O final de semana chegou e com ele a festa da Manu. Valentina já tinha feito de tudo para falar com a namorada e não conseguiu nem uma resposta, já tinha passado literalmente a noite no restaurante dos pais da professora e nem assim conseguiu encontrá-la, já tinha perdido as contas de quantas vezes ficou esperando a saída de Mel da academia e nada, a mulher parecia ter evaporado de uma hora pra outra. Acabara de fazer a última tentativa antes de desistir de procurá-la, buzinou, tocou a campainha, gritou, chamou e nada de ver a mulher sair de casa.

– E aí, conseguiu achar a mulher dessa vez?

– Nada, sumiu, não sei mais o que fazer pra encontrar a Melissa.

– Amiga, nem sei o que te dizer, mas que esse sumiço todo tá bem estranho, isso tá. E você vai para o litoral mesmo assim?

– Vou, a Manu não tem nada a ver com os meus problemas. Preciso dar uma resetada, sentir o vento no rosto, passei em casa apenas pra pegar a mochila. Você não vai mesmo?

– Não, melhor ficar no meu canto, ela já fez a escolha dela. Mas não te liguei pra isso, – ouviu a campainha da casa da amiga tocar e falou agitada – a Rafaela tá na cidade.

– E só agora você me fala isso.

– Foi ela que chegou aí, não é?! Foi mal, Tina, eu tentei ser mais rápida.

– Tá bom, na próxima seja mais rápida.

– Tentarei, e lembre-se que da última vez que ela encontrou a sua amada a situação ficou bem ruim. Não vai fazer besteira.

– Tchau, Liv.

A essa altura Rafaela sorria grudada no pescoço de Tina, conferindo todos os pontos visíveis do seu corpo.

– Queria ter vindo antes, mas não consegui desmarcar meus compromissos. E fique sabendo que não sairei de perto de você durante o final de semana inteirinho.

– Rafa, eu estou bem como pode ver, não tem necessidade de perder o seu final de semana inteiro ao meu lado.

– Nem tente, meu bem. Já sei que a que se diz sua namorada está sumida e que está indo para o litoral, me informei direitinho sobre o seu final de semana, – piscou para Tina – já está pronta, podemos ir?

Não tinha como não rir daquela situação, Olivia era muito engraçada, havia dito a amiga pra ter cuidado com a prima, mas passou para Rafaela todos os passos que ela daria no final de semana e ainda contou que sua namorada tinha sumido, mais engraçado que isso só dois disso.

Não demorou muito para que as mulheres pegassem a estrada, Rafaela até tentou convencer Valentina a ir de carro, mas a médica já tinha alugado uma moto e a única coisa que conseguiu foi que a mulher a deixasse ir pilotando, o que também não era ruim, ia ter Valentina perto de si o final de semana inteiro e o melhor, sem a companhia da tal namorada.

As mulheres chegaram antes do início da festa, Manu foi receber Valentina alegre, estava feliz por ver a amiga bem, e mais feliz ainda por achar que Olivia tinha chegado junto com ela.

– Oi, que bom que veio, saudade de você. Que susto você nos deu, hein. – Abraçou a amiga. – Cadê a Liv? – Procurou ao redor da amiga e não encontrou ninguém.

– Olha, eu até vim acompanhada, mas não foi por ela.

Viu o brilho dos olhos de Manu sumir rapidamente quando Rafaela passou pela porta, no coração da jovem ainda existia a esperança de encontrar com Olivia ali, afinal, ela e Valentina viviam fazendo brincadeiras perto dela, dizer que a outra não tinha ido podia muito bem ser mais uma delas.

– Então ela não quis mesmo vir – sorriu triste.

– Manu, essa é Rafaela, prima de Olivia.

As mulheres se cumprimentaram rapidamente com dois beijinhos. Rafaela se distraiu com o celular e Manuela puxou Valentina de canto.

– Cadê a Mel? Não me diga que terminaram.

– Até onde eu saiba não, mas, tudo pode acontecer. – Sorriu da própria piada, torcendo intimamente para que aquilo não fosse verdade.

Em casa Melissa se remoía de raiva por não poder falar com Tina, passou o resto da semana desviando dela, tinha entendido bem a última ameaça de Paula, precisava se manter distante de Valentina e conseguir uma forma de obter provas contra Paula.

– Não adianta fingir, eu sei que você está aí, não sei qual a sua ideia, mas a minha é não sair daqui antes de olhar na sua cara. – Olívia falava aos gritos do portão. – Vamos Melissa, abra, preciso falar contigo, a Valentina não está nada bem.

As últimas palavras tiveram força suficiente para tirar Melissa de casa, andava preocupada demais com Tina para achar que Olivia chegaria fazendo aquela barulheira na sua porta inventando mentiras sobre sua namorada.

– Entra, por favor.

– O que aconteceu contigo? – Perguntou cumprimentando a mulher a sua frente – Você está horrível, parece que foi atropelada por um trator.

– Não zoa, Liv, não tô na vibe hoje.

– Bom, estou com bastante tempo, – sentou cruzando as pernas – só saio daqui quando você me contar o motivo desse sumiço desde o acidente da Tina.

Melissa caiu no choro na frente de Liv que por mais que tentasse não conseguia fazer a professora parar de chorar. Depois de algum tempo, Mel conseguiu se recompor e narrar tudo o que vinha acontecendo para a ginecologista, que ficou horrorizada com tudo o que foi dito, e mais horrorizada ainda em Melissa não ter confiado no amor da amiga para contar tudo aquilo.

– Mel, eu entendo o seu medo e receio, mas a Tina precisa saber de tudo isso.

– É tudo complicado demais, Liv, não faço ideia se a Paula tá me vigiando ou não, não posso colocar a Valentina em risco sem necessidade, mesmo porque pelo o que entendi foi ela quem causou o acidente da Tina.

– Por isso mesmo, Melissa. A Tina precisa saber de tudo. Chega, cansei desse enredo mal escrito de filme de suspense ruim. Acorda Mel, essa mulher não tem como saber todos os passos que você dá. Arruma uma bolsa, estamos indo para o litoral, nem vou passar em casa, iremos daqui mesmo.  

– Não posso colocar a Tina em risco outra vez. – Falava com lágrimas nos olhos.

– Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Vamos.

Fim do capítulo