Clara estacionou o automóvel na garagem da fazenda e ela e Lena desceram. Na cozinha, Marta já tinha preparado uma farta mesa de café:

— Vocês demoraram…

Marina saiu do escritório assim que ouviu o barulho do motor. Chegou à cozinha a tempo de interromper um possível monólogo da cozinheira. Cumprimentou Lena com um abraço e depois perguntou para Clara:

— Correu tudo bem?

Foi Marina quem a incentivou a alugar a casa na cidade, para que não ficasse fechada, além de ser uma fonte de renda:

— Sim, esta semana mesmo vamos assinar o contrato.

Passou por ela e apertou levemente sua mão quando disse:

— Que bom!

Lena havia combinado de ir até a fazenda rever todos e tomar um café há dias, mas sempre algum imprevisto a impedia. Naquele dia, finalmente, tinha conseguido. Perguntou antes de se sentar à mesa:

— Onde está Alice?

Foi a deixa perfeita para Marta voltar a falar:

— Doutora Alice saiu a cavalo... Falei que ia se atrasar pro café, mas ela não ouviu... Vai chegar aqui e encontrar tudo frio... Aí eu vou ter que voltar com tudo pro fogão pra esquentar... E não é qualquer coisa requentada que presta não...

Rindo da verborragia dela, Clara se sentou ao lado de Lena:

— Ela já deve estar chegando.

Nem cinco minutos depois, ouviram o barulho dos cascos do cavalo se aproximando da cozinha. Depois de lavar as mãos no tanque, Alice entrou com o rosto vermelho e suada, resultado do sol lá fora:

— Desculpem a demora...

Foi até Lena e a cumprimentou, deu um beijo na testa de Clara e se sentou ao lado de Marina, de frente para as outras duas. Como sempre, Marta se recusou a sentar, parecia que perderia anos de vida se sentasse por alguns minutos.

Conversaram entre mordidas e goles no café, até que Marta soltou, demonstrando a felicidade de vê-las reunidas novamente:

— Fico tão satisfeita de ter vocês aqui... As minhas meninas... Ainda bem que você trouxe Sininho de volta, dona Marina... Aposto que ela te vê como uma mãe...

Clara estava com a xícara na boca no momento em que Marta proferiu a última frase. Engasgou com o líquido, iniciando um acesso de tosse. Lena bateu levemente em suas costas tentando ajudar, enquanto fazia um esforço sobre-humano para conter o riso. Marina e Alice se entreolharam, também tentando conter as risadas.  

Estava vermelha quando finalmente conseguiu parar de tossir. Fechou os olhos e balançou a cabeça em sinal de negação, tentando esquecer o que Marta havia dito, pois era completamente repugnante pensar em Marina como uma figura materna.

Levantou-se em busca de um copo d’água para refrescar a garganta. O bebeu em pé, encostada na pia, enquanto olhava as quatro mulheres conversarem. Sorriu ao pensar em tudo que haviam vivido até ali, juntas e separadas, e uma onda de adrenalina percorreu seu corpo, imaginando tudo que ainda viveriam. Por mais que nem sempre a vida fosse como aquele momento bom, e apesar de tudo que já haviam passado, todas elas sobreviveram e, mais do que isso: Viveram e viveriam para escreverem suas histórias.

Fim do capítulo