Capitulo 15 - Noite das garotas (Posso te imaginar comigo contra a parede)
Nota: Esse capítulo não contém spoilers do filme mencionado.
Apesar dos pesares e dos adiamentos, finalmente Ana Beatriz organizara a tal noite das garotas. O primeiro cancelamento foi por incompatibilidade de agendas; o segundo, porque a cirurgiã resolveu dar um tempo de si mesma descansando alguns dias nos Estados Unidos.
Pelo fato de a Ventura ter comprado os direitos de Streaming de toda e qualquer franquia da Barbie, incluindo o filme recém lançado, Cecília detinha a posse dos arquivos do filme. Como forma de pedir perdão para sua filha, que voltou para o lar recentemente, cedeu a mansão para a tal festa, que incluía um salão gigantesco, além da sala privada de cinema, enquanto viajava para a Arábia Saudita a negócios.
Celebrando a cor favorita de Ana Beatriz, o clássico pink, resolveram fazer a noite das mulheres como um universo paralelo cor-de-rosa. Drinks rosados, vinho rosé à beça, roupas rosadas, uma chef renomada em comidas gourmet no espectro avermelhado-rosado foi contratada, e a festa se iniciaria com o filme, seguido de uma festa casual, mais como uma resenha de elite, apenas com as amigas mais próximas de Ana Beatriz e Luiza. Uma DJ consagrada por fazer playlists 100% feministas também foi contratada para cuidar da música pós sessão de filme, em volume saudável, nada do estilo danceteria ou paredão sonoro, mas o suficiente para dançar no meio do salão para os que, regados aos drinks feitos pela prima de Paloma, quisessem curtir o ritmo.
Conforme o roteiro previsto, após discussões breves sobre as mensagens passadas no filme, as meninas desceram para o salão de festa. À contragosto, a única que não estava de rosa era Luiza. Para entrar na vibe da festa, Ana Beatriz encontrou uma gravata rosa antiga de alguma festa à fantasia escondida no fundo do guarda-roupa e colocou sob o colete preto da irmã caçula.
Conversa vai, conversa vem, e após diversas doses de pink martini, a versão curiosa de Daniela começou a surgir.
- Lu, foi aqui nessa mansão que você cresceu, né?
- Foi sim.
- Agora você tem que me mostrar seu quarto de infância! Aposto que está cheio de pôsteres de jogadoras de vôlei e futebol.
- Na verdade, não. – Luiza riu. – Tem alguns pôsteres de bandas alternativas só.
- Eu só acredito vendo!
Luiza então pegou Dani pela mão e subiu as escadas rumo a seu quarto. Lá, encontrou uma decoração peculiar: duas paredes pintadas de preto, e duas de roxo. Diversos quadros e pôsteres de bandas britânicas, que a caçula trazia quando vinha de férias do colégio interno.
- Você adolescente deve ter sido a coisa mais rebelde e fofa desse mundo. – Dani colocou sua taça de drink sob a cômoda e se aproximou de Luiza.
- Fofa eu não sei, mas rebelde, os professores da Wycombe Abbey School concordam...
- Pois eu acho que esse seu jeito rebelde é só um tipinho... – Dani puxou Luiza pela gravata, deixando os corpos colados um no outro.
- Um tipinho? – Luiza arqueou uma de suas sobrancelhas. – Parece que beber martini te deixa bem provocante, não é?
- Você não faz ideia. – Daniela puxou Luiza pelo pescoço, dando-lhe um beijo arrebatador.
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No salão, Ana Beatriz bebia Absolut Raspberry, Paloma bebia Gin Gordon’s Pink e Camélia, uma mistura de ambas as bebidas, enquanto tocava Raise your glass, de P!nk.
- Garotas, venham aqui, precisamos conversar. – Já alterada, Paloma chamou as duas outras amigas para um canto. – Em primeiro lugar, como pode ter tanta mulher bonitas assim em uma festa?
- Paloma, não me faz passar vergonha... – Anabê revirou os olhos.
- Eu estou falando das colegas de faculdade da sua irmã caçula! Só mulher linda.
- Então aproveita que você está despojada assim e vai puxar papo com alguma delas! – Anabê incentivou.
- Não, não. Primeiro preciso resolver algo entre a gente.
- Ai, lá vem... – Anabê começou a se preocupar.
- Seguinte, Camélia, a Anabê ficou chateada de eu e você termos trans*do.
- Ficou?! – Camélia mostrou interesse pelo assunto..
- Lógico que não! – Anabê esbugalhou os olhos, querendo sumir dali.
- Ficou sim. – Paloma continuou. – E sabe por quê?
- Por quê? – Camélia perguntou.
- Por nada! – Ana Beatriz fuzilou Paloma com o olhar.
- Porque ela gosta de você, Camélia! Ela é super a fim de você e foi um erro a gente ter trans*do. Pronto. Falei. Desculpa.
Camélia ficou estática, sem saber o que dizer.
- Paloma, amanhã quando você estiver sóbria, você vai ouvir tanto, mas tanto!
- Vou ouvir nada. Porque você sabe que eu falei a verdade. Agora vou procurar alguma garota para conversar. Resolvam o resto entre vocês. Tchau! – Paloma virou de costas e saiu com seu drink, quase cambaleando.
- Não liga para a Paloma, quando ela bebe demais fica brincalhona assim mesmo... – Completamente ruborizada, Anabê tentou contornar a situação.
- Tudo bem... – Um pouco envergonhada, Camélia respondeu, antes de virar seu copo e beber até o fim. – Você e o Dennis terminaram mesmo?
- Demos um tempo. Por quê?
- Só perguntando... – Sem Paloma ali o clima havia ficado extremamente estranho, pois Camélia e Ana Beatriz, repentinamente, não conseguiam mais se encarar.
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Tentando fugir da situação extremamente constrangedora, Ana Beatriz pediu licença com a desculpa de que iria no banheiro e subiu as escadas em direção ao seu quarto, onde ficaria escondida por um tempo até Camélia se sentir desconfortável o suficiente para ir embora. Entretanto, a nefrologista, vendo a cirurgiã subir as escadas, seguiu-a sutilmente. Escondeu-se quando Anabê entrou em um quarto, esperou trinta segundos e entrou logo em seguida.
- O que você está fazendo aqui?! – Perguntou Ana Beatriz, apavorada.
- Você ficou estranha depois do que a Paloma falou.
- Eu? Estranha? Você que ficou estranha! – Anabê entrou no modo defensivo.
- Eu fiquei estranha porque você ficou estranha!
- Eu não fiquei estranha!
- É que pela maneira que você reagiu, aquilo parecia verdade.
- O que parecia verdade?
- O lance de você ter se chateado pelo fato de Paloma e eu termos...
- Transado? Lógico que não! – Anabê riu forçadamente. – Eu estou completamente de boa com isso. Não sei de onde você tirou uma coisa dessas!
- Calma, Anabê. Relaxa! – Camélia foi se aproximando da amiga. – Relaxa, de verdade. Não precisa ficar na defensiva.
- Eu... eu não consigo relaxar. – Anabê engoliu a seco e desviou o olhar.
- Por que não? – Camélia se aproximou mais um pouco e colocou uma mexa do cabelo de Ana Beatriz atrás da orelha.
- Não sei! Não sei porque é tão dific...-
Antes de Ana Beatriz completar a frase, Camélia a segurou pelo rosto e a beijou ternamente. Um beijo curto, com duração de poucos segundos, com lábios se movendo lentamente, o suficiente para estremecer o corpo de Anabê por inteiro. Ao final do beijo, as duas finalmente se olharam com firmeza.
- Eu sei. Também é difícil me conter perto de você. – Camélia respondeu.
De súbito, subiu uma coragem surreal em Ana Beatriz, coragem suficiente para beijar a nefrologista com vontade, com uma luxúria guardada misturada com o álcool retirando qualquer inibição. Enquanto os lábios não se desgrudavam, a calça jeans rosa de Ana Beatriz era desabotoada por Camélia, em uma destreza ímpar. A nefrologista colocou a cirurgião contra a parede, e, ainda entre beijos, sua mão adentrou a região íntima de Anabê, percorrendo com os dedos o caminho que, há muito, a cirurgiã ansiava que a nefrologista percorresse.
Os beijos eram, frequentemente, interrompidos por gemidos de Ana Beatriz, que se deleitava com a perna ligeiramente erguida, apoiada em Camélia. De repente, Ana interrompe e segura a mão da amiga.
- Espera, espera... – Ana Beatriz tentava retomar o fôlego.
- Que foi? Eu te machuquei?
- Não! Eu... eu precisava te perguntar um negócio...
- Agora?
- Sim... é que isso vem me torturando... por que você e a Paloma trans*ram?
- É sério isso? – Camélia não se aguentou, afastou-se e riu.
- Sim, é sério. – Ana Beatriz não gostou da reação.
- Sei lá, estávamos bêbadas, falando sobre a vida, Paloma tinha acabado de me contar da sua história de amor com o Dennis, eu sabia que nunca poderia competir. Ela estava ali, eu também, e aconteceu.
- Vocês não sentem absolutamente nada uma pela outra?
- Lógico que não! – Camélia continuou a rir. – Porém você adora cortar o clima completamente, né?
- Ai, desculpa... – Anabê se arrependeu instantaneamente. – Isso vinha me martelando, estava entalado na minha garganta.
- Você sabe que não podia falar nada nem reclamar porque estava noiva do Dennis, né?
- Eu sei, eu sei. Paloma me falou a mesma coisa. Podemos continuar?
- Espera. Tem algum banheiro aqui perto?
- O que mais tem é banheiro. Precisa ir agora?
- Na verdade eu preciso vomit- Camélia despejou todo conteúdo de bebida, pipocas e quitutes rosados no carpete do quarto.
- Certo. Chega de bebida por hoje. – Anabê afirmou, levando Camélia ao banheiro finalmente para terminar de vomitar.
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No fim da madrugada, após diversas rodadas de orgasmo entre Luiza e Dani, a caçula da família Gutierrez, já com a boca seca, desceu para o salão a fim de pegar mais algumas bebidas. A maioria das colegas de faculdade de Luiza e colegas de hospital de Anabê estavam tão entretidas entre danças e paqueras que nem repararam que as anfitriãs deixaram o salão um pouco mais cedo.
Pegando duas garrafas de bebidas destiladas rosadas e uma garrafa de água, Luiza retornou ao seu quarto,
- Como está a festa no salão? – Dani perguntou, enquanto, nua, pegava a garrafa de água da mão de Luiza.
- Está rosa. Bem rosa. Tão rosa que me arde os olhos. – Luiza colocou uma das bebidas na cômoda ao lado, e, segurando a outra, pulou na cama.
Enquanto procurava sua lingerie pelo quarto, Daniela se deparou com um canhoto de ingresso datado de anos atrás, já bem castigado pelo tempo.
- Coachella 2019... você foi? – Dani pegou o ingresso e o mostrou.
- Fui sim. Nos dois finais de semana. Um dos melhores festivais da minha vida.
- Meu sonho ir em um Coachella. Como foi?
- Foi legal. Teve Childish Gambino, Tame Impala, e mais um monte de gente.
- Você tinha quantos anos?
- Dezesseis. Como nessa idade tem que ir algum acompanhante, minha irmã foi comigo. Uma das poucas vezes que ela me fez companhia depois que foi para a faculdade.
- Sente saudade de passar momentos assim com ela?
- Olha, você vai me desculpar, mas não consigo ficar falando da minha irmã com você nua na minha frente. Ou você pula aqui na cama ou eu vou ter que ir aí te pegar... – Luiza comentou, já se levantando para agarrar Dani e jogá-la novamente na cama.
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Pela manhã, Camélia acordou ao lado do vaso sanitário, e chacoalhou Anabê, que cochilava do lado da pia. O chão aquecido automaticamente contribuiu para que ambas, em estado alcoólico, decidissem por ficar ali mesmo.
- Bom dia... estou tendo uma das piores cefaleias de ressaca que já tive na minha vida. O que colocaram naquelas bebidas rosas?
- Acho que não foi o que colocaram e sim a quantidade que bebemos... bom dia para você também.
- Sabe se tem algum soro de reidratação oral nesse casarão? – Camélia perguntou.
- Sim, comprei uma dezena de sachês para preparar depois da festa.
- Gosto assim, de gente preparada.
- Vou mandar mensagem para a governanta, ver se ela já levantou e traz aqui para a gente, porque eu estou sem forças para sair daqui.
- Tudo bem. Ah, você me perdoa por ontem à noite?
- Pelo quê?
- Por ter vomitado e interrompido o que estávamos fazendo...
- Não esquenta com isso, Camélia. Fico feliz de você estar bem.
- Que horas são?
Anabê pegou o celular para mandar mensagem e aproveitou para ver o horário.
- São cinco e meia da manhã, por quê?
- Caramba, eu tenho que estar às 7 em Jundiaí para um plantão! Tenho que sair correndo! Posso tomar banho aqui rapidinho? Você pode me emprestar uma roupa? Tenho que siar em meia hora para dar tempo de chegar lá.
- Posso emprestar sim. – O semblante de Anabê decaiu. – Tem que ir mesmo? Certeza?
- Certeza, não consegui ninguém para cobrir para mim com antecedência.
Anabê então se levantou para buscar uma calça jeans e uma blusa que serviriam em Camélia. Quando entrou no banheiro, viu, pelo vidro borrado de vapor do box, o contorno do corpo da nefrologista.
- Você pode pegar uma toalha para mim também, por favor?
- Posso sim. – Anabê tirou duas toalhas, uma de rosto e outra de corpo, do armário dentro do banheiro.
Camélia abriu uma parte do box, revelando a água correndo por seu corpo.
- Obrigada!
- D...de nada... – e mais uma vez, Anabê gaguejava, imóvel, com os olhos arregalados, como uma adolescente que estivesse vendo e desejando um corpo pela primeira vez.
- Quer entrar? – Camélia perguntou, provocando.
- Hm? Oi? – Anabê saiu do transe, assustada.
- Estou brincando, relaxa! – Camélia pegou as toalhas e, após desligar o chuveiro, começou a se secar.
Mas, como dizem, toda brincadeira tem um fundo de verdade.
Fim do capítulo
à geruza, dora e demais leitoras que comentam via facebook:
não tenho fb mas fica aqui meu agradecimento pelos comentários, estou lendo todos!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 13/08/2023
Eita festa animada, Dennis perdeu otário.
Resposta do autor:
Hahahaha
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Gaya
Em: 12/08/2023
Hallooooo autoras lindas!
Que fezes esse "serra Fox" do Dennis. Correu para contar pras sogras, querendo se redimir!
Meuuuuu, essa Cecília é uma coisa. Só porque é poderosa "faz acontecer", passando por cima da filha dela que não é mais uma criança. Indecisa, as vezes, mas muitíssimo mulher!
Amei a postura da Paloma! Amiga fodástica!
Meuuuuuuuu, Camélia só por uma vez, poderia chutar o balde e ficar com a Anabê!
Torcendo por serra do Dennis, realmente ir atrás da pequena grávida!
Coração aqui, meio na contramão, essas autoras lindas, as vezes, deixa o cabeção pirar!
Trama lindaaaaaaaa!
E que venham os próximos capítulos!
E que euzinha consegui ser feliz com eles! rsrsrs
Grande abraço meninas!
Resposta do autor:
o que seria de um conto sem sofrimento? nada!!!! calma, vem mais coisas por aí. O álcool e a coragem as vezes precisam um do outro para fazer as coisas acontecerem. Um abraço flor :)
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