Capitulo 6 - Washington, D.C
Nota: as informações abaixo sobre politica norte-americana não são verídicas.
Nota 2: Os diálogos em inglês estão com tradução entre parênteses.
Conforme combinado, Lorenzo já aguardava a irmã, a mãe e mais duas assistentes no aeroporto particular a fim de embarcarem para Ottawa. Ao invés de utilizarem o serviço de taxi aéreo, iriam com o jato particular do Grupo Gutierrez, destinado a distâncias maiores.
- Filhinho! Pitchuquinho! – Cecília abraçou ternamente o rapaz. – Que saudades!
- Nem faz tanto tempo assim que nos vimos, mãe...
- Pitchuquinho! – Luiza brincou, imitando a mãe.
- Para, Luiza. Idiota. – Lorenzo cerrou as sobrancelhas, irritado.
- Ah, vai se ferrar. – Luiza bagunçou o cabelo do irmão.
- Parem vocês dois! Parecem crianças. Os dois, entrem no avião agora!
- Desculpa, mãe. – Ambos falaram, em uníssono.
Já dentro do avião, Cecília degustava uma xícara de chá enquanto Lorenzo ligava o notebook.
- Filho, você leu o contrato de acordo? O que achou?
- Li sim, mãe. Estou abrindo aqui para te mostrar alguns pontos que discuti por mensagem com sua equipe jurídica ontem à noite.
- Certo. Fiquei muito feliz quando a Lu me contou que viria conosco. Já falei de você para o Ryan. Ele ficou animado em te conhecer.
- A mãe está querendo te tornar o novo Mister Ryan Jacobs? – Luiza perguntou. - Acho muito engraçado, até uns tempos atrás eu nem sabia que a primeira dama tinha um irmão bem mais novo.
- Eles são meio-irmãos. O pai da primeira-dama teve o Ryan quando ele tinha quase 60 anos. E eu vim porque acredito que poderia conversar com o sr. Ryan para investir em alguns projetos educacionais brasileiros.
- Que projetos, filho? Por que não falou comigo? Eu posso investir.
- O Grupo Gutierrez já investe, mãe. Mas se eu trouxer investimento internacional, isso vai trazer boa publicidade para o partido.
- E eu aqui pensando que você queria ajudar crianças a obterem educação de qualidade... – Luiza provocou.
- Claro, isso em primeiro lugar, né.
- Quando vejo vocês se provocando assim, lembro de quando eram crianças. – Cecilia se recordou, nostálgica. – Lembro de uma vez que levei vocês para os Estados Unidos, se não me engano foi para a Flórida. Lorenzo estava aprendendo inglês, foi pouco antes do primeiro intercâmbio no final do Ensino Fundamental...
- Onde ele passou um mês com a mamãe Magdalena nos Estados Unidos e não parava de chorar porque queria voltar para o Brasil... – Luiza riu, também se recordando.
- Pois é, foi pouco antes disso. Lorenzo disse algo para mim em inglês, que nunca vou esquecer. Foi algo que ele aprendeu nas primeiras aulas...
- I love my life because my life is you. – Lorenzo completou.
(Eu amo minha vida porque minha vida é você)
- Que clichê. – Luiza riu.
- Foi tão espontâneo que Magdalena e eu começamos a chorar no avião.
- Eu me lembro dessa cena. Por um momento me senti assustado porque não sabia o motivo do choro.
- Anabê então veio para o assento da frente e perguntou se estávamos tristes. Foi uma gracinha. Falando nela, faz dias que ela não me liga, nem manda mensagem. Eu vi aquela foto que a Magdalena postou então presumi que ela esteve no Rio de Janeiro alguns dias atrás.
Lorenzo e Luiza se entreolharam.
- O que foi, meninos?
- Nada não, mãe. Como está a previsão do tempo em Washington? – Luiza desconversou.
- Eu sei o que vocês estão pensando. Dava para ver a Cláudia naquela foto.
- Você sabe da Cláudia, mãe? – Lorenzo questionou.
- Lógico que sei. Eu a conheço há tempos. Sei que ela sempre teve uma queda gigantesca pela Magdalena. Também sei que há pouco tempo elas começaram a se ver com mais frequência. Não é difícil deduzir o que aconteceu.
- E por que você não falou nada? – Luiza ficou indignada. – Você sabia que eu estava investigando.
- Não queria vocês envolvidos nisso. E eu também já não tenho nada a ver com essa questão, Magdalena é adulta e sabe o que faz.
- Se elas se envolveram recentemente, então não houve traição? – Luiza persistia.
Cecília se calou.
- Mãe? Mamãe Magdalena não te traiu? – Luiza continuou a insistir.
- Lu... Você não entendeu? - Lorenzo já se sentia desconfortável por sua mãe.
- Você traiu a mamãe? – O rosto de Luiza se transformou.
Cecília continuou calada.
- Mãe, não me trate como uma garotinha. Responda a verdade, por favor. Não tem para onde você fugir, estamos a milhares de metros de distância do chão.
- Acho que ela já nos respondeu, Lu.
- Você estragou a nossa família, mãe? – Luiza continuava a perguntar, mesmo que isso lhe machucasse cada vez mais.
- Lu, já chega. A mãe já demonstrou que não está a fim de conversar sobre isso.
Luiza por fim, também se calou. O silêncio de sua mãe lhe exercia um poder peculiar. Cecília era o tipo de mulher que exalava autoridade e respeito, e um pouco de temor, dando-lhe, por vezes, carta branca para agir como bem entendesse.
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Os últimos acontecimentos não haviam feito muito bem para a saúde de Anabê. Ela andava nauseada, hipotensa, a ponto de ser obrigada a sair de uma cirurgia e deixar Paloma finalizar. Foi até uma sala mais privada próxima ao conforto médico, onde sentou-se em uma poltrona e, através de um acesso periférico, aguardava finalizar a bolsa de soro e antiemético. Quando Paloma terminou os pontos e desparamentou, foi ao encontro de sua amiga:
- Você não está assim por causa do Dennis não, né?
- Lógico que não. Quando fico estressada acabo ficando assim. Mas não é por causa dele.
- Não tem a possibilidade de você estar grávida, tem?
- Eu uso Implanon. Mas por via das dúvidas, fiz o teste de urina ontem e deu negativo.
- Ufa, menos mal. Digo... estamos aliviadas por você não estar grávida, né? Não queremos bebês agora, queremos?
- Não, por enquanto não. Estou te falando, quando me estresso, costuma acontecer tudo ao contrário para mim: ao invés de aumentar a pressão, fico hipotensa. É muito bizarro. Mas logo passa.
- Você tem que melhorar até semana que vem, porque eu preparei A festa de aniversário para você! Era para ser uma surpresa mas resolvi te falar para te animar. Conversei com sua mãe, alugamos, quer dizer, ela alugou a Tangará House e adivinha só, vai ser uma festa temática, só não vou te contar o tema.
- Espera, você falou com a minha mãe? A Cecília alugou lá no Palácio Tangará?
- Cecília não, sua outra mãe, a Magdalena.
- Ah, é mais a cara dela mesmo. E como vou saber com que roupa eu vou se você não me falar o tema da festa?
- Eu preparei a roupa perfeita para você, não se preocupe.
- Mas aí na hora que eu for me vestir vou suspeitar do tema.
- Como é chata! Vamos por uma venda em você e vamos te vestir, pronto!
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O jatinho da família Gutierrez pousou no Aeroporto Internacional De Dulles no horário previsto, e de lá foram encaminhados diretamente ao escritório de Ryan Jacobs.
- Hello, everyone! Mrs. Gutierrez, it’s such a pleasure to see you again!
(Olá a todos! Senhora Gutierrez, é um prazer vê-la novamente!)
- It’s my pleasure, Mr. Jacobs! These are my children, Luiza and Lorenzo.
(O prazer é meu, senhor Jacobs. Esses são meus filhos, Luiza e Lorenzo)
-Hi, nice to meet you. – Lorenzo estendeu a mão.
(Oi, prazer em conhecê-lo)
- Lovely to meet you! Lorenzo, I’ve heard great things about you and the work you’ve been doing as a congressman. I’m looking forward to hear from you about your new projects!
(Prazer em conhece-lo também, Lorenzo, eu ouvi ótimas coisas sobre você e o trabalho que tem feito como deputado. Estou empolgado para ouvir de você a respeito dos seus novos projetos!)
- Hi, and I’m Luiza... – A irmã também estendeu a mão, sentindo-se de fora.
(Oi, e eu sou a Luiza...)
- Oh, hello, Luiza! – Ryan, sem graça por tê-la deixado de lado, a cumprimentou rapidamente.
(Olá, Luiza!)
- Well, I can’t be here for the negotiation since I’m a politician, not a businessman.. – Disse Lorenzo. – I’ll be in the library down the hall and once you’ve finished, you may call me up, alright?
(Bem, eu não posso ficar aqui para as negociações uma vez que sou político, não um empresário. Eu estarei na biblioteca no final do corredor e quando vocês terminarem, podem me chamar, tudo bem?)
- My son is a man of value. – Afirmou Cecília, orgulhosa. – So, let’s get down to it, shall we? You’ve shown interest in Travel-Tier’s canadian franchise. May I ask why?
(Meu filho é um homem de valor. Então, vamos direto ao ponto, pode ser? Você demonstrou interesse na franquia canadense Travel-Tier. Posso perguntar o por quê?)
- Well, your revenue in the last trimester was mostly from the Orlando-Miami Route. The ammount of canadians who come to Florida is in-as-ne. I simply want a parto of this revenue in order to diversify my portfolio as a businessman, that’s it.
(Bem, a receita líquida do seu último trimestre foi, em sua maioria, da rota Orlando-Miami. A quantia de canadenses que vêm para a Flórida é insana. Eu somente quero uma parte dessa receita para diversificar meu portfolio como empresário, só isso.)
- Does that have something to do with the fact that your ex husband owns the most famous canadian travel company of north america? – Cecília questionou, astutamente.
(Isso tem algo a ver com o fato que seu ex marido é dono da companhia de viagens canadense mais famosa da America do Norte?)
- Well... – Ryan riu quando percebeu que foi pego em flagrante. – That too. But it doesnt mean I’m not inclined to buy the whole thing, not just the canadian franchise.
(Bem... isso também. Mas isso não significa que eu não esteja inclinado a comprar a coisa toda, não só a franquia canadense.)
- D’you mean the whole Travel-Tier? Even the brazilian head office? – Perguntou Luiza.
(Você quer dizer a Travel-Tier inteira? Até a sede brasileira?)
- Well, I’ve just bought the company. – Comentou Cecília. – I’m not inclined to sell it just yet.
(Bem, eu acabei de comprar a empresa, não estou propensa a vende-la ainda.)
- Yeah, she just bought, she ain’t gonna sell it! – Complementou Luiza, ligeiramente irritada.
(sim, ela acabou de comprar, ela não vai vender!)
- You seem to care a lot about this company. – Ryan apontou.
(Você parece se importar muito com essa empresa.)
- Well, I just don’t know what you might do if you bought it, I mean, I don’t know if the employees would keep their Jobs, stuff like that.
(Bem, eu só não sei o que você faria se a comprasse, digo, não sei se os empregados manteriam seus empregos, coisas do tipo.)
- And since when do you care about that, Luiza? – Questionou Cecília, estranhando a filha.
(E desde quando você se importa com isso, Luiza?)
- Since I... since I...I don’t know, I was just asking! – Luiza cruzou os braços, com o rosto sisudo.
(Desde que eu... desde que eu... eu não sei, eu estava só perguntando!)
- Nevermind my daughter. She’s new to this. But as I was saying, I dont like selling business I’ve just bought, I usually wait to shape the company first.
(Deixe minha filha para lá. Ela é nova nisso. Mas como eu estava dizendo, não gosto de vender negócios que acabei de comprar, eu costumo esperar para formar a empresa primeiro.)
- Alright, no problem at all. I could buy the franchise and maybe as tiny part of the whole thing, be a minor partner or something, I don’t mind. We’re just spitballing here.
(Tudo bem, sem problemas. Eu poderia comprar a franquia e talvez com uma pequena parte de tudo, ser um sócio minoritário ou algo assim, eu não me importo. Nós apenas estamos sugerindo coisas aqui.)
- Actually, Mr. Jacobs, I came here so we could finish up the agreement of the canadian Travel-Tier’s sale.
(Na verdade, Sr. Jacobs, eu vim aqui para finalizarmos o acordo de venda da Canadense Travel-Tier.)
- Right, right. I’m texting my CFO right now, he’s here in the buidilng, he will be right up. Once he’s here, you can talk to him and finish this. Meanwhile, I know you also came here to introduce me to that gorgeous son of yours, so I’d really like to get to know him while you read the fine print of the contract.
(Certo, certo. Eu estou enviando uma mensagem para o meu CEO agora, ele está aqui no prédio, ele estará pronto. Quando ele estiver aqui, você pode falar com ele e terminar isso. Enquanto isso, sei que você também veio aqui para me apresentar aquele seu filho lindo, então eu gostaria muito de conhecer ele enquanto você lê as letras minúsculas do contrato.)
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O prédio da empresa de Ryan contava com um espaço de lazer e descontração onde, logo na entrada, via-se uma grande biblioteca com as mais diversas coleções, além de puffs espalhados pelo ambiente e algumas mesas com tablets e laptops da própria empresa.
Lorenzo, enquanto aguardava, resolveu pegar um clássico da literatura inglesa para dar uma folheada.
- Nostromo? – Ryan questionou, aproximando-se.
- Huh?
- The book you’re holding. Nostromo, 1904. Great novel.
(O livro que você está segurando. Nostromo, 1904. Ótimo romance.)
- Oh. Yeah, never read it. But I had a college mate who was a fan of Joseph Conrad’s books.
(Oh. Sim. Eu nunca li esse. Mas eu tinha um colega de faculdade que era fã dos livros de Joseph Conrad.)
- I’m a big fan aswell. Had to read to impress a girl once, a lifetime ago when I thought I liked chicks. – Ryan riu.
(Eu também sou muito fã. Tive que ler para impressionar uma garota uma vez, uma vida atrás, quando eu pensei que gostava de garotas.)
- We’ve all been there, huh? – Lorenzo também riu. – So, how did the negotiation go? Please don’t tell me details, I just wanna know if my mom convinced you to sell it to her.
(Todos nós estivemos lá, hein? Então, como foi a negociação? Por favor, não me conte detalhes, eu só quero saber se minha mãe te convenceu a vender para ela.)
- Yes, she actually sold it. Would you like to celebrate it with me tonight?
(Sim, ela realmente fez isso. Você gostaria de comemorar comigo essa noite?)
- By celebrating, you mean...
(Por comemorar você quer dizer…)
- I mean a good bottle of wine and dinner! God, you made me sound dirty for a second!!
(Eu quero dizer uma boa garrafa de vinho e jantar. Deus, você me fez parecer sujo por um segundo!!)
- I was just kidding. I think we’re going back to Brazil this afternoon, I’m sorry. I have a meeting with a minister tomorrow, can’t miss it. Raincheck, maybe?
(Eu estava apenas brincando. Eu acho que vamos voltar para o Brasil essa tarde. Me desculpe. Eu tenho uma reunião com um ministro amanhã, não posso faltar. Uma próxima vez. Talvez?)
- That’s a shame. Well, maybe I’ll go to Brazil and cash in this raincheck. I’ve heard great things about brazilian food.
(Isso é uma vergonha. Bem, talvez eu vá para o Brasil e cumpra essa promessa. Já ouvi falar muito bem da comida brasileira.)
- It’s the best, you’re gonna love it.
(É a melhor, você vai adorar.)
- Yeah, maybe I will...
(Sim, talvez eu vá…)
- I actually came here to ask you something too. It’s about a project in brazilian schools, if I get na international investor it will look really good for me inside my political party.I have it all here in my files. If you want to, I can show it to you and-
(Na verdade, eu vim aqui para te perguntar uma coisa também. É sobre um projeto em escolas brasileiras, se eu conseguir um investidor internacional, eu vou ficar bem visto dentro do meu partido político. Tenho tudo aqui nos meus arquivos. Se você quiser, eu posso mostrar para você e-)
- How about that, I’ll visit Brazil this weekend, we’ll have a meeting, I’ll even meet your party colleagues and reassure them I’ll invest in your project, as long as you have dinner with me.
(Que tal isso, eu vou visitar o brasil neste fim de semana, vamos ter uma reunião, vou até conhecer seus colegas de partido e garanto que vou investir no seu projeto, desde que você jante comigo.)
- Mr. Jacobs, I really dont want this to look like I’m selling myself in order to get a Project.
(Sr. Jacobs, eu realmente não quero que pareça que eu estou me vendendo para conseguir um projeto.)
- Oh my God don’t worry about that, I’m not requesting sexual favours. Let me rephrase that: we’ll have a business meeting, a formal dinner, and you can talk to me about your project. Is that better?
(Oh meu Deus, não se preocupe com isso, eu não estou solicitando favores sexuais. Me deixe reformular isso: vamos ter uma reunião de negócios, um jantar formal e você poderá conversar comigo sobre seu projeto. Isso é melhor?)
- Well, that’s actually better. A business dinner. That’s perfect!
(Bem, isso é realmente melhor. Um jantar de negócios. Perfeito.)
- A gentleman’s agreement then. – Ryan ofereceu a mão para um aperto final.
(Um acordo de cavalheiros então.)
- Alright! A gentleman’s agreement.
(Tudo bem! Um acordo de cavalheiros.)
Fim do capítulo
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