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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 3902
Acessos: 977   |  Postado em: 14/08/2023

Capitulo 25

Capitulo 25 - Bruna


       Quando eu saí da casa em direção a festa, a Flávia estava sentada, com um pratinho de plástico com comida e um copinho de plástico na outra. Eu olhei pra ela tentando estar mais aberta as variáveis, as nossas diferenças, apesar de eu não estar ainda estável com a situação. A Flávia estava com uma expressão de exaustão que eu ainda não tinha visto nela. Fui em sua direção, ela se manteve sentada, apenas parou de comer e me acompanhou com o olhar. Passei meus braços pelo ombro dela e a abracei. Seu corpo estava quente como febre. 

         - Flavinha, vai comigo pegar comida? - pedi calmamente. Ela olhou pra mim, mantendo a expressão exausta, mas abriu um leve sorriso. 

         - Claro. Vem comigo - ela pegou o prato dela que ainda tinha comida, mas seguiu em direção a mesa de cavaletes. Não trocamos palavras no caminho - Aqui tem arroz, nesse tem feijão com as carnes da feijoada. Ali naquela vasilha tem vinagrete com pimenta e aqui a sem pimenta. Fica a vontade - Ela esticou o braço e foi pegando mais um pouco de cada panela. Eu não estava com a sensação de nojo, mas tentei olhar a importância daquela comida para a Flávia, o que a festa dos avós, mesmo simples, significa pra ela. Coloquei um pouquinho de cada coisa no prato de plástico, sempre sob um olhar cuidadoso dela. Segui em direção a mesa. - Quer mais uma cerveja Bruna? 

          - Aceito - ela estava com uma expressão de derrota, como se sua vida tivesse se exaurindo. E eu sei que tenho boa culpa nisso, não facilitei o dia dela, fui preconceituoso, negligente. Ela deixou o pratinho na mesa e foi buscar a bebida, quando voltou, passou e lavou como das outras vezes, me entregou e sentou - obrigada meu amor - passei a mão no rosto dela, fazendo um carinho delicado, sorri com calma, tentando passar que estava tudo bem, mas sei que não está. 

          Ela se manteve na mesa, conversando com todos, mas bem mais quieta que o habitual. Depois de uns 40 minutos levantou e ajudou a desmontar a mesa de comida, limpou a tábua sobre os cavaletes e com a ajuda de um primo trouxe um bolo. As tias dela colocaram brigadeiro e uns outros docinhos ao lado, decorando o espaço. Um tempinho depois a vó dela ficou atrás do bolo e pela primeira vez eu vi o avô da Flávia, um senhor negro, alto, que apesar da idade avançada era bem robusto. Entendi de onde veio as características físicas dela, a altura e a cor da pele. E aparentemente o carisma pegador também, porque mesmo idoso, ele tinha um charme considerável. 

         A família toda foi se revezando para tirar foto com o casal idoso atrás do bolo, em pequenos blocos iam se juntando à imagem. A mãe da Flávia e a Roberta foram juntas tirar foto, mas a policial se recusou, não que tivessem convidado ela. Tirou foto sozinha, entre os avós.  Foi nítido como seu olhar se alegrou um pouco, mostrando sua verdadeira família, base de companheirismo. O senhor deu um abraço nela, cheio de carinho, seguido de um beijo na testa. Eu vi aquela cena e tive, não sei se inveja, mas uma sensação de falta, de que nunca tive esse amor ou carinho de avós. Na verdade nem dos pais, tive um pouco da tia Márcia e da tia Carmem, mas da minha própria família não. 

           Ela, depois de tirar foto com os avós esticou o braço, me chamando para ir atras do bolo, isso me causou um misto de sensações estranhas. Não faço parte daquele grupo de pessoas, muito menos desse nível social, mas ela me chamou para fazer parte daqui. Eu me aproximei da mesa de bolo após o convite dela. O avô abriu um espaço, para eu ficar entre ele e a Flávia. Me posicionei ali e quase em automático recebi um beijo na cabeça que ele me deu. A policial abriu um sorriso olhando para a situação, como se isso lhe agradasse, mas o olhar ainda estava cansado e decepcionado.

         Aquele grupo de pessoas que a Flávia me apresentou realmente são um conjunto de apoio, uma rede entrelaçada e conectada. Um conglomerado de sentimentos e ações que dão liga a ela, que ela pode contar. Claro que não todos, mas alguns são essa base. Os dois idosos estavam adorando a comemoração, conquistar 50 anos de casados não é pra qualquer um, então deve mesmo ser comemorado. 

         

         - Bruna, partiu? Aqui já acabou, agora é só eles finalizarem as coisas, mas já posso te levar pra casa. Tudo bem? - a Flávia me perguntou quando a festa já tinha nitidamente acabado, ela ajudou a recolher o bolo, recolheu o grosso do lixo e algumas cadeiras. Ela me perguntou isso quase sem olhar pra mim, mantendo a expressão de cansaço, quase que de derrota.

         - Sim, quando quiser ir - Ela concordou com o rosto e esticou a mão para que eu a acompanhasse. Passamos pelas tias delas nos despedindo e depois pelos avós. A dona Ondila, avó da Flávia me deu mais um abraço gostoso e familiar e mais uma vez conversou com a policial: 

         - Estou muito feliz por você, minha filha, aproveita a vida. Não pode mais ficar se escondendo não. 

          Depois de nos despedirmos de todos aí na casa, tirando a mãe dela, seguimos em direção ao portão, passando novamente pelo corredor. Atravessamos a rua em direção ao carro, a Flávia apitou o alarme e entramos. Eu coloquei o cinto de segurança e tomei um susto. Uma mulher pulou na janela do carro, do lado dela, acho que é a irmã dela, a Roberta. Falou baixo, mas num tom de voz que eu ouvi nitidamente: 

          - Gostosa a nova vagabunda que você arrumou. Vai matar ela também? - a mão da Flávia foi uma em direção ao pescoço da Roberta e a outra pra lateral do banco, imagino que procurando a arma dela. A mão que foi na Roberta não deu espaço, foi firme. Eu na hora sem nem soltar o meu cinto de segurança, passei a mão pelo ombro da Flávia pelo ombro, tentando segura-la, mas força dela era imensa, o ombro estava tenso, rígido. Era possível ouvir o ranger dos dentes dela. 

          - Solta ela Flávia, solta ela! Chega! - a Roberta não conseguia falar, estava nítido que estava começando a faltar o ar. Já a Flávia nem parecia estar ali naquele corpo, ela estava com o braço esticado, apertando o pescoço dela sem nem cansar. A outra mão estava esticada na lateral do banco, tateando, batendo, como se procurasse ainda a arma. Eu soltei o meu cinto de segurança, o mais rápido que consegui, e me aproximei dela, passei meu braço por baixo do dela, enlacei minha mão. Ela estava gelada, rígida. Abracei ela pelo ombro. Voltou a piscar pelo menos. - Solta ela meu amor. Ela não importa. Eu estou com você, olha pra mim Flavinha, olha pra mim - depois de alguns segundos ela me olhou, mas ainda não havia soltado a  Roberta - Estou aqui meu amor, me deixa te ajudar - falei com muita calma, mas a cada piscadinha de olho que ela dava, pude sentir que ela estava voltando - Solta ela Flávia, por mim, solta. Estou aqui, eu não vou embora - falei isso com o rosto encostado nela, na orelha dela, com uma calma e capacidade emocional que nunca imaginei ter. Encostei meu lábio no pescoço dela e foi como se ela tivesse reiniciado. A Flávia respirou fundo em um suspiro, chegando a engasgar. Olhou para a Roberta, do lado de fora do carro, já com os olhos vermelhos pela falta de ar, e soltou. Só soltou. Não houve mais palavras ou qualquer coisa, apenas soltou. A Flávia ainda estava mecanizada, virou o rosto para frente. Eu estava respirando acelerada, sem entender o que aconteceu, ainda abraçada nela. Da mesma forma como ela agarrou a Roberta de forma robótica, foi como começou a dirigir.

          Olhou pra mim e só falou: senta direito. Eu me reposicionei no banco, sem falar nada, sem questionar. Ela não dirigiu acelerado não, acho que eu não situação dela teria estourado todos os faróis. A Flávia dirigiu normal, passando por cada pequena viela da favela, até seguirmos até a avenida principal, não acelerou, não fez nenhuma manobra ousada, apenas foi. Não houve nenhuma palavra. Eu fiquei o tempo todo olhando pra ela, preocupada e digamos que até assustada, foi uma Flávia que eu não conheço, agressiva, fora de si, bem longe daquele sorriso fofo dela ou até mesmo da menina que não brigou por eu ter dormido com a Milena. Fiquei assustada, me perguntando o que mais pode sair dela, qual surpresa posso ter ainda. 

            Seguimos em direção a Santana, pegando algumas avenidas importantes. No primeiro posto de gasolina da avenida Inajar ela encostou o carro. Me mantive em silêncio, achei estranho porque o carro está abastecido. Posicionou o carro na lateral do posto e desceu rápido, sem falar absolutamente nada. Parou atrás do pajero, eu olhei pelo retrovisor e ouvi, em seguida, barulho de vômito. Soltei meu cinto e desci do carro, olhei rapidamente e vi que estava mesmo vomitando. Corri na loja de conveniência, que por sorte estava aberta, e peguei uma água com gás. Voltei correndo, ela estava encostada na lateral do carro, agachada, esperando o mal estar melhorar um pouquinho. 

           - Pega a água Flávia - ela me olhou sacudindo  a cabeça e não querendo. Sei que preciso ser firme com ela - Agora. Vem, levanta - estiquei a mão pra ela, a Flávia segurou minha mão e usou para levantar. Ela não me olhava, não sei se por vergonha, por raiva, não sei ainda. Quando levantou, ficou branca, a pressão deve ter caído. Encostou na lateral do carro e pegou a minha água. Fiquei ao lado apenas observando, dando o espaço físico e emocional que ela precisa. Abriu a garrafa, sem espirrar, colocou um golinho na boca e logo jogou fora, lavando. Depois bebeu um pequeno gole, deixou a água descendo pela garganta e respirou fundo. Eu me mantive observando, apenas monitorando. Ela jogou um pouquinho da água na mão e passou na nuca e depois no rosto. Continuou sem olhar pra mim, fechou a garrafa e me entregou. 

         - Entra no carro Bruna , tô bem já - olhando para o chão. 

         - Me da a chave, eu levo o carro.  

         - Não, eu tô bem. Entra no carro.

         - Tem certeza que está bem? Olha pra mim Flávia. 

         - Eu tô bem! 

         - Então olha pra mim - ela foi em direção a porta do passageiro e abriu, eu não provoquei mais, entrei no carro. Ela não olhou pra mim. Fechou a porta e foi em direção a porta do motorista, entrou, ligou o carro e seguiu. Dirigiu em silêncio, sem olhar pra mim. Coloquei minha mão na sua perna, eu queria dar algum carinho, saber como ela está. A Flávia não tirou minha mão da coxa dela, mas não respondeu com o carinho que sempre faz ou com o sorriso que sempre tem. A viagem da volta não teve música, não teve conversa, apenas um silêncio que gritava. 


            - Em que vaga quer que coloque o carro Bruna? - ela falou, pela primeira vez desde que entramos no carro, em um tom de voz que dava para sentir a exaustão dela. 

            - Coloca naquela vaga lateral de sempre - ela voltou a manobrar o carro. Quando finalmente encaixou na vaga, parou em frente com as mãos ao volante e respirou fundo. Puxou um ar que não tinha mais, uma, duas, três vezes - Vêm Flávia, vamos subir pra casa. 

           - Não - falou pra dentro. 

           - Ah, vai sim. Porque não vai dirigir a moto nesse estado - ela não respondeu verbalmente, mas sacudiu a cabeça lateralmente, fazendo um não com os movimentos. Soltei meu cinto e me aproximei dela, puxando seu rosto para eu olhar em seus olhos - vem, vamos subir. 

           - Eu não vou subir Bruna. Você detestou tudo hoje e depois do que aconteceu com a Roberta, você nunca mais vai querer me ver. Eu vou embora daqui mesmo - falou em um jato, quase um vômito e voltou a olhar para o chão, respirando fundo. Fiquei em silêncio, ela não está errada, eu não ajudei em absolutamente nada, pelo contrário, causei.

           - Eu sei que não fui uma boa pessoa hoje Flávia . Mas vamos conversar. Não quero você dirigindo desse jeito.

            - Eu tô cansada Bruna, eu não aguento mais, não quero mais - falou baixinho, pra dentro, com uma voz molhada e seu corpo pulou com o início do choro. Ela continuou com a cabeça abaixada, mas nitidamente chorando. Tive uma sensação tão ruim quando vi isso, uma sensação de culpa, de que eu causei isso. Não sei o que fazer com ela, não sei abraço, se faço cafuné, se choro junto. Passei meu braço pelo ombro dela e coloquei a mão no pescoço, trazendo ela pra perto de mim. A Flávia estava chorando tão sentido, que eu achei que ela fosse passar mal. Depois de alguns segundos completamente tensa, ela soltou o corpo e deixou a cabeça repousar no meu ombro, toda torta no carro, mas chorando copiosamente.

- Flávia, vai travar suas costas. Vem, vamos subir - ela levantou o rosto por um segundo, me olhando, seus olhos estavam vermelhos e seu rosto molhado. Seu olhar era de dor, não física, mas nitidamente emocional.

- Não vou subir Bruna, quero ficar quietinha, não quero brigar mais hoje. Quero um banho e dormir, de preferência nunca mais acordar.

- Você vai subir Flávia, não estou te dando opção de subir ou não. Se permita ser cuidada - soltei o meu cinto de segurança e desci do carro - Prometo que não vamos brigar, não quero você dirigindo nesse estado. Vai subir e ponto - não elevei o tom de voz, mas falei firme. A Flávia é um bebezão que às vezes precisa de pulso firme. Ela aceitou subir para o apartamento, eu não tenho ideia do que fazer com ela, na verdade nunca cuidei de alguém quebrada emocionalmente, cuidar talvez nem seja o termo adequado. Ela desceu do carro cabisbaixa, secando as lágrimas, segurei sua mão, mesmo sem resposta dela. Seu corpo se mantinha quente, febril. 

Assim que entramos no elevador eu puxei ela pra mim e a abracei, sua primeira reação foi respirar forte, como se lhe faltasse o ar da vida toda, como se meu cheiro a acalmasse. Ficamos ali quietinhas abraçadas até o andar do meu apartamento. Nos soltamos e abri a porta de casa. Meu pequenininho nem olhou pra mim, foi direto para a Flávia, pulando nela como se não houvesse amanhã, achei bonito. Ela seguiu andando até o tapetinho dele e lá fez carinho, também como se não houvesse amanhã. Deixei os dois lindões se amando e fui em direção a cozinha. Ainda tinha vinho, então enchi uma taça e virei, quase que em um gole só, não só porque o dia foi horrível, mas pelo que pode acontecer ainda hoje. 

- Flávia, quer uma água? - Ofereci água, já que não consome nada alcoólico, mas a resposta dela foi que não queria nada. Enchi mais uma taça e segui de volta para a sala. Tirei meu sapato e a blusa de frio, olhei pra ela, o que faremos? Sua resposta foi indiretamente “agora não”, seus olhos voltaram a encher de lágrima e ela olhou para o chão mais uma vez - Vou colocar um filme, vem aqui, deita aqui do meu lado, vem.  

          Deitei no sofá e ela logo veio atrás, diferente do habitual que ela me abraça, dessa vez a Flávia deitou no meu colo, não em posição fetal, mas encolhidinha, como se estivesse com frio. Passei meu braço por ela, nos acertando no espaço. Puxei o elástico que prendia seu cabelo, soltando-o e comecei a fazer cafuné na orelha, depois pelo cabelo. Primeiro ela ficou quietinha, respirando devagar, mas algum tempo depois voltou a soluçar, chorando. Não quero forçar ela, mas fica difícil, não sei como ajudar. Quando percebi ela pegou no sono, dormindo encolhida no meu colo, recebendo o meu cafuné. 


O tempo que dormiu foi proporcional a sua exaustão, quando acordou, eu já estava há um bom tempo trabalhando no computador. Terminando o texto do restaurante Vietnamita e já tinha atualizado o esboço de repaginação do jornal de São Francisco. Ela acordou atordoada, como se não entendesse onde estava. Levantou e foi direto ao banheiro, retornando com o cabelo penteado e o rosto lavado. Me olhou lá da ponta da sala, procurando em mim alguma informação sobre como eu estava. 

- Tudo bem Flávia? - ela só acenou a cabeça para cima e para baixo, em exclamação, mas mantendo a base envergonhada - Podemos conversar agora?

- Não tem o que conversar Bruna. Minha bolsa está aí? Já vou embora. - levantei de trás da escrivaninha, ficando em pé olhando para ela 

- Sua bolsa ficou no carro. Tem muita coisa para conversar. Senta aí Flávia, por favor. 

- Não precisamos disso, Bru, eu estou indo. Não quero essa situação constrangedora entre a gente. Só vou embora, a gente finge que nunca se viu e está certo. Sem ressentimento.  

- Não vou te forçar a falar, mas se você for embora não precisa nem se dar ao trabalho de voltar. - Falei firme e séria, não tenho tempo para ser babá. Ela levantou o rosto, com uma expressão de surpresa e de exaustão, mas desarmada. Me aproximei da Flávia, sem tocar, com as duas ainda em pé na sala de casa - Agora sim. Podemos conversar?

- Falar o que Bruna? Você detestou cada segundo, estava com nojo da comida, olhou todo mundo de cima, entrou em pânico com o lugar. Não tem o que falar - ela não gritou, falou ríspida, mas plena. 

- Senta, por favor - tentei acalmar, ela sentou no sofá e dobrou a perna sobre o joelho, daquele jeito firme que eu adoro. Mas nesse contexto não foi tão positivo assim.

- Pronto. 

- Eu não estava com nojo da comida. 

- Não, então o nojo era de qualquer coisa que eu te desse. Bruna, eu sei que temos uma diferença social importante, você já havia deixado isso bem claro. Mas nunca imaginei que fosse a ponto do que aconteceu hoje. 

- Eu..

- Deixa eu terminar de falar. Você ficou com cara de nojo o tempo todo, não gostou do lugar, fez todo mundo ficar desconfortável. O erro é meu, eu já tinha entendido isso, mas queria tentar. Ainda mais depois de eu ter destravado um pouco, ter conseguido namorar.

- Você está certa. Em tudo o que você falou Flávia.

- Hum.

- Eu cheguei na festa de um jeito e saí de lá de outro, completamente diferente. 

- Nossa, eu não percebi nada disso - respondeu ironicamente.

- Claro que não iria perceber, estava tentando matar sua irmã - ela olhou para o chão tão quebrada que eu não deveria ter falado nada. A expressão que ela estava se perdeu, por completo. A sensação que tive é que ela se amassou em uma bolinha de papel e se perdeu dentro dela mesma. Respirei fundo, cacete eu só faço merd* também. - Desculpa Flávia.

           Ela levantou do sofá em automático e foi em direção a porta. Eu levantei mais rápido ainda e segurei ela pelas mãos. Ela estava tão envergonhada, triste. Puxei ela devagar para o sofá novamente. Ela sentou, sem conseguir olhar pra mim, falou com a voz abafada e olhando para o chão.

- Eu entrei em um transe, num surto que eu só sai quando você me abraçou e me tirou de lá. Eu teria matado ela, eu acho - sua voz era trêmula, fina, baixa. 

- Porque você fez aquilo com ela? - me aproximei mais dela, estiquei minha mão e levantei o queixo dela - olha pra mim amor. 

- Não sei Bru, talvez ela só tenha provocado a pessoa certa no dia errado. Bruna, eu sempre achei que você iria me mandar embora depois de conhecer a minha família, conhecer de onde eu vim. Vou entender se pararmos por aqui Bruna. Sério. Não quero que você se encaixe no meu quadrado, tá tudo bem. Você e eu somos muito diferentes, já entendi isso. Está tudo bem.

- Chega Flávia. Eu consegui ver você pela primeira vez. Segunda na verdade, porque ontem você dançando e depois a gente na cama eu te conheci um pouquinho. Eu realmente fiquei perdida quando você foi entrando na favela, sua tia me deu café no copo de milho, você colocou as panelas na mesa improvisada. Eu estava bem desconfortável.

- Eu sei, todo mundo sentiu na verdade.

- Eu não estava olhando as coisas certas. Fui pra lá tão tensa com o que poderia acontecer e ser, que nem olhei para a mulher que me levou lá. Pras suas conquistas. 

           - Não muda o modo como agiu - o tom de voz mostrou o quanto ela ficou machucada e chatiada.

           - Eu sei Flávia. Vou ter que enfrentar isso depois com a sua família, assim como preciso ir mais vezes lá. Quanto mais eu for, mais natural e estável vai ser. Lá tem amor, carinho, família. Muita coisa que eu desconheço. Talvez eu tenha travado por isso também. Não sei o que é um abraço de saudade de uma avó. 

           - Tá bom, ok. O que fez você mudar do nada, se é que isso aconteceu? 

         - Pega leve comigo Flávia . Eu sei que estou errada, e pedir desculpas não muda a merd* que fiz hoje. A tia Márcia conversou comigo lá na sua avó. Na verdade acho que se ela pudesse me sentava a mão. Você é uma mulher incrível, cresceu em um lugar que não te deu base, fez por onde não seguir a boiada, é espontânea, firme, conquistou o que quis. 

              - Tá aí um erro seu. Toda a merd* que eu vivi, minhas irmãs drogadas, meu genitor ausente, me deram uma base sim. A base para eu ser melhor, ser diferente. Não por eles, mas porque eu tive ajuda, tive as pessoas certas ao meu lado. Eu sou uma pessoa que preciso agradecer a cada projeto social que eu tive, a cada ponto extra por cota. Sem esse tipo de apoio eu não estaria nem aqui. Isso eu não posso mudar, nem quero mudar. Essa sou eu. 

             - Eu sei amor e meu erro foi não ter visto a mulher forte que você é. Imaturidade minha. 

          - Imaturidade ou não, nossas discrepâncias sociais são muito relevantes Bruna. Se você não começar a respeitar isso, eu não vou ter mais por que tentar. Eu estou quebrada, tentando me recuperar de algo muito doloroso. Você é a primeira pessoa que consegui ter algo mais sério depois da Fabi. Se você realmente quiser me conhecer, tentar algo de verdade, tem que entender meu lado. 

          - Só vou poder te entender se você me contar. Se você se abrir e me falar o que aconteceu com você. Porque sua irmã perguntou se você também iria me matar? Preciso saber todas as cartas Flávia, todas as regras do jogo.

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 25 - Capitulo 25:
mtereza
mtereza

Em: 28/08/2023

Amando a sua historia você escreve muito bem, descobri no sábado e praticamente decorei esse final de semana parabéns !  Quanto a historiab tive raiva da Bruna esse capitulo mais depois entendi um pouco o elitimos esnobe dela , considerando o mundo que ele vive e as refrencias ainda bem que tia Márcia deu uma belab sacudida nela e ela parece ter absorvido , também espero que a Flávia consiga finalmente se abrir e elas dêem e elas consigam passar a outro patamar no relacionamento a tia Márcia tem toda razão elas tem muito a dar uma outra  para aprenderem, errarem e crescerem juntas basta se permitem bjs ansiosa pela continuidade da história .

 

 

 

 

 

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 14/08/2023

A hora chegou Flávia tem que pôr tudo na mesa e esclarecer as dúvidas da Bruna.


Bruna tu foi super patricinha agora vai ter que provar que é merecedora da confiança da Flávia.

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