Gata Quitéria por TG
Com carinho para Mel e Maria, obrigada por todo o apoio com essa história.
Capitulo 2
- O sino da igrejinha faz belem blem blom, o sino da igrejinha...
- Você ta louca pra ir na sessão né?
- Eu não – mas noto um vislumbre de um sorriso sem graça.
- A para – empurro-a de leve, com cuidado por ela estar dirigindo - ta cantando ponto desde que saímos de lá.
- Eu sempre to cantando ponto.
- E sempre ta com fogo de sessão, corre gira – ela me dá a língua, ainda sem tirar a visão da pista escura.
Flora
Certeza? Gatha ta se divertindo
Eu
Claro que ta
Ela praticamente nasceu num terreiro
Deve ta contando pra todas as entidades que é aniversário dela amanhã
Ela devia sentir saudade.
A mãe dela passava mais tempo na casa do Pai Richardison do que na própria. Foi graças a ela que Joicy, e depois eu, entramos na religião. A Quiteria dela continuava sendo uma das pomba-giras mais lindas que já vi na vida.
O acidente foi enquanto estava na praia de férias, acabou escorregando num paredão, e batendo contra pedras. Desde que buscamos Agatha, que viu tudo com apenas 9 anos, e a trouxemos pra casa, ela nunca mais acordou.
Eu também nunca mais pisei no terreiro desde esse dia, nunca mais pareceu a mesma coisa sem ela.
- Se quiser ir, só me deixa em casa.
- E deixar você sozinha no nosso aniversário? – Joicy solta uma boa risada, as que tem me salvado nesses tempos ruins - Mas bem capaz. Me agarro em ti a noite toda nega, e ninguém me impede.
{...}
-Eu quero ver nessa banda quem aguenta.
- Para.
- Quem chegou aqui agora.
- Eu to me arrepiando toda – dessa vez a bato com mais força do que devia – animal.
- Se for se incorporar no carro, eu toco pra subir rapidinho.
- Dá próxima vez que o do Lodo ti der uma tunda não vou interceder por você, idiota.
Ela faz um beicinho, o jeito dela de fingir pirraça, mas na verdade pedir beijo. Quando estou prestes a ceder, vejo algo pela janela.
- PARA O CARRO!!
- O que houve? – ela diz surpresa.
- Para, para, para.
- Eu não vou parar, o que que te deu?
Quando vou responder, murcho e balanço a cabeça negando. Era um motivo idiota.
- Amor?
- ...
- Amor? Fala comigo...
-...
- Vida?
- Eu vi uma gata – digo baixinho.
- Uma gata?
- Uma gata preta.
Ela faz sinal com uma mão enquanto troca de marcha, como se me incentivasse a falar mais.
- E eu queria pegar ela, sempre quis uma gata preta chamada Quiteria.
- Dessa distância... E se for macho?
- Deixa pra lá... é idiota.
Volto a atenção para o celular, pronta para ver os vídeos que Flora fez da minha sobrinha, quando noto o carro mudando de direção.
Levo alguns segundos para me dar de conta.
- Você ta fazendo mesmo isso?
Ela me ignora e segue dirigindo concentrada, parando no acostamento perto de onde pedi pra parar, do outro lado da rua.
- Que fique claro, esse vai ser o presente da minha sobrinha.
Puxo ela pra um abraço, e num pulo saio do carro. Mesmo com roupas secas e mais quentinhas, isso não impediu do frio da noite de nos acertar em cheio. Ela tranca o carro, e começamos a procurar o bichano no meio da estrada. Estava tudo meio deserto, um ou outro carro passando, talvez se perguntassem o que duas doidas procuravam tanto no chão.
Depois do que pareceu quase 10 minutos, bufo chateada.
- Esse gato parece ter evaporado.
- Onde você viu ele pela ultima vez?
Penso um pouco – Alí – aponto para um amontoado de matinho.
- Era pequeno?
- Eu não sei, era um gato.
- Você disse gata.
- Eu sinto que era.
- Daqui a pouco, vou sentir uma ratazana isso sim.
Quando percebo, minha namorada já está se enfiando nas moitas.
- O que você ta fazendo? – digo apurando o passo e a alcançando.
- Procurando seu gato/gata.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 31/07/2023
Procurando um gato/gata no meio do nada é muito amor envolvido kkk

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