Evelyn ~

- Eu não sou de igreja - fala Betty. Estávamos andando pelo jardim das acomodações, eu e as meninas

- Como assim querida? - pergunta Sandra

- Aiin quando estou lá limpando meu nome - ela dá uma pausa e olha pra Sandra, fazendo as meninas todas olharem para ela. Eu não consigo parar de pensar que eu vou sujar de novo - todas nós rimos muito.

- E isso veio de uma virgem - disse Cath tirando onda dela

- Vou inventariar os suprimentos - aviso as meninas. Realmente a falta da Laura estava em uma situação muito incomoda.

- Ownt, tchau - falaram juntas

Cheguei a ala da enfermaria. Os homens que tinham estavam seno cuidados e sempre aparecia um ou outro machucado por que brigou, típico de homens.

- Evelyn, chegou um marujo - avisou uma das enfermeiras da sala - ok, mande sentar na maca que já cuido dele. - era meu dia de folga, mas como estava ali, não custava ajudar.

Já tinha dias que não recebi as cartas da minha amada, sei que existe a demora de tempo, porém, meu coração estava tão aflito, tão agoniado e mergulhar no trabalho nesses dias estava sendo terapêutico.

Cheguei perto do marujo e estava limpando seu ferimento - como foi isso? - pergunto

- No boxe - fala com os olhos fechados, pois estava costurando o supercílio

- Ahh - falo entendendo o belo de um motivo para se machucar - e você venceu? - pergunto

- Sim senhora - fala o rapaz.

Estava cortando a linha - e o que ganhou com isso?

Ele ficou alguns segundos em silencio, acredito eu que pensando - Respeito - foi uma singela resposta. O rapaz era negro, então naquela época os negros não eram tenentes, eram cozinheiros, faxineiros e algo relacionado. Senti que através daquela luta de boxe, ele ganhou respeito, o que fez meu coração afagar por uns minutos.

Estava levanto ele ate a frente da enfermaria, andávamos lado a lado - e porque tem que usar os punhos para ganhar respeito?

- Eu deixei minha mãe no Texas e entrei para a marinha para conhecer o mundo, me tornar um homem. E aí me colocaram de cozinheiro - a sua ultima frase ele falou parando em minha frente e olhando dentro dos meus olhos - e nem é isso - baixou os olhos - eu limpo depois que os outros marujos comem - existia uma dor em seus olhos. - E em dois anos aqui, eles nunca me deixaram disparar uma arma - sorrio envergonhado

- Eu espero que nunca precise - falei com carinho

Ele colocou o cap na cabeça, sorrio para mim e saiu. A realidade é cruel, bastante cruel.

Assim que o sub oficial Miller saiu, meu coração parou. Literalmente parou, vi o Dany, isso, vi o Dany descer do carro oficial e ficar parado me olhando. O meu choro já estava na garganta, era só juntar dois mais dois. O sorriso que tinha no meu rosto foi embora na hora. Dany tirou o cap e baixou a cabeça. Ele se quer disse uma palavra, seus olhos m disseram tudo. E meu coração? Ainda parado!

Ele caminhou em passos curtos em minha direção, desci as escadas em modo automático indo em sua direção. Dany nada falou, nos olhamos intensamente por alguns segundos, tudo estava congelado em minha volta. Dos meus olhos saiam lagrimas sem parar, Dany nada falou, apenas me puxou para um abraço. Eu, meu corpo, minha mente estavam paralisados, não sei como ainda me mantinha em pé.

Dany como um completo cavaleiro, me levou para sentar em um banco mais próximo, eu só fazia chorar em silencio.

- Ela me ensinou a voar, e eu sempre soube que fosse qual fosse o problema em que eu me metesse eu não estaria sozinho - Dany engoliu o choro - Ela estaria comigo - ele respira fundo tentando se segura - Lá em cima ela me forçava a ser melhor, mais rápido - abriu um sorriso

- Ela me disse que você era um grande piloto - sorrimos - e nessa mesma noite ela me disse que iria como voluntaria para a Inglaterra - lagrimas saiam dos meus olhos.

- Voluntaria? - Dany perguntou surpreso. - Ela... - sua cara era de espanto - Ela me disse que foi designada - o encarei, provavelmente Laura estava protegendo-o - ela estava sempre tentando me proteger - abri um leve sorriso e Dany desolado

Ficamos alguns segundos em silencio, muita coisa a dizer e ao mesmo tempo sem dizer nada.

- Mas sabe de uma coisa, não me vejo no espelho com esse uniforme e ainda não seu quem sou - sinto verdade em sua fala - pareço um herói, mas não me sinto assim - engole o choro.

Suspiramos juntos - Laura, sempre pareceu um herói não foi? - choramos juntos

- Ela não pode esperar pra ser - falei já me entregando ao choro.

Dany me abraçou e ficamos ali alguns minutos chorando. Estava cansada, foi muito para apenas um dia.

Logo mais a noite estávamos todos reunidos, iriamos brinda a vida da Laura. Dany enchia nossas doses, estavam todos os rapazes e as moças. Todos amavam ela, e tudo que ela representava.

- Para Laura McCawley - falou Dany levantando o copo - a melhor pilota e melhor amiga que eu já tive e que eu jamais terei. - Todos caímos no choro - A Laura - e bebemos todos juntos.

Era o ano de 1941, os dias se passavam mais lentos que o possível. Depois da morte da Laura, tudo perdeu o sentido para mim, a pessoa cujo eu mais amei nessa vida, estava com o corpo perdido no fundo do oceano. Nunca voltou pra casa.

Meus dias eram longos e as noites eram frias, não tinha uma noite se quer que eu não chorasse e me desesperasse com sua falta.

Já tinha se passados dias e eu vivia nesse ciclo. Um certa manha Sandra para em minha frente

- Evelyn, eu peguei essas cartas e todas estão com seu nome - olho fixamente para cada uma delas - São da Inglaterra - Sandra completa

Respiro fundo - Da Laura? - pego as cartas na mão. Tinha acabado de sair do banheiro

- Desculpa Evelyn, sabe que a correspondência demora a chegar - enquanto ela fala sigo em direção a cabeceira de minha cama, encarando aquele tumulto de cartas em minha mão.

Guardo todas as cartas na gaveta, não tinha estomago para ler aquelas palavras e promessas de que iria voltar para casa, sendo que nunca mais iria vê-la.

Mais uma semana se passou e lá estava eu, sentada sobre as pedras no mar, olhando aquele origami que ela me deu de presente. Como queria que tudo fosse diferente, mas infelizmente não é. O que eu iria fazer da minha vida de agora em diante eu não sei, mas a vida teria que continuar.

Olhando para a imensidão do mar, me sentia perto dela, de alguma forma ela estaria ali sempre comigo. 

Fim do capítulo