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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 4692
Acessos: 1050   |  Postado em: 31/07/2023

Capitulo 23

Capítulo 23 - Bruna

 

        As oito horas em ponto o celular da Flávia começou a tremer na cama. Eu até dormi bem, pouco para os meus padrões, mas dormi bem. Só me assustei mesmo com o pesadelo dela. Imagina, você está dormindo tranquila e alguém do seu lado começa a gritar e a se contrair, foi um susto mesmo. 

       Eu e ela tivemos uma noite perfeita, de um modo geral, primeiro fomos para um bar e balada com a Lana e o Edu. Nunca na minha vida imaginei que a Flávia, a séria, dançava, rebol*va até o chão ou que sabia conduzir um "rasta pé" com maestria. Eu que adoro um sertanejo, acho que nunca encontrei uma menina que encaixasse tanto na dança.

       E cara, como foi gostoso e divertido dançar com ela. Claro que o flerte em si foi uma delícia, mas a dança mesmo, o "dois pra lá e dois pra cá" foi super gostoso, me surpreendi com essa habilidade dela. E a habilidade na mão também. Eu imaginava um estilo de sex* mais firme e ativo da parte dela, e tive isso, mas a pitadinha de tortura que ela tem foi uma boa cereja no bolo. Eu curto essa pegada mais bruta, mais testando limites, mas a Flavinha deixou bem nítido que ela sabe o que faz e sabe fazer bem gostoso. 

        Eu queria muito que rolasse entre a gente, mas quando ela travou, fiquei puta, irritada, decepcionada. Aparentemente foi isso que deu um empurrãozinho nela, para tirar a roupa e entrar no banho comigo. E que corpo, quase fiquei com vergonha do meu. Ela não é musculosa de grande, nem dá, acho que o metabolismo dela não deixa, mas é musculosa de definida, toda durinha, uma pele morena fantástica. Vou dizer que valeu cada ligação para o Cantão me ajudar. 

        Ela fez tão bem, tão gostoso, que meus olhos estavam fechando sozinhos quando deitamos. Virei de conchinha e dormi com ela abraçada, tive uma sensação de proteção, companheirismo, de "tamo" junto. E isso era algo que eu sentia falta faz um bom tempo, essa sensação de estar com alguém além do corpo, ser acompanhada e cuidada. Sentir que tem alguém te protegendo, acompanhando, é muito mágico. Acho que isso tudo junto fez eu dormir tão gostoso, tão leve. 

         O despertador tocou me acordando. Eu me mexi e ela me apertou mais, mostrando que também acordou, mas não queria se afastar. Me mantive ali encaixada no corpo nu dela, pele com pele. Ela começou a se mexer, senti seu rosto se aproximando do meu. Ganhei uma cafungada tão gostosa no pescoço que me arrepiei.

        - Hum.. posso gostar de acordar assim - falei ainda sem sair da posição. 

        - quem sabe não faço mais isso. 

        - Tô contando com isso - falei virando para ela. Passei minha mão pelo cabelo solto, colocando atrás da orelha. A Flávia fez uma expressão manhosa, mas quando ela própria percebeu, enrijeceu o corpo como se precisasse voltar ao domínio da situação. Ela passou a mão pelo meu rosto, fazendo um carinho gostoso, eu quase não consegui conter o prazer desse momento, não prazer sexual, prazer em receber o cafuné. Aproximei mais do corpo dela, encostando a ponta dos nossos narizes, respirando fundo. 

         - Bru, deixa eu escovar os dentes antes. Estou com bafo - acabei dando risada, errada ela não está. Dei risada e sai de cima dela, ela rodou na cama e levantou plena, batendo os pés na naturalidade habitual. Sequei a Flávia, sequei mesmo. O corpinho dela é no mínimo uma delícia de ser observado - Bruna! 

          - Oi amor - gritei da cama. 

          - Como você quer fazer? Eu preciso passar na minha casa, tomar um banho e me trocar. Quer ir junto ou eu vou e depois te pego aqui? 

          - Pode pegar agora! - silêncio - Posso ir com você na sua casa e vamos de lá - silêncio. Ela voltou batendo o pé, no movimento natural de sua firmeza, pegando as roupas que ela largou na lateral do quarto ontem. 

           - Tem certeza? Meu apartamento ainda tá meio que em obras, sendo feito - foi falando enquanto se vestia - não quero que você tenha uma visão estranha de lá. 

           - Flavinha, para de bobagem. Se troca aí, vou tomar um banho e me vestir. Eu já vou pronta, passamos lá, você se arruma e vamos. 

            - Hum hum - ela só respondeu isso, me levantei e comecei a pegar o que eu precisava para o banho e me arrumar. Não sei bem o que usar, não posso parecer requintada, já vi que a Flávia se sente mal com isso, mas não quero parecer que levantei da cama e sai. Olhei o guarda roupa, um clássico, jeans, salto e camisa. Isso não sai errado nunca. Passei por ela, dei um beijinho e entrei para o chuveiro.

 

           Pensei comigo, que cheiro maravilhoso. Eu já estava trocada, só mesmo acertando a maquiagem. Passei pela sala, indo em direção a cozinha. Ela estava em pé, ao lado do fogão. Cozinhando nosso café da manhã. Que mulher! Não por ela cozinhar, mas por ser firme, gostosa, atenciosa, boa de cama e ainda cozinha. Estou começando a ter uma sensação boa em estar perto dela, de ter ela no meu dia a dia. Passei pela Flávia e abracei ela por trás, com o salto a altura não fica tão desproporcional - O cheiro está bem bom. 

          - Acabei mexendo na sua geladeira. Peguei umas coisas pro café. Já quis ir adiantando, para não atrasarmos. 

          - Você pode deixar umas peças de roupa por aqui, assim não corre o risco de atrasar - joguei a bomba e sai correndo. Ela respondeu com silêncio e uma expressão de pensativa. Isso me incomoda, ela não fala comigo, guarda tanta coisa pra si mesma. Dei mais um beijinho nas costas dela e sai. Arrumei a mesinha da sala para comermos. Ela fez um ovo mexido bem gostoso, com bacon e uns queijos, fez um café bem quentinho e pão torrado no forno, eu me apaixonei por esse cuidado dela. 

 

 

          Levamos meia hora entre a minha casa e a dela, no centro de São Paulo. Ela foi dirigindo meu carro, isso já se tornou um costume e eu gosto. Não sou de dirigir e esse carro é enorme, comprei pra Mayra na verdade e na ironia do destino, quem dirige é a Flávia. Ela mora no último andar de um prédio antigo, mas bem conservado. Incrível como eu estava com uma certa ansiedade em conhecer esse espaço. A Flávia é tão fechada que ela permitir eu entrar na casa dela já é um avanço muito grande. Seguimos por um corredor gelado, até a última porta do corredor, onde ela tocou a campainha e enfiou a chave na fechadura. Eu achei bem estranho, mas ok. 

          Quando a porta abriu, me senti alguns passos mais próximos a ela. O apartamento realmente ainda estava sendo mobiliado e construído, a sala está sem nada, sem televisão, sem sofá, sem móveis. À direita uma cozinha, azulejos antigos. A esquerda, um corredor sem decoração. 

         - Entra, vem cá. - a Flávia segurou minha mão e foi puxando pelo pequeno apartamento. - Esse pedaço vai ser a sala, ela não existia, era só uma grande cozinha. Ainda falta comprar os móveis, aqui é a cozinha, que ficou bem menor, mas preciso de uma sala não preciso? - ela foi me mostrando a casa, dá para ver como ela está encantada com o espaço dela. Passou pelo quarto do meio, o quarto da Bia, ainda não acredito que elas moram juntas, um AFF apenas. Seguiu me puxando pelo corredor, até o quarto dela. A primeira coisa que reparei foi a vista, mano, que vista linda da cidade de São Paulo. Acho que eu poderia ficar aqui uma vida olhando a paisagem. Parei na janela e não olhei mais nada, absolutamente mais nada - A vista é maravilhosa não é?! - Falou isso no pé do meu ouvido, meu corpo ficou arrepiado de ponta a ponta - Igual você! - quando a Flávia completou a frase, aí eu me derreti. Virei o corpo em direção a ela, passei minha mão na cintura dela e ali, com São Paulo de fundo nós beijamos. Um beijo lento, leve, calmo, suave. 

 

          - Fica a vontade, a casa é sua. Eu vou tomar um banho, mas é coisa rápida - falou enquanto seguia pelo quarto, mexendo no guarda roupa. Olhou pra mim, mandou um beijo e saiu. Eu fiquei ali no quarto, sem ter o que fazer. Me sentei na cama dela e parei para pensar um pouco. Foi uma sensação diferente olhar a Flávia na intimidade, tanto física como a da casa. A casa mostra exatamente como ela está, mudando, reorganizando, redecorando. Só espero que de algum modo eu esteja nessa nova decoração, nessa nova cor dela. 

         - Oh sapatao!! Vem cá!! - veio uma voz de outro cômodo, voz masculina. 

         - Para com isso Gabriel, para de ser bobo - voz feminina, num tom de risada. 

         - Oh sapatao, você sabia… 

         - Pára de chamar ela assim - o Gabriel entrou no quarto da Flávia, rindo, brincando. 

         - Opa, é você que tá aí Pink. Cadê a sapatao? 

         - Não chama ela assim, ishi - a Bia olhou pra mim e acabou a brincadeira em um milésimo de segundo. 

         - E vou chamar ela como amor? - ele continuou a brincadeira, mas perderam o clima quando me viram. A Bia se recompôs da brincadeira deles e seguiu no corredor. O Gabriel entrou no quarto, puxando conversa. Ele estava só de bermuda, peito de fora, descabelado e com a barba a fazer. Uma cara de que estava dormindo até 5 minutos atrás - E o que você está fazendo por aqui Pink? A Flávia está aí? 

       - Ela veio tomar banho, eu vim junto. Tô esperando ela para irmos. 

       - Você vai lá na festa da dona Ondila? 

       - Vou na avó dela. 

       - Isso, a vó dela é a dona Ondila. Eu e a Bia vamos também.

       - Mas você conhece a família dela assim? 

       - A dona Carmem, vulgo uma das minhas mães, ajudou a dona Ondila com a aposentadoria. Então conheço ela, é uma velhinha show de bola. 

       - Ainda bem que você vai também, estou com medo de ficar deslocada lá, meio perdida. 

       - Eu vou estar, a Bia vai, e dona Márcia e dona Carmem também. Só de assunto com as duas, você já tem uma festa toda. E pára de ser medrosa, a Flávia não vai te deixar largada lá, pode ter certeza. 

       - Sai daí Cantão - Flávia apareceu na porta, enrolada na toalha, com o cabelo molhado

       - Nossa sapatao, tá até coradinha, parece que tá de bom humor - eu não consegui ver eles, só ouvi a conversa mesmo, eles baixaram o tom e falaram alguma coisa, ao fundo dava para ouvir o murmurinho, mas não o que realmente falavam. Mas ele enfiou a cara de novo no quarto, rindo e falou pra mim: Tá de parabéns hein Bruna. Conseguiu desatar o nó - e começou a rir. A Flávia ficou roxa de tanta vergonha, ela empurrou ele para fora do quarto, como se quisesse se enfiar embaixo da cama, por causa da vergonha. 

        - Você não tem uma barba pra ir fazer não bocó?! - esperou ele sair do quarto e fechou a porta, passando o trinco. 

       - O que ele falou Flávia? - perguntei, chegando mais perto dela na cama. 

       - Nada, só estava me zuando. O bocó já ganhou que eu e você ficamos juntas ontem a noite. 

       - E ele saber é um problema? - Ela tirou a toalha e começou a se vestir. 

       - Não, mas eu fiquei com vergonha. Ele pega as coisas no ar. 

       - Ele é intrometido, isso sim. Ele tava todo bobão brincando com a Bia. Achei bonitinho, ele está feliz. 

       - Sim, são um casal bem fofo. Eles merecem essa felicidade toda - fiquei quieta, ele está feliz, isso que me importa, apesar de eu não ir nem um pouco com a cara da Bia, ranço recíproco, diga-se de passagem. A Flávia foi se trocando, mas sob meu olhar atento e deixei bem claro que eu estava secando. Assim que tirou a toalha eu já comecei a olhar mais atentamente, conforme cada peça de roupa ia entrando ou caindo em seu corpo eu olhava com mais intensidade, querendo mais, desejando mais. 

        - Acho que vou precisar de uma garrafinha de água, tô ficando desidratada - ela falou sorrindo, brincando. 

        - Ah, quem manda ser gostosa?! - ela sorriu, rindo e me deu um selinho. Ela continuou se arrumando, não acelerado, mas num ritmo bom. Eu fiquei ali com ela, batendo papo, jogando conversa fora. No final lá estava a policial gostosa que eu conheci, cabelo bem esticadinho, uma regata cinza, larga, com um colar sob o tórax, um jeans bem alinhado e um coturno. Elegante, linda.

        - Partiu meu amor? - levantei quase que num pulo. Ela sai na frente, seguindo em direção a minúscula cozinha. A Bia estava no canto, em pé na lateral da cozinha, com uma xícara fumegante, esperando a alma voltar ao corpo. Já o Bibo, lavando a louça. Nunca vi essa cena em todos esses anos. - Quer um café Bru? O delegado que fez. 

       - Quero um pouquinho sim, por favor - aceitei o café enquanto ela conversava com o Bibo. 

      - Precisa que leve algo pra festa Flávia? - ele perguntou. 

      - Espero que não, eu dei o dinheiro pra festa. Não é pra ter que levar nada. 

      - Você deu o dinheiro para sua mãe? 

      - Jamais, do jeito que ela é não iria nem ter festa. Entreguei na mão da minha tia. 

      - É, eu acho que você fez bem. Não duvido da sua mãe usar pra pagar a dívida da Roberta. Será que ela vai ter a cara de pau de aparecer lá? 

      - Cantão… desde quando a Roberta tem vergonha na cara? Claro que ela vai aparecer. Se não estiver ruim, já é bom - eu não me intrometi, não questionei, mas quem é Roberta? A Flávia está tão tensa em relação a essa festa da família dela, em como eu vou encarar ela, eu nem sei o que pode acontecer de tão ruim lá. Qualquer coisa que eu pergunte sobre ela ou o passado dela, a resposta que tenho é: depois da festa da minha vó conversamos. Tipo, aí eu me pergunto o que pode tanto ter lá? Vou descobrir o que, que ela matou alguém e que é foragida? 

 

       Entramos no meu carro, ela no motorista e eu de agregada, meu carro já responde mais a ela que a mim. Ela estava pensativa, puxou o celular, digitou um endereço, apertou alguns comandos programando o aplicativo. Olhou pra mim de um jeito estranho e diferente, cansada e apreensiva. Sorri de volta, tentando acalma-la de alguma forma. O que se passa com a Flávia? Queria entender, ela não fala. 

      - Está tudo bem Flávia? - passei a mão esquerda no rosto dela, fazendo um carinho.

      - Só estou agitada eu acho. 

      - Porque amor? Você está distraída, distante. 

      - Não é nada. Só estou preocupada com a festa da minha vó. - e claro que ela iria fugir mais uma vez. 

      - Não é pelo fato de eu ir conhecer sua família? De você estar levando uma mulher lá? Sei lá, um risco da sua ex namorada ver a gente? - ela abriu um sorriso sem graça, não sei se acertei, mas não errei. A Flávia a cada dia mais me mostra um mistério, um jeito de me prender, como se fosse um crime político que eu quisesse investigar e mostrar a todos. 

     - Não tenho medo de te levar lá. Todos sabem que sou sapatao e não estou nem aí com a opinião de ninguém. 

     - E a questão da ex namorada ver? 

     - Já te falei isso não tem chance, ela não vai aparecer. 

     - Então porque está com essa cara? Está assustada. 

     - Não estou assustada. Acho que é medo da sua reação, de tudo. Enfim, esquece isso, coloca uma música legal pra gente - pela primeira vez desde que entramos no carro, ela olhou pra mim. Passou a mão no meu rosto, com um cafuné gostoso, cheio de carinho. Coloquei músicas calminhas, românticas, bem aquela água com açúcar. Fomos andando, ela colocou a mão dela na minha coxa, de tempos em tempos uma apertadinha, um carinho a mais. Mas dava pra ver que ela não estava totalmente confortável e eu como não sei calar a minha boca, perguntei: 

     - Tá, mais quem é essa Roberta que você e o Bibo estavam falando? 

     - Mas você não consegue guardar uma dúvida pra você não Bruna? - ela não falou agressiva, estava mais pra um tom de exaustão. 

     - Ah, não mata se eu perguntar. 

     - Roberta é a minha irmã - hummm. Mas o que pode ter de briga com irmão? Não tenho um, mas imagino que elas briguem por espaço, por carinho de mãe, por presentes, sei lá, uma ganhou uma viagem e a outra não. Não sei. 

    - Tá, mas qual é a questão dela aparecer na festa. Me fala um pouco sobre você Flávia, sem fugir. Já passou mil coisas na minha cabeça, você não me conta nada nunca. 

    - A Roberta é minha irmã drogada, que faz minha mãe idosa trabalhar exaustivamente, para no final do mês dar o salário pra ela, para pagar a dívida de droga do mês. 

    - Como assim? - perguntei, acho que indignada. 

    - Ela tem um vício, o que gera uma dívida. Se você usa mais do que trafica, a dívida surge. Aí você usa do amor da sua mãe para pagar e limpar sua barra. Não é complicado. 

     - E sua mãe faz isso de boa? 

     - Sim, ela ama a filha, não quer a Roberta fugindo do chefe do tráfico ou sendo morta por dívida. Então paga tudo e um pouco mais. E eu sou a pior pessoa do mundo, pelo fato de não alimentar isso. Eu não dou dinheiro pra Roberta e não entrego dinheiro na mão da minha mãe. Quando ela precisa de algo eu compro. 

     - Mas Flávia, ela não aceita tratar esse vício? - quando vi eu já tinha perguntado

     - Ela gosta dessa vida, gosta da brisa, de usar o que quiser, viver sem regras. 

    - Mas é uma doença, tipo algo levou ela a começar isso. Ninguém fica nessa vida porque gosta ou acha graça. 

    - Essa é a diferença dos vários lados dessa moeda. Eu sou policial, não vou aceitar isso, independente de ser doença ou falta de vergonha na cara - eu não sei bem se devo continuar essa conversa ou se devo ficar de boca calada. Vou dizer que não imaginava isso, a Flávia parece sempre tão firme, madura. Não consigo imaginar ela tendo que lidar com uma crise da irmã dela, talvez seja inocência minha não conseguir ver ela nesse contexto. - Coloca um sertanejo, essa playlist é muito melosa. 

     - Claro - mexi no celular até achar uma playlists parecida com as músicas da noite passada - pode ser essa? - coloquei as músicas para tocar, ela ficou cantarolando como se fosse um jeito daquela conversa não ser pesada e ao mesmo tempo ela pudesse parar de falar. Eu entendi o recado, ela precisa de um tempo, mesmo eu tendo mil perguntas ela não é uma matéria que eu preciso entregar. 

      O GPS guiava o caminho, mas mais uma vez ela não precisou nem olhar, foi seguindo pelas ruas de São Paulo em maestria, trocamos poucas palavras e eu não quis forçar a barra também. A Flávia foi seguindo em direção ao bairro da Brasilândia, enquanto estávamos na marginal e depois em uma avenidona, foi tudo bem. Mas quando fomos entrando no bairro eu fui começando a me sentir incomodada, quase que em alerta. As ruas foram se tornando mais estreitas e os prédios com um bloco, se tornaram conjuntos habitacionais, e essas casas feias, cimentadas, sem revestimento. Ela continuou se enfiando pelo bairro, sem olhar o GPS, eu tentei segurar minha expressão, meu medo, mas estava nítido eu acho. Fomos entrando mais ainda em uma comunidade, a rua começou a se tornar tão estreita que não passavam dois carros juntos, mas a quantidade de bar e de pessoas na rua estava cada vez maior. 

       Pensei em tanta coisa, onde ela está me levando? Aí meu carro, ainda bem que tem seguro. E se for um sequestro? Quem vive aqui senhor? Não deveria ter colocado essa roupa, estou chamando muito a atenção. Quero ir embora, quero ir agora. O carro continuou na rua estreita por mais uns metros, quando ela encostou a direita, estacionando. Ela estava no ambiente dela, tão nativa que nem percebeu meu mal estar e incômodo. 

      - Aqui é a casa da minha vó, preciso pegar algumas coisas aqui. Você quer me esperar no carro ou quer ir junto? - olhei pra ela, queria entender se está tudo bem - São só alguns refrigerantes e algumas coisinhas. Aproveitei que estou com o seu carro pra ajudar, caso não, faria com a moto mesmo. 

      - Posso descer com você se quiser - na verdade eu não quero é ficar aqui na rua, dentro de um pajero, numa favela, sozinha. 

      - É coisa rápida. - desci do carro, quase pisando numa poça de água. Passei pelo carro, chegando na Flávia, ela esticou a mão pra mim e eu peguei na mesma hora. Mais uma surpresa, não imaginei que fossemos andar de mãos dadas por aqui, sei lá, vai que a tal ex namorada que ela nunca fala nada aparece. Atravessamos a estreita rua, até um portãozinho individual, que ela facilmente empurrou e entrou na casa. Passamos por uma porta à direita, que estava fechada ou encostada, mas seguimos em frente, por um corredor. A casa era de cimento chapiscado, seguido por um corredor também de cimento, uma casa muito simples, com tijolos no corredor, alguns vasos de planta. O segundo espaço à direita era uma lavanderia, com uma máquina de lavar, um tanque, um tanquinho e várias roupas penduradas. Seguimos mais uns passos, a terceira porta quando olhei era uma cozinha, uma mesa redonda, armários simples na parede, um cheiro de cigarro barato, misturado com casa fechada. A Flávia deu duas batidinhas na porta, apesar de estar aberta. Uma senhora de pele parda apareceu, magra, vestindo uma camiseta do São Paulo Futebol Clube, uma calça jeans. Os cabelos ainda estavam por serem penteados, aparentemente ela ainda estava se arrumando. 

         - Entra Flávia, não repara a bagunça - a Flávia entrou na casa, sem soltar minha mão e eu fui seguindo ela. Ela foi direto para a senhora, soltou minha mão e abraçou-a. 

        - "Bença" tia. 

      - Deus te abençoe - a mulher olhou pra mim, não fez nenhuma pergunta, me deu um abraço, mais rápido e simples que o da Flávia - Fica a vontade viu, não repara na bagunça. 

      - Tia, essa é a Bruna - ela me apresentou para a tia, sem deixar um cargo ou um status definido, apenas é a Bruna. A senhora me abraçou, sem pedir licença, sem Premissas, apenas abraçou. Um abraço de tia, gostoso.

      - Bruna, senta aí, fica à vontade - a tia completou. 

      - Tia, o que falta levar lá pra vó? Eu tô com o carro da Bruna aí fora, aí levo o resto. 

     - O "Quinho" levou o que faltava. Já está tudo lá. 

     - Ah, não falta nada? Precisa que pegue algo?

 - Não precisa não, hoje cedo peguei os docinhos, a dona Lucinha vai levar o bolo lá.

 - Adoro o bolo da dona Lucinha. Bruna, você vai ver, é o melhor bolo que existe - eu dei risada, não imagino a Flávia comendo bolo como criança, com toda essa felicidade - Tia, tem um cafezinho aí?

 - Seu primo tomou tudo, mas pera aí que eu passo um novo. 

 - Não precisa, tia, era só se tivesse. 

 - Eu não tomei ainda, vou passar um fresco - a “Tia” estava nitidamente mentindo, mas era visível o carinho dela em fazer um café para a Flávia. - E vocês, como se conheceram? - Ela lançou assim na lata, se eu tivesse bebendo algo, teria engasgado. 

 - Acredita que paguei um café pra ela tia? Estava vagando na rua, perdida, puxei e paguei um café, depois ela achou Jesus e saiu dessa vida. 

 - Nossa Flávia, que boba que você é. O que sua tia vai achar de mim? - não imaginei que a tia fosse perguntar da gente e muito menos fosse entender que somos um casal. 

 - Vou achar que você faz bem pra Flávia - chegou mais pertinho de mim e falou - sabe que faz tempo que ela não sorri assim?

 A Flávia abriu um sorriso tão lindo depois que a tia dela falou isso, ali havia um carinho que eu nunca tive, um encaixe de lego, uma história. Olhei pra ela, era um misto de alívio com dor, algo que não consigo entender nela, algo que meu faro quer explorar. 

- Nossa, para de palhaçada as duas. 

- Tá vendo, ficou até vermelhinha. - a tia dela completou. Ficamos conversando coisas leves, o cheiro de casa fechada foi se perdendo nas minhas narinas e eu fui me soltando, falei sobre o jornal, sobre meu trabalho. Quando o café ficou pronto, o cheiro era maravilhoso, um cheiro de casa, de café de mãe. A tia abriu o armário dela e tirou dois copinhos americanos de lá, despejou o líquido preto em cada um dos copos e colocou um pouco pra ela em um copo de milho, claro que sem milho, mas com a etiqueta por fora ainda. Achei exotico, quem guarda o copo que vem o milho para beber café? Eu nunca imaginei isso. O que mais vou ver de novidade nesse passeio periférico que a Flávia

me trouxe, quase que um outro mundo? 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 23 - Capitulo 23:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 31/07/2023

Espero que Bruna não dê uma bola fora.

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