Capítulo 17
Semanas se passaram e, para Clara, a sensação era de que cada minuto se arrastava. Tentava desesperadamente preencher a cabeça, procurava serviço o dia inteiro, até passou a sair a cavalo com Saulo e alguns outros peões, tudo na tentativa de fugir da melancolia em que se encontrava. Praticamente não entrava mais na casa, voltou a dormir no seu cubículo, do lado de fora, e fugia sempre que Marina ou Alice se aproximavam. Várias vezes chegou a procurar Saulo para pedir as contas, mas sempre desistia no último segundo. Acabou percebendo que, não importava onde estivesse, aquele sentimento a perseguiria, pois estava dentro dela. Poderia ir embora, estar a milhares de quilômetros dali, mas o que sentia a acompanharia onde quer que fosse.
Até a vingança que fingia manter viva dentro de si já não estava mais lá. Aceitou, enfim, que a vida era como era: injusta. Marina sempre a venceria, não importando qual fosse o assunto. Realizou que o mundo era assim, algumas pessoas iriam ser felizes e outras não. Soltou uma risada amarga ao pensar “E adivinhe de que lado dessa história você está, Clara?”
*****
Alice passou os dias convivendo com uma dualidade que não a deixava ser integralmente feliz quando estava com Marina, nem integralmente triste quando pensava em Clara. Em certos momentos do dia achava que enlouqueceria, os pensamentos a tomavam e a faziam querer gritar, explodir aquilo que sentia por dentro. Nessas horas procurava Marina, que era seu refúgio, seu porto seguro, se acalmava só em conversar com ela. Estava em um desses momentos, mas, para seu desespero, Marina não estava na fazenda. Havia saído no dia anterior com Santiago e não tinha previsão para voltar, isso dependeria do andamento de seus negócios.
À noite, demorou a pegar no sono, e quando conseguiu, foi atrapalhada por pesadelos que apareciam sempre que ela entrava num sono profundo. O dia já estava clareando quando desistiu de ficar na cama. Levantou-se, tomou um banho e vestiu as roupas, planejando ir direto para o ambulatório.
*****
Clara entrou na cozinha levando os ovos que colheu no quintal. Antes, já havia deixado as frutas e a lenha que sabia que Marta precisaria. Passou a fazer isso nos últimos dias, levantando mais cedo até mesmo do que a cozinheira, com a intenção de evitar encontrar com a patroa ou Alice tomando café. Estava de costas quando ouviu o barulho de passos atrás de si. Imaginou que Marta também já havia acordado e virou-se para falar com ela. Ficou lívida, absolutamente sem reação, ao ver Alice entrando na cozinha.
As duas se encararam, antes de Alice dizer:
— Bom dia.
A resposta de Clara foi um aceno de cabeça. Terminou de depositar os ovos na mesa e se virou para sair, mas Alice a chamou:
— Acho que nós precisamos conversar. Na verdade, acho que eu te devo uma satisfação.
Clara a olhou quando respondeu:
— Você não me deve nada.
Alice pôde sentir a mágoa na voz dela, por isso insistiu:
— O que aconteceu entre a gente… Eu também queria, foi… Muito bom, mas não podia acontecer. Não pode acontecer.
Clara a olhou nos olhos. Era melhor que Alice não tivesse dito nada. Aquele sentimento de que ambas queriam a mesma coisa, mas fatores externos impossibilitavam que acontecesse, era pior do que se tivesse sido rejeitada. Principalmente porque o principal fator externo tinha nome e sobrenome: Marina Alencar. Naquele momento sentiu raiva: de Alice, de Marina e principalmente de si mesma, por sempre ficar por último, sempre se preocupar mais com os outros do que com si própria, por nunca ter coragem suficiente para agir, correr atrás do que queria. Via sua vida passando como se fosse uma mera espectadora, nadava conforme a corrente, deixava que os outros decidissem por ela, e ficava satisfeita com o que lhe sobrava. Movida por essa raiva e rancor, se aproximou ainda mais de Alice e soltou:
— Não pode ou você não quer?
Alice se surpreendeu com aquele avanço de Clara. Nunca a tinha visto falar ou agir daquela maneira. Foi sincera:
— Eu… Não posso.
— Por quê? Por causa de Marina?
Aquele ataque sem hesitação por parte dela não intimidou Alice, pelo contrário, se sentiu ainda mais atraída pela mulher que Clara lhe mostrava naquele momento:
— Sim, por causa dela.
Clara pareceu disposta a continuar. Disse em tom de desafio:
— Ela não está aqui agora.
Foi nesse momento que a razão de Alice ameaçou a abandonar. O corpo inteiro estava pulsando, não conseguiu conter o olhar que desceu para a boca de Clara. Parecia enfeitiçada, encantada. Quanto mais a conhecia de verdade, mais se sentia atraída por ela. Tentou controlar a respiração, sem fazer nenhum movimento, pois sabia que o corpo não a obedeceria por muito mais tempo.
Na hesitação dela, Clara resolveu agir. As duas estavam muito próximas, a ponto de sentir a respiração de Alice no próprio rosto. A impressão que tinha era de que, se levantasse a mão e a fechasse no ar, conseguiria sentir a tensão sexual que as inundava de dentro para fora. Ainda tentava controlar a respiração quando tocou o rosto de Alice com a mão direita. Num movimento quase sincronizado, as duas se moveram, fazendo com que as bocas se encontrassem. A partir daí Clara já não conseguiria mais saber quem tomava a iniciativa.
Alice a empurrou até que as costas dela encostassem na parede. As mãos tinham vontade própria e avançaram por debaixo da camisa de Clara. A ouviu gem*r dentro do beijo quando tocou-lhe os seios. Aquilo enlouqueceu Alice a ponto dela se esquecer que estavam no meio da cozinha e que, a qualquer momento, Marta ou algum dos homens poderia entrar no cômodo.
Clara estava rendida, entregue, quase desfalecendo nos braços de Alice. As mãos dela a enlouqueciam debaixo das roupas. Parou o beijo apenas para que a boca grudasse no pescoço de Alice, beijando cada pedacinho, a mordeu, sugou a pele e depois passou a língua devagar.
Alice arquejava, sem parar o caminho das mãos que passavam pelo pescoço, pelos seios, barriga e desciam até a bunda de Clara. As pernas estavam bambas quando sentiu a mão direita dela se enfiar por debaixo de seu vestido, vencendo a barreira da calcinha e encontrando seu sex*.
Clara tirou a boca do pescoço de Alice e a olhou nos olhos. Continuou a olhando quando escorregou os dedos de cima para baixo, com facilidade, dentro da calcinha dela. Mordeu o lábio inferior de Alice e os dedos a penetraram, enquanto a sentia arfar.
Alice revirou os olhos involuntariamente. Sentir Clara dentro dela a levou a um estado de loucura que a fez gem*r alto, sem se importar com mais nada. Só não se perdeu completamente naquele sentimento porque a vontade de também senti-la falou mais alto. Abriu o botão da calça de Clara, procurando e encontrando o que queria logo depois. As duas se movimentaram juntas, uma dentro da outra, enquanto as bocas se exploravam e as línguas se entrelaçavam, completamente alheias a tudo ao redor. O corpo de Clara começou a tremer, gem*u dentro do beijo e não conseguiu mais conter a onda de prazer que a inundou. Ao senti-la daquela forma, Alice também se entregou e os espasmos tomaram seu corpo.
Depois ficaram, ainda abraçadas, tentando controlar as respirações e recobrar a consciência. Clara sentiu a perna fraquejar, achou que não conseguiria ficar de pé, mesmo abraçada a Alice, e abriu os olhos. Imediatamente todos os músculos do seu corpo se enrijeceram e ela prendeu a respiração.
Alice sentiu a tensão repentina dela, tirou o rosto do pescoço de Clara e a olhou. Ela tinha os olhos estatelados, fixos em um ponto na direção da porta. Alice virou o rosto e se deparou com Marina as olhando.
O rosto de Marina estava, como sempre, impassível. Alice se soltou de Clara e tentou justificar alguma coisa, mas só conseguiu balbuciar:
— Marina…
Clara se apressou em fechar a própria calça, mas não saiu do lugar. Esperou que Marina as escorraçasse, pensou que talvez até a agredisse, mas a patroa não se moveu, apenas disse:
— Tomem cuidado da próxima vez, outra pessoa poderia ter visto.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 16/06/2023
Eita! Surpresa Marina tá de boa.
Resposta do autor:
De boa até demais, né?
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
AlphaCancri Em: 02/09/2023 Autora da história
Será que ela conseguiria resistir?