Tão logo o sol raiou, Lorenzo desligou o despertador do celular e foi checar as mensagens que recebera na noite passada, aquelas cujas quais estava muito cansado para ler. Três delas era de sua irmã, Ana Beatriz.

 

“Lô, não sou de ser casamenteira, mas ontem eu conheci um cara que é simplesmente per-fei-to para você. Eu já tinha ouvido falar dele, porque ele é bem conhecido na internet pelas publicações de artigos e pesquisas, mas não o conhecia pessoalmente. Ele é lin-do! Sabe aquele ator William Levy? Eu diria que são quase irmãos gêmeos de tão parecidos. Eu fui mostrar o hospital para ele porque a mãe quer contratá-lo, e ele fez várias perguntas sobre você. Parecia até que ele estava mais interessado em falar sobre você do que sobre o hospital. Mas gostei dele. A mãe quer oferecer um laboratório de pesquisa na capital para ele, enquanto ele trabalha aqui no hospital também.”

 

“Lô? Você dormiu? Eu venho com um babado desses e você nem para responder!”

 

“Lô? Falei com a Lu, ela disse que você estava saindo com um tal de Erick. Eu não sabia. É algo sério entre vocês?”

 

“Oi, AB. O Dr. Ramón falou de mim, então? Hahahah. Temos um conhecido em comum, na verdade, um outro advogado.” – Lorenzo achou melhor não mencionar o nome de Murilo. – “Ele vai trabalhar aí mesmo? E a propósito, o que eu tenho com o Erick não é sério.”

 

“Entendi! Acho que vai sim, ele pareceu bem empolgado. Disse que tem um almoço com a mãe por esses dias, para finalizar o contrato.” – Respondeu Ana Beatriz.

 

Nisso, surgiu outra mensagem, dessa vez, de Cecília:

 

“Filho, amanhã você consegue fazer um bate e volta em São Paulo na hora do almoço?”

 

“Vai ser meio apertado, mas consigo sim, mãe, por quê?”

 

“Preciso resolver algumas burocracias. Temos algumas coisas para acertar. Coloque aquele seu terno azul bebê da Armani, você fica lindo nele.”

 

“Tudo bem hahahaha. Estarei aí.” Lorenzo riu ao enviar, pois já sabia da armação.

 

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            O fato de Luiza ter sido a chefe que embebedou seus funcionários no início do expediente a tornou popular na empresa, pelo menos entre os mais jovens. Os mais antigos, tal como o vice-diretor, Joel de Assis, reprovaram veementemente. Talvez Joel tivesse mais motivos pois, assim como Mário estava irritado com a contratação de Dani, Joel aguardava para pegar o cargo de diretor, que lhe foi tomado pela filha da patroa.

 

            Com um cérebro criativo e cheio de ideias, Luiza duplicaria as vendas de pacotes de turismo para o final do ano. Para isso, reuniu-se com sua equipe de marketing, e dois gerentes, sendo um do setor financeiro, e Dani, a gerente do setor de vendas.

 

            - Vamos lá, pessoal. Sei que ainda estamos há alguns meses do Natal e Ano Novo, mas já quero começar a impulsionar vendas desde já. A maioria dos compradores parcela em diversas vezes, muitos deles pagam adiantado como forma de crédito para que, ao chegar na véspera da viagem, já esteja tudo debitado. Quero oferecer uma modalidade para os que pagam desta última maneira que citei: um cartão de crédito pré-pago, com inserção de um cashback do valor pago ao longo dos meses. Francisco, sob o ponto de vista do setor financeiro, é possível?

 

            - Sim, senhorita Luiza. Posso fazer alguns cálculos para estimar a porcentagem de cashback sem que haja grandes prejuízos no lucro líquido.

 

            - Ótimo. Quero esse cálculo pronto até sexta-feira. Pedro, consegue bolar com a sua equipe alguma propaganda para lançarmos na internet e televisão falando sobre esse cashback? Monte a ideia, e depois inserimos o valor calculado.

 

            - Certo, senhorita Luiza.

 

            - Ótimo. A reunião está encerrada. Dani, você pode ficar aqui mais um pouco? Preciso conversar contigo.

 

            Quando todos saíram da sala e só restaram Dani e Luiza, a gerente perguntou:

 

            - Tem algo errado? É sobre a equipe de vendas?

 

            - Não, só queria ficar sozinha com você para fazer isso. – Luiza a puxou para um beijo.

 

            - Lu! Assim você mancha o meu batom! – Dani riu ao fim do beijo, envergonhada.

 

            - É que eu não resisto... mas falando sério agora, quem é o seu melhor vendedor ou vendedora?

 

             - A Amélie, os resultados semanais dela sempre ficam em primeiro lugar, por quê?

 

            - Vou conversar com a minha mãe para abrirmos uma filial no Santa Catarina antes do fim do ano, para aumentarmos as vendas. O mercado do extremo sul é pouco explorado. A maioria das vendas é feita online, mas não há loja física para suporte. Fora que é um alvo turístico e as pessoas precisam dessa loja física para caso haja algum problema. Para isso vou ter que levar uma pequena equipe para treinar os funcionários de lá. Pretendo levar você, a melhor vendedora, alguém do serviço de atendimento ao consumidor, e alguém dos recursos humanos.

 

            - E quando você pretende fazer isso?

 

            - Procurei uns estabelecimentos à venda na capital, encontrei dois que me interessei. Primeiro, irei sexta-feira à tarde sozinha, ou contigo se você quiser, e se tudo der certo, compro o estabelecimento, faremos a nova filial e assim dentro de alguns meses levo o restante do grupo para treinar a nova equipe.

 

            - Mas nós temos prova sexta à noite, lembra?

 

            - Caramba, verdade. Vou segunda de manhã, então. Quer ir comigo?

 

            - Eu adoraria!

 

            - Dessa vez prometo que vamos a negócios. Da última vez que viajamos para outro estado juntas fiquei tão chapada que não lembro de quase nada.

 

            - Agora você é uma moça responsável. – Dani piscou e deu um tapinha na bunda de Luiza antes de se retirar. Lembrando que ela não queria ser flagrada em demonstração pública de afeto...

 

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            Anabê tinha acabado de terminar as consultas no ambulatório de alta complexidade do hospital, quando trombou com Camélia no corredor, com quem conversara por mensagem pouco menos de uma hora atrás, entre consultas.

 

 

            - Hey! – O sorriso de Anabê era espontâneo ao ver a nefrologista.

 

            - Hey! Terminou os atendimentos?

 

            - Terminei sim. Agendei quase uma dezena de cirurgias para semana que vem.

 

            - Isso é bom ou ruim?

 

            - Bom, isso é muito bom. E você, para onde está indo?

 

            - Tenho que admitir dois pacientes para diálise daqui a pouco.

 

            - Certo...

 

            - Ahm... quer jantar comigo hoje à noite?

 

            Anabê se surpreendeu com a espontaneidade do pedido.

 

            - Eu comprei alguns ingredientes para fazer macarrão à parisiense, você comentou esses dias que adorava, e eu-

 

            - Sim! Eu adoro! Vamos jantar na sua casa então?

 

            - Se você quiser, é claro. Podemos sair daqui juntas e irmos direto para meu apartamento.

 

            - Posso passar em casa primeiro? Tomar um banho, trocar de roupa. Que tal oito e meia?

 

            -  Perfeito!

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            Na Universidade, como o professor teve um imprevisto, a aula acabou terminando mais cedo.

 

            Antes de ir embora, Liara e Filipo abordaram Luiza:

 

            - Nós vamos beber naquele pub que aquele – sim, aquele –  ex jogador de futebol da seleção abriu.

 

            - Vamos ironicamente, claro, para poder julgar e depois avaliar com uma estrela no Google. – Liara complementou.

 

            - Desculpa pessoal, eu vou para casa, agora. – Luiza respondeu, distanciando-se para alcançar Dani.

 

            - Hey, moça! – Luiza finalmente a alcançou. – Para onde está indo?

 

            - Meu uber já está me esperando ali na frente, por quê?

 

            - Não quer ir lá em casa hoje? Podemos ver um filme, comer algum lanche.

 

            - Me convidando para passar a noite em casa com você? – Dani fez cara de surpresa.

 

            - Por quê? Não gostou da ideia?

 

            - Eu adorei, estava só tirando onda com a sua cara.

 

            - Cancele o uber então. Meu motorista tambem já está chegando.

 

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            Enquanto Camélia cozinhava, resolveu colocar sua playlist relaxante para acalmar os nervos. Sabia que o paladar de Ana Beatriz era bem exigente e a cirurgiã já havia provado a gastronomia de quase todos os países da Terra, portanto ela deveria se esforçar para chegar a um nível comparável. Ao ouvir o interfone, seu coração disparou. Apertou o botão para a liberação do portão e aguardou Ana Beatriz subir.

 

            A cirurgiã estava previsivelmente linda, com uma jaqueta de alfaiataria, uma blusa branca e uma saia de tecido fino. Camélia apostou em um look mais esporte fino de cor esverdeada. Cumprimentaram-se dessa vez com um beijo no rosto, sem desvios.

 

            - Que música está tocando? – Perguntou a cirurgiã.

 

            - Ah, é da minha playlist para relaxar enquanto cozinho. Quer que eu desligue?

 

            - Não, não. Eu estou gostando! – Ana Beatriz exclamou, enquanto se sentava em frente ao balcão da cozinha. – Quer ajuda com alguma coisa?

 

            - Lógico que não, querida! Hoje você é minha convidada de honra. – Camélia então abriu a geladeira e retirou uma garrafa de rum. – Quando você falou do Dr. Ramón, lembrei que tinha uma garrafa de rum que comprei ano passado quando visitei Cuba. Achei que valeria a pena finalmente abri-la aqui com você.

 

            - Eu amo rum! E falando no Dr. Ramón, estou sentindo que vai rolar algo entre ele e meu irmão.

 

            - Por quê?

 

            - Minha mãe chamou meu irmão para o almoço parar firmar o contrato com Ramón. Tudo bem que, mesmo sendo deputado, ele é o único advogado que minha mãe confia até a morte, então não é estranho para que ela o chame para vistoriar um contrato ou outro. Mas não sei... isso me cheira a algo mais.

 

            - E a Luiza? Está com a atriz argentina ainda?

 

            - Acredito que não. Ela estava apaixonada por uma funcionária dela, fazia tempo que eu não a via assim. Na verdade, Luiza está quase irreconhecível. Desde que assumiu o controle da Travel-Tier está hiperfocada em fazer a empresa crescer.

 

            - É bom ver nossos irmãos prosperando. Minha irmã mais nova está fazendo medicina também, super empolgada com o curso. Está no início ainda, mas eu a ajudo com algumas tarefas.

 

            - É tão gostoso vê-los assim, no início, inocentes... – Anabê riu.

 

            - Verdade. Quando ainda não fizeram nenhum plantão, nenhum problema lhes tira o sono...

 

            - Que sonho.

 

            - Sonho vai ser se esse macarrão ficar bom! – Camélia colocou os pratos à mesa e os serviu. – Tenho vinho, suco, e mais rum se quiser. O que você escolhe?

 

            - Macarrão com vinho é clichê. Vou experimentar com rum.

 

            - Hmm, uma garota que curte novas experiências... pois vou experimentar também.

 

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            Após uma bela refeição e incontáveis goles de rum, Camélia retirou os pratos e os colocou na lava-louças, quando Dani, na sala, observava uma coleção de CDs e DVDs antigos.

 

            - Pode me chamar de old school, mas eu tenho até o DVD original de FRIENDS aí. – Camélia riu, ao chegar na sala e ver a cena.

 

            - Não brinca! Eu amo FRIENDS!

 

            - Diga a verdade: qual o ship mais injustiçado da série?

 

            - Rachel e Paris, mas é óbvio! – Anabê respondeu, sem titubear.

 

            - Ufa! Melhor resposta!

 

            - Claro! Não me conformo do Ross ter tirado a oportunidade de ouro da carreira de Rachel de ir para a França.

 

            - Anos 90 e início dos anos 2000, né, se fosse hoje teriam dado um final diferente.

 

            - E esse DVD aqui? – Anabê retirou um da prateleira, cuja capa constava “Flashback anos 80” – Não acredito que você tem essa relíquia! Essa compilação é simplesmente a melhor de todos os tempos, meu amor aos anos 80 nasceu daí.

 

            - E se eu te contar que tenho um DVD player nessa gaveta do rack da televisão?

 

            - Pois eu vou pedir para você ligar e colocar esse DVD porque me bateu uma nostalgia insuperável!

 

            Camélia então desligou a playlist que estava tocando desde o momento que começou a cozinhar, instalou o player e colocou o DVD. Uma tela com o menu do setlist apareceu, e logo em seguida, o primeiro clipe começou a tocar. Um rapaz com cabelo e roupas típicas dos anos 70-80, tocando um violão, começou a tocar I’d love you to want me. Os olhos de Anabê marejaram com a nostalgia, quando escutara pela primeira vez, em 2008, e simplesmente se apaixonara pelos clipes.

 

            - Dança comigo? – Camélia ofereceu a mão.

 

            - Claro! – Anabê envolveu seus braços ao redor do pescoço da nefrologista.

 

            - Essa música possui uma versão brasileira, não? – Questinou Camélia.

 

            - Possui sim. E você vai rir... é do KLB.

 

            - Pois é, eu me lembrei... mas sempre gostei, independentemente da versão.

 

            - Baby, I'd love you to want me... – Anabê começou a cantarolar.

 

            - The way that I want you. – Camélia acompanhou.

 

            -The way that it should be...

 

            Foi quando os lábios, aproximando-se conforme a música continuava, finalmente se tocaram de maneira terna, porém intensa. Os beijos se prolongaram até o fim do clipe, passando automaticamente para o próximo, um clássico de Air Supply, Making love out of nothing at all. No embalo, Camélia guiou Anabê até o sofá, onde, após tirar a jaqueta e a blusa da outra, deitou-se por cima da cirurgiã e continuou beijando-a, explorando cada canto de sua boca, como queria ter feito propriamente, com cuidado e detalhismo, na festa das garotas.

 

            Ana Beatriz acariciava a nuca de Camélia, aproveitando o momento, sentindo a língua da nefrologista em contato com sua boca, enquanto seu corpo todo respondia, excitado.

 

            Camélia tomou seu tempo descendo pelo corpo de Anabê, beijando cada milímetro quadrado, incluindo a borboleta tatuada em seu quadrante inferior direito, em cima de uma pequena cicatriz de apendicectomia. A nefrologista abaixou um pouco a saia de Anabê até tirá-la completamente, quando a cirurgiã pegou o embalo, sentou-se e começou a tirar também as roupas da outra.

 

            Em questão de segundos, ambas estavam completamente nuas, com três dedos de Camélia penetrando em Ana Beatriz em um ritmo quase frenético, fazendo os quadris da cirurgiã cederem completamente ao prazer obtido. O frio da temporada de inverno parecia uma realidade paralela, pois dentro do apartamento ambos os corpos suavam quando o atrito aumentava....aumentava...aumentava...até, exausta, Camélia se jogar sobre o corpo de Anabê no sofá.

 

            - Se isso for o paraíso, estou feliz em ter morrido... – Anabê pronunciou, ofegante.

 

            - Isso foi romantismo ou uma reação pós orgasmo? – Também ofegante, Camélia perguntou.

 

            - Ambos. – Ana Beatriz riu, enquanto mordia o lábio inferior e acariciava o cabelo de Camélia.

 

            Com uma força vinda absolutamente do nada, Ana Beatriz conseguiu inverter posições com Camélia, também percorrendo todo corpo da outra com beijos e mordiscadas até chegar em sua região genital, esquadrinhando com a ponta da língua toda a região interna, fazendo a nefrologista rebol*r com seu corpo a cada movimento lingual de Anabê.

 

            O ato durou pelo resto da continuação do dvd, até terminar a lista de músicas. Já era madrugada, e as duas permaneciam no sofá extra-longo. Poucas interrupções foram feitas para tomar água, mas logo voltavam para o intercâmbio de posições. O prazer constante que Anabê sentia, tanto fazendo quanto recebendo era algo que não sentia há tempos. Dormir tarde e acordar cedo para passar visitas nos pacientes de pós operatório era algo inevitável. Para isso serve a cafeína, não é mesmo?

 

Fim do capítulo