MARI e ANA por MahLemes
Capitulo 44 - Sobrevivendo
As semanas se arrastavam e eu não mais vi Márcia na faculdade. Ritinha me disse que ela tinha tirado uma licença maternidade que duraria cerca de seis meses. Eu estava mal e a única coisa que me mantinha de pé era o judô. Passei a treinar todos os dias para conseguir extravasar toda a frustração que eu sentia. No dia em que a academia não abria eu ia correr, afinal minha mente não me dava sossego. Apenas quando estava com o corpo muito cansado conseguia dormir. Os meus sonhos eram sempre sobre ela, sobre nós.
-Mari, você sabe que pode falar comigo, né? Eu tô aqui pra você.
-Eu sei, Ana, mas não me sinto à vontade falando sobre minha ex com você.
-Mas eu tô te falando que não tem problema. Se abre comigo. Eu tô sofrendo de te ver dessa forma. Quem sabe eu não possa te ajudar se me falar.
Estávamos deitadas em seu quarto ouvindo música. Por mais estranho que possa soar, estar com a Ana acalmava minha mente e parecia que eu não estava tão quebrada nesses momentos.
-Tá bom. Sabe, você me faz sentir um pouco mais inteira. É boa a sensação de estar ao seu lado. Você tem certeza de que quer ouvir?
-Qualquer coisa que venha de você me interessa, Mari. -Ela disse isso com uma feição de apaixonada que até me doeu.
-Ana…
-Eu sei que não posso te ter, não precisa de preocupar. Vamos, me conta.
Como a egoísta que eu era narrei boa parte do que havia se passado entre mim e Márcia. Contei como nos conhecemos, como nos desentendemos várias vezes, da Sara, da armação do término até chegar à adoção de Rafael. A Ana não desviou seu olhar de mim hora nenhuma e quando as lágrimas começaram a escorrer ela apenas me abraçou e pegou minha mão, me dando forças para continuar.
-Eu sinto muito, Mari. Você merece ser feliz. Você estava tão feliz esses dias, era muito nítido. Por mais que eu te deseje não queria que terminassem. Prefiro que seja feliz com outra pessoa que ficar nessa tristeza que está agora.
Ana me abraçou forte, me dando segurança para desabar outra vez. Eu soluçava de tanto chorar e ela apenas nos deitou e ficamos abraçadas de conchinha até cairmos no sono.
-Ana?
Acordei assustada com a voz desconhecida. Olhei e notei que Fernanda nos observava com cara de poucos amigos.
-Você pode me explicar o que está acontecendo aqui?
-A Mari tá mal. Nós só caímos no sono. -Ana disse com naturalidade. Eu me levantei para deixá-las conversarem a sós.
-Eu vou tomar uma água. -Disse saindo do quarto com um péssimo pressentimento. Eu no lugar de Fernanda estaria uma fera se minha namorada estivesse dormindo abraçada com a amiga pela qual é apaixonada.
-Entendi.
Foi tudo que ouvi quando fechei a porta do quarto.
-Mari? Não sabia que estava aqui. -Nanda disse surpresa ao me ver sair do quarto.
-Estava conversando com a Ana e caímos no sono. A Fernanda nos pegou dormindo abraçadas.
-Eita.
Foi tudo que Nanda disse.
-Não foi de maldade. Eu me abri com ela, contei da Márcia, chorei e ela me consolou. Foi só isso. Acabamos apagando.
-Você contou sobre sua ex pra ela? -Nanda me perguntou indignada.
-Ela que pediu. Disse que tudo bem.
-Poxa, Mari. Se coloca no lugar dela. Você tem eu, seus pais, a Ritinha e a Camila pra falar. Precisava contar pra Ana? Sabendo do quanto ela gosta de você?
-Ela insistiu. -Respondi defensiva.
-É claro que ela insistiu. Por mais que doa queremos saber tudo de quem amamos. Você foi muito egoísta. Não precisava disso.
-Eu não tenho responsabilidade pelos sentimentos dela. Ela é adulta e sabe tomar as decisões dela.
-Parabéns, Mari. Acabou de ganhar o troféu de babaca do ano. -Nanda disse e saiu para o seu quarto.
Nem um minuto depois Fernanda saiu do quarto de Ana com os olhos vermelhos.
-Você deveria ter vergonha de manipular ela dessa forma. Você é um ser humano horrível. -Disse e saiu do apartamento batendo a porta.
-Ana? -Perguntei entrando no quarto. Ela estava em sua cama, abraçada ao travesseiro e com lágrimas no rosto. -O que aconteceu?
-Ela terminou comigo. Disse que não tem como competir com você.
Me senti a pior pessoa do mundo. A Ana não merecia isso, ela não merecia que eu lhe desse esperanças só para eu não me sentir mal.
-Ana, eu sinto muito. Não queria te trazer problemas.
-Não foi você, Mari. Eu que não consigo te esquecer, mas eu sei que você só quer minha amizade ainda mais agora. Tá tudo bem.
Eu sabia que não estava nada bem e que era minha culpa sim, mas a minha dor não me permitia pensar no bem da Ana. Apenas no meu. Minha consciência pesava, mas a dor quando estava longe da Ana era maior que o peso. Então foi assim que passei o resto do semestre.
Me aproximei da Ana como nunca havia acontecido. Nanda estava chateada comigo pois conseguia ver que eu estava apenas me aproveitando do carinho que ela me dava. Mas aos poucos aquele carinho dela passou a ter ainda mais valor e sem perceber eu comecei a corresponder isso.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: