MARI e ANA por MahLemes
Capitulo 45 - Tente outra vez
Quase três meses depois do meu término, Nanda me chamou para conversar.
-Mari, você sente algo pela Ana? Vocês estão cada vez mais próximas e está na hora de você se afastar dela caso não tenha nenhuma chance de se envolverem. Ela está cada dia mais apaixonada e eu não posso só olhar isso.
-Não sei, Nanda. Eu sinto mais completa com a Ana, mas não acho que tenho esse sentimento por ela mais.
-Então conversa com ela. A Ana merece isso.
-O que eu mereço? -Perguntou Ana chegando em casa. -O que foi, Mari? Você está chorando?
Eu nem havia percebido que as lágrimas que eu segurava haviam escapado. Ela me abraçou com carinho e Nanda me olhou enfatizando seu ponto.
-Podemos conversar no seu quarto?
-Claro. Vem.
-Ana, eu... Nós... Eu não posso...
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa Ana me beijou. Foi um beijo calmo, carinhoso, como que me confortando. A forma como senti esse toque foi diferente. Foi como se meu coração aumentasse e eu encontrasse um espaço para Ana. Todo o espaço ocupado por Márcia não havia mudado, mas um espaço se abriu e ela entrou.
Ela parou o beijo e se afastou, me olhando receosa. Peguei seu pescoço e tomei seus lábios outra vez. Nos afastamos e fixamos nossos olhares. A felicidade estampada neles era sem tamanho. Algo dentro de mim pareceu querer se colar.
-O que foi isso, Ana? O que isso significa?
-Eu não sei, Mari, mas eu sei o que eu quero que signifique. Agora falta você saber o que quer que seja.
-Nós podemos ir aos poucos? Não quero meter os pés pelas mãos e estragar o que pode ser muito bom.
-Claro, minha linda. Podemos ir à velocidade que você quiser. Vem, deita aqui comigo. -Dito isso ela me puxou para me acomodar no seu peito, fazendo carinho nos meus cabelos. Eu senti um conforto que há algum tempo não sentia e logo adormeci em seus braços.
Acordei sentindo um vazio e notei que estava sozinha na cama. Pude ouvir a voz da Nanda vindo da sala. Me levantei e fui em direção a ela quando escutei meu nome e parei.
-A Mari não está bem, Ana. E você sabe disso. Sabe o quanto ela gosta da Márcia. Tem certeza de que quer se submeter a isso? E se ela perceber que não é o que ela quer mais? Como você vai ficar?
-Eu vou ficar mal, Nanda, mas ao menos vou ter tentado viver o meu sentimento. Por favor, não estraga minha felicidade.
-Tá bom, minha amiga, mas você se cuida, viu? E avisa a Mari que se ela te machucar vai se ver comigo, viu?
-Pode ficar tranquila, Nanda, eu não vou machucar a Ana. -Eu disse entrando na sala e surpreendendo ambas.
-Espero mesmo.
-Não se preocupa, Mari, ela logo relaxa. Ela ficou pior que isso comigo aquela vez. Ela é um pouco protetora, digamos assim. -Ana disse e veio me abraçar com carinho.
***
As férias logo chegaram e combinei com Ana, Júlia e Nanda de irmos novamente ao sítio da avó de Nanda. Chegando lá dona Rosa nos abraçou e levou até a cozinha, onde havia mil e um quitutes na mesa. Comemos sem pressa, com ela e seu Alceu nos acompanhando.
-Vó, e as pernas? A senhora tá fazendo tratamento?
-Tô sim, minha filha. O médico me passou um remédio pra afinar o sangue e me pediu pra ter uns minutos de descanso com as pernas pra cima três vezes ao dia. E sempre que puder, fazer meu serviço sentada.
-E a senhora está seguindo direitinho?
-Mais ou menos. Eu faço o descanso, mas não tem muita coisa que posso fazer sentada. A lida na roça é puxada, né?
-Mas as dores pararam?
-As vezes eu sinto um pouco, mas na maioria dos dias não.
-Que bom que a senhora está se cuidando. E você, vô? Como o senhor está? -Nanda perguntou.
-Eu tô um coco, minha filha! Melhor impossível.
-Ele tá bem sim, mas o médico mandou ele diminuir o açúcar. Tá com o açúcar no sangue alto.
-Tem que tomar cuidado então!
-Eu tô tomando, minha filha. E o que querem fazer hoje? -Ele disse fugindo do assunto.
-Acho que hoje podemos ir lá no rio um pouco. O que vocês acham?
-Boa ideia, Nanda. Vamos trocar de roupa.
Fomos as quatro para o quarto colocar biquínis e passar protetor e repelente. Logo estávamos chegando à cachoeira.
-Eu tinha me esquecido do quão lindo isso aqui é. -Eu disse admirada com a paisagem.
-Nossas lembranças nunca fazem jus à essa beleza.
-Não mesmo.
-Vamos entrar?
-Vão vocês, fofinha. Vou ficar aqui de fora sentindo o vento no meu rosto e ouvindo os pássaros.
As meninas entraram no rio e eu me acomodei em uma pedra debaixo de uma árvore que fornecia uma sombra gostosa. A minha relação com a Ana havia evoluído nesse tempo e eu estava cada vez mais segura com ela e me abrindo cada dia mais. Ela me fazia bem. Era fácil e gostoso estar com ela. Não precisava me preocupar com outras pessoas, com regras ou com filhos. Márcia continuava bem presente na minha mente e no meu coração, mas a cada dia me parecia doer menos pensar nela.
Fui tirada das minhas divagações com as meninas me chamando para entrar na água. Resolvi que precisava me distrair e refrescar. Entrei e ficamos brincando como crianças. Ao voltarmos para a casa, fiquei na cozinha ajudando dona Rosa a preparar o almoço.
-E então, minha filha, você não está tão feliz assim com a menina Ana, não é?
-Como não? Estou sim.
-A, as coisas do coração a gente vê no olhar. Você quer me contar que aconteceu?
-Eu terminei com a Márcia e a Ana vem me apoiando e está crescendo no meu coração, vó.
-Uai, minha filha, achei que tivesse se acertado com a professora.
-Sim e não. Nós ficamos juntas por um tempo, mas então ela adotou um bebê. Praticamente recém-nascido.
-E daí?
-E daí que eu não estava pronta para ser mãe, vó. Eu não quero essa responsabilidade na minha vida, sabe? Eu ainda sou muito nova pra isso. Quero viver coisas que ainda não vivi e um filho muda tudo.
-Eu entendo isso. Mas por que está chorando então? -Não havia notado as lágrimas que escorriam silenciosas.
-Porque meu amor por ela não mudou. Eu sinto tanta falta dela. Só de ouvir falar eu já fico com o coração apertado de não ter ela para mim, de não estar ao lado dela.
-É complicado, né? E você vê ela sempre?
-Não. Ela está de licença maternidade, mas esse semestre ela volta para a faculdade. Eu estou com medo de vê-la.
-Nossa, chega a tanto?
-Sim.
-Minha filha, será que não tem nada errado aí não?
-Como assim, vó?
-Será que vale a pena mesmo esse sofrimento todo? Você acha que uma criança mudaria tanto assim a sua vida que te deixaria tão infeliz assim?
Eu não sabia o que responder. Eu nunca havia pensado daquela forma, nunca havia nem cogitado a ideia de voltar atrás na minha decisão.
-Mas eu estou bem com a Ana.
-Se você me diz isso, quem sou eu para discordar? Mas me diz uma coisa, minha filha. O que te faz ter tanto medo de ser mãe?
-Eu não tenho medo, vó.
-Tem certeza?
Fiquei pensativa. Eu não tinha medo de ser mãe. Eu só não estava preparada. Eu queria ser mãe, mas não agora. Ao me virar para a geladeira, vi que Ana havia escutado ao menos uma parte da conversa. Ela saiu da cozinha de cabeça baixa. Eu queria ir atrás dela, mas não tinha nada para dizer. Tudo que eu havia falado era verdade. Eu nunca havia mentido para ela. Sei que devia doer escutar isso, mas eu não podia fazer ela esquecer o que ouvira.
-Deixa que eu vou falar com ela, minha filha.
***
Ana ficou longe de mim o dia todo, se afastando quando eu chegava. Enfim entendi o recado e deixei que ela me procurasse quando estivesse pronta. Fiquei com dona Rosa ajudando na casa, deixando-a mais à vontade com as meninas.
Já havia escurecido e eu estava sentada na varanda olhando o céu quando Ana se sentou ao meu lado. Alguns minutos se passaram em silêncio até que quebrei-o.
-Eu sinto muito que tenha escutado o que eu falei para dona Rosa.
-Não foi nada que eu já não soubesse. Só é doloroso ouvir. Eu sei que não sou ela, mas queria poder ganhar seu coração.
-Você merece alguém por inteiro, Ana. Não uma pessoa pela metade.
-Eu sei, mas meu coração não aceita isso. Ele só quer você.
-Eu sou muito egoísta. Não devia te dar esperanças.
Ana ficou em silêncio e entendi que ela concordava comigo mas não tinha coragem de falar.
-É melhor pararmos de ficar, Ana. Eu não quero…
Ela me interrompeu com um beijo. Desesperado, necessitado e faminto. Correspondi na mesma intensidade. Eu precisava daquele carinho dela ou me perderia.
-Fica comigo, Mari, eu sei que posso te fazer feliz. Me namora.
-Ana, eu…
Aquilo não podia estar certo. A companhia dela, o carinho, até o amor que ela me proporcionava era a única coisa que me mantinha sã.
-Vai, Mari, seja minha namorada. -Ela disse e me deu outro beijo. Esse era quente, necessitado e muito mais avançado do que já havíamos trocado. Paramos sem fôlego, ambas querendo mais. -Pensa nisso.
Ana se levantou e entrou novamente. Lá estava eu com tesão e confusa. Por um lado queria ser uma boa pessoa, mas por outro só queria me sentir minimamente bem.
Fim do capítulo
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