MARI e ANA por MahLemes
Capitulo 40 - Resoluções
Entrei no carro e fiquei encarando minha conversa com a Márcia. Não sabia se mandava mensagem ou se simplesmente aparecia na casa dela. De qualquer forma precisava de um banho, então decidi ir para casa e resolver isso mais tarde.
-Ué, minha filha, voltou pro Judô? -Meu pai perguntou quando cheguei de quimono em casa.
-Pois é, pai. Senti que precisava hoje e fui lá do nada. O sensei me arrumou esse aqui pra eu treinar porque não tinha nem roupa de academia comigo.
-Que bom, minha filha. Exercício faz muito bem quando a gente usa muito a cabeça igual você na faculdade. -Minha mãe entrou na conversa vindo do quarto.
-Mas foi só hoje ou vai voltar mesmo?
-Vou voltar. Ainda não tinha percebido quanta falta me fazia. Ir lá hoje me fez muito bem.
-Amanhã eu passo lá pra ver como estão as mensalidades.
-Não precisa, pai, pode deixar que o dia que eu for lá eu mesma vejo e te falo. Mas se eu for continuar nesse horário acho que o sensei nem vai cobrar. Eu acabei ajudando-o com uma turma de iniciantes. É bom pra eu voltar à forma também. Quando eu for treinar com os mais avançados aí sim ele deve cobrar. Mas eu vejo certinho e te aviso.
-Melhor então, minha filha.
-Agora eu preciso de um banho e depois comer alguma coisa. Não lembrava quanta fome treinar dava.
-Sandra, vou correr no supermercado então porque o dragão voltou. -Meu pai disse e saiu correndo para eu não bater nele. Essa era uma piada interna de quando eu treinava. Em época de competição eu comia muito, porque treinava muito e não podia perder massa, então eles falavam que eu tinha um apetite de dragão e falavam que não sobrava comida pra eles em casa.
-Olha quem tá falando. Deve ter engordado uns dez quilos nesse último ano, seu Joaquim. Quem tá precisando fazer exercício e dieta é o senhor. -Minha mãe disse me defendendo.
-Isso mesmo, mãe, me defende do papai. -Respondi entrando no banheiro.
-Quer um misto com suco de laranja, Mari?
-Quero sim, mãe!
-Eu também! -Meu pai gritou da sala.
-Viu? Eu falei. Tem uma hora que ele tomou café da tarde. -Minha mãe cochichou pra mim. -Só se for me ajudar com o suco. -Ela respondeu pra ele.
-Pode deixar que eu cuido do suco e você faz os lanches.
-E como vai a faculdade, minha filha? -Meu pai perguntou quando já estávamos sentados na mesa comendo.
-Vai bem, pai. Um pouco puxado, mas era de se esperar, né?
-Com certeza. Você está numa das melhores faculdades do país. Era de se esperar que fosse puxado mesmo. Mas você tá tendo dificuldade com as matérias?
-Não não, só é muita coisa mesmo. Isso deixa a gente meio doida, né? Parece que não cabe mais nada no cérebro.
-Lembro bem como é. -Minha mãe disse com o rosto pensativo.
-E como foi pra vocês a faculdade?
-Pra mim foi muito puxado, afinal eu estudava noturno e trabalhava durante o dia, né? Aí só tinha fim de semana pra estudar ou então a madrugada. Minha faculdade não era tão puxada, mas por não ter muito tempo pra estudar ficava um pouco mais difícil. -Minha mãe disse.
-A minha já foi diferente. Eu consegui fazer faculdade sem trabalhar, então eu me enfiav* em tudo quanto era coisa extra, eu queria estar em tudo, então no fim do semestre eu estava sempre um bagaço de gente, sem energia pra nada. Mas no fim deu certo.
-E o que você tá achando do curso? Tem alguma matéria que tá gostando mais esse semestre? Me lembro que no início do meu curso eram umas matérias genéricas que nada tinham a ver com o que eu queria. Quase desisti, mas ainda bem que insisti, porque depois do primeiro ano começaram a vir as mais específicas e aí me identifiquei.
-Tem umas duas que eu to achando mais interessantes, mas ainda tá cedo, foram só três semanas de aula, né? Gente, a conversa tá boa, mas eu preciso ir lá na Márcia. -Disse me levantando da mesa.
-Tá bom, minha filha, vai com Deus.
-Amém, mãe. Tchau, pai.
-Tchau, Mari, com Deus.
Resolvi não mandar mensagem e simplesmente aparecer lá. Se ela não estivesse, paciência, mas não queria que ela dissesse pra eu não ir. Queria resolver logo tudo de uma vez. Toquei o interfone e logo ela abriu sem nem perguntar quem era. Imaginei que tivesse visto pela câmera.
-Ma? Onde você tá?
-Na sala, Mari. -Ela respondeu com uma voz um pouco fria e que não combinava muito com o tom que ela sempre usava comigo.
Quando cheguei na sala havia uma mulher ruiva sentada no sofá com um braço enfaixado e a Márcia estava de pé atrás de uma poltrona na diagonal do sofá. Alguns álbuns de foto estavam sobre a mesa de centro e ao lado da mulher no sofá. Um deles estava aberto numa foto da Márcia com a ruiva em uma praia. Quando a mulher olhou pra mim até me assustei com os hematomas no seu rosto. Seus olhos estavam roxos, mas um tom que parecia estar diminuindo já.
-Oi. -Eu disse juntando as peças. Aquela era a Jéssica, ex-namorada da Márcia.
-Oi. -Ela respondeu com má vontade e voltou a olhar as fotos.
-Mari, posso falar com você um minutinho? -Márcia disse indicando a sala de TV. Segui para lá sem dizer uma palavra.
-Então aquela é a Jéssica? -Perguntei tentando controlar os ciúmes que estava sentindo.
-É sim. -Ela respondeu de forma fria.
-E ela saiu do hospital pra te fazer uma visita? -Perguntei irônica.
-Ela teve alta ontem e quis vir aqui pra saber se eu não tinha fotos da época que ela ainda não se lembra pra ajudar nas lembranças.
-Então sua ex tá aqui na sua casa com você olhando fotos antigas de vocês? -Perguntei já não conseguindo me segurar muito.
***
Meu telefone vibrou bem na hora que a professora nos dispensou da aula da manhã de terça. Olhei a tela e segui para a sala da Márcia pronta pro embate que sabia que teríamos. Precisava resolver isso logo, não aguentava mais essa tensão entre nós. Respirei fundo na porta da sala e bati. Antes que eu pudesse abrir alguém abriu a porta por dentro e dei de cara com a Sara. Não me deixei intimidar e entrei na sala, me dirigindo diretamente a Márcia.
-Márcia, podemos conversar um minuto a sós? -Perguntei com a voz firme.
-Claro, Mariana. Sara, você pode nos dar licença, por favor? -Márcia disse em sua voz profissional.
-Problemas no paraíso, meninas? -Sara perguntou em tom de deboche e saiu.
-Será que agora a gente pode conversar ou tem mais alguma mulher que vai sair de um armário aqui? Porque sempre que tento falar com você parece que tem alguma ex ou pretendente perto. -Eu disse num tom um pouco mais alto.
-Mariana, para com isso, você não é assim. Vamos resolver isso lá em casa, por favor. Aqui não é lugar. -Márcia respondeu no mesmo tom.
-Se a gente for pra sua casa você vai conseguir me convencer que é tudo coisa da minha cabeça. Você vai usar as suas “armas”. E eu sei que vai me convencer. Aqui ao menos você não vai tentar nada. Vai, me explica por que sua ex tava na sua casa ontem?
-Eu já te disse que ela só precisava de algumas fotos pra ajudar ela a lembrar das coisas. E eu não estava agarrada a ela como você ontem agarrada naquela menina que você disse que não tem nada com ela, né? Eu vi muito bem vocês abraçadinhas na hora do intervalo. Ficar daquele jeito num lugar onde eu podia ver dá mais adrenalina, é? Porque se não for isso não faz sentido, porque tava na cara que eu ia ver vocês uma hora.
-Eu não tenho nada com ela. Eu já te disse mil vezes isso.
-E eu já te disse mil vezes que eu não tenho nada com a minha ex!
-Mas ela te quer. Você não viu o ódio dela quando eu cheguei? Você nem se dignou a me apresentar a ela.
-Quer saber? Chega. Não preciso ficar aguentando ataque de ciúmes de adolescente não. Pra mim chega. Não quero mais saber de nós. Não tem mais nós.
-Eu é que não quero saber de mulher que fica querendo ex que te traiu. Pra mim isso é sinal de fraqueza. Tchau!
Disse isso e saí batendo a porta. Pude ver que Sara estava sentada bem ao lado da porta e deu um sorrisinho quando eu saí de lá. Segui direto pro meu carro. Meu coração batia acelerado e dolorido. Dizer e ouvir aquelas coisas não havia sido fácil. As lágrimas escorriam. Eu tinha que sair dali.
Fim do capítulo
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