Capítulo 33
Não teve tempo de pensar. Tampouco sabia se queria, pois racionalmente aquilo era inconcebível. Alice voltou a beijá-la, dessa vez vorazmente. Colou o corpo no de Clara, que não foi capaz de fazer nada além de corresponder. Quando Alice interrompeu o beijo e puxou Marina, que estava parada um pouco mais afastada, Clara sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao vê-las se beijando. Separaram as bocas e as duas a olharam, num movimento que parecia até combinado. Alice se afastou e, com o olhar, fez Marina entender.
Marina se aproximou devagar. Colocou a mão direita na nuca de Clara e, com a esquerda, a puxou pela cintura. As bocas se buscaram e se encaixaram com facilidade. Enfim as duas aceitando e deixando aquele desejo fluir, sem culpa de nenhum dos lados.
Clara sentiu a boca de Marina descer por seu pescoço no mesmo momento em que sentiu Alice colar o corpo em suas costas. Já não distinguia de quem eram as mãos em seu corpo. Fechou os olhos quando Alice afastou seus cabelos e beijou sua nuca. Perdeu completamente a noção do tempo, minutos ou talvez horas haviam se passado com as três ainda de pé, alternando entre beijos e carícias. Sentiu o corpo sendo puxado quando Marina sentou-se na beirada da cama, fazendo com que se sentasse em seu colo, de costas para ela. Alice permaneceu de pé, se encaixando entre suas pernas, enquanto a beijava. Só parou quando se afastou alguns centímetros e tirou a própria blusa.
As mãos de Clara acariciaram a cintura de Alice, subindo devagar até encontrarem os seios, por cima do sutiã. Alice beijou Marina, quase enlouquecendo com aquela sensação de beijar uma e ser tocada pela outra. Ainda estava com a boca colada na de Marina quando sentiu a peça íntima ser aberta e a boca de Clara encontrar um dos seus seios. Gem*u dentro do beijo, as pernas fraquejaram, e foi tomada por uma urgência que a fez descolar a boca da de Marina e tirar a blusa de Clara quase com desespero.
Assim que Alice tirou sua blusa, Clara sentiu as mãos de Marina percorrerem todo seu corpo, até pararem entre suas pernas. Sufocou um gemido quando a ouviu dizer no seu ouvido, enquanto forçava a barra de sua calça:
— Tira…
Levantou o corpo e Alice puxou a peça para baixo, voltando a beijá-la logo em seguida. A mão de Marina se enfiou dentro da peça íntima, e as pernas de Clara se afastaram como se tivessem vontade própria. Não conseguiu controlar os gemidos que subiram por sua garganta, tamanho era o prazer de se sentir tocada por Marina, enquanto beijava Alice e sentia as mãos dela nos seus seios. Marina manteve o movimento enlouquecedor por baixo de sua calcinha, quando Alice afastou a boca de seus lábios, sem deixar de tocá-la, e sussurrou:
— Você é deliciosa.
Clara até tentou, mas não conseguiu conter a sensação que começou em seu ventre e se espalhou por todo seu corpo. Contorceu-se, os gemidos ficaram mais altos, agarrou-se em Alice e jogou a cabeça para trás, apoiada no ombro de Marina. Demorou alguns minutos para controlar a respiração e o próprio corpo novamente. Fechou os olhos por alguns instantes e quando os abriu, Alice a beijou. Um beijo intenso, mas repleto de carinho.
Marina continuava a abraçando por trás e só então Clara se deu conta de que ela ainda estava completamente vestida. Virou o corpo e a beijou. Depois desabotoou a blusa dela com pressa, livrando-se do tecido.
Se aproximaram e compartilharam o primeiro beijo, as três bocas se buscando, como se só então estivessem inteiras. Depois deitaram-se na cama juntas, descobrindo novos caminhos que as levaram várias e várias vezes ao sublime.
*****
As roupas espalhadas pelo quarto foram a primeira coisa que Marina viu quando abriu os olhos. Automaticamente as lembranças da noite anterior ocuparam sua mente. Girou o corpo e olhou para as duas mulheres adormecidas ao seu lado. Beijou o rosto de Alice algumas vezes, até ela resmungar, ainda adormecida. Depois acariciou o rosto de Clara. O gesto foi suave, mas suficiente para despertá-la.
Marina. Foi a primeira coisa que Clara viu quando acordou. Ela estava com a mão em seu rosto, numa leve carícia. Sorriu para Clara:
— Bom dia.
A luz do sol que entrava pela janela pareceu trazer com ela todo o peso do mundo real. Clara sentou-se na cama e puxou o lençol para cobrir sua seminudez, sentindo-se completamente envergonhada.
Alice abriu os olhos com dificuldade. Uma pequena dor de cabeça, provavelmente ocasionada pelo vinho, começava a incomodar. Olhou para as duas mulheres sentadas na cama, uma de cada lado e sorriu:
— Bom dia…
Marina respondeu no momento em que Clara localizou as próprias roupas no chão, levantou-se e começou a se vestir, sem olhar para as duas mulheres sentadas na cama.
Alice perguntou, ainda sonolenta:
— Onde você vai?
Respondeu ao vestir a última peça:
— Pro meu quarto.
Marina tentou pará-la:
— Eu vou pedir o café da manhã aqui…
Clara já estava com a mão na maçaneta:
— Estou sem fome.
Girou o objeto com pressa e saiu. Deu alguns passos e parou frente à porta do próprio quarto. Tateou os bolsos, mas não encontrou a chave:
— Só pode ser castigo.
Encostou a testa na madeira por alguns segundos, de olhos fechados. Respirou profundamente e voltou devagar até a porta ao lado. Bateu na madeira sem ânimo algum. Marina abriu e Clara notou um sorriso divertido, quando ela disse:
— Ficou com fome rápido…
Não a olhou. Manteve o olhar no chão quando falou:
— Esqueci minha chave.
Marina segurou sua mão e a puxou delicadamente para que entrasse no cômodo:
— Vamos procurar.
Assim que fechou a porta, puxou Clara mais para si e a beijou. Suavemente a princípio, como se quisesse testar a receptividade dela. Como foi correspondida, aprofundou o beijo. As mãos de Clara enlaçaram seu pescoço e Marina riu dentro do beijo. Sabia que precisaria conquistá-la. Pouco a pouco modificar a relação de patroa e empregada que foi construída durante anos. Clara se sentia atraída por ela, Marina não seria hipócrita em fingir que não sabia, mas queria que a relação das duas fosse além disso.
Terminou o beijo e a olhou nos olhos. Acariciou o rosto de Clara devagar, como se quisesse conhecer cada pedaço dele. Voltou a beijá-la e, com a boca colada na dela, a conduziu até perto da cama, onde Alice continuava deitada, apenas as observando.
Quando as bocas se separaram, Marina a soltou e ela deitou-se com o corpo sobre o de Alice. Beijou-a languidamente, sentindo o corpo dela completamente nu debaixo de si.
Alice sentiu cada célula do seu corpo corresponder ao toque das mãos de Clara. Os corpos se encaixaram com perfeição. As bocas se separaram e ela olhou para Marina, que ainda estava de pé.
Marina fez o robe que vestia escorregar até o chão, ficando completamente nua, no momento em que Clara olhou para o lado e a chamou:
— Vem…
*****
Estavam as três sentadas na cama, compartilhando o café da manhã que já era um almoço.
— Que tal conhecermos a cidade hoje?
Marina acariciou o rosto de Alice ao respondê-la:
— Ótima ideia.
Depois olhou para Clara:
— O que você acha?
A resposta foi um aceno de cabeça sem muita convicção.
Alice pegou a mão direita de Clara e beijou a palma:
— Se você não quiser, nós podemos fazer outra coisa.
Clara a olhou e deu um pequeno sorriso:
— Eu espero por vocês aqui.
A verdade era que não queria ficar andando atrás delas como se fosse um acessório. Aquelas últimas horas, dentro daquele quarto, haviam sido… De uma perfeição inexplicável. Mas e depois? E além daquelas quatro paredes? Não queria, nem aceitaria, ser uma terceira pessoa que se encaixava apenas na cama delas. Amava Alice. Era uma verdade incontestável dentro de si. E já não podia negar o que sentia por Marina... Estava, no mínimo, completamente apaixonada. Mas esses sentimentos não podiam fazer com que se anulasse e aceitasse migalhas.
Marina segurou a outra mão de Clara, fazendo com que ela concordasse em acompanhá-las:
— Nós queremos a sua companhia.
Terminaram de comer entre beijos, enquanto conversavam trivialidades. Marina levantou da cama e advertiu:
— É melhor tomarmos banhos individuais, se quisermos sair deste quarto...
Alice também se pôs de pé:
— Eu vou primeiro.
Assim que ela fechou a porta do banheiro, Clara disse:
— Eu vou me aprontar no meu quarto.
Sentiu um tremor por todo o corpo quando Marina a olhou nos olhos e pediu:
— Eu posso ganhar um beijo antes?
Clara se aproximou dela e foi enlaçada pela cintura. Os olhares se uniram e sorriram uma para a outra. Percebeu que estava completamente encantada, enfeitiçada por ela. Encostou a boca na dela devagar, apenas uma carícia. Depois os lábios se procuraram, se encontraram e se saborearam, mostrando para Clara que não tinha mais volta. Estava completamente entregue àquelas duas mulheres.
*****
Andaram pelas ruas sem pressa. Passaram por pontos turísticos, conheceram o parque da cidade e, no fim da tarde, sentaram em uma cafeteria.
Marina estava se deliciando com um croissant quando a viu. Quase engasgou, desviou o olhar, pegou a xícara de café e colocou na frente do rosto, numa tentativa ridícula de não ser notada, mas não adiantou. A mulher caminhou em sua direção com um semblante fechado. Parou ao lado da mesa e disse diretamente para Marina:
— Bom saber que está viva…
Marina limpou a garganta visivelmente vexada:
— Maria Tereza… Como vai?
O sorriso da moça foi sarcástico. Olhou para Alice e Clara, antes de responder:
— Pelo visto não melhor do que você.
Marina percebeu as sobrancelhas arqueadas de Alice. Completamente desajeitada levantou-se e fez as apresentações:
— Maria Tereza, essas são Alice e Clara.
A mulher sequer as olhou. Foi para Marina que disse:
— Pouco me importa, Marina. Você não muda, não é mesmo? Podia, ao menos, ter tido a decência de se despedir… Dizer que não me veria mais.
Algumas pessoas nas mesas ao lado começaram a olhá-las disfarçadamente. Marina perguntou com um falso sorriso:
— Como está seu marido?
O rosto de Maria Tereza estava vermelho. Era nítido o esforço que ela estava fazendo para se conter. Disse baixo, entre os dentes:
— Engraçado você querer saber dele agora…
Se aproximou de Marina e cuspiu as palavras:
— Não estava preocupada quando se deitava comigo na cama dele.
Depois olhou para Clara e Alice, que continuavam completamente mudas, sentadas na mesa, e disse antes de se retirar:
— Não sei qual das duas Marina está tentando seduzir… Mas desejo boa sorte.
Quando se sentou novamente à mesa, Marina afastou o colarinho da blusa, tentando aplacar o calor súbito que a acometeu, depois deu um longo gole no chá. Assim que pousou a xícara no pires, Alice a encarou:
— Vamos embora.
Tentou fingir uma naturalidade que não existia:
— Mas vocês ainda não acabaram de comer…
Alice levantou as mãos, chamando um dos garçons, e só depois respondeu:
— Perdi a fome.
*****
Quando chegaram ao hotel, Alice quase não esperou a porta do quarto se fechar:
— Quem é aquela?
Marina suspirou pesadamente e disse na defensiva, como se estivesse sendo acusada de um crime:
— Não existe mais nada entre eu e ela.
Clara estava se sentindo completamente deslocada. Não deveria estar ali. Aquele sentimento incômodo de estar num lugar que não lhe pertencia a tomou novamente. Movida por essa sensação, caminhou até a porta sem dizer nada. Chegou a abri-la, mas Alice não permitiu que saísse:
— Essa explicação também é pra você, Clara.
Olhou para elas. Alice visivelmente enciumada. Marina quase desesperada.
— Acho melhor vocês conversarem a sós.
Marina sentou-se em uma das poltronas, abatida:
— Alice tem razão… Essa conversa também te diz respeito. Feche a porta, por favor.
Clara a atendeu. Ficou ao lado de Alice, as duas em pé, olhando para Marina, quando ela começou a falar:
— Não posso mudar o meu passado… Nem quero fingir que ele não existe. Eu estive sim com muitas mulheres. Maria Tereza foi uma delas. Mas depois que estive com você pela primeira vez, Alice, não estive com nenhuma outra… Clara foi a única exceção.
Alice se sentou na beirada da cama. Clara continuou de pé, ainda bastante incomodada em estar ali.
— Por que essa moça agiu como se tivesse o direito de te cobrar alguma coisa? O que vocês tinham?
A voz de Alice estava calma quando perguntou, mas demonstrava muito bem os ciúmes que estava sentindo.
Marina foi sincera na resposta:
— Nós nos encontrávamos sempre que o marido dela não estava por perto. Era uma relação que se resumia à cama, só isso. Depois que estive com você, nunca mais a procurei… Nem mesmo para me explicar. Acho que por isso ela estava com tanta raiva.
A resposta acalmou Alice, mas, ainda assim, Marina fez questão de dizer:
— Nenhuma outra relação chegou perto do que existe entre nós.
Alice olhou para Clara que continuava de pé, com os braços cruzados, e perguntou:
— Você não quer dizer nada?
O riso que ela soltou foi repleto de ironia:
— Eu nem deveria estar aqui…
Alice a puxou pela mão para que se sentasse ao seu lado:
— Por que você diz isso?
Clara ponderou se era melhor falar tudo que vinha sentindo nos últimos dias ou ficar calada. Não sabia onde estava se metendo, não sabia quais eram as intenções delas. Talvez não estivesse preparada para ouvir que era, sim, apenas uma pessoa para compor a cama. Apesar disso, era melhor cortar o mal pela raiz. Seria muito pior se envolver ainda mais e, depois que elas se cansassem, ser descartada como se não fosse nada:
— Onde eu me encaixo nesse relacionamento? Quero dizer… Eu estou nesse relacionamento?
Alice não esperava que ela fosse tão direta. Mas achou ótimo que, enfim, as três pudessem conversar abertamente sobre aquilo:
— Eu sou apaixonada por você, Clara. Tentei muito lutar contra o que eu sinto, mas foi em vão.
Olhou para Marina antes de continuar:
— E isso não faz com que, o que eu sinto por Marina, desapareça. Não é como se só houvesse espaço pra uma de vocês no meu coração. Nós três juntas… É a melhor coisa que poderia ter acontecido.
Segurou as mãos de Clara entre as suas e completou:
— O meu desejo é compartilhar minha vida com vocês.
Olhou para Marina, incentivando-a com o olhar, para que também falasse.
Ela se levantou e se ajoelhou na frente das duas. Foi para Clara que disse:
— Não estou aceitando essa relação por Alice... Eu realmente quero ficar com você. Sei que depois do que aconteceu aquela vez no celeiro nós nunca sequer conversamos, mas... Eu nunca mais consegui parar de pensar em você...
Clara não podia negar que adorou ouvir aquilo das duas, mas ainda assim estava receosa. O medo de que elas estivessem falando apenas movidas pelo desejo a preencheu. Não saberia como seria em termos práticos, no dia a dia, na rotina de cada uma. Mas por outro lado, não havia — e nunca haveria — a certeza de que qualquer relação daria certo ou duraria para sempre, independente da forma que se iniciasse.
Olhou de uma para outra. As duas mulheres com quem sonhava estavam ali. Havia se tornado realidade. A despeito do medo apavorante que nasceu dentro dela, de que no futuro poderia sofrer mais do que sofrera até ali, sabia que deixaria de viver muita coisa, se nem ao menos se permitisse tentar. Manteve a mão direita na de Alice e buscou a de Marina com a esquerda. Foi com um pequeno sorriso, e uma coragem que nem sabia que tinha, que disse:
— Vamos descobrir juntas onde isso vai dar...
Marina se levantou e beijou as duas delicadamente, uma de cada vez. Depois voltou a se sentar na poltrona:
— Eu preciso deixar claro que, provavelmente, essa não será a única mulher com quem me relacionei que encontraremos por aí...
Alice olhou feio para ela:
— Ainda é muito cedo pra fazer piada.
Clara deixou escapar uma risada:
— Acho que não é uma piada... Se levarmos em consideração a fama que Marina tem.
Marina a olhou tentando parecer ofendida:
— Como assim? Que fama?
Clara não se fez de rogada:
— Bem, se fizermos uma lista das mulheres com quem você já se relacionou... Não acabaríamos este ano.
Marina abriu a boca, mas não conseguiu emitir nenhum som, apenas franziu as sobrancelhas em uma cara de indignação.
Alice suspirou e revirou os olhos:
— Nossa, Marina... Você não consegue nem negar.
Clara riu ainda mais alto e parou de repente, como se tivesse se lembrado de algo muito importante:
— Aliás, achei que não teria a oportunidade de perguntar, mas aqui está ela... O que você achou dos quitutes da padaria de Catarina?
Marina se levantou e a olhou surpresa:
— Como você sabe disso?
Clara estava se divertindo interiormente, não conseguia conter a risada:
— Ela também me ofereceu os famosos quitutes, mas eu recusei... Ao contrário de você, pelo que fiquei sabendo.
Alice deixou o corpo cair para trás e deitou na cama, com os pés pendurados para fora. Foi olhando para o teto que perguntou:
— Será que existe alguma mulher nas redondezas que não esteve com você, Marina?
Clara também se deitou ao lado dela, da mesma forma. Ainda estava rindo, divertindo-se com aquela conversa.
Marina se inclinou, apoiando as mãos na cama, uma ao lado de Alice e outra ao lado de Clara, e disse antes de avançar sobre elas:
— Bom, se existir, ela perdeu a chance... Pois agora eu só tenho olhos, boca, corpo... Para duas mulheres muito específicas.
Fim do capítulo
Oi, gente! Na quarta-feira vou postar o penúltimo capítulo da história... Obrigada a todo mundo que está acompanhando!
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 29/08/2023
Aí sim estão se divertindo e aproveitando os momentos e conversando.
AlphaCancri
Em: 31/08/2023
Autora da história
Finalmente, não é?
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]