Depois de ouvir tudo o que Melissa tinha a dizer, Valentina só conseguiu abraçá-la e enxugar as lágrimas que teimavam em molhar o rosto da sua amada.

– Mel, cheguei a pensar que alguma coisa estivesse errada, mas nunca imaginaria que fosse algo desse tipo.

– Perdão, meu amor. Não achei que você fosse acreditar numa história tão sem pé e cabeça assim, confesso que se não estivesse passando por ela levaria um tempo para acreditar em algo desse tipo.

– Mel, por mais complicado e estranho que tudo isso pode parecer, eu confio na relação que estamos construindo, e jamais pensaria que você inventaria uma história desse tipo para me enganar, acredito no ser humano que você é, em hipótese alguma imaginaria que algo tão sério assim seria apenas uma invenção sua. – Valentina falava alisando os cabelos da amada que estava deitada em seu colo. – Agora precisamos tomar algumas atitudes, vou ligar para os meus pais e ver como devemos prosseguir legalmente.

– Como assim, Tina? – Melissa levantou assustada.

– Não sei como você quer fazer, mas eu quero que essa mulher pague de forma devida pelo o que fez comigo, claro, se depois da investigação for constatado que foi ela que bateu na minha moto.

– Você vai envolver a polícia nessa história? – Perguntou com um misto de medo e repreensão.

– Não posso não envolver, estaria negligenciando algo que aconteceu comigo, sem falar que estaria deixando alguém me manipular, mexendo totalmente com a minha vida. Acha mesmo que se manter afastada de mim vai deixar a Paula sem te atacar? Se foi ela que atentou contra mim mesmo poderia ter sido contra você, já pensou nisso? Acha mesmo que ela não vai tentar nada contra você enquanto estiver longe de mim e que ela só quer mesmo ver a gente separada, é isso?

– Não sei se estou preparada pra enfrentar isso, sem falar que não tenho provas suficientes para prestar uma queixa contra ela.

– Como disse antes, não sei o que você fará, mas eu farei dessa forma, assim que voltar para casa vou tomar minhas atitudes, vou explicar a situação aos meus pais e conduzirei a situação da melhor forma possível para mim.

Por mais que argumentasse, Valentina sentia o temor de Melissa em levar a situação à polícia. Mas não dava para deixar aquela mulher passeando tranquilamente por aí como se nada tivesse acontecido, Mel estava com olheiras, parecia exausta e o medo saltavam dos seus olhos, sem falar que não estava pensando direito, não podia achar que conseguiria resolver aquela situação apenas obedecendo a ameaça de Paula.

– Quais as garantias de que ela saíra das nossas vidas depois de levarmos o caso à polícia?

– Meu bem, não temos garantias se levarmos e não teremos nenhuma se não levarmos, é a nossa única saída. Não dá para ficarmos refém da vontade dela. Precisamos fazer alguma coisa para nos proteger, você não está sozinha nessa. Mandei uma mensagem para os meus pais explicando brevemente a situação e também pedi para que não tomem nenhuma atitude precipitada porque ainda estamos pensando se queremos ou não levar a situação à polícia.

– Muito obrigada, Tina. Não estou conseguindo pensar direito, estou com muito medo do que pode acontecer. – Beijou os lábios da amada a abraçando forte.

– Por nada, não esqueça que estamos juntas em tudo, por mais que pense que não foi a Paula mesmo que atentou contra mim já temos provas contra ela, sem falar que qualquer especialista em crimes cibernéticos pode encontrar algum rastro dessas mensagens dela no seu celular. – Segurou o rosto da amada carinhosamente – Agora vamos aproveitar a festa, você precisa se distrair, esquecer um pouquinho de toda essa insanidade que se abateu sobre nossas vidas.

Melissa tentou de todas as formas deixar de lado tudo o que estava acontecendo e focar apenas naquele momento. Conseguiu êxito horas depois quando os pais de Tina ligaram avisando que aquilo não seria fácil de resolver, mas que Paula também não sairia impune de toda aquela história se tudo aquilo fosse confirmado, inclusive o acidente que Tina sofreu.

– E então, não vai mesmo ficar? – Manuela pergunta a Olivia.

– Não vejo necessidade, vou dar uma volta na praia enquanto as meninas conversam e depois volto para pegar a chave com a Tina.

– Pode esperar aqui, sabia?

– Sim, mas é melhor eu ir, não quero atrapalhar. – Fez menção de sair, mas Manu foi mais rápida se colocando em sua frente. – Manuela, eu realmente preciso ir.

– Porquê Olivia? Vamos, me diga qual o motivo de ter sumido e me bloqueado em todas as suas redes sociais?

– Certo, é perda de memória só pode. Você está namorando, e por mais curto que tenha sido o tempo que nos relacionamos eu ainda tenho sentimentos por você e para mim não é confortável estar por perto, se é que me entende.

– Espera, eu estou namorando, com quem?

– Manuela, me deixe passar, não estou a fim de ficar brincando de gato e rato. 

– Não sei de onde tirou essa ideia, mas não estou namorando, talvez até quisesse, mas levei um fora sem nem saber o motivo.

– Já passamos dessa fase, não precisa me enganar, eu preferi ser a ruim da história, quis poupar a fadiga, sei que entre mim e ela nem fazia sentido me escolher, afinal vocês têm uma história juntas e se tem uma coisa que sei fazer é me retirar quando não sou bem vinda.

– Espera, história juntas, quer dizer o que, não pode ser... – só então Manu se deu conta de que Olivia só podia estar falando de Marta, mas como ela podia saber que a ex a tinha procurado para reatarem. – Liv, a Marta te procurou?

– A mim não, já a você, não podemos dizer o mesmo.

– Então como sabe que... Não me diga que você...

– As vi juntas no final de semana. Vi sim, e pela intimidade em que vocês estavam não precisa me dizer nada, já entendi.

– Entendeu tudo errado, eu sei que foi um beijaço acompanhado de um mini amasso, – respirou fundo depois da olhada tensa que Olivia lhe deu – tá bom, foi uma quase trans* que não chegou ao final. Não sei o que realmente viu, Liv, tentei falar contigo pra te contar, mas descobri que estava bloqueada, queria conversar com você hoje, mandei recado pela Tina para que viesse, queria resolver o que temos, mas você só me evita.

– Não tenta virar o jogo, já somos grandinhas, não tem que me explicar nada. Já falei que entendi, só quero ir embora, nada mais.

Estava chegando ao portão quando ouviu a moça gritar.

– Eu estou apaixonada por você, Olivia, me dá mais uma chance, por favor.

– Uou, declarações neste volume, meninas, melhor conversarem mais próximas. – Iracema que conversava com Mel e Tina falou de forma descontraída.

– Perdeu o juízo, garota?! – Perguntou se aproximando novamente – Não consigo te entender, o que quer que eu faça?

– Liv, não quero mais nada com a Marta, tivemos sim uma história, mas acabou. A única coisa que quero agora é continuar a história que estamos construindo, sem mentiras, sem exs, sem inseguranças e desconfianças. Você aceita namorar comigo?

– Eu disse a você que isso estava acontecendo. – Melissa gargalhava nos braços de Tina bem próxima ao futuro novo casal.

– Quem diria, hein, o casal mais improvável de acontecer aconteceu e tiveram sua primeira dr.

– Já disse o quanto amo vocês hoje! – mostrou o dedo do meio para as amigas.

Não demorou muito para que a médica e a professora se afastassem deixando as mulheres terminarem de se resolver. Depois de resolverem o mal entendido Olivia aceitou o pedido de namoro, a atual sogra ficou felicíssima com a notícia e ao que parecia em breve um casamento poderia acontecer.

Dias depois Valentina e Melissa enfim foram à polícia prestar queixa contra Paula, dali em diante os pais de Tina juntamente com a polícia assumiram aquela situação. Enfim, as coisas estavam voltando aos eixos na vida delas.

– Não sabia que seria tão difícil namorar você, nossa, é muita adrenalina em tão pouco tempo.

– Boba, falando assim parece que foi proposital.

– Eu sei que não foi, meu bem, mas não podia perder a chance de brincar contigo. E então, pronta para aprender? – Entregou o capacete a Melissa que pareceu temerosa, Valentina segurou sua mão – Não se preocupe, se não quiser podemos desistir.

– Não sou mulher de desistir tão fácil, Valentina. – Piscou para a amada – Você sabe bem disso.

– Boa, garota, é assim que se fala. Eu te amo, Mel. – A médica afirmou com os olhos brilhando.

– Eu amo você, e muito obrigada por estar ao meu lado entre os meus erros e acertos.

Assim se dá a história de pessoas comuns com problemas nem tão comuns, a vida segue e com ela o amor de Melissa e Valentina também.

Fim!

Fim do capítulo