Capitulo 42
Barulhos distintos da natureza lá fora foram os responsáveis por perturbar o sono de Mia. A mulher abriu os olhos de forma preguiçosa e encarou as cortinas fechadas que cobriam a grande janela que dava para o quintal de Helena, encolheu-se um pouco, nem precisou procurar para saber que estava sozinha na cama, mas não se importou, afinal, já havia amanhecido, só não sabia a quanto tempo. Bocejou devagar e em seguida respirou um pouco fundo enquanto se mexia, céus, como adorava aquela cama de Helena impregnada pelo cheiro gostoso da mexicana.
Demorou alguns minutos para que levantasse e fosse diretamente para o banheiro de onde logo saiu com o rosto e boca lavados e os cabelos presos em um coque. No corredor para a cozinha enquanto caminhava, se espreguiçava devagar, erguendo as mãos ao alto e bocejou mais uma vez. O cheiro gostoso chegou as suas narinas, sinal de que havia um bom café da manhã pronto. Mas também logo ouviu uma conversa, reconhecendo imediatamente a voz de Alysson.
— Esse é o contrato dos Atkins, conversamos sobre essa semana, você lembra? — Ally falava de forma paciente.
— Helena assinando contratos novamente sem ler? — Mia questionou repentinamente assim que entrou na cozinha e foi diretamente até a namorada que estava apoiada no balcão, Ally estava do outro lado do mesmo. — Bom dia. — disse assim que abraçou a namorada por trás de forma apertada e beijou-lhe a lateral do rosto.
— Exatamente isso. — Ally reclamou em tom descontente.
— Eu não preciso ler, tenho você pra isso. — Helena rebateu para Alysson, mas tinha um sorriso nos lábios, sorriso este que era devido ao abraço e beijo que recebera da namorada. — Você conseguiu descansar? — questionou á Amélia.
— Imagina só se a Ally fosse mal caráter. — Amélia reclamou enquanto puxava o contrato das mãos de Helena. — E sim, falei que dormindo com você eu descansaria perfeitamente bem. — a morena falou de forma um pouco distraída enquanto tinha os olhos fixos no contrato, começou a andar para dar a volta no balcão e sentar-se ao lado da ruiva, mas assim que passou por ela deu-lhe um beijo carinhoso no rosto e sussurrou um “bom dia”.
— Eu já falei isso pra ela, sorte sua que eu sou um amor de pessoa e nunca te roubaria nada...
— Meu Deus, isso é muito dinheiro!! — exclamou e então ergueu a cabeça para encarar Helena e Ally, balançou o contrato em mãos.
— Você não sabia quanto é o trabalho da Helena? — Ally questionou enquanto franzia o cenho.
— Não! — Mia rebateu como se a sua resposta fosse a resposta mais obvia do mundo. — Como diabos você anda pra lá e pra cá de bicicleta recebendo tudo isso por um trabalho??
— Eu odeio aquela bicicleta. — Ally reclamou baixo.
— Eu também! — Mia rebateu no mesmo instante.
Do outro lado do balcão, Helena revirou os olhos de forma exagerada com toda aquela cena.
— Como eu odeio vocês duas. — balançou a cabeça de forma negativa. — Me arrependo todos os dias de ter apresentado vocês.
— Essa foi a maior sorte da sua vida, você deveria aceitar. — Ally rebateu e sorriu de forma orgulhosa antes de questionar: — Cadê meu café?
— Quanto você tira disso tudo? — Mia questionou e ergueu os olhos para encarar Ally.
— Dez por cento.
— Eu acho que deveria ser mais. — Helena falou, mas sua voz estava um pouco mais distante já que andava pela cozinha e ia abastecendo a mesa onde tomariam café da manhã.
— É bem mais do que o suficiente e de qualquer forma, se eu precisar de mais, eu sei que você não me negaria. — olhou para a amiga e piscou para ela de forma cúmplice, isso arrancou um sorriso sincero de Helena, o que deixou bem claro de que o que Ally havia falado era verdade, Helena realmente nunca negaria nada aquela mulher. — E ela não fica com todo o valor restante, ela sempre doa uma parte para algumas instituições, já ajudou muitos artistas amadores e muito mais imigrantes latinos que vem pra cá sem ter nada no bolso.
— Ou seja... — Mia começou enquanto largava o contrato sobre o balcão. — Só reforçou o que eu já sei: A Helena é um ser humano incrível.
— ... Que precisa se livrar daquela bicicleta.
— E é por isso que eu deixo todo o trabalho pra você, você merece toda a raiva que você diz que eu te faço passar. — Helena reclamou enquanto caminhava até a mesa. — Venham para a mesa.
— Eu também te amo. — Ally sorriu de forma larga enquanto erguia-se do banco onde estava sentada e ia caminhando diretamente para a mesa, sendo seguida por Mia.
— Por que você nunca me falou dessas suas doações? — Mia questionou para Helena enquanto sentava-se em uma das cadeiras.
— Nunca entramos nessa pauta. — Helena respondeu enquanto voltava para a cozinha.
— Na verdade é extremamente difícil a Helena falar das próprias conquistas e de todas as coisas boas que ela faz com isso, ela simplesmente acha que não é pra tanto, ou que não merece. — Ally foi comentando de forma um pouco distraída enquanto servia-se com uma boa caneca de café.
— É... Isso é a cara dela. — Mia comentou um pouco baixo enquanto se servia com um copo de suco de laranja, mas também serviu Helena com um, mesmo que a mexicana ainda não estivesse na mesa.
— Não fiquem falando de mim como se eu não estivesse aqui. — Helena reclamou mais uma vez enquanto voltava para a mesa e colocava os últimos itens sobre a mesma para enfim sentar-se.
A mesa estava bem farta e composta por uma variedade de comidas com cores diversificadas, haviam ovos fritos, bacon, torradas, algumas geleias, tortilhas, guacamole, uma tigela com frango, outra com verdura picada e uma com uma diversidade de frutas vermelhas, também havia iogurte natural e um pouco de granola.
— Então... — Ally foi a responsável por mudar de assunto, afinal, realmente sabia que Helena não gostava de falar sobre aquilo. — Quer dizer que as duas tem um encontro hoje?
— Hmmm. — Mia gem*u de boca cheia enquanto acenava positivamente com a cabeça. — Vamos jogar mini golfe.
— Eu estou ansiosa. — Helena sorriu de forma carinhosa antes de dar um bom gole em seu suco.
— Que encontro tão hetero. — Ally comentou.
Mia riu.
— Sim, eu disse que seriam encontros clichês, temos na lista cinema, boliche... Você gosta de baseball? — Mia encarou Helena quando fez a última pergunta.
— Definitivamente nada de baseball, muita testosterona em um lugar só... — a morena parou de falar ao olhar para o lado para encarar a gatinha preta que esticava-se inteira para alcançar a mesa com sua patinha, claramente pedindo comida. — Vem cá, meu amor. — falou baixo enquanto segurava a gatinha e a puxava para seu colo.
— Passou tantos comentários infames na minha cabeça. — Ally comentou de forma um pouco distraída enquanto comia a sua torrada com geleia.
— Até imagino sobre o que. — Mia concluiu enquanto se inclinava um pouco para acariciar a cabeça de Vadia.
— Que continuem em sua cabeça, ou faço você engasgar com essa torrada. — a mexicana ameaçou enquanto se distraía em dar um pequeno pedação de presunto a sua gata.
E assim se passou o café da manhã das três mulheres, regados a conversas e centenas de alfinetadas entre Ally e Helena como se as duas fossem grandes inimigas, mas não era nada além de uma saudável implicância que era mais normal do que parecia.
***
Já estava próximo ao horário de almoço e Mia calmamente encarava seu próprio reflexo em frente ao espelho do quarto de Helena, havia começado a se arrumar a algum tempo enquanto sua namorada estava deitada na cama apenas lhe observando enquanto conversavam. Amélia tinha um almoço marcado com sua mãe e seu novo namorado para que pudessem se conhecer de forma decente.
— Você realmente não quer ir comigo? — Mia questionou enquanto virava-se de frente para Helena e fazia um pequeno bico.
Helena sorriu de forma um pouco larga ao ver aquele bico, mas não moveu-se, estava deitada de lado com a cabeça apoiada em uma das mãos enquanto a outra ocupava-se em acariciar a barriga de Vadia.
— É claro que eu quero ir com você, eu iria adorar conhecer o namorado da Vera e ver o quão constrangedor e tenso pode ser esse almoço. — a mexicana tinha um sorriso divertido nos lábios, o que claramente fez Mia rolar os olhos. — Mas esse é um momento só de vocês, amor, totalmente em família, por mais que eu saiba que minha presença não iria incomodar... Acho que você precisa ter esse momento a sós com ele antes que eu o conheça, eu sei que você vai querer ter uma boa conversa com ele.
Mia colocou as mãos na cintura enquanto encarava sua namorada com uma expressão séria, respirou bem fundo e rolou os olhos mais uma vez enquanto voltava a dar as costas para Helena.
— Odeio como você está tão certa. — sussurrou enquanto voltava a encarar a sí mesma no espelho, estava usando um dos vestidos de Helena, o que deixava bem obvio que gostava e muito de compartilhar as roupas com ela.
— Você está linda. — Helena comentou baixinho e sorriu daquele jeito totalmente apaixonado enquanto se mexia na cama para calmamente sair da mesma e ir caminhando em direção a sua garota, calmamente a abraçou por trás e deu um beijo carinhoso no ombro desnudo e em seguida um beijo no maxilar antes de encarar a namorada pelo reflexo no espelho. — Me prometa que vai ser gentil com ele.
— Eu prometo, eu sei que a Mamma não escolheria qualquer um, confio no bom gosto dela. — deu um pequeno sorriso com as próprias palavras, só estava se sentindo ansiosa demais por que aquela era de fato uma novidade muito grande.
Helena sorriu com certo orgulho enquanto se afastava só um pouquinho para poder virar Mia de frente para sí.
— Esse é um dos motivos que eu sou tão apaixonada por você, você é extremamente compreensiva e absurdamente racional.
— Racional demais as vezes. — Mia tinha um sorrisinho bobo nos lábios e já ia se inclinando para selar os lábios da namorada em um selinho um pouco demorado. — Eu preciso ir.
— Eu sei. — Helena lamentou, mas não se afastou um centímetro sequer, deu um novo beijo estalado naqueles lábios carnudos antes de falar baixinho: — Hoje a noite você vai me contar todos os detalhes, combinado?
— Combinado.
— Estou ansiosa. — confessou.
E de fato, a mexicana estava. Até mesmo quando Amélia foi embora e a mexicana se viu solitária em casa, sua mente estava dividida entre pensar em todos os seus problemas e na ansiedade de que a noite chegasse logo para que pudesse se divertir com sua garota. Sentia-se nas nuvens.
E assim, do outro lado da cidade, Mia dirigia com um sorriso leve nos lábios, a ansiedade era mútua, por mais que tivesse pela frente um almoço importante com sua mãe e o novo namorado, naquele momento Mia não pensava em absolutamente nada a não ser Helena e na vontade que tinha de que o dia passasse o mais rápido possível para que se encontrassem logo mais uma vez.
Em poucos minutos adentrava o restaurante de sua família com calma, cumprimentando calorosamente os funcionários antes de ser indicada qual a mesa que sua mãe estava lhe esperando. E de longe já viu que a matriarca da família já estava acompanhada, via as costas do então namorado de sua mãe enquanto se aproximava, mas principalmente via o semblante da mulher e a postura mudarem quando seus olhos se encontraram, quase sorriu ao ver isso, era um claro sinal de que Vera estava nervosa, conhecia bem demais aquela mulher.
— Ah, minha querida, você chegou. — Vera sorriu enquanto erguia-se de sua cadeira e se afastava só um pouco da mesa para ter a liberdade de abraçar a sua filha. O abraço foi um pouco demorado e cheio de carinho. — E está maravilhosa.
— Um dos benefícios de se namorar uma mulher. — piscou para a matriarca da família, a simples menção de Helena a fez sorrir de forma um pouco boba, porém, logo em seguida desviou sua atenção da mãe para poder olhar para a mesa, só então percebeu que o homem antes sentado já estava de pé com uma clara expectativa.
— Amélia... — Vera pigarreou ao olhar para a filha e em seguida olhar para o namorado. — Esse é o Elijah.
Mia estava com um sorrisinho nos lábios, mas seu olhar, ah aquele olhar de uma leoa pronta para atacar em qualquer mínimo sinal de perigo.
— É um prazer conhecer você, Elijah... Ainda mais vestido de forma apropriada. — é claro que ela não iria conseguir segurar aquele comentário, tanto que quando olhou para a sua mãe, ela estava com aquele olhar de: “Sério, Amélia?”.
Mia sorriu de forma um pouco larga enquanto se ajeitava um pouco para puxar uma das cadeiras.
— Sentem lado a lado, eu quero olhar para os dois juntos. — pediu enquanto deixava a sua bolsa na cadeira vazia que ficaria ao seu lado, onde Vera antes estava sentada e então sentou-se bem a tempo de ver Elijah puxando cautelosamente a cadeira para Vera sentar e só depois que ela sentou, ele sentou-se ao seu lado.
— Eu realmente gostaria de me desculpar por aquele momento, Amélia. Foi inapropriado e eu não tinha a mínima intenção de desrespeitar a sua casa, eu respeito muito a sua mãe e consequentemente você e seu irmão...
— Não se preocupe, Elijah. — Mia o interrompeu, estava apenas implicando, mas ela sabia muito bem que o que viu era algo absurdamente normal, então não tinha motivos para problematizar mais. — A culpa não foi sua, na verdade eu realmente fiquei feliz em saber que vocês estavam namorando, mesmo não te conhecendo eu confio no bom gosto da minha mãe, ela não colocaria ninguém dentro daquela casa se não confiasse 100%.
Elijah sorriu imediatamente e buscou o olhar de Vera. Mia acabou sorrindo de canto ao olhar a cena, naquele simples momento, onde notou o carinho que ela tinha pela mãe e a cumplicidade em buscar o olhar dela e claro, o aparente nervosismo dele, deixava totalmente claro para Mia que ele realmente era um homem bom e Mia não precisava de mais nada para ter certeza de que ele faria a sua mãe feliz, isso a fez imediatamente relaxar na cadeira onde estava.
— Aliás, onde está o Fred? — questionou repentinamente á mãe.
— Fazendo nosso almoço, estará vindo logo.
— Então, Amélia... Vera me contou que você namora a Helena Muñoz. — Elijah começou. O Doutor era um homem já grisalho, mas extremamente charmoso, cabelo bem cortado, barba muito bem feita, extremamente bem vestido e claramente um homem elegante, era o par perfeito para Vera.
— Sim, estamos namorando há algumas semanas, você a conhece? — questionou enquanto se ajeitava na cadeira e calmamente cruzava as pernas embaixo da mesa.
— A noiva do meu filho mais velho faz artes plásticas e em um evento de exposição coletiva, onde fui ver sua obra, conheci o trabalho de Helena. Eu não entendo muito de arte, mas o que ela faz é incrível, minha nora a elogiou muito...
— A Helena é maravilhosa. — Mia sorriu de forma um pouco larga.
— Sabemos que você puxou o meu bom gosto... — Vera comentou e isso arrancou uma pequena risada de Mia e um genuíno sorriso de Elijah.
— É... Eu ainda não me acostumei com o fato de que a Helena é tão famosa assim, nós nunca conversamos sobre isso, pra mim ela é só... A Helena, minha namorada. — sorriu de forma apaixonada até perceber seu irmão caminhando entre as mesas do restaurante com as mãos ocupadas com pratos, logo atrás dele vinha um garçom o ajudando, assim Mia já foi se ajeitando, liberando a cadeira ao seu lado para receber seu irmão.
Assim, quando Fred se juntou aos três na mesa, eles almoçaram em um clima totalmente reconfortante, Elijah era claramente um bom homem, além de ser um belo contador de histórias que arrancaram boas risada dos demais naquela mesa. Assim, com certeza Mia sairia daquele restaurante completamente leve com a certeza de que a sua mãe enfim, havia encontrado a pessoa certa mais uma vez.
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Helena caminhava calmamente pelas calçadas da grande rua repleta de lojas, havia ido comprar algumas coisas para dar continuidade a obra atual que trabalhava, carregava uma sacola com a mão esquerda depois de sair da loja de artes e caminhava olhando ao redor, vendo as vitrines cheias, passou por lojas de roupas, de joias e tantas outras coisas que não chamavam a sua atenção, estava sentindo uma ansiedade tão grande que não havia conseguido ficar sentada em frente a sua tela pintando, por isso precisou sair.
Repentinamente parou em frente a vitrine de uma pequena loja, viu uma diversidade de pingentes e bonecos dos mais variados tamanhos e formatos, todos claramente artesanais. Assim, não pensou duas vezes antes de entrar, adorava coisas artesanais.
— Olá, seja bem vinda. — uma jovem mulher apareceu, tinha cabelos bem curtos e um sorriso bonito que automaticamente fez Helena sorrir de volta. — Posso te ajudar?
— Definitivamente você pode, eu quero presentear alguém que é perfeita e parece não precisar de absolutamente nada... Por que ela é perfeita. — Helena colocou as mãos na cintura e balançou a cabeça de forma positiva como se silenciosamente respondesse os questionamentos que a atendente com certeza estava fazendo mentalmente.
A atendente riu por alguns segundos ante de olhar um pouco em volta como se estivesse pensando.
— Ok... Pretendente ou namorada? — questionou assim que voltou a encarar Helena.
Helena sorriu de forma mais larga ainda com aquela pergunta, é claro que aquilo ficaria obvio, por isso não teve receio ao responder:
— Namorada.
— Certo... — a jovem mulher uniu as mãos a frente de seu corpo antes de dar meia volta. — Que tal algo que lembre um momento importante para vocês? Nós temos de absolutamente tudo... — a mulher parou de falar quando olhou para Helena novamente e notou a mexicana parada e com os olhos vidrados em um conjunto de vários chaveiros em formato de um mini globo de neve, havia de fato alguns clássicos com “neve” dentro quando balançava, mas havia um em específico que era absolutamente perfeito. — Acho que já encontrou.
— Sim... Sem dúvidas. — Helena falou baixinho e desviou o olhar rapidamente para encarar a outra mulher. — Esse cordão, tem como ser maior? Quero pendurar dentro do carro.
— Com toda certeza, alguma situação especial no carro?
Helena riu por alguns segundos antes de responder:
— Muitas situações.
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Exatamente as 18:00 horas, Mia estava parada em frente a porta da casa de Helena, estava extremamente nervosa e realmente não entendia o porquê, afinal, Helena já era a sua namorada. Mas ainda assim, aquela ansiedade, aquele alvoroço no estômago como se borboletas voassem descontroladamente dentro dele, aquela vontade de ver logo Helena a fazia pensar o quão apaixonada estava por aquela mulher. Respirou um pouco fundo algumas vezes antes de tocar a campainha com a mão livre, já que uma das mãos se ocupava segurando um “copinho” transparente, onde dentro tinha uma muda de uma flor, as folhas pequenas e verdes começavam a crescer deixando bem claro que era a hora certa de plantar aquela pequena muda em um lugar maior.
Os cabelos de Mia estavam soltos, do jeito que Helena gostava, usava uma camisa de mangas longas e gola em U que deixava bem a mostra o decote farto, mas não de forma vulgar, trajava também uma calça jeans clara em conjunto com um par de sapatos brancos que eram extremamente confortáveis e pra completar, um sobretudo preto que ia até o meio de suas coxas e estava aberto, era apenas para protege-la do frio.
Seu coração saltou dentro do peito quando ouviu o barulho da porta que segundos depois fora aberta e logo encarou aqueles olhos dourados que tanto adorava. As duas mulheres se encararam em silêncio por alguns segundos, como se estivessem admirando antes de sorrirem de forma cúmplice, o silêncio foi quebrado por Helena.
— Pontual como sempre... — falou baixo no momento em que sua atenção recaía para o que tinha em mãos.
— Pontualidade é o ponto alto de um bom encontro. — Mia arqueou uma sobrancelha para Helena, mas sorriu em seguida antes de erguer a pequena muda para que Helena a visse melhor. — Mas flores é o ponto principal... Eu iria trazer o mais bonito buquê de flores que eu vi na floricultura, mas eu sinceramente não gosto da parte de que em alguns dias aquelas flores iriam murchar e morrer, então... — a morena parou e olhou para baixo, logo ao lado da porta estava uma bandeja com mais quatorze mudas iguais aquela, assim, abaixou-se, colocou a que segurava junto com as outras e ergueu a bandeja com cuidado, não era pesada devido ao tamanho pequeno das mudas. — São prímulas, como pode perceber eu comprei muitas, pra nós duas plantarmos no seu quintal e cuidarmos juntas até florescer...
Helena estava boquiaberta, o coração batia tão forte dentro do peito e a sensação era de que ela iria derreter a qualquer momento, derreter de tão quente que seu coração ficou com aquele gesto, naquele momento ela sentiu uma grande vontade de chorar, mas era chorar de felicidade por ter encontrado aquela mulher.
— Amor... — começou, mas sinceramente não sabia o que falar, não sabia nem como expressar toda a enxurrada de sentimentos que aquele gesto trouxe. — Uau. — riu de forma boba enquanto com todo cuidado do mundo pegava uma das pequenas mudas, tinha um sorriso totalmente apaixonado nos lábios e duvidava que aquele sorriso fosse sumir em algum momento daquela noite. — Essa realmente é a coisa mais linda que alguém já me deu... Eu amei. Muito. — falou um pouco mais baixo enquanto admirava a pequena muda em sua mão, em seguida olhou para Mia. — Você sabe o significado de Primoras?
— Resumidamente... Na língua das flores, ela simboliza o forte vínculo e a lealdade entre duas pessoas. — Mia respondeu, os olhos azuis pareciam brilhar ao olhar para Helena, estava totalmente maravilhada com a reação de sua namorada.
Helena riu baixo, riu de pura felicidade antes de comentar:
— É claro que você sabe... Aposto que sabe muito mais que isso.
— Como cultivar, como regar, os materiais que vamos precisar, que já estão na mala do meu carro... E sei inclusive o local perfeito pra plantarmos elas... — mordeu o lábio inferior com um pouco de força após aquelas palavras, mas acabou sorrindo quando viu o genuíno sorriso que pareceu crescer nos lábios de Helena e teve absoluta certeza de que havia mesmo feito a coisa certa.
— Ok, pare de falar ou vou cancelar esse encontro para irmos plantar elas agora mesmo. — disse baixo enquanto colocava a muda que pegara junto as outras para logo em seguida, com cuidado, pegas a bandeja das mãos de Mia, assim, deu meia volta e caminhou rapidamente para dentro de casa, a passos largos chegou à cozinha e deixou a bandeja em cima da mesa, para logo em seguida cobrir com um pano de forma cuidadosa para não ter risco de Vadia ir xeretar, aproveitou o momento sozinha para se recuperar ao menos um pouco daquela surpresa, para respirar fundo e diminuir o calor que sentia no rosto, tinha absoluta certeza de que estava corada, precisou até dar uma pequena enxugada nos olhos.
Mas, para não deixar Mia esperando, voltou logo para a porta de casa, aproveitando para pegar a sua jaqueta no caminho, a Mexicana usava uma camisa jeans de botões que estava por dentro da calça, alguns botões abertos e as mangas dobradas até o seu antebraço, a calça jeans era preta e era rasgada em ambos os olhos, vestia botas confortáveis nos pés, escolheu a vestimenta pensando no lugar que iriam e para passar a noite e claro, um casaco simples apenas para o caso de sentir frio, tanto é que saiu carregando-o na mão.
Mia lhe aguardava na pequena varanda, com ambas as mãos nos bolsos do sobretudo, sorriu imediatamente ao ver a namorada voltando.
— Não posso esquecer de falar que você está linda. — Mia comentou no momento em que Helena passava pela porta e virava-se para poder tranca-la.
A mexicana riu com o elogio e quando trancou a porta de casa, virou-se logo em direção a namorada, os braços já foram se esticando, silenciosamente pedindo um abraço, Mia acatou imediatamente e as duas se abraçaram de forma apertada.
— Você também está linda. Maravilhosa na verdade. — retribuiu o elogio em meio ao abraço e se afastou só um pouco para encarar de pertinho a sua garota. A admirou em silêncio por alguns segundos, tinha como ficar mais apaixonada por ela? Sorriu de canto antes de inclinar-se só um pouco para selar aqueles lábios carnudos em um selinho demorado e carregado de carinho. — Vamos.
— Sim senhora. — Mia falou baixinho, mas antes de se afastar de Helena, deu mais um beijo rápido em seus lábios, para finalmente se afastar, mas imediatamente sua mão já buscou a dela para que andassem juntas até o carro. — Espero que esteja pronta para perder.
Helena riu.
— Eu não deveria amar dizer isso, mas eu realmente amaria ganhar de você só pra te ver emburrada. — tinha um sorriso nos lábios ao falar aquilo e pensou que definitivamente não conseguiria parar de sorrir naquela noite.
— Isso é algo totalmente fora de cogitação, meu amor. Mas eu pegarei leve com você, como a namorada perfeita que sou. — piscou para a namorada no momento em que soltou a mão dela para que pudesse dar a volta no carro.
Helena riu enquanto rolava os olhos, assim que entrou no carro e fechou a porta, se ajeitou um pouco e começou a procurar algo no bolso da jaqueta que carregava.
— Não é tão maravilhoso como o que você me deu, mas... — Helena começou no momento em que Mia também entrou no carro. A mexicana aproveitou para em seguida acender a luz interna do veículo, encarou rapidamente a namorada antes de erguer o pequeno globo de neve ligado a um cordão de bom tamanho, o suficiente para que Helena passasse o cordão duas vezes ao redor do retrovisor interno do veículo assim deixando pendurado abaixo dele o pequeno globo onde dentro, ao invés de uma paisagem com neve, era um pequeno jardim com um arco íris e toda vez que balançava, ao invés da neve tomar conta de tudo, era glitter.
Mia olhava tudo em silêncio, de forma totalmente hipnotizada, o sorriso foi crescendo nos lábios, principalmente quando Helena balançou o pequeno globo e Mia viu o glitter tomar conta de todo o mini jardim.
— É a coisa mais gay que eu já vi. — Helena falou baixinho e sorriu antes de continuar. — Mas achei que era perfeito pra deixar aqui, afinal, foi aqui que eu te trouxe definitivamente pro vale.
Mia gargalhou por bons segundos e mesmo após a risada cessar, o sorriso largo ficou estampado nos lábios.
— Isso é a coisa mais fofa... Meu deus. — disse de forma admirada enquanto segurava o pequeno globo entre os dedos e pensava que toda vez que dirigisse e o carro balançasse, veria aquele globo se encher de glitter. Riu de forma totalmente boba mais uma vez.
— E claro, também é uma ótima forma de você sempre lembrar de mim. — concluiu.
— E você acha mesmo que em algum momento do meu dia, você sai da minha cabeça?
Helena corou e seu coração saltou dentro do peito. Riu enquanto escondia o rosto nas mão.
— Meu Deus, Amélia. — reclamou e riu em seguida, ah agora ela tinha certeza que seu coração explodiria com o excesso de amor. — Sabe o que eu disse a moça da loja onde comprei isso? — questionou e indicou o globo de glitter com o olhar antes de continuar: — Que eu queria presentar alguém que é perfeita, que não parece precisar de nada, por que é absolutamente perfeita.
Mia não falou nada ao ouvir aquilo, não falou por que não soube o que falar, tudo o que fez foi sorrir, um sorriso largo, bobo, apaixonado, derretido e totalmente preenchido de amor.
Fim do capítulo
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