Capitulo 15 - Sophia
Sophia
Nem preciso dizer que passar o fim de semana na casa da praia sem avisar gerou certa...confusão em casa. Minha mãe achou que eu tinha desaparecido na sexta-feira e já ia acionar a polícia no sábado, quando eu telefonei falando que tudo estava bem. Claro que levei uma bronca absurda, mas precisava daquele tempo só meu. Pedro também ficou preocupado, mas conhecia esse meu jeito e aceitava.
Quando retornei, já era segunda de manhã, então passei em casa rapidamente e fui à faculdade. Porém, não conseguiria prestar atenção em nenhuma aula hoje, muito menos sabendo que uma delas era a de Marcela. Decidi, então, ficar no terraço, evitando encontrá-la até que eu tivesse estrutura para encará-la sem desejar tê-la em meus braços. Fiquei por lá algumas horas, distraída. Às vezes, lágrimas teimavam em cair, mas eu me recuperava aos poucos. Quando senti que estava quase aceitando que aquilo foi só um erro, resolvi ir embora. Ao ajeitar os bancos, percebi um papel que antes não estava ali. Curiosa, abri. A letra dela era inconfundível. Marcela havia escrito o trecho de uma música:
Não volte pra casa meu amor que a casa é triste
Vá voar com o vento que só lá você existe
Não esqueça que eu não sei mais nada
Nada de você
Não me espere porque eu não volto logo
Não nade porque eu me afogo
Não voe porque eu caio do ar
Não sei flutuar nas nuvens como você
Você não vai entender
Que eu não sei voar
Eu não sei mais nada
(Canção pra não voltar – A Banda mais Bonita da Cidade)
Não preciso dizer que, enquanto lia, as lágrimas que segurei o dia inteiro encharcavam o papel. Entendia seu ponto de vista, mas não aceitava. Ela tentava me afastar ao mesmo tempo em que demonstrava um carinho e um cuidado absurdos comigo. E eu só desejava abraçá-la...olhar em seus olhos e me perder naquele verde misterioso...
Olhei no relógio: seis horas. Provavelmente ela estava fechando o laboratório. Sem pensar, corri até ela. A encontrei guardando alguns instrumentos, sozinha. Quando me viu, se assustou e derrubou um béquer, que se arrebentou no chão.
-Droga! Sophia, você tem algum problema para ir entrando nos lugares sem avisar?- ela disse, pegando alguns cacos do chão. Estava evitando me encarar?
Aproximei-me e abaixei para ajudá-la:
-Desculpa Marcela, é que precisava falar com você.
-Professora Marcela, por favor.
Assim que ela se ergueu, passei a mão por seu rosto, sentindo-a fechar os olhos por alguns segundos. Seu cheiro era inconfundível. Parecia tão entregue que não resisti e me aproximei com a intenção de beijá-la. Assim que ela percebeu, se afastou bruscamente:
-Sophia, você é louca? O bilhete não foi o suficiente para você perceber que tudo aquilo foi um desvio, um erro que jamais poderá se repetir?
-Posso ser louca sim, professora. Mas pelo menos sou sincera, ao contrário de você.
- O que está querendo dizer com isso?
-Quero dizer que você fica tentando negar que uma menininha te faz sentir mais coisas do que qualquer homem já conseguiu.
Vi que ela ficou um pouco perdida com as minhas últimas palavras, mas logo se recuperou:
-O quê? Você...você não sabe o que fala! Além disso, é muito pretensiosa em achar que é tão boa assim. Não posso negar que o sex* com você tenha sido legal, mas acabou. Eu experimentei o que queria para, logo depois, perceber que não valia a pena colocar minha relação com o Marcos em risco por tão pouco.
Aquelas palavras foram um golpe que eu não esperava. Seria melhor se eu tivesse levado um soco, mas tentei manter a postura, enquanto ela continuava falando, sem me encarar:
-Aliás, você se diz tão sincera, mas não hesitou em ir para a cama com uma mulher, mesmo sabendo que tem um namorado super apaixonado por você.
Apesar de tudo, sabia que, nisso, ela tinha razão. Respondi:
-Pois é, traí meu namorado pela primeira vez, porque conheci uma mulher que parecia ser diferente de todos, alguém que eu julgava incrível e por quem eu me apaixonei rapidamente. Estava disposta a terminar com o Pedro, se essa pessoa me desse uma chance, mesmo sabendo de todas as dificuldades que enfrentaríamos. Mas então, percebi que ela nunca existiu. Eu criei uma Marcela amável, generosa, linda, inteligente... E agora me deparo com uma mulher fria, falsa, ignorante e covarde. Acabei de levar outro balde de água fria... mas vou me recuperar, professora, e te deixarei em paz. Não se preocupe e seja feliz.
Saí rapidamente e sem olhar para trás. Estava decidida a me distanciar dela ao máximo. Chega de me humilhar por alguém que, na realidade, nunca sentiu mais do que alguma atração por mim. Hoje tudo isso ficou bem claro.
Logo depois, Pedro me ligou para assistirmos um filme em sua casa. Ele era sempre tão fofo e atencioso... Me xinguei mentalmente por ser tão seca... eu não era a mulher que ele merecia... Mas iria me tornar! Saí do campus decidida a construir um futuro com o Pê: nos casaríamos, teríamos filhos e uma vida estável. Parecia lindo e, a cada dia, eu tentava convencer meu coração de que isso era o certo a se fazer.
As semanas se arrastavam, enquanto eu me empenhava em ser uma boa namorada e dar a atenção que o Pedro merecia. As horas com ele eram cada vez mais agradáveis e me faziam esquecer os problemas. Mas, antes de dormir, minha mente ficava repleta de um verde misterioso, desconcertante... E era difícil admitir que, por mais que eu evitasse encontrar Marcela nos corredores da faculdade, ela dominava meus pensamentos e... meus sentimentos ainda eram exclusivamente dela.
Fim do capítulo
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GMS Em: 04/09/2023 Autora da história
Ai Sophia...