AVISO: homofobia, menção a racismo.
Capitulo 21 - Os Imperdoáveis
Na tela grande da TV da sala de Núria, ela, Jordana e Jaqueline reassistiam pela zilionésima vez a gravação feita por Fátima do exame de faixa de Jordana, ao qual a enfermeira não pôde comparecer por estar de plantão.
“Nossa, olha a cara da mona! Que feroz!” – Jaque botava pilha.
“Tinha que impor respeito, né? Olha a pachorra daqueles velhos examinando a gente! Porr*, não dá pra saber o que eles estão pensando de jeito nenhum... Eu tava é com medo!”
“Pior é a cara daquela outra ali, deve saber tudo o que eles estão falando...”
“A Bruna? Com certeza! Nem sei como vai ser se um dia eu tiver que enfrentá-la. Ela é pequenininha, mas bate que nem um demônio. Nem sei como não entrou antes no Taekwondo, acho que ela fazia dança, pelo que eu soube, aí insistiu com os pais e entrou na luta. Só sei que o Ramsés disse que o Mestre Park e o amigo dele ali na bancada, o Mestre Kang, a elogiaram pra caramba.”
“Mas você também foi muito bem, amor! Eles não falaram bem de você também?”
“Sim, mas olha a diferença: uma garota de doze anos de idade, de família coreana tradicional – aliás, o irmão mais velho dela, um moleque de dezesseis, já é Terceiro Dan, pra vocês terem ideia – e eu, uma adulta de vinte e seis, quase vinte e sete, da periferia... Sem comparação!”
“Ai, amiga, não precisa se colocar tão pra baixo também! Você tá ótima, olha só!” – Jaqueline apontou a tela, buscando o olhar de Núria, como que para endossar a afirmação.
“Mais ou menos. Olha nessa hora, nesse chute lateral: o Ramsés disse que eu tenho flexibilidade, mas falta força, e eu não encaixei bem o quadril...”
“Com o tempo e o treino, você tira de letra tudo isso, amor. Mesmo que você não tenha um irmão coreano ‘fodão’ pra te facilitar, eu conheço sua determinação” – Núria beijou-lhe o pescoço.
Jordana beijou os braços que a namorada enlaçava-lhe ao redor do pescoço. Núria e Jaque estavam no sofá, enquanto Jordana preferiu sentar-se sobre o tapete.
O discurso do Mestre Park ainda ressoava em sua mente, logo após o final do exame – no qual, ela, Bruna e um garoto de treze anos, Thiago, foram aprovados, enquanto um colega de dezesseis foi o único a ter que esperar mais um pouco para “subir” de faixa:
“Dentro do dojang e na vida, em tudo o que fizermos, temos que ter o olhar de um leão. Jamais o olhar de um peixe. Não se luta como uma presa, e sim, como um caçador. Cada movimento que vocês executarem aqui deve ser acompanhado do olhar de um leão. Movimentos com braços e pernas, qualquer um faz. Lutar de verdade, isso é para poucos. Quando eu era criança, na Coreia, tudo estava um caos. Não havia quase nada em pé: casas destruídas, escolas destruídas, fome, frio no inverno. Não tinha nem mesmo um lápis para escrever: na escola, usávamos carvão para escrever as lições no papel. Enfrentamos guerras e invasões desde o começo do século vinte, e estamos aqui vivos porque tivemos o olhar de um leão para passar por cima das dificuldades. É isso que fará toda a diferença no momento em que vocês lutarem. Então, treinem e lutem como leões!”
Um dia de cada vez, e as tentações do vício por todos os lados, no cotidiano, tão ameaçadores quanto morteiros e minas terrestres: Jordana tinha que enfrentar essa barra de peito aberto. O discurso do Mestre Park acendeu uma chama nova dentro dela. Se foi capaz de superar tanta coisa pior, até mesmo a morte, cara a cara – assim como fez o Mestre, em outra época e contexto –, por que não poderia ser a melhor aluna adulta que aquele dojang já teve?
“É isso mesmo, não tenho por que me comparar com alguém que, desde criança, sempre teve todas as oportunidades ao seu dispor. Cada um sabe de sua luta interior. Só de estar aqui viva ao lado de minha namorada e de minha melhor amiga – aliás, duas guerreiras também, cada uma a seu modo, por quem eu tenho um grande respeito e admiração –, é uma vitória pessoal que muita gente não tem noção do quanto é grande...”
Estava levando uma vida mais regrada e meio reclusa. Dos antigos amigos e conhecidos, somente Jaqueline permanecia próxima. Os outros não gostavam muito da ideia de ter que restringir o consumo de bebidas e outros tóxicos na frente de Jordana, e se afastaram um pouco.
“Vou aproveitar e fazer meu detox com você, amiga” – Jaque declarou, diminuindo drasticamente seu consumo de álcool e de maconha, e abolindo de vez o cigarro.
Não só a mudança na vida de Jordana a havia impulsionado, mas a presença de um rapaz especial em sua vida: um ativista do movimento negro e de uma alimentação sem crueldade animal (ele não se alinhava muito com o veganismo tradicional, por se tratar de um movimento muito embranquecido e elitista), ogã em um terreiro, ele chamou a atenção de Jaque durante uma gira.
“Menina, fui procurar ajuda da pomba-gira pra amarrar um boy lixo, e dei de cara com esse boy magia no lugar! A dona Maria Padilha me ajudou antes mesmo de eu pisar no terreiro, veja só!” – ela contou sobre Daniel.
“Te livrou, né, você quer dizer.”
“E como me livrou! Eu nem sei onde tava com a cabeça de querer manter aquele outro encosto na minha vida! Um playboy, que acha que pode fazer o que quiser com as pessoas. Perdi muito tempo correndo atrás dele, mas falta de autoestima é foda...”
“Eu te entendo, gata. Não se culpe por isso. Eu posso ter essa pose de ‘pegadora’, mas só Deus sabe o quanto a gente é solitária e deixada por último na fila. No nosso caso, as branquelas loiras de olho claro sempre são a preferência de nossos interesses amorosos” – Jordana refletiu, triste – “Eu mesma nunca fui de ‘palmitar’ muito, você sabe. Pegava aqui, pegava ali, mas não assumia o risco de ficar pra valer com uma branca. E é duro admitir, mas se eu não soubesse da intensidade dos sentimentos de Núria por mim, não sei se teria pensado nela com intenções mais sérias...”
“Amiga, que ela não te ouça...”
“Não escondo isso dela. Não escondo praticamente nada dela. Se ainda tenho algo a dizer sobre mim, é coisa do passado, que ainda não veio a calhar. Mas ela não se ofende com isso não. O que é mais incrível, vindo de alguém que é filha, você sabe de quem...”
Nesse dia, Jordana comentava com a amiga, não só o romance nascente entre Jaqueline e Daniel, mas a proposta que Núria fez a Jordana de ir morar com ela.
Se isso era um sonho na época do relacionamento com Aline, a coisa mudou um pouco de figura quando se tratava de Núria – especificamente falando, a família de Núria.
Jordana sabia que os contatos entre a namorada e os pais eram escassos, por iniciativa de Núria mesmo, e o quanto isso piorou depois que a enfermeira soube do comportamento inaceitável dos pais em relação a Jordana e Fátima no passado. Mesmo assim, ela estava incerta se teria psicológico para encará-los, principalmente a Regina, sem se sentir ameaçada, e, consequentemente, tentar buscar alívio, ela sabia onde...
Dias depois, o casal voltava ao assunto, na casa de Núria:
“Eles não cabem mais em minha vida particular, mas não quer dizer que, uma hora ou outra, eles não iriam saber com quem estou. Olha só: alguém pode já nos ter visto juntas na rua, nas nossas redes sociais, é questão de tempo até eles descobrirem” – disse Núria.
“Eu acho que é melhor você preveni-los de alguma forma, mas não sei se consigo me mostrar logo de cara assim pra eles...”
“Ai meu Deus...” – Núria suspirou – “Qual é a melhor maneira de contar algo que deveria ser tão simples para pais conservadores e negligentes? Eu também não tô segura de te levar lá na casa deles, não só por você, mas por mim também. Não sei se vou ter uma reação muito amistosa se eles disserem qualquer borracha...”
“Calma, também não precisa apontar uma arma pra eles!”
A intenção de Jordana foi descontrair, mas a resposta que recebeu da namorada intrigou-a:
“E se eu te disser que eu já fiz isso uma vez para o meu pai?”
“Pro seu pai?”
“Mais ou menos uma arma, quer dizer. Eu era só uma adolescente, devia ter uns quatorze anos. Era eu ou ele naquela hora...” – e Núria reviveu, quase derramando lágrimas de raiva, o incidente com o caco de vidro.
“Por incrível que pareça, estou chocada, mas não surpresa. Você teve que fazer o mesmo praquele comédia em São Paulo, e de novo ninguém ficou ao seu lado, né?” – Jordana disse meio distante ao fim, como se revirasse as próprias memórias.
Núria teve um meio sorriso amargo dentro do abraço caloroso da namorada.
“E olha que eu nem cheguei perto de ter minha vida tão em risco quanto você! Acho que, se meu pai fizesse comigo o que o seu pai fez com você e sua mãe, eu teria ido pra Fundação Casa, ou pra um orfanato... Ou também teria parado lá no Nise, quem sabe! Entende agora por que eu acho você tão incrivelmente mais forte e melhor que eu? Você preferiu ‘afogar’ suas dores com algum tipo de escapismo a dar ao seu pai o que ele merecia. Você até fala dele com bem menos ressentimento do que eu falo do meu.”
“Não vamos competir aqui pra ver quem sofreu mais. O importante é que você também reconheceu seus problemas e foi atrás de tratá-los antes deles te engolirem.”
“E também tem isso: acho ridículo que eu ainda tenha que dar satisfações sobre minha vida a meus pais. Vou fazer isso pura e simplesmente porque não quero viver como uma refugiada, tendo que te esconder e mentir pra ninguém. Como eu já disse antes, eles causaram minha infelicidade, em partes a sua e a da sua mãe também, então não merecem participar da nossa felicidade.”
“Tá bom. Como você pretende fazer isso, então?”
“Vou começar ligando, pra sondar o terreno.”
“Beleza. Estou aqui do seu lado.”
Jordana deu um beijo na testa de Núria. Seu olhar era carinhoso e firme.
Respirando fundo, Núria fez a ligação. Colocou o celular no viva-voz, pousou-o na mesa de centro da sala e deu um longo e nervoso suspiro.
“Vai ficar tudo bem, eu tô aqui” – Jordana sussurrou.
Após mais alguns toques, Regina atendeu.
“Alô.”
“Oi mãe.”
“Oi, e aí?” – a voz era fria. Sem a empolgação que uma mãe, supostamente saudosa da filha que pouco via, teria.
“Estou bem. E vocês aí?”
“Tudo certo.”
“Que bom. Estou ligando pra avisar que estou namorando” – Núria mordeu os lábios.
“Ah, é?” – desta vez, a voz de Regina adquiriu uma vivacidade surpreendida real – “Que legal! Finalmente, né?”
“É...” – revirou os olhos e fez uma careta pra namorada, como se dissesse: se não houver alfinetadas, não é minha mãe...
“Precisamos marcar um fim de semana então pra nos encontrarmos. Ô Valério, a Núria disse que tá namorando de novo” – a voz de Regina se afastou um pouco do telefone.
“Ah, é?” – o tom de voz do pai parecia ainda mais incrédulo, e tinha uma pontinha de veneno, que Núria conhecia muito bem o significado. Se o pai estivesse diante dela ali naquele momento, soltaria um “quem diria, hein?”, cheio de ironia.
“Que legal, filha, fico feliz”- continuou Regina – “Como se chama seu namorado?”
“Então, não é namorado. É minha namorada” – Núria enfatizou bem a palavra.
Um silêncio glacial se fez. A temperatura parecia ter caído vários graus negativos.
“Núria, o que você tá dizendo? É brincadeira, né?”
O bom humor sumiu completamente da voz de Regina.
“Não. Não é brincadeira nenhuma.”
“Você não pode estar falando sério!!!”
“Em primeiro lugar, abaixe seu tom de voz, que não tem ninguém surda aqui” – Núria também endureceu imediatamente, ainda sem perder a calma.
“Ah, não, eu não acredito! Tava demorando pra ela fazer alguma bosta de novo!” – ouviu Regina afastar levemente a voz, e podia ver mentalmente até qual era a expressão em seu rosto enquanto dizia isso a Valério.
“O quê?” – Núria ouviu a voz do pai retrucar de longe.
“Tava demorando! Tava demorando!” – Regina rugia ao telefone – “O que você pensa que tá fazendo da vida, menina? Quando é que você vai tomar vergonha nessa cara?”
Desta vez, Núria rangia os dentes, retesando e pulsando raivosamente os músculos da bochecha. Jordana sobressaltou-se, fez um gesto silencioso pedindo calma, mas não foi atendida.
“O que foi?” – questionou mais uma vez Valério.
“Ela tá dizendo que tá namorando uma mulher!” – Regina gritou. Em seguida, sua voz se afastou do telefone, apesar de ainda audível: – “Olha, pra mim chega, eu não aguento mais essas coisas! Não aguento mais essa menina!”
“O que você tá dizendo?” – Valério apanhou o celular, furioso, estourando o som do alto-falante.
“Faz o seguinte, senhor Valério: já que você e sua mulherzinha estão a fim de dar ataques histéricos, em vez de conversar feito gente, eu vou desligar. Vão vocês dois à merd*! Tchau!” – Núria também ergueu a voz e encerrou bruscamente a chamada. Exalou o ar pelo nariz com toda a força.
Antes que Jordana pudesse dizer qualquer coisa para acalmar a namorada, o celular de Núria tocou e vibrou na mesinha. Núria cancelou a ligação e apertou o botão de desligar o celular de vez.
“Vão tomar no cu!” – rosnou baixo.
Um silêncio difícil se fez, no qual só se ouvia a respiração tensa e ruidosa de Núria.
Jordana apenas se aproximou dela e a fez deitar em seu colo em silêncio.
“Você entendeu agora?” – Núria questionou amargurada, em voz baixa, depois de um tempo, ao que Jordana confirmou com um aceno de cabeça.
“Pelo menos o mais difícil já passou. Eles já sabem, se não quiserem falar mais com você por causa disso, que se lasquem, pra não dizer outra coisa.”
“Espero que não queiram mesmo mais falar comigo. Porque se me ligarem hoje de novo, ou aparecerem aqui pra falar merd*, não vou responder por mim...”
“Calma...”
“Amor, quer saber? Ainda bem que é você, e não eu, praticando artes marciais. Eu tenho dentro de mim um ódio tão destrutivo, que provavelmente causaria estrago se eu tivesse sua força física, seu tamanho e agora a sua capacidade de bater em alguém...”
“E quem te disse que eu não sinto ódio? Quando eu tava muito louca, não tinha quem me segurasse... Eu aprendi a me conter porque, você sabe... Eu ia presa ou pro saco se continuasse peitando as autoridades daquele jeito.”
Núria meio que voltou a si depois dessa e se sentiu mal. Até mesmo suas crises de raiva eram um privilégio do qual Jordana não podia “desfrutar”.
“Meus problemas realmente parecem nada perto dos seus...”
“Meu anjo, evite comparações.”
“Não é comparação, é uma constatação. E pensar que tem muita gente te subestimando e até querendo te destruir por puro ódio... Isso me dá mais ódio ainda...”
“Se você aprender a controlar esse sentimento, não só vai fazer um favor a você mesma, mas a mim também, principalmente. Estou aprendendo a canalizar a minha raiva para algo construtivo. Pra qualquer um que entra nas artes marciais, pode ser preto, branco, indígena, asiático, a primeira lição que aprendemos é: a melhor guerra é aquela que não começamos.”
“Mas deixar esses racistas homofóbicos desgraçados falar e fazer o que quiserem, sem reagir? Eu tenho vontade de explodir todos...”
“Explodir alguns deles, ou todos eles, não vai mudar o preconceito enraizado da sociedade, meu amor. Outros depois deles vão continuar nos odiando também, mil vezes mais, e eu vou ser a maior prejudicada se você ou eu reagirmos com violência. Isso não quer dizer que eu estou dispersando e deixando de lutar contra o racismo, o machismo, a LGBTfobia, mas estou fazendo isso da maneira menos nociva possível para mim e para os meus.”
Núria olhou para a namorada com os olhos quase arregalados de admiração. Seu coração disparou ainda mais. Nunca esteve enganada: aquela mulher era ainda mais preciosa do que ela jamais poderia mensurar. E tinha elegido justamente Núria para ficar ao seu lado...
“Eu nunca vou encontrar no mundo alguém como ela! Meu Deus, se você existe, não me deixe perdê-la jamais! Me ensine a merecê-la!”
O choro veio lento, do fundo do coração rasgado de Núria.
“Que isso, meu anjo? Eu estou aqui! Você nunca mais vai ficar sozinha!” – Jordana apertou-a contra o peito, quase como se lesse seus pensamentos.
“Eu mereço isso? Eu mereço alguém como você?”
Depois dessa noite tensa e cheia de gatilhos, os medos e a sensibilidade ferida da jovem enfermeira se encontravam em carne viva. Jordana não estava acostumada a lidar com uma situação assim, e isso a assustou lá no fundo.
E Núria reconhecia muito bem aquele tipo de olhar aturdido de quem não sabia bem o que fazer com essa enxurrada de flutuações temperamentais tão extremas. Tremeu por dentro e recuou, segurando as mãos de Jordana:
“Não quero te colocar contra a parede, nem quero que você se sinta assim. Essa não foi minha intenção ao te chamar pra viver comigo. Aliás, talvez seja melhor mesmo você esperar um pouco mais. Conviver comigo vai ser sempre essa montanha-russa de emoções... Não sei se é o melhor para você, agora que está conseguindo ir tão bem no seu tratamento... Esqueça o que eu disse. Quer dizer, se quiser vir, venha, mas... Saiba que, por enquanto, é assim que eu sou...”
Fim do capítulo
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thays_
Em: 18/07/2023
Oi Billie!
Kkkk Laroye dona Maria Padilha!
Acho que depois de um tempo a Jordana vai começar a se sentir mais segura sobre como reagir às emoções a flor da pele de Nuria. Mas eu entendo que não é fácil e às vezes pode ser muito difícil para a Jordana, que também têm suas questões.
Fiquei pensando se foi uma boa ela ter contado para os pais, mas também pelo menos eles já sabem e se não quiserem mais falar com ela também já era o esperado.
Quero ver logo essas duas morando juntas!! :DDD
Até breve!!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 05/07/2023
É complicado mesmo a situação das duas mas o importante que elas sabem das limitações, cada dia é uma vitória.
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