Dois dias depois do ocorrido a médica saiu do hospital, por ela não precisaria passar uma semana em casa descansando da tal cirurgia às pressas, se sentia muito bem e sabia que aquele tempo de molho era desnecessário, afinal, era acostumada a fazer cirurgias do tipo e acompanhar os pacientes.

Desde o dia do ocorrido, como num passe de mágica Melissa havia sumido, soube que a namorada tinha estado por lá no dia, mas depois não apareceu mais, mandou mensagem no outro dia e desde então nem sinal.

– Não precisava ter vindo, eu estou bem.

– Era eu ou a sua mãe, se quiser aviso a ela para desmarcar a visita ao seu irmão e vir ficar contigo. – Falou sorrindo enquanto discava no celular.

– Nunca esperei isso de você, sinceramente Liv, sem ameaças, por favor.

– Alguém parece estar sem paciência, vai me contar o que está acontecendo ou me mandar embora novamente?

– Tem notícias da Melissa?

– Ah, então é isso, seu amorzinho sumiu.

– Não brinca, por favor. Estou preocupada.

– Bom, até onde eu saiba ela não está na cidade, mas a contar pelo tempo que ela correu atrás de você duvido muito que tenha desistido de ti agora.

– Para onde ela foi?

– Não que seja da minha conta, mas ela tinha um campeonato para ir, falou dele por meses, você não lembra?

– Ah, o campeonato, acabei esquecendo, mandei mensagem pra ela desde que saí do hospital e ela não respondeu.

– Por isso essa carinha de cachorro caído da mudança?

– Pode ser impressão minha, mas a Mel tá estranha desde o dia do almoço de apresentação das famílias.

– Que história é essa, Tina? A mulher quase infartou no hospital sem saber notícias suas, não deve ser nada demais. Além do mais, é melhor perguntar do que ficar criando minhoca na cabeça.

– Nossa, que nojo, eca. Talvez você realmente tenha razão e seja só coisa da minha cabeça, vou ligar pra ela mais tarde. E você e Manu como estão?

– Não estamos!

– Quê? O que foi que eu perdi?

– Nesse caso quem perdeu fui eu, a tal da ex reapareceu antes da minha declaração e elas estão juntas de novo. Infelizmente descobri isso da pior forma, peguei um final de semana e resolvi fazer uma surpresa pra Manu, quando cheguei por lá encontrei as duas juntas.

– Que sina, hein, nossa.

– Sina nada, lerdeza talvez, mas é isso mesmo, demorei de tomar a decisão e ter a tal da atitude, deu nisso, tá tudo bem, vida que segue.

– Sina ou não a Manu acabou de mandar mensagem disse que vai comemorar o aniversário dela no final de semana e pediu pra te levar, – olhou para mulher a sua frente com cara de poucos amigos – ela disse que você a bloqueou em todas as redes sociais, que adulta, nossa.

– Nem vem com julgamento, foi a forma que encontrei pra não ficar olhando o que ela posta, não me olha dessa forma, não me arrependo de absolutamente nada.

– Desculpa, Liv, não vou julgar, você sabe o quanto esse lance entre vocês te afetou, não devo me meter nisso, mesmo porque nada é tão fácil quanto parece. Mas e aí vai ou não ao aniversário dela?

– Eu até queria, mas é melhor evitar a fadiga, não vai ser confortável vê-la com a antiga e agora nova namorada.

Os dias foram passando e Valentina sem conseguir contato com a namorada, ela lia as mensagens, mas não respondia, atendia as chamadas e não falava nada, já estava se cansando daquele joguinho de gato e rato.

Melissa saiu do hospital desolada, sabia que tinha colocado sua amada em risco, precisava resolver seu problema com Paula, afinal, a mulher estava mais descontrolada do que ela pode imaginar. Mesmo com os nervos à flor da pele decidiu marcar um encontro com a outra, não dava mais para ficar naquela situação.

– Resolveu dar o ar da graça então. – Tentou beijar a mulher à sua frente.

– Para de enrolação, Paula fala de uma vez o que quer.

– Simples, eu quero você.

– Sabe muito bem que isso não acontecerá, estou namorando e você sabe disso.

– Olha só, agora você está namorando, que maravilha! Ah, você lembra o que aconteceu a sua namoradinha, não é?! Então, é a sua chance de ficar comigo.

– Você só pode estar louca, não vou ficar contigo.

– Pode até não ficar comigo, mas com ela também não vai ficar, ou então dá próxima vez não será apenas uma quedinha que ela sofrerá.

– Você não seria capaz. – Paula segurou a mão de Melissa com tanta força que por muito pouco não machucou seu pulso. – Não confunda as coisas Melissa, posso fazer o que quiser contigo e com aquelazinha, é só você não me obedecer para ver o que vai acontecer a ela.

– Você não teria coragem de fazer nada contra ela.

– Não teria mesmo, – gargalhou – mas fatalidades acontecem. Não esqueça disso. Ah, se eu fosse você manteria uma distância segura da sua amada.

Melissa estava nervosa e com muito medo para pensar de forma sensata sozinha, se tivesse pensado ao menos em gravar aquela conversa poderia ao menos ter alguma prova contra Paula, apesar da mulher não ter falado abertamente que atentou contra Valentina, deu indícios de que poderia fazer alguma coisa contra a professora caso ela não se afastasse da médica.

Infelizmente a única coisa que fez foi se afastar da namorada no momento, aproveitou que precisava ir para um campeonato e começou a não responder as mensagens e ficar muda ao atender as ligações, estava de coração partido, mas achava melhor fazer isso, do que contar a namorada o que estava acontecendo, julgava que Valentina não acreditaria em uma só palavra dela a respeito de toda aquela história que mais parecia enredo de filme e não vida real.

Fim do capítulo