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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

Ver comentários: 4

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Palavras: 4670
Acessos: 913   |  Postado em: 07/09/2023

Capitulo 26

  Capítulo 26 - Flávia


       - Só vou poder te entender se você me contar. Se você se abrir e me falar o que aconteceu com você. Porque sua irmã perguntou se você também iria me matar? Preciso saber todas as cartas Flávia, todas as regras do jogo - a voz dela estava tremendo, com medo da verdade que poderia aparecer.

          - Eu não matei Bruna. Na verdade não do que ela está falando. Já atirei em bandido em ação, coisa assim, se morreu ou não depois, aí não é comigo. 

            - Então me conta Flavinha - ela esticou a mão e passou no meu rosto, em um sinal de carinho, de amor - Sabia que no jornalismo eu tive aula de interrogatório também? De tirar o depoimento? 

              - Hum - não consegui falar muito mais que isso, vou falar que me dói esse assunto. Estou tão frágil que só quero voltar pra casa, tomar um calmante, deitar e dormir. Mas a Bruna não vai me deixar quieta. Pra falar a verdade eu achei que nem teríamos essa conversa. Ela é tão linda, um emprego legal, a ex-namorada que não sai de cima, não achei que ela iria querer arriscar ainda me entender. Não achei mesmo. 

               - Eu vou pegar mais um pouco de vinho pra mim, você não bebe, mas eu trabalho bem com bebida. E aí vou fazer uma pergunta por vez pra você. Mas a sua parte vai ser se permitir me contar. 

              - Bru… 

            - Amor, me dê uma chance. Eu quero entender você, quero saber onde estou indo, como podemos estar juntas. Pensa aí, vou pegar mais vinho pra mim - ela já estava trocada, diferente da roupa da festa da minha avó. Estava com uma calça soltinha, mas sem perder a chance de ficar de regata e mostrar um decote bem acentuado. Levantou do sofá com o rebol*do natural, foi até a cozinha. Eu me mantive sentadinha no sofá. Ao mesmo tempo que quero fugir, vai ser bom ter alguém para conversar, alguém que me entenda - Esse é um dos melhores vinhos que já tomei, foi presente da Lana, qdo ela viajou para a Argentina. 

              - É bom mesmo? 

            - É sim, sente o cheiro. - puxei o ar da taça, mas sem nenhum sentido pra mim, ela deu risada da minha expressão. A Bruna rindo, sentada aqui, simples, não está nem perto daquela pessoa pitizenta de hoje a tarde - zero sentido? 

            - Cheiro de vinagre pra mim - ela revirou os olhos, como se zombasse de eu não beber. Mas em seguida me deu um olhar em funil, fixo, firme. Ali eu sabia que o interrogatório da Bruna estava aberto. 

            - Quem era aquele senhor que falou com você hoje? O barrigudinho, com barba por fazer. 

            - Não imaginei que você iria começar por ele. Ele é o Sr. Luiz, tenho ele como um pai. Conheci ele quando eu tinha 16 anos, de lá pra cá ele me orientou, cuidou de mim, me protegeu, como se eu fosse a própria filha dele - tentei ficar calma e me permitir falar, exteriorizar as emoções.

             - Ele é o que da sua ex namorada? - tava demorando. 

           - Ele é o pai da Fabi. Achei bonitinho você falando que somos namoradas. Ele ficou feliz por isso.

           - Como seu ex sogro fica feliz com você estar namorando? A filha dele é uma pessoa ruim? 

            - Nunca mais fale isso sobre a Fabíola, ela era a pessoa mais correta que já conheci - falei firme. Tá vendo, não estou pronta para essa conversa, isso só vai nos machucar mais ainda -  O erro da vida dela foi ter me conhecido, ter namorado comigo. Eu não sou boa pra ninguém Bruna - tá vendo? Por isso eu não queria conversar com ela sobre isso. Meus olhos começaram a encher de lágrima, acabei baixando a cabeça e olhando para o chão.

                - Desculpa, desculpa, desculpa. Não quis ultrajar a imagem dela, jamais. Também senti que ele ficou feliz por você. 

                - Depois de tudo o que aconteceu, eu desapareci um pouco, acho que pra poder absorver ou simplesmente por vergonha. 

             -  O que aconteceu Flávia? Tem relação com esses pesadelos que você tem? Porque as poucas vezes que dormiu aqui, sempre teve pesadelo. 

                - Sim. 

                - Flávia - tomou um gole longo da taça, olhando firme pra mim, sem piscar - eu preciso saber das cartas na mesa. Minha pergunta pra você sempre foi sobre o quanto eu poderia me envolver com você, qual o risco que corro. É isso que quero. E hoje eu vi um lado seu que eu não conhecia, não tô falando da sua família, tô falando de você agredindo sua irmã. O que você vê nesses pesadelos? É sempre o mesmo? 

               - Bru, não quero que você esteja comigo se tem medo de mim, não quero isso. Já estou admirada de você estar aqui conversando comigo. Não sei se eu estaria. 

               - Isso é uma questão minha, não sua. Se estou aqui é porque quero.  O que você vê no pesadelo? 

            - Eu vejo o que aconteceu com  a Fabi. Vejo e revejo ele mil vezes, parece que minha mente quer encontrar o meu erro, o que eu fiz de errado. 

              -  E o que aconteceu com a Fabi? - vi que a Bruna estava tentando pisar em ovos, me forçando a falar, mas sem querer me pressionar. - quando sua irmã falou sobre ter matado alguém era sobre a Fabi? Estou tentando ir puxando esse seu novelo Flávia, quero saber seus medos. 

              - Bru, esse é um assunto que eu aprendi a lidar da minha forma, sem falar. Poucos a minha volta sabem disso.A Roberta estava falando sobre a Fabiola sim.  Na verdade a Roberta quer sempre arrumar um jeito de ser coitada, então mexe nas minhas feridas mais dolorosas. Infelizmente ainda não aprendi a lidar tão bem com esses machucados. Quando alguém cutuca, dói, dói muito. - falei olhando pro chão, sentindo meu coração queimar e minha respiração acelerar. 

           - Flávia, todos ficam falando que a Fabi está feliz por você, que você merece viver. Sua avó falou isso, o pai dela, o Bibo já falou várias vezes. Quando eu te pergunto dela, você me fala que não tem risco, que ela não vai aparecer. Onde a Fabíola está Flávia? Ou estamos falando de uma pessoa que faleceu? 

              A Bruna tentou falar isso com a voz mais calma possível, mais leve e sutil. Falou segurando a minha mão, prevendo o quanto isso me dói. Eu já estava com o corpo inclinado, cotovelos apoiados na coxa, acabei me abaixando mais ainda e uma das mãos foi em direção aos olhos, não quero a Bruna me vendo chorar. Não quero que ela saiba o quão quebrada estou. Mas ela sabe, passou a mão no meu rosto e levantou meu rosto, mesmo eu querendo abrir um buraco e sumir. 

             - Dá pra sentir sua dor Flávia, não posso imaginar o quanto dói. Vem aqui  - e me puxou para um abraço, eu não consegui me segurar, não consegui fugir, simplesmente soltei o corpo e deixei a Bruna me abraçar. O calor do corpo dela encostou na minha pele fria, arrepiada das lembranças. Fiquei ali um tempo, acho que não mais que uns segundos, mas tempo suficiente para me sentir perto da Bruna. Quando me senti pronta, ao meu tempo, me soltei dela - Consegue continuar essa conversa? Acho que precisamos. 

             - Consigo, só dói e dói muito. Você é a primeira pessoa que consigo falar sobre essa minha dor, sobre a minha culpa. 

            - Flavinha, eu estou aqui. Fiz muita merd* hoje, e não tenho como me desculpar com você. Só preciso mudar. Você é uma mulher de ouro, forte, firme, protetora. Eu seria uma boba em te perder. Você já deve ter baleado, machucado pessoas na sua profissão, o que não cabe a mim julgar. Mas o pouco que te conheço não acredito que você tenha matado alguém por maldade ou qualquer coisa assim. 

           - Não mesmo. Bandido, traficante, trabalho é um outro assunto. Mas eu jamais faria algo proposital para machucar alguém, muito menos a Fabi, mas eu fiz. Se ela está como está é por minha culpa. Eu fiz isso com ela. 

          - Fez o que amor? 

        - Tudo aconteceu há 3 anos e 4 meses, acho que nunca vou errar a data. Eu e a Fabíola trabalhávamos em unidades diferentes, fazíamos de tudo para não estarmos juntas em missões ou abordagens. Na época ela era da unidade de narcóticos, que mexe com drogas. E eu trabalhava com sequestros, invasão para resgate. Mas as duas trabalhavam aqui na zona norte aqui de São Paulo. A merd* estava feita. 

        - As duas estavam na mesma delegacia? 

        - Não, mas na mesma região. Cada região tem uma unidade especializada. Aí quando algo acontece, chamamos a equipe daquela região. Nessa época eu trabalhava muito, mas não era só muito, era exaustivamente. Eu estava juntando dinheiro ao máximo para nosso apartamento e nosso casamento. Fazia a faculdade de direito de noite, o trabalho de investigador de tarde, de segunda a sexta e de manhã, de madrugada e final de semana eu tinha um bico de guarda costas, de segurança privada. 

         - E que horas você via a Fabi? 

         - Exatamente. Ela já estava pra mais que puta comigo, a gente brigava. Mas eu estava consciente e certa que estava cuidando da gente. A grana do guarda costas é o que pagou metade do apê que eu estou morando. Morando sem ela - meu peito deu um rasgo, eu não aproveitei minha namorada quando eu podia, não cuidei dela - Ela também não gostava da menina que eu fazia segurança.

          - Com motivo? 

          - Sim e não. A menina era filha de um empresário do ramo de hipermercados, ele com muita grana e ela com muita chance de sequestro. Mas era uma menina jovem, na época tinha 22 anos, se não me engano, não queria um armário armado ao lado dela. E aí eu entrei na jogada, eu era basicamente a amiga armada. Acompanhava ela nas aulas da faculdade de economia, aos finais de semana acompanhava na balada. Então praticamente toda sexta eu estava fora, em alguma balada chique. Mas eu não podia simplesmente ir de blazer preto, pobretão. A Aline, essa menina, começou a comprar roupa, maquiagem, eu precisava me camuflar. Era o jeito do pai dela ficar tranquilo e ela aceitar a proteção. Eu juro por tudo que é mais sagrado, juro pela Fabíola, eu nunca traí ela, jamais trairia. Mas traição não é só sex* e físico, traição envolve muita coisa. 

 - Acho que eu também não ficaria feliz nada situação. 

         - Claro que não. A Fabi me deu muitos toques, depois algumas brigas, mas eu ficava brava dela não me entender. O dinheiro era pro nosso apartamento e pro casamento,  era pra gente. Na minha imaturidade eu estava cuidando dela, protegendo nosso futuro. Mas no fim só estava perdendo ela. O dia que ela cansou de me dar toques, me colocou contra a parede e terminou comigo. E eu fiquei mais puta ainda, eu estava sendo punida por trabalhar pra dar um futuro legal pra ela. Eu não conseguia entender. E o que a gente faz quando termina um namoro? 

         - Acha uma periquita amiga e dá até cansar? - Não entendi bem se ela falou brincando ou de verdade. Mas acabei rindo. Primeira risada desde o início dessa conversa. 

             -  Bom saber que faria isso! Eu no caso, fui trabalhar mais ainda, saia da faculdade e já emendava na segurança privada. Peguei mais horários de segurança, não parava nunca. A Fabíola queria me dar um susto para eu reduzir e eu fiz exatamente o contrário, aumentei. Eu era um Zumbi, nem comia direito, era café atrás de guaraná, atrás de energético. Esse ciclo durou umas duas semanas. Até que em uma tarde de terça feira eu estava tentando ficar acordada enquanto lia alguns relatórios e eu fui chamada na sala do Delegado. Eu estava muito cansada e não saia para rua já fazia um tempo. 

- Ela estava lá? 

- Na sala do delegado? Estava sim. Foi a primeira vez que eu olhei, esbarrava com ela desde de que ela havia terminado comigo. Lembro que eu tinha entrado na sala, no centro tinha um esboço da favela, tipo uma maquete. Eu entrei cabisbaixa, sem nem me preocupar, afinal eu estava a um bom tempo sem sair em missão. Fui acompanhando a preleção do chefe, até que algo fez eu levantar meu rosto. Quando eu encontrei ela com o olhar não sei descrever Bru. Foi vergonha pelo estado que eu estava, emoção de ver, o olhar dela foi de espanto, reprovação. Nós duas continuamos ali, ouvindo as orientações, as preleções. Eu não estava ali, eu não prestei atenção. Eu sabia já os detalhes da comunidade que seria invadida. E eu como investigadora não sou exatamente a pessoa que abre a porta do cativeiro. Eu entro junto, mas minha função é investigar, não é prender, resgatar. 

- E você conseguiu falar com ela nesse dia? Ou foram para o negócio sem se falar, brigadas?

- Quando acabou a preleção, o delegado liberou todos na sala por 15 minutos. Esse é um tempo habitual para cada um se concentrar, comer, ir ao banheiro, qualquer coisa assim. O meu foi de ver a Fabíola. Lembro que continuei no cantinho da sala, de cabeça baixa. Senti ela segurando meu braço, me olhando muito feio. Ela só falou para eu ir com ela. Segui a Fabiola até o vestiário, aí começamos a conversar. Eu sabia que não tínhamos terminado de verdade, mas eu só fazia merd* em cima de merd*. A primeira coisa que a Fabi fez foi me abraçar, um abraço forte, de apoio, firme. Ficamos assim por uns segundos depois ela começou: Olha como você está, perdeu peso, parece uma morta viva. Terminei com você pra você para com isso, mas você está pior. Eu não conseguia nem responder, só fiquei de cabeça baixa chorando, queria mais do abraço dela. Se eu pudesse, teria feito tudo tão diferente, teria abraçado ela, beijado mais, não mentido, teria sido uma namorada, noiva, melhor  pra ela. 

- No que você mentiu? - Bruna realmente estava prestando atenção em tudo, atenta, observando. 

- Nessa hora do banheiro, nos beijamos algumas vezes, eu prometi que iria melhorar, prometi que eu não iria mais machucar ela, que eu seria novamente a Flávia que ela amava. Ficamos ali, abraçadas atrás dos armários sem nos preocupar com nada. Quando deu os quinze minutos, começou um murmúrio, barulho, os agentes andando em direção a reserva de armamento. Nessa hora ela pegou no meu rosto com as duas mãos - demonstrei segurando o rosto da Bruna - e me perguntou se eu estava bem para ir, se eu estava com ela naquela missão. Eu concordei, falei que sim, mas eu menti. Eu menti nesse momento. Eu estava com sono, cansada, desatenta, sem treinamento adequado. Eu era o elo fraco naquela operação  e esse erro me custou a Fabíola. Ela ainda perguntou se eu tinha certeza, se eu realmente estava preparada, eu menti de novo, menti mais uma vez que eu estava ali - contar cada segundo desse momento me doeu, me rasgou mais um pouco o peito. A Bruna estava atenta a cada expressão minha.

             - Tá, você tem esse peso de ter errado, essa visão. Mas isso não faz você ser responsável pelo que aconteceu a ela - a Bruna falou isso, calmamente, atenta. 

 - A equipe saiu da delegacia em um silêncio, sem sirene, sem estardalhaço, em carros descaracterizados. Eu e a Fabi tínhamos um lance nosso, sempre que dirigimos, cada uma em um carro, nos olhávamos pelo retrovisor. Eu quero guardar a imagem dela assim, rindo, aprontando. Fomos nos enfiando no meio da comunidade e os carros se dispersaram, cada um foi por um lado para permitir uma abordagem mais firme e coordenada. Eu e minha equipe saímos do carro e já encostamos atrás de uma equipe de infiltração. Eu fiquei vendo tudo um pouco mais de fora, minha função era apenas proteger a vítima e retirar em segurança, eu e minha equipe éramos praticamente babás. O lugar era um sobrado, mas pra baixo, aquelas casas construídas na descida do morro. A suspeita é que fosse um laboratório de drogas. Primeiro entrou o pessoal mais bruto, com bomba de gás, para abrir o espaço. Essa primeira equipe entrou e depois entrou a equipe que a Fabi estava, para avaliar se era mesmo um laboratório, se não tinha nada arriscado, nada que iria explodir. E ali começou um tiroteio. 

          - Ela estava dentro do tiroteio? 

       - Sim, ela tinha acabado de descer as escadas da casa. Eu não pensei na minha missão e em mais nada, saí correndo do ponto seguro que eu estava e fui em direção a casa. Enquanto eu fui correndo, começou a sair gente da casa, lá debaixo, das partes de cima, para revidar a infiltração da polícia.  Os policiais que não estavam feridos subiram também, atirando. 

            - Ela estava baleada? 

         - Não, ela subiu correndo também. Ela estava centrada, focada, continuou atirando enquanto corria em direção a viatura. Quando eu a vi,  corri junto pra mesma viatura, ela me olhou e entendeu, eu sentei no motorista e acelerei. Ela ficou da janela apoiando o tiroteio. Eu fui seguindo o comboio. Ela começou a gritar: é o laboratório da Alice. Da Alice. Não entendi nada, e ela continua gritando: “é da Alice. O laboratório dela.” A perseguição foi intensa, eu continuei seguindo o comboio. A Fabíola tinha parado de atirar, tinha uns quatro ou cinco carros na nossa frente, eu estava alerta, mas desatenta. Um carro acelerou do meu lado e bateu na nossa lateral, não consegui segurar a viatura. Nós capotamos umas 3 vezes, eu não me machuquei. Olhei pra ela e ela só estava com a perna machucada. Olhei firme, o tiroteio ainda estava acontecendo.

Meu peito arde, dói. Está apertado, queimando. Parece que estou respirando lava. A Bruna está totalmente atenta a cada expressão ou sinal meu, tentando ao máximo ser carinhosa, protetora. Ela segurou novamente minhas mãos, fazendo um carinho e me olhou, tenra, amigável, me dando forças para continuar a falar. 

  - Ela desceu do carro se arrastando, com a arma empunhada e eu gritei pra ela voltar. Claro que a Fabíola não iria me escutar, nunca me escutou. Saiu arrastando a perna mas atirando. Um carro passou por perto de nós atirando, eu vi que era a Alice, eu fui lenta, fui devagar. Eu estava cansada, desatenta, atordoada pelo capotamento. Não disparei antes. Se eu tivesse atirado antes, um segundo antes a Alice não teria baleado a Fabi. Foi um milésimo de segundo, assim que a Alice apertou o gatilho eu atirei nela - não sei nem o que eu estou sentindo agora, não sei se a dor está tão forte que não sinto ou se falar me deixou sem sentir. O som da rua sumiu, a máquina de café ficou quieta, tudo o que estava acontecendo parou, só me lembro daquela cena, do disparo e meu disparo. 

           - A Fabíola foi baleada? - sensação de que voltei a respirar. Puxei o ar do fundo. 

- A Fabi foi baleada pelo tiro que a Alice disparou. O tiro pegou no peito da Fabi, atingiu o pulmão direito dela, certeiro. Meu mundo parou naquele instante, eu sai correndo para socorrer ela, eu não lembro de mais nada desse ponto para frente. Eu lembro de voltar a minha consciência no pronto socorro, eu sentada nas cadeiras na frente do centro cirúrgico.

- Mas isso porque você apagou? 

- Não, simplesmente por que eu não lembro. Meus colegas disseram que eu socorri ela, coloquei no carro e sai em disparada para o pronto socorro, que eu gritei com todo mundo e que depois que ela entrou na sala de emergência eu desmaiei. Eu não lembro de nada entre ela ser baleada e eu acordar.  

- Mas o tiro pegou só no pulmão?

- O tiro pegou o meio do pulmão direito .

- E a Alice?

- Morreu ali no tiroteio, junto com dois outros agentes e três traficantes. 

- Mas foi seu tiro que matou ela?

- Bruna, você acha que dentro desse contexto todo ela seria baleada só por mim? Ela recebeu 7 tiros de acordo com a perícia, de diversas armas, a minha foi apenas uma delas. A filha da puta era tão ruim que antes de morrer ainda baleou mais um agente. 

- Quem era essa Alice? - Eu nunca contei nada da minha minha vida para a Bruna, seria impossível ela saber sobre a Alice. Agora que ela não vai me aceitar mesmo, duas irmãs drogadas, uma delas sendo traficante. 

- A Alice era uma das minhas irmãs - olhei para o chão, não com remorso sobre o que eu fiz, jamais, mas com medo da reação da Bruna. A jornalista ficou em silêncio, não sei se ela entendeu o tamanho do buraco onde está se metendo.

- Você tinha duas irmãs então? A Alice que morreu nesta ação e a Roberta, que você tentou matar hoje? - nossa, ficou pior que o esperado essa frase. Parece que sou uma assassina de aluguel ou qualquer coisa desse tipo.

- Exatamente, do jeito que você falou parece que sou assassina de aluguel. A que eu matei e a que eu tentei matar. Bru, já deu essa conversa. Você já estava com medo de mim, depois de saber da minha vida já deve estar com mais medo. Deixa eu ir embora, prometo que não te procuro mais. 

- Chega Flávia - falou um pouco mais firme, quase na postura de editora - eu conheci uma pessoa nessas semanas que estamos juntas, muito diferente do que você está me contando. Conheci uma mulher cuidadosa, carinhosa, que me levou ao aeroporto, comprou café,  me desculpou. Não estou vendo uma assassina de aluguel ou coisa assim, estou vendo alguém que precisa de ajuda, machucada, cheia de culpa. Você não se sente mal por ter baleado sua irmã?

Tentei me manter concentrada, apesar de estar morrendo de medo da Bruna, mesmo ela falando que está tudo bem. 

- Bru, me sinto uma imbecil de não ter atirado nela antes e na cabeça - levantei o rosto e olhei pra Bruna, se ela me quiser mesmo, terá que ser aceitando que eu sou exatamente assim - Hoje a Fabíola poderia estar aqui, foi um erro meu que machucou ela. Eu que fiz isso com ela. Eu estava desatenta, cansada, com a cabeça em outro lugar - as lágrimas voltaram a cair do meu olho. 

- Eu não ouvi em nenhum momento você ter atirado nela, pra mim já me tira a sua culpa. 

- Não é assim Bru, eu me sinto culpada a todo tempo. Meu despreparo, meu envolvimento emocional estragou tudo, machucou ela. 

- Amor, olha pra mim um pouquinho, vem cá - soltou minha mão e apoiou no meu rosto, levantando-o - Você precisa trabalhar isso aí, olha o seu estado. Está afundando em você mesma por culpa, pela sua dor. 

- Humhum - voltei a olhar para baixo, chorando.

- Amor, a Fabi chegou a aguentar a cirurgia? Ou ela faleceu na operação?

Levantei os meus olhos em direção a Bruna, tentei secar algumas lágrimas que ainda escorriam no meu rosto e tentei respirar fundo, mas o ar rasgava o meu peito.

- A situação ficou um pouco mais complexa.  A Fabi entrou em coma vegetativo durante a cirurgia. 

- o que isso quer dizer? 

- Ela não fala, não anda, não se mexe, não responde.

- Não entendi, ela ta viva?

- Eu não a considero mais viva. Mas formalmente está viva. Ela está em um hospital conveniado à polícia civil, recebendo cuidados. 

- Meu Deus Flávia. Tem alguma expectativa de melhorar, retornar?

- Não sabemos Bru. O médico me explicou que o cérebro dela desligou durante a cirurgia, pode ter sido um trombo ou medicação. Ou pode simplesmente ter desligado. A expectativa era que voltasse depois que a condição física estabilizasse, quando o corpo melhorasse, o cérebro voltava. Mas já faz 3 anos e não houve nenhuma melhora. 

- Mas ela está ligada a aparelhos? Depois desse tempo todo, não dá para desligar os aparelhos ou alguma coisa nesse sentido? 

- Eu não sou nada dela legalmente, não sou esposa, não sou familiar. Portanto não posso desligar ou ligar nada. A mãe dela não aceita o desligamento dos aparelhos, então ela ainda está viva. Na verdade não é nem viva por aparelhos, é só viva. No final tenho que esperar ela desligar sozinha, o corpo dela cansar. 

- Mas o tempo que vocês viveram juntas não vale de nada? A mãe dela não te considera nada?

- A dona Arminda respeitava a gente, só isso. Eu não tenho uma união estável, nem nenhum documento afirmando meu poder legal pela Fabíola. Nem visitar ela eu consigo, estou judicialmente proibida de chegar a menos de  50 metros dela, nem no hospital eu posso entrar. 

- Porque? A mãe dela te proibiu?

- No começo de tudo, eu tinha a expectativa dela melhorar, ligar de novo. Acreditava nisso. Mas conforme o tempo foi passando, eu fui  começando a perder as esperanças, mais e mais. Um dia fui visitar a Fabi, ela tinha começado a fazer escaras, por não se mexer. E eu não podia fazer nada. Já tinha conversado com a dona Arminda e o Sr Luiz sobre desligar os aparelhos, já tinha pedido muito, já tinha implorado, mas sem sucesso. Nesse dia eu decidi que eu mesma tomaria uma atitude. Eu e ela já tínhamos conversado sobre medidas extremas e ela era contra. Eu tinha uma obrigação com a Fabi. Comecei a estudar por conta e descobri que uma dose cavalar de morfina mataria ela. E eu acabaria com aquele sofrimento todo. 

- Você teria coragem Flávia?

- Esse é um dos meus piores erros, não ter conseguido executar. A Roberta, a que você conheceu hoje, descobriu meu estoque de morfina. Um dia cheguei em casa e absolutamente todos os frascos tinham sumido. Eu na hora sabia que tinha sido ela, tinha dado tanto trabalho conseguir cada frasco. 

- Ela usou?

- Não faço ideia. Alguns devem ter usado e outros deve ter vendido. Eu fiquei acabada, destruída. Eu teria que arrumar outra forma de ajudar a Fabi. Fui visitá-la normalmente, como fazia três vezes na semana. Quando cheguei lá, o segurança não deixou eu nem entrar no hospital. Da porta mesmo eu fui expulsa. 

- Porque?

- A dona Arminda, mãe da Fabíola, soube das morfinas e pediu uma ordem de restrição. Hoje não posso chegar a menos de 50 metros dela, nem entrar no hospital na verdade. 

A Bruna estava atenta e atonica com o meu relato. E não é para menos, eu machuquei a mulher que eu amo, causei tanta dor a ela, tanto sofrimento. Não sou digna de nenhum perdão. 

- Não tô acreditando nessa história Flávia. Isso fez eu entender melhor você. Você se sente traindo ela? 

 - No começo sim. Fiquei dois anos sem olhar pra outra mulher ou chegar perto de alguém. Depois quando comecei a beijar, sair, eu me sentia a pior pessoa. Me sentia traindo, abandonando nossa história, nosso amor. Hoje eu só tento seguir em frente, mas não deixa de ser bem difícil. 

A Bruna me olhou com calma, mas não com dó como a maioria das pessoas me olha quando eu conto, ela me olhou diferente. Um olhar de admiração, de desejo, um olhar brilhoso, vistoso. Abriu um sorriso leve, testando o espaço que tinha, testando onde poderia pisar. Passou o braço por trás de mim e me puxou para o corpo pequeno dela. Me puxou tão perto do peito que eu podia ouvir o coração dela pulsando.      

           

  




            



        



Fim do capítulo


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Comentários para 26 - Capitulo 26:
mtereza
mtereza

Em: 09/09/2023

Nossa por essa eu não esperava que barra essa vida da Flávia tomara que a Bruna realmente entenda agora e respeite , tenha paciência e cuide dela.

Responder

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jake
jake

Em: 09/09/2023

Que cap pesado.Poxa Nath amo essa história queria q postasse com mais frequência vai por favor....

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tainateixeira
tainateixeira

Em: 09/09/2023

Nossa que capitulo pesado. Entendo a culpa da Flavia, é uma situação muito complexa e dolorosa. Imagina ter alguém que ama nessa situação e agora estar tentando seguir a vida. 

DIFÍCIL!!

 

Escritora, posta mais pelo amor… Leria mais uns 10 capítulos, tranquilamente!!

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 07/09/2023

Esse foi tenso, a culpa não foi sua a sua irmã atirou de sacanagem pra te ferrar mesmo Flávia.

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