Capitulo 18 - Diesel é desejo, você estava brincando com fogo
Acordar pela manhã e assistir pacificamente uma mulher dormindo era como uma pintura do paraíso para Luiza, em sua penthouse, ainda mais uma garota pela qual ela nutria sentimentos. O mesmo estava acontecendo com Ana Beatriz, assistindo Camélia respirar serenamente em seu peito, na cama da nefrologista.
Como o dia de ambos os casais se iniciariam cedo, em poucos minutos todas já estavam de pé, sendo que Luiza e Dani se encaminharam para a sede da Travel-Tier, enquanto as médicas se dirigiam ao hospital.
Na Travel-Tier, Luiza tomou todos os cuidados possíveis para não ser vista entrando com Daniela. Um affair dentro do trabalho só prejudicaria sua relação com aqueles que ainda estão resistentes à sua chegada. Logo no início do expediente, Luiza teve de entrar em contato com as duas do Nordeste e a filial do Rio de Janeiro para uma videoconferência a fim de explicar a ideia do cartão com cashback.
Após a videoconferência, Joel, o vice-diretor, adentrou no escritório de Luiza com uma papelada em mãos.
- Senhorita Luiza, não creio que essa ideia dará certo.
- Do quê? Do cartão? Por quê?
- Custos de produção, envio. Fora que bancos já fazem algo parecido com fundos de investimento que viram crédito.
- Mas esse terá cashback do que já foi pago em passagens e estadia por meio da agência. Fora que terá suporte de conversão de moeda.
- Sua mãe já sabe disso?
- Caso você não saiba, eu sou a CEO dessa empresa.
- E sua mãe é a CEO do Grupo que faz a gestão dessa empresa.
Luiza contou até três mentalmente.
- Vou ligar para ela daqui a pouco e informá-la.
- Era só esse o meu pedido. Obrigado.
Ao fechar a porta, Luiza ligou rapidamente para sua mãe, pois sabia que Joel tentaria de tudo para informa-la primeiro.
- Mãe, eu queria falar um negócio contigo sobre uma ideia que eu tiv-
- Filha, estava para te ligar. Joel me mandou um email expressando algumas preocupações sobre essa história do cartão.
- Quando ele te mandou esse email?
- Acredito que menos de meia hora atrás.
- Canalha. – Luiza balbuciou, descobrindo que ele tinha mandado antes mesmo da reunião. – Certo. Preocupações. Quais são elas?
- Financeiras. Os custos estimados ultrapassam o teto.
- Mas podemos recuperar em vendas.
- Filha, você sabe que não pode contar com vendas que ainda não foram efetuadas.
- As projeções são boas. Já estão aumentando os pacotes nacionais para praias no verão. Nordeste e Santa Catarina. Devido ao ostracismo político que o estado recebeu, os preços de passagem diminuíram e isso acabou impulsionando as vendas de pacotes mais baratos. Falando nisso, estou com planos de abrir uma loja física lá.
- Filha, acabei de falar de gastos financeiros desnecessários e você quer abrir uma filial?
- É preciso gastar dinheiro para fazer dinheiro! Temos guias turísticos por toda a região do Nordeste, mas não temos no Sul. Com a queda dos preços, a demanda vai aumentar e haverá necessidade de uma loja física para oferecer suporte.
- Vou pensar sobre.
- Eu já achei um salão para comprar, onde vai ser a loja física.
- Luiza, eu já disse que vou pensar sobre!
- Eu já fiz os estudos, as planilhas, você comprou uma rede de streaming que nem estava à venda, por que está agindo assim quando te apresento um plano seguro?
- Por acaso você olhou os registros financeiros de seis meses atrás?
- Eu só fiz os cálculos baseados no último trimestre. Por quê?
- Se tivesse olhado, saberia que, antes de comprarmos, os antigos donos tentaram abrir uma filial na região sul. Os gastos foram exorbitantes, e só gerou prejuízos.
- Ah, era disso que a senhora estava falando? Um dos contadores me avisou sobre isso. Tentaram no Rio Grande do Sul, mas sem sucesso. Eu vou tentar em um estado diferente, um foco completamente diferente. Mãe, você depositou sua confiança em mim quando me colocou nesse cargo. É dessa confiança que necessito agora.
Cecília hesitou por alguns segundos.
- O capital de giro sairá do seu fundo de segurança.
- Feito! – Com um brilho no olhar de quem acabara de receber aprovação materna, Luiza exclamou em concordância.
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Em um curto período de meia hora entre uma cirurgia eletiva e outra, Anabê aproveitou para ver Camélia, que descansava no quarto dos plantonistas do setor de clínica médica.
- Sério, nem maquiagem conseguiu esconder minhas olheiras! – Ana Beatriz comentou, enquanto deitava ao lado de Camélia.
- Cada vez que eu pisco, sinto que tiro um breve cochilo. – A nefrologista comentou, encostando a cabeça no ombro da cirurgiã.
- Daqui a pouco tenho uma remoção de cisto pilonidal para fazer, na verdade foi o Dennis que me escalou para fazer. Tenho certeza que é birra dele, esse tipo de excisão é o residente que faz.
- Birra por quê? Por você ter pedido um tempo?
- Sim.
- Que ego frágil o dele.
- Vocês já haviam dado algum tempo assim antes?
- Não. Já tivemos alguns desentendimentos, mas nunca havia chegado nesse ponto. – Ana Beatriz então começou a acariciar o cabelo de Camélia, enquanto esta ainda repousava em seu ombro. – Dessa vez, tem um fator diferente... não sei explicar, só sei que tudo está diferente. Eu achava que me sentiria angustiada, mas estou sentindo paz. Uma paz estranha, uma paz que fazia anos que eu não sentia.
Sobreveio um silêncio repentino. Anabê estranhou a ausência de resposta da nefrologista.
- Camélia?
Anabê mexeu o ombro levemente e por fim percebeu que a nefrologista havia adormecido no meio da conversa. Soltou um leve risinho, percebendo a ironia da situação: a paz recíproca, silente, de um sucinto adormecer.
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No horário de almoço, conforme combinado, Cecília encontrou seu filho no restaurante reservado. Lá, Dr. Ramón os aguardava com um belo sorriso no rosto.
- Finalmente conheci o tão famigerado deputado Lorenzo Gutierrez! – Ramón o cumprimentou com um firme aperto de mão.
- Eu digo o mesmo! Dona Cecília e Ana Beatriz não pouparam elogios. – Lorenzo entregou.
- Não posso dizer que sou a única fã. Magdalena também cancelou todos os compromissos para almoçar conosco.
- A mamãe vem também? – Lorenzo se assustou. Suas mães pareciam estar empenhadas no plano.
- Sim. Ela ainda mantém uma parte das ações do hospital. Quando soube da contratação, perguntou se poderia comparecer.
- Bem, sendo assim, também estou ansioso para conhecê-la. Sou um adepto voraz da linha de roupas dela. Tudo que derivou do estilo de Alexander McQueen eu sou devoto.
Nisto, Magdalena apareceu, cumprimentando a todos com sua habitual elegância.
- Espero não ter atrasado o almoço de vocês.
- Lógico que não. Estamos felizes que tenha chegado. – Cecília comentou, sorrindo. – Dr. Ramón, o que tem a me dizer sobre o hospital? Gostou da infraestrutura?
- Gostei sim. A dra. Ana Beatriz foi muito solícita ao me mostrar o hospital e me disse que qualquer dúvida, era só chama-la.
- Nossa ala de oncologia ainda está em expansão, temos um setor clínico promissor que trabalha em conjunto com o setor cirúrgico. – Cecília explicou. – Se você aceitar, entraremos em contato com o setor de recursos humanos ainda hoje para marcar seu exame admissional e assim iniciar imediatamente. Lorenzo, apesar de ser deputado, às vezes nos auxilia em questões jurídicas quando pode. Qualquer dúvida legal em relação a sua contratação, ele está aqui para ajudar.
- Bem, eu li uma prévia do contrato esboçado, não tenho nada a reclamar. – Ramón respondeu. – Mas imagino que Lorenzo viva ocupado em Brasilia, nem teria tempo para minhas dúvidas.
- Na verdade, estarei em São Paulo todas as sextas-feiras. – Lorenzo explicou, seguindo a cartilha de Murilo para melhorar ainda mais seu currículo para seu futuro dentro da política paulistana. – Trabalharei pro bono em uma das ONGs associadas ao hospital.
- Não sabe o quanto isto me deixa feliz! – Exclamou Cecília, interrompendo a conversa dos dois. Saber que o filho estava seguindo seus planos e ainda por cima, voltaria, mesmo que indiretamente e sem remuneração, ao Grupo Gutierrez, tomou-a de orgulho e realização.
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Alguns dias se passaram, e já estava tudo pronto para a primeira viagem de Luiza até Santa Catarina, para iniciar o processo de inserção da nova filial da Travel-Tier. De início, iria para conhecer o local que funcionaria, dentro de alguns meses, como novo estabelecimento de vendas e serviço de atendimento ao cliente.
Ao invés de ir na segunda de manhã, conforme o previsto, Luiza adiantou para domingo, pois aproveitaria o dia para levar Dani e turistar um pouco, uma vez que a jovem Daniela ainda não conhecia o estado. Ambas ficaram no apartamento de alto padrão da Avenida Trompowsky, em um prédio que Magdalena comprara alguns anos atrás quando o mercado imobiliário estava promissor. Os demais apartamentos estavam alugados, tanto fixamente quanto para temporada.
- Que lugar lindo! – Dani não parava de admirar o ambiente e a vista para a entrada do oceano e o shopping beira-mar.
- Fazia um tempo que não vinha para cá. Mas não mudou muita coisa. – Disse Luiza, enquanto abria sua mala para pegar uma troca de roupa e biquini. – Quer descer para a praia? O motorista está lá embaixo ainda, dá tempo de passarmos em Jurerê, tem um rodízio de frutos do mar maravilhoso.
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Em menos de uma hora, Luiza e Dani se encontravam em um dos restaurantes mais elegantes da região de Jurerê Internacional. Enquanto terminavam a primeira rodada de de entradas, Luiza foi surpreendida por uma figura que se aproximou do casal:
- Não acredito no que estou vendo! Mirella de Ribamar?!
- Em carne e osso!
- O que está fazendo aqui?
- Não ficou sabendo? Comprei essa rede de restaurantes um mês atrás.
Daniela observava as duas conversando um pouco confusa.
- Ah, Dani, desculpa. Essa aqui é a Mirella, ela estudou comigo no colégio interno em Londres.
- Que mundo pequeno... – Dani, um pouco cética, comentou.
- Eu achei que você estivesse em Blumenau!
- Ainda estou, tecnicamente, mas venho periodicamente para Florianópolis, e agora mais ainda depois dessa aquisição.
- Eu não acredito que você comprou simplesmente meu restaurante favorito de frutos do mar! Quais as chances?!
- Eu lembro que na escola, quando falei que era de Santa Catarina, você mencionou que sempre vinha a esse restaurante com suas mães. Nós perdemos contato mas quando o antigo dono procurou minha família para liquidá-los, eu me recordei.
- Liquidar? Eles estavam falindo?
- Sim, eram dois sócios, um deles pegou boa parte do dinheiro e sumiu, deixando o outro com dívidas. Por mais que fizesse sucesso, ele não estava conseguindo suprir o rombo deixado pelo outro.
Mais uma vez, Dani ouvia a conversa, apenas observando.
- Ahm... Mi, essa aqui é a Dani, minha, err...
- Prazer, Daniela. – A gerente da Travel-Tier estendeu a mão, mostrando educação.
- Prazer, Mirella. Então Lu, o que te traz para essas bandas?
- Estou abrindo uma filial da empresa de turismo que estou dirigindo. A Dani é gerente da sede lá de São Paulo, ela vai me ajudar a iniciar os trâmites daqui.
- Olha só para você! Nem parece aquela adolescente de 17 anos que matava aula na Wycombe e deixava a diretora surtada!
- Pois é, a gente muda...
- E eu fiquei sabendo que sua mãe comprou a Ventura, não foi? Comecei a assinar agora porque estou na expectativa de duas produções: o remake de Dama de Ouro e Pretty Little Liars versão filme.
- Pois é, Dama de Ouro acho que só sai ano que vem, estão gravando ainda, mas Pretty Little Liars, o filme, sai logo.
- Lu, Dama de Ouro é aquele que tem a Yanina, sua ex? – Dani perguntou.
- Você namorou a Yanina?! – Mirella questionou.
- Brevemente. Não foi assim um namoro, namoro...
- Bom saber que estou conectada indiretamente à Yanina Vergara. – Mirella riu.
- Conectada indiretamente? – Dani não compreendeu.
- É aquela história de que se você namorou ou ficou com pessoa X, a pessoa Y, se também for sua ex, está indiretamente conectada.
- Então vocês duas namoraram? – Dani perguntou, apontando simultaneamente para Luiza e Mirella.
- Brevemente. Não foi assim um namoro, namoro... – Mirella respondeu em tom de brincadeira.
- Foi meio que um caso adolescente. – Luiza explicou.
- Éramos duas das poucas brasileiras que estudavam naquele colégio interno, era inevitável nos aproximarmos. – Mirella complementou.
- Hmm... entendi.
- Mas já faz muito tempo. – Luiza tentou se justificar.
- Faz muito tempo mas também parece que foi esses dias... às vezes tenho saudade daquele colégio. Você não sente?
- Eu prefiro viver no presente... – Já bem desconfortável, Luiza tentou encerrar a conversa.
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Daniela retornou ao apartamento em silêncio durante todo o caminho. Luiza ficou na sala, enquanto Dani tomava banho. Ao sair, com uma toalha em volta de seu corpo, seguiu para seu quarto. Luiza, quando percebeu que a outra finalizara o banho, foi até o cômodo para conversar:
- Está tudo bem?
- Está sim. Pode me dar licença para eu me trocar?
- Posso. Mas tem certeza que está tudo bem?
Dani suspirou.
- É coisa da minha cabeça, relaxa.
- Agora me fala. Por acaso é por causa da Mirella?
- Eu sei que estamos só ficando, e não interprete como ciúme, mas deu a impressão de que ela não te esqueceu. Ela comprou um restaurante porque anos atrás você comentou que gostava dele!
- O quê? Como assim? Lógico que não! Você mesma ouviu,a família dela comprou porque os donos ofereceram para vender.
- Você me apresentou como gerente da sua empresa.
- E o que é que tem? Você não é a gerente?
- Sim, mas nem como amiga você não quis me apresentar.
- Porque você não é minha amiga! Você sabe que é bem mais que isso.
Após um breve momento, Dani caiu em si.
- Nossa, sério, perdão. Não sei o que me deu. Eu nem sei porque estou te cobrando, acabamos de começar a ficar, sério, desculpa.
- Hey... – Luiza se aproximou, segurando bilateralmente o corpo de Dani através da toalha. – Nós estamos em uma fase boa, tudo novo... estou curtindo ficar com você. Não precisa entrar em paranoia por causa do meu passado.
- Você está falando isso para me tranquilizar ou porque você está tentando tirar minha toalha e não está conseguindo?
- Você está segurando de propósito, né?
Dani sorriu maliciosamente e desamarrou a toalha, soltando-a. Luiza mal esperou a toalha cair no chão, e já estava colada ao corpo nu de Daniela, provando-a com vontade, mostrando que ali, naquele momento e local, só as duas importavam, e nada mais.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 20/08/2023
Luiza seu passado te condena kkkk
Resposta do autor:
o passado, o presente e o futuro hahahahaha
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