2. Aly e Brigite

 

Em 2008, Aly estava no último ano do colegial, Brigite no penúltimo e Cecilie no primeiro, com dezesseis, quinze e catorze anos respectivamente. A mais velha depois de mais um encontro de estudos com Cristopher, aproveitou para pedir:

 

- Pequena, me apresenta para aquela sua amiga do colégio.

 

- Qual?

 

- Vocês estão sempre juntas no intervalo, hoje estavam lendo um livro.

 

- Já sei, a Brigite, apresento sim.

 

E no dia seguinte lembrou de fazer as apresentações.

 

- Tem uma pessoa que quer te conhecer.

 

- Quem?

 

- A Aly, que estuda com o meu irmão.

 

- A Fleming?

 

- Isso, ela mesma.

 

- Muito patricinha.

 

- Ela é legal.

 

- Sei.

 

Viu a loira se aproximando e ficou observando toda a sua beleza. As três ficaram conversando por alguns minutos, até o alarme tocar, se despediram e cada qual seguiu para sua sala. Depois deste dia, o encontro das três passou a ser diário, porém, para Aly e Brigite, só aqueles minutos juntas não estava sendo suficiente e começaram a se encontrar fora do colégio. Brigite foi em alguns treinos de vôlei da loira, que gosta de esportes em equipe e Aly achou incrível as manobras da morena em seu skate.

 

- Você namorava um rapaz que estudava na escola, terminaram?

 

- Sim, ele mudou de estado.

 

- E vocês nem se falam mais?

 

- Não, perdemos o contato e você namora?

 

- Nunca namorei.

 

- Mas está ficando com alguém?

 

- Não. Sente falta dele?

 

- Acostumei e sabia que a família dele planejava se mudar, não foi nenhuma surpresa.

 

- E você é só amiga do irmão da Cecie?

 

- Sim, nunca nem ficamos, está interessada nele?

 

- Não, prefiro meninas (confessou e ficou esperando pela reação dela).

 

Aly não esperava por aquela resposta e ficou em silêncio, nem mesmo suspeitava daquilo. Notando a surpresa da outra resolveu mudar de assunto comentando sobre um professor que tinha sido demitido, devido divergência com os pais de alguns alunos.

 

- Eu gostava dele.

 

- Eu também, acho que ele estava meio que de saco cheio, por isso, acabou batendo de frente, ele sabia os riscos, acho que queria sair.

 

- É bem provável que tenha sido isso mesmo.

 

- Bom eu vou indo, nós nos vemos. Até mais!

 

Se despediram e Aly ao invés de ir para casa, foi procurar por Cecilie.

 

- Oi Aly, tudo bem? O Cris não está, foi para o mercado com o nosso pai depois da aula, será que ele esqueceu que tinha marcado contigo?

 

- Não marcamos nada. Vim falar contigo mesmo.

 

- Então entra, você está séria. Algum problema?

 

- É sobre a Brigite.

 

- O que tem ela?

 

Contou sobre a conversa que tinham tido.

 

- Você sabia?

 

- Não.

 

- Eu fiquei sem reação.

 

- Ela deve ter percebido, é toda atenta.

 

- Sim, até mudou de assunto.

 

- Você vai tratar ela normal né isso não muda nada, ao menos não pra mim.

 

- Vou sim, eu só precisava mesmo comentar contigo, fui pega de surpresa.

 

- Brigite é mesmo surpreendente, ela lê cada coisa tão incrível e é mesmo diferente.

 

- Verdade. Bom eu já vou, antes que teu irmão chegue e eu fique com cara de pateta.

 

_♡♡♡_

 

Depois da revelação Aly passou a olhar para Brigite com certa curiosidade e como Cecilie tinha dito ela é atenta, ou seja, a mudança não tinha passado despercebida, inclusive decidiu alimentar o que vinha surgindo entre elas com flerte, que levou um tempo, mas, acabou dando resultado esperado.

Certa tarde, marcaram de andar de bicicleta e no final do dia convidou:

 

- Fiz pudim, entra e come um pedaço.

 

Aceitou e adorou a sobremesa. Foi neste mesmo dia que se beijaram.

 

_♡♡♡_

 

- Cecie, eu beijei a Aly.

 

- E ela correspondeu?

 

- Sim.

 

- Tão lindas e como foi?

 

- Bom! Ela ficava me olhando e não criava coragem, quando me aproximei ela não me empurrou e foi muito bom. Só que ela pediu para guardar segredo, disse que foi o seu primeiro beijo em uma menina e que não imaginava que aconteceria, só tinha beijado meninos, falou que gostou, mas, que é algo novo para ela.

 

- E você me contando.

 

- Confio em você, sei que não vai contar para ninguém e você é nossa amiga em comum, foi quem nos apresentou, não conseguiria ficar sem te dizer.

 

- Gostei de saber.

 

- Só que ela pareceu bem confusa, ao mesmo tempo eufórica.

 

- Brigite eu também ficaria confusa, não está dentro dos padrões que estamos acostumadas, a minha mãe é rígida, a família da Aly muito mais.

 

- É isso é complicado.

 

- Acho que é normal ter dúvida e receios. Você nunca teve medo?

 

- Não. Eu me conheço bem, é tão natural.

 

- Só que não é todo mundo que sabe o que quer ou o que se é, eu mesma não sei e não estou com pressa de descobrir, ainda não penso nisso.

 

- Ai Cecie você é demais.

 

- E você desdenhou e beijou a patricinha.

 

- Paguei minha língua.

 

_♡♡♡_

 

- O Cris disse que você viria só mais tarde, ele foi cortar o cabelo.

 

- Resolvi vir antes. Eu estou confusa e preciso conversar.

 

- O que foi?

 

- É que, deixa pra lá.

 

- Fala.

 

- Não consigo.

 

- É sobre a Brigite?

 

- O que ela te disse?

 

- Que te beijou, mas, que é segredo e só me contou por confiar em mim.

 

- Será que ela vai espalhar?

 

- Não. Ela é gente boa, não faria isso.

 

- Pequena, estou me sentido estranha.

 

- Como assim?

 

- Não sei explicar.

 

- Sente medo?

 

- Sim (assumiu e começou a chorar).

 

- Aly não chora (deu um abraço nela).

 

Depois de alguns minutos abraçadas parou de chorar.

 

- Será que sou lésbica?

 

- E se for?

 

- Não sei nem o que pensar.

 

- Tentou conversar com a Brigite?

 

- Não. Ela é tão decidida e confiante. Não quero ficar parecendo uma boba.

 

- Você não é.

 

- Demorei para criar coragem para falar contigo, precisava conversar.

 

- Você sabe que pode confiar em mim, não contarei nada para ninguém.

 

- Será que sou bissexual?

 

- Se você gosta de meninos e de meninas, sim!

 

- Meus pais jamais aceitariam.

 

- Minha mãe também não, já meu pai não sei.

 

- Eu não vou saber lidar com comentários preconceituosos. Estou apavorada.

 

- Pior que eu nem sei o que te dizer com relação a isso.

 

- Só por você me ouvir já é bom, precisava compartilhar contigo tudo que venho sentindo.

 

- Quando ela me contou fiquei feliz por vocês.

 

- Foi muito bom, mas, agora estou surtando.

 

- Eu acho que também ficaria assim.

 

- Você nunca beijou ninguém?

 

- Ainda não.

 

- Você é super tranquila né

 

- Sou sim, mas, quando acontecer te conto.

 

- O quê eu faço?

 

- No teu lugar eu conversaria com a Brigite, ela vai saber te ajudar.

 

- É pode ser.

 

- Aposto que ela será compreensiva. Quer que eu fale para ela conversar contigo?

 

- Quero!

 

- Ciça já voltei (gritou Cristopher).

 

- Vou descer, muito obrigada!

 

- Pode contar comigo.

 

_♡♡♡_

 

- O que foi? Estava divagando?

 

- Um pouco.

 

- Cecie me falou para conversar contigo, me acompanha?

 

- Sim.

 

Deixaram o colégio juntas.

 

- O que se passa?

 

- Depois que soube suas preferências, fiquei instigada e passei a sentir uma vontade que ainda não tinha sentido. Quanto mais nos aproximávamos, mais a minha mente ia longe.

 

- Se arrependeu do nosso beijo?

 

- Não, eu gostei muito.

 

- E quer repetir?

 

- Quero, mas, tenho tanto medo (confessou).

 

- Me desculpa por ter contado para Cecie, não contei para mais ninguém.

 

- Ela é nossa amiga e não vai espalhar para ninguém.

 

- Pela minha boca ninguém mais vai saber, não quero te causar problemas.

 

- Agradeço. É que eu tenho pavor de decepcionar a minha família.

 

- E quem te disse que vai decepciona-los?

 

- Eu sei o quanto são conservadores e preconceituosos.

 

- Então que tal deixar para pensar nisso quando você for maior de idade e independente. Não precisa sair gritando por aí sobre a sua sexualidade, sendo que você está começando a se descobrir e ainda nem tem certeza de nada. Você está pilhando, relaxa!

 

- Cecilie estava certa, eu precisava mesmo conversar contigo.

 

- Pare de se cobrar tanto, não precisa disso.

 

- Você tem razão.

 

- Eu ainda não contei para os meus pais que sou lésbica, mesmo sabendo que vão continuar me amando, claro que pretendo sair do armário e sei que será libertador, mas, somos tão novas para lidar com tudo isso, prefiro respeitar meu próprio tempo.

 

- A tua maturidade é incrível.

 

- Linda, não fica pirando nisso e podemos conversar sempre que quiser.

 

- Te agradeço (sorriu lindamente).

 

 

 

Fim do capítulo