Gata Quitéria por TG
Capitulo 1
2023, o ano que completamos 3 anos morando juntas. Hoje poderiamos estar num jantar, numa cama gostosa, ou numa viagem bonita. Em vez disso...
- Cuidado pra não deixar os saquinhos e os pratinhos voarem, coloca na sacola.
...estamos fazendo macumba.
Ao menos é um lugar bonito e familiar, uma grama bem verde e uma mini cachoeira na outra ponta em que estamos. Perto dela, uma Oxum bem alta saindo da água, a pele preta retinta como a minha em contraste com o dourado das roupas, várias oferendas aos seus pés e o sol se pondo sobre sua cabeça.
- Vamos visitar a Andressa amanhã - Ela diz suspirando, quebrando o silêncio, após nosso momento de concentração em volta das comidas.
Geralmente trabalhos de doçura costumam ser felizes, leves, esperançosos. Mas até a maior fé balança, quando sua cunhada e melhor amiga está numa cama de hospital, sem previsão de acordar. Tentamos de saúde, búzios, ervas, até sumir as opções.
Vejo Joicy se levantar e me cobrir com uma toalha da mesma cor da sua. Nossos corpos molhados por atravessar a água para pedir permissão a orixá, as roupas brancas grudadas em seu corpo cheio de curvas, e no meu opostamente mais fino. Chega a ser engraçado, sua pele tão pálida que quase se mescla com a camiseta.
- Deviamos deixar pra segunda, depois dessa semana puxada e de pegar frio, vamos acordar doentes amanhã.
- Imagina quando abrir sua casa - ela brinca, e reviro os olhos. Se com os clientes já costuma ter tanta correria, imagina tendo filhos de religião, uma responsabilidade pra vida toda.
Ela me dá a mão, e buscando calor nas toalhas umidas, começamos a subir o pequeno barranco, voltando para a estrada onde o Kazinho está estacionado.
- Não me aguento mais em pé - ela diz, forcejando as costas.
- Chegar em casa e pedir uma pizza, não vou cozinhar hoje.
- A gente ta pedindo comida já tem uma semana - antes que eu pudesse retrucar sobre meu direito a 4 queijos quando eu quiser, ela completa - isso vai fazer mal pra Agatha.
Respiro fundo e concordo.
Mesmo que já façam semanas que ela está conosco, ainda é difícil me acostumar. Ter que estar em casa, ter que comer direito, ter que se preocupar e ter estrutura pra uma criança.
Isso piorou com essa semana, cheia de trabalhos, tanto para mim quanto pra Joicy, que sempre é procurada para benzeduras.
- Hey - ela dá um sorriso travesso - se disser que sou a melhor mulher do mundo, mando mensagem pra Flora dar comida pra ela e compro uma pizza só pra você.
- Eu não vou fazer isso - digo segurando a risada.
- Diz...
- Não.
- Diz que sou a melhor do mundo.
- Não mesmo - nego com a cabeça, lambendo o mel que restou nos meus dedos. O vento fica mais forte e meu cachos voam contra minha cara, deixando as pontas meladas do doce.
Ótimo, congelando e melada.
Joicy dá uma risadinha, e depois anda até o porta malas, cavucando nele.
- O que tá mexendo aí atrás?
- Um segundo... pronto.
- A não - começo a rir, vendo a mochila que ela balança animada - a mochilinha da macumba.
- A mochilinha da macumba!
Rio ainda mais com a quantidade de coisas que saem dela, velas, panos brancos, um caderninho com caneta presa, um pano de cabeça branco e mais uma infinidade de itens. Por fim, uma muda de roupa.
Tudo dentro de uma mochila rosa choque da Dora Aventureira.
- Casei com a melhor mulher do mundo - digo me aproximando e lhe dando um selinho.
Ela começa a se trocar, e quando vou ligar a lanterna do celular para ajudar, recebo uma mensagem da nossa babá.
Flora
Estou na sessão do pai com a Gatha, vamos?
Fim do capítulo
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