com o top, que deixava a mostra as asas tatuadas na costa inteira, suas asas eram realmente de penas, mas a
magia encobria, para os outros não verem nada além de uma bela tatuagem, as minhas eram do mesmo jeito, tinham a mesma paleta de cores, toda essa beleza me tirava o fôlego. E o mais incrível é que eu tenho a sensação que Nara não fazia ideia do quanto era linda e de como eu a amava.
— Sabe surfar Nyxs? Se souber, eu consigo uma prancha com um dos nativos, e do mar podemos dar uma boa olhada na costa e saber quem está nos observando.
Sua pergunta repentina me tirou do devaneio, me obrigando a responder rápido e não passar um atestado de completa idiota.
— Sei, sim, minha vó faz questão que aprendamos todo tipo de esporte, ela diz que nunca se sabe quando vamos precisar. — Falei limpando as mãos retirando o excesso de areia grudada nos dedos.
— Errada ela nunca esteve. Esther é uma das poucas lobas que eu amo com todo meu coração. — Nara falou.
NARA
Quando Nyxs estendeu a mão, notei que era a mesma que tinha a marca da nossa aliança de compromisso como uma 1ta na pele, quando nossas mãos se tocaram o tempo girou ao nosso redor, várias lembranças do que aconteceu no futuro surgiu como um filme em preto e branco que a tela fica falhando, passou a lembrança do banho na banheira, da Nyxs cortando meu cabelo, do momento em que acredito que geramos a Nalum e de estarmos em pé na frente da prisão abraçadas, mas eram flashes rápidos e embaçados como um filme antigo gasto pelo tempo, soltei rapidamente a sua mão com receio de sermos arrastadas para o mundo paralelo no momento onde as lembranças surgiam e dessa vez sem saber como voltar.
— O que foi tudo isso, Nara? Isso são lembranças de um passado ou do futuro? Porque eu me sinto como se estivesse faltando uma parte de minha história, ou sei lá, que sentimento é esse que me aperta o peito? — Ela estava respirando com dificuldade, e muito espantada com o que aconteceu, eu não sabia o que dizer, mas também não queria mentir.
— Para mim é passado, nós estivemos nesses locais, é uma pena que não tenha dado para você ver com clareza e tenha ficado com essa névoa no meio. Esqueceu que todas nós lutamos quando estávamos lá, inclusive você? — Era o mais próximo da verdade que eu podia chegar, ela não tinha visto com clareza, ainda assim me olhava desconfiada.
— Eu sei que estive lá e que também lutei, mas o que vi agora foi diferente, era como se eu tivesse lá agora, nesse exato momento, e comecei a sentir e ver quando nossas mãos se uniram, me dê sua mão aqui, segure como segurou da outra vez, talvez eu veja melhor o que aconteceu por lá. — Ela falava desconfiada, querendo ter a certeza do que viu, merecia uma resposta sincera ou quase.
— Eu acho que tem alguma fenda aberta aqui, que leva para outros mundos, e se pode levar também pode trazer bestas e todo tipo de monstros, é melhor não fazermos isso, e se ficarmos presa lá sem saber voltar? Temos uma vida aqui, minha filha pertence a esse mundo, vamos fazer assim quando chegarmos na reserva falamos com o Iras1l das coisas estranhas que estão acontecendo com você.
Nyxs me olhou relutante, mas acabou concordando e não insistiu mais, o que não impedia de lançar olhares curiosos enquanto caminhamos lado a lado em silêncio, com pensamentos diferentes, não havia necessidade da palavra, seu corpo próximo ao meu, o ar que saía da sua boca e o perfume da sua pele, era o bastante para me deixar
ansiosa e ainda tinha o diabo da sensação de estar sendo vigiada, o que me deixava mais nervosa ainda, por um lado tinha plena consciência que meu tempo de espera estava quase no fim, eu vi isso na forma que ela me olhava quando nossas mãos se cruzaram, foi um reconhecimento, sei que ela estava cheia de perguntas, mas eu ainda não podia responder, por outro lado, as mortes sem motivo aparente e agora a sensação de estar sendo seguida.
Nossa chegada próximo às marolas, que deslizavam na areia branca e lambiam nossos pés, trouxe junto vários lobos que apareceram nem sei de onde, mas certamente encantados com a beleza das garotas, cada um trazia duas pranchas, que fincaram na areia um deles, o mais alto e usando dreads, foi logo se apresentando.
— Prazer alfa, eu sou o Bob, nós já nos vimos da outra vez em que esteve aqui de visita. — Seu sorriso era encantador, combinava muito com seus olhos pretos e sua pele queimada do sol.
— Prazer Bob, qual dessas pranchas serve para surfar em duplas? — Fui logo perguntando mostrando certo conhecimento no assunto, o que não passou despercebido pelo olhar irônico da Nyxs.
— Essas maiores Stand Up são de 10 pés (3 metros), perfeitas para surfe duplo e o mar está perfeito com essas marolas, vamos pegar aquele ‘flat ‘ para fugir de ondas grandes.
Tinha cinco pranchas com as medidas que ele falou peguei uma e entramos no mar, Nyxs na prancha e eu ao lado, nadando, as meninas vinham na mesma formação, quando chegamos numa parte onde o mar estava calmo, olhamos para a parte da terra a nossa frente, foi então que vi dentro da vegetação, muito escondido, alguma coisa se mexendo.
Fim do capítulo
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