Gata Quitéria por TG
Capitulo 3
- Eu devo te amar muito ou ser muito louca pra me enfiar numa mata quase meia noite pra procurar um gato.
- Sabe que quem pediu ele foi você né? – Ela me dá um olhar de deboche por cima do ombro.
- Taaaaaaa – bufo – pedi, mas já voltei atrás.
Ela me ignora e segue andando, murmurando uns psiu aleatórios.
- Joi, ta tarde, Agatha daqui a pouco chega em casa.
- Ela ta com a Flora.
Começo a estranhar sua insistência. Meu desespero aumenta quando sinto pequenas gotas em mim.
- Ok amor, parou de palhaçada, ta chovendo, vamos voltar.
Ela me ignora e continua andando.
- Poha Joi, a chuva ta aumentando.
Tento puxar sua mão, mas ela se esquiva de uma vez só. A força fez ela se desequilibrar e escorregar em um monte de lodo no chão, caindo com tudo.
- Amor, amor, ta bem? – Pergunto nervosa, me abaixando e a ajudando a sentar. A puxo pelo braço e saímos correndo, dando uma outra escorregada na lama, mas chegando inteiras no carro. Pego a chave de sua mão, destrancando e entrando no automóvel. Tento pegar duas toalhas no banco de trás, quando noto ela não entrar no veículo.
- Poha. Poha. – Saio pisando duro – que merd* ta acontecendo contigo?
Encontro ela encostada no carro, dura. Abro a porta do carona e a enfio pra dentro, entrando eu mesma na direção do carona.
- Joicy, me explica o que tá acontecendo – não consigo controlar o tom de voz, até perceber que seu rosto molhado da chuva, também estava com lágrimas.
Num primeiro momento, era apenas um escorrer. Até começar os soluços, sua expressão inteira se contorcer e seu corpo balançar com o choro. Ela escorrega pro lado, e a puxo com meus braços, nossos corpos quase se fundindo tamanho a força que faço, não sei se para confortar, ou pra aplacar meu próprio desespero.
O tempo vai passando, a chuva amenizando, e seu choro sessando. Um silencio profundo no carro pequeno, atolado só com meus pensamentos confusos. Começo um carinho em seus cabelos, não tocando em seu Ori, apenas voltas calmas em seus cabelos molhados.
- Me diz o que está acontecendo, por favor.
Sua pele está fria e gelada, quase completamente deitada em meu colo.
- Você anda estranha a semanas, nunca aceitou tantos trabalhos como esses dias, ta dormindo quase 4 horas por dia, e mal estamos parando em casa direito.
Era para ser um momento dela, mas não aguento o desabafo e amargura saindo.
- E agora esse maldito gato, eu nunca te vi assim antes, você sempre foi tão controlada, e ultimamente anda agindo de jeito impulsivo, inquieto – droga – só..fala comigo, por favor.
Respiramos fundo, quase sincronizadas.
Ela se levanta devagar, agora encostando a cabeça em meu ombro. Me reposiciono melhor para aconchega-la.
- Eu tenho que tomar uma decisão e eu sei qual decisão tomar – diz, num folego só – mas ta tão difícil. E eu to tentando remediar, tentando trabalhar, tentando ser útil, tentando fazer coisa boa pra mostrar pra merd* do universo que eu to aqui e não quero escolher! – ela dá uma respirada funda – mas isso não tá acontecendo, e não vai acontecer. E eu não suporto ir pra casa, e não aguento ir pra terreira, e qualquer outro lugar não parece ser o lugar certo... – assinto – nada parece ser o suficiente.
Engulo em seco.
- O médico falou comigo – noto a voz de choro voltando – ele falou que a Andressa piorou. No último exame feito, não conseguiram achar atividade cerebral, e que nesse caso, o próximo passo é apenas desligar os equipamentos.
Derrepente, ela senta e me encara.
- Você entende, não é? Eu não posso tomar essa decisão. Eu não posso escolher deixar minha irmãzinha ir, deixar minha sobrinha órfã, deixar ela com duas malucas que já botaram fogo num micro-ondas, que se juntaram depois de 1 mês de namoro. Deixar a casa de luto, a missão dela incompleta, o sonho de escrever. Eu não posso fazer isso. Eu não quero fazer isso.
E então, vi algo em seu rosto, que em 3 anos nunca vi. Ela estava desesperada por um fio de esperança. Que eu oferecesse jogar, adiar, uma solução mágica, um contra-tempo, um gole de fé, qualquer coisa que a desse algo pra se agarrar. Ela segurou todo esse tempo, como se eu fosse sua ultima opção, como se ao saber, eu encontra uma outra via e daria um jeito nessa situação.
Mas eu não podia fazer isso.
Meu silencio fica longo demais. Abro e fecho a boca, mas nada sai.
Seu olhar começa a se apagar, ela balança a cabeça freneticamente.
A vejo descer do carro, e bater à porta com força. Escorrego pelo banco, deixando as lágrimas caírem, enquanto escuto seus gritos sofridos pela madrugada.
Não existia escolha a ser tomada.
E isso, nenhuma de nós estava pronta pra aceitar.
Fim do capítulo
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