Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 34 - As mais felizes.
Não se falava em outra coisa no hospital, o que aconteceu estava em todas as mídias existentes. Ninguém ousou me perguntar qualquer coisa, mas era nítido que desejavam. Passei a manhã inteira visitando alguns pacientes, Yas havia me mandado um áudio breve da sua ida a delegacia com Nicole e o que ela me disse, me deixou muito surpresa.
— Como médica, eu não deveria dizer isso, mas ele merecia. – Antonella me puxou para o seu escritório. — O que me preocupa é a Nicole no meio disso tudo. Nem consigo imaginar a bagunça que deva estar na cabeça dela.
— Espero que ela deixe ao menos a Rafa entrar. Foi tão horrível, Antonella, ele iria mesmo atirar na própria filha. O ódio no olhar dele...
— Foi muita imprudência de vocês duas terem ido até lá. Espero que tenha levado um longo sermão, Lara. Porque você merece.
— E eu levei, de ambos, durante quase uma hora. Eles não pouparam palavras, acredite. Não podia deixá-la sozinha, provavelmente faria outra vez. Também acho que foi merecido, que ele pague em vida tudo o que fez a filha passar.
— A morte seria um prêmio pra ele...
Alguém bateu na porta.
— Pode entrar...
— Doutora Antonella, o seu paciente do 201, ele pediu pra vê-la.
— Já estou indo...
— Vou deixar você trabalhar...
Fui até a porta.
— Ainda vai me ouvir falar um monte, Lara. – Antonella cruzou os braços.
— Eu sei, guarde todos os seus argumentos pra próxima. – Deixei a sala.
Olhei para a recepção e Letícia conversava com algumas pessoas, ela então se aproximou de mim.
— Doutora...
— Oi, Letícia.
— Desculpa vir incomodá-la, mas queria saber se está tudo bem? Fiquei preocupada. Não entrei em contato porque fiquei um pouco envergonhada.
— Tá tudo, Letícia, não precisa ter vergonha de mim. Já passamos dessa fase, certo?
Ela sorriu.
— Estou bem, a Nicole também. Acredito que finalmente vamos poder viver em paz.
— Isso me deixa aliviada, doutora...
— Alguém me ajude!
Ouvimos o grito.
— Por favor, por favor, alguém me ajude. Pelo amor de Deus!
Uma mulher entrou desesperada com uma criança nos braços. Ela se ajoelhou na recepção.
— Senhora, o que houve? – Letícia foi de encontro a mulher.
— Ele não tá respirando, moça, ele tá engasgado. Salve o meu filho, pelo amor de Deus...
Me aproximei, assim como algumas enfermeiras que ali estavam.
Letícia pegou o menino no colo, pedi para que os curiosos dessem espaço, a criança precisaria de um lugar amplo. Ela iniciou processo para desobstruir as vias áreas, colocou a criança de bruços. Uma das enfermeiras dava assistência a mãe. Depois de longos e angustiantes minutos, Letícia consegui retirar o objeto.
A criança puxou o ar com força antes de chorar.
— Deus... – O pequeno buscou os braços da mãe.
Letícia passou as mãos sobre a testa suada.
— Obrigada, muito obrigada mesmo. – A mãe do menino abraçou Letícia, que não sabia como reagir. — Deus a abençoe.
Ela chorava.
O garotinho, que agora sabíamos que se chamava Gustavo, foi levado para alguns exames básicos, por precaução. Letícia foi junto, a mãe pediu que ela a acompanhasse. Me juntei a alguns médicos na lanchonete, que falavam sobre o que acabou de acontecer.
Quatro dias depois.
As coisas estavam finalmente se encaminhando, a delegada do caso nos deixou a pá do que estava se passando. Patrick finalmente despertou e segundo a delegada, a sua reação quando viu o seu estado foi a pior possível. Uma médica acabou ferida por seu ataque histérico. Pedro havia deixado o hospital, prestou depoimento e deixamos o resto com a polícia. Naquele dia aconteceria a festa de aniversário de Amanda, que ainda pensou em cancelar devido a tudo que aconteceu, porém Yas a convenceu do contrário, seria bom celebrar a vida. Alonso, segundo a minha namorada fofoqueira, fez uma pequena surpresa a esposa.
— Não tô achando o meu celular. Já procurei embaixo da cama, no armário...
Ana entrou no meu quarto, o seu rosto estava suado.
— Ana, há quanto tempo não descansa? – Ela ergueu as sobrancelhas.
— Por quê?
Olhei para a sua mão e ela acompanhou o meu olhar. Observou o celular em sua mão e riu sem graça.
— Deus...
— Tira o domingo para descansar, maninha. Você tá mesmo precisando...
— Eu vou fazer isso, Lara. A Antonella já havia me pedido o mesmo.
— Vamos tomar banho, daqui a pouco a Antonella passa aqui para nos buscar.
— Tudo bem.
Seria uma coisa mais intima, então me vesti o mais confortável possível.
— A Rafa e a Nicole vão?
— Não sei, a Yas me disse que era provável que não. – Estavamos na sala esperando por Antonella.
— Entendo, é tudo tão recente. Vou vê-la logo, encher os ouvidos dela de bobagem...
— Desculpem a demora, o trânsito estava caótico.
Ana e ela trocaram um selinho.
— A gente nem notou, amor. Você está linda...
— Você está linda, um atentado ao meu juízo... – Limpei a garganta.
— Pelo o que parece, as duas andaram explorando vossos corpos...
— Suas dicas funcionaram super bem...
— Tá na hora de ir, não é? – Antonella abriu a porta. — Viram como o clima foi bom hoje?
Ana e eu rimos.
Chegamos no condomínio, vimos alguns carros em frente à casa de Amanda e Alonso. Ao estacionar, levei um leve susto ao ver Yasmin abrindo a porta para mim, ela sorriu e me deu a mão.
— Já disse que você é a mulher mais linda que já vi? – Abri um sorriso enorme.
— Não, pois você é a mulher mais linda...
Ela tocou os meus lábios de leve, demoradamente.
Andamos os poucos metros até a parte detrás da mansão, o jardim estava todo iluminado, havia um caminho longo de luzes amarelas. Não havia ninguém de fora, apenas a família de Yas e a minha família. Uma música agradável tocava, entregamos os nossos presentes a Amanda.
— A Nicole veio... – Olhamos para entrada.
Nicole estava com um sorriso largo, ela conversava algo com a Rafa.
— Filha, que bom que veio. – Dona Amanda foi até a ela, a abraçou e depois fez o mesmo com Rafaela.
— Feliz aniversário!
— Obrigada. Fico feliz que tenha vindo. – Minha sogra voltou a abraçá-la. — Você tem a nós, criança, nunca esqueça disso.
— Obrigada... – Nicole sorriu.
Ela se juntou a nós, parecia muito animada e isso nos deixou bastante feliz. A festa transcorria agitada, Tomas e Felipe eram o centro das atenções. Ana falava algumas bobagens, fazendo todos rirem. Em um determinado momento, uma mulher adentrou o jardim, ficamos sem entender nada.
Alonso ficou de pé e tinha toda a nossa atenção.
— Antes de tudo, é um grande prazer ter cada um aqui. Foram tantas coisas, tantas emoções nos últimos meses. Algumas ruins e eu só posso ser grato a Deus por nos manter de pé. Estamos aqui comemorando mais um ano de vida da mulher da minha vida...
Ele pegou algo no bolso.
— Amanda, já são tantos anos juntos. Tanto vivido, meu amor, e tem tanto ainda pra viver. – Ele então mostrou uma caixinha de veludo azul. — Diante de todas as pessoas importantes para nós, peço que renove os nossos laços. Casa comigo de novo?
A surpresa foi geral.
— Alonso, não acredito que fez isso... – Amanda foi até o marido, o abraçou.
— Aceita! – Hugo gritou, fazendo todos rirem.
Logo um corinho começou, todos gritando “aceita”.
— Você não existe, Alonso. – A voz de Amanda saiu carregada. — É claro que aceito.
A alegria deles nos contagiou, a mulher que estava observando a tudo, iniciou uma pequena cerimonia. Os meus pais serviram de testemunhas, os votos foram renovados e houve até mesmo uma dança dos dois.
Fiquei emocionada com tudo o que vi.
— Não posso deixar de notar que você parece muito feliz, Nicole. – Estavamos em uma roda.
— Cara de quem levou um chá e não é indiano. – Rafaela entalou, começou a tossir muito.
Fui ao socorro da loira, que estava vermelha. Yas, Antonella e Ana riam da bobagem dita por minha irmã.
— Deus, não foi nada disso... – Nicole tentou se explicar.
— Você tá parecendo um pimentão... – Yas zombou de Nicole.
— Rafa, você tá bem? – A loira riu.
Riu a lacrimejar.
— Já passou, Lara. Obrigada... – Sorri.
— Quer água, amor? – Nicole segurou o rosto de Rafa.
— Tá tudo bem, amor... – A loira a beijou rapidamente nos lábios.
As duas se olharam por alguns segundos, até caírem na gargalhada.
— Ana, você é impagável... – Nicole falou.
— Fico feliz em vê-las feliz, senhoritas. Mas é sério, o que aconteceu?
— A gente tá namorando, a Rafa foi... incrível. – As duas se olharam com devoção.
Yas me abraçou por trás, encaixou o queixo em meu ombro.
— Ainda tenho uma longa jornada até superar o meu passado, eu sei disso, mas agora, hoje, nesse exato momento, eu me sinto a mulher mais feliz que existe. A Rafa, ela virou a minha vida de cabeça pra baixo...
— Você também fez o mesmo, Nicole, mas agora posso confessar... – Rafaela segurou as mãos da namorada. — Você ter aparecido na minha porta naquela noite, foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos.
— Você queria me expulsar! – Rimos.
— Queria mesmo, você chegou toda cheia de frescura e desdenhou do meu condomínio. – Yas gargalhou.
— Não foi intencional...
O clima leve me fez relaxar nos braços de Yas.
— Eu adoro aquele lugar...
— Me sinto tão feliz... – Yas sussurrou.
— Também me sinto assim. – Ela beijou o meu pescoço.
— Não é bom ver as nossas amigas sendo amigas?
— É sim... – Me virei para olhá-la. — Imaginava algo assim?
— Não, não imaginava. Não mudaria nada, nada do que vivo com você... – Ela beijou os meus lábios demoradamente. — Chatinha...
Rolei os olhos para o apelido e Yas riu.
— Fazia tempo que não me chamava assim. – Fiz dengo.
— Vou te chamar assim até estarmos velhinhas. Tenho certeza que você será uma velha muito chata... aii.
A belisquei.
— Não sou chata...
— É uma chatona, então...
Ela me abraçou, me fiz de difícil, mas estava adorando o carinho.
Depois das onze da noite, deixamos a casa dos meus sogros. Yas decidiu dormir em meu apartamento, Ana e Antonella foram para a casa da minha querida cunhada. Depois de um banho logo, onde o que menos fizemos foi tomar banho, a minha mulher e eu dormimos, cansadas, satisfeitas por um dia tão maravilhoso.
Merecíamos depois de tudo.
Alguns dias depois, recebi a visita da minha mãe e de Ana no hospital. Elas me chamaram para almoçar no clube e jogar um pouco de tênis. Era a primeira vez que iriamos as três passear, não que não saíssemos juntas no passado, mas não era como agora. Antonella se juntaria a nós mais tarde, então ficamos por algum tempo conversando embaixo do guarda-sol.
— Filha, como a Yas tá indo na terapia? – Minha mãe me serviu um pouco de suco.
— Ela teve muitos avanços, mamãe. Yas é muito forte, parou de ter pesadelos, longo vai se livrar por completo dos resquícios daquela mulher.
— Eu fico muito feliz, ela é uma menina adorável. Outro dia chegou um buque de flores em casa, até cheguei a pensar que fosse do seu pai, mas ela foi a remetente. – Minha mãe sorriu.
— Eu não sabia disso... – Yas não havia dito nada.
— E você, minha princesa, faz tempo que não me atualiza do seu namoro. – Dona Telma tocou a bochecha de Ana.
Tomei um gole de suco.
— Você faz relatório sobre o seu namoro, é? – Ana me mostrou a língua.
— Mamãe também me deu conselhos sobre a Antonella. – Fiquei surpresa.
— Sobre o sex*? – Perguntei incrédula.
— Sim... – Ana respondeu sem hesitar.
E pensar que uns meses atrás era tudo tão... diferente.
— Eu sabia que iria funcionar e nem precisava de muito. Olha para nós, somos geneticamente divinas. – Minha mãe cruzou as pernas.
Não pude deixar de rir, assim como Ana. Era incrível demais o grau de intimidade que alcançamos.
— Somos tão parecidas, que até o mesmo bom gosto por mulheres herdamos. – Ana soltou essa pérola.
O silêncio durou somente alguns segundos, até a minha mãe cair na gargalhada, nos fazendo rir também. Continuamos a conversa descontraída, Antonella chegou quase uma hora depois. Nos dividimos para jogar uma partida de tênis. Não deu outra, minha mãe e eu ganhamos de lavada. Após a partida, pedimos algo para comer e novamente voltamos a conversar.
— Boa tarde, desculpa interromper o lanche de vocês. – Uma mulher alta, tatuada, nos abordou. — E me perdoe a ousadia, mas eu estou completamente encantada com você.
A mulher falava diretamente com a minha mãe. Dona Telma ficou tranquila, diferente de nós que não acreditávamos no que estávamos vendo e ouvindo.
— Poderíamos marcar algo? Você é casada?
Olhamos para a minha mãe e esperamos uma resposta. Por um momento, temi que ela pudesse dizer algo grosseiro, mas foi totalmente longe disso.
— Ah, querida, eu sou casada. Agradeço a gentileza... – A garota que não deveria ser mais velha que a Ana, fez expressão de tristeza. — Você é linda, mas educadamente recuso.
— É uma pena, vou ter que me desapaixonar. Bem, foi um prazer... boa tarde a todas.
— Boa tarde... – Respondemos, totalmente avoadas.
Olhávamos para dona Telma abismadas.
— O que? Ela tem bom gosto...
Minha mãe se ajeitou na cadeira e voltou a comer como se nada houvesse acontecido.
— Passada... – Ana sussurrou.
Eu? Eu me sentia tão em... paz.
Mesmo não fazendo mais parte do hospital, o meu pai fez questão que eu participasse da reunião que abordaria sobre as ações compradas por Patrick. Um mês se passou desde que tudo aquilo aconteceu. Há mais ou menos uma semana, Pedro iniciou a fisioterapia com a Lara. O tiro no abdômen causou mais estragos que o previsto, os movimentos de suas pernas foram afetados, entretanto, totalmente reversíveis.
Cheguei um pouco mais cedo, estava louca de saudades da minha namorada, a encontrei no corredor indo para ver um paciente. Esperei do lado de fora e depois de quase dez minutos, ela deixou o quarto. Nos abraçamos por infinitos segundos, aspirei seu cheiro, desejei beijá-la.
— Que saudade, meu amor.
— Você chegou muito antes. – Ela riu.
— Queria te ver um pouco, antes da reunião.
Lara me puxou pela mão, atravessamos todo o corredor até chegarmos a sua sala, onde ela trancou a porta e me beijou. Suspirei, correspondi ao beijo calmo, lento, cheio de paixão. Não sei quanto tempo passou, ficamos apenas nos beijando, esquecemos do mundo um pouco.
— Obrigada por terem disponibilizado um tempo na agenda de vocês. Como todos viram, o hospital voltou a ser notícia depois daquele incidente. Conversei muito com o Alonso, não podemos deixar que anos de duro trabalho sejam destruídos. Há ações que precisam voltar pro nosso controle. Infelizmente, as tentativas de contato com o outro sócio fracassaram...
Joaquim sentou.
— Mas não podemos desistir, precisamos desvincular a imagem do hospital desse monst... – O meu pai olhou para Nicole. — Daquele que um dia foi como irmão. Há muitas pessoas que dependem deste hospital e em nome deles, peço que ninguém abandone o barco agora.
— Não estamos pensando assim, Alonso. Na verdade, no sentimos verdadeiramente em paz agora. Tudo o que aconteceu foi muito triste, sentimos muito por tudo, senhorita Nicole, mas acredito que podemos deixar tudo isso no passado e elevar mais uma vez o nome e prestígio do hospital. – Um dos sócios falou.
— Aproveitando o momento, há algo que venho pensando sobre. – Nicole levantou. — A forma que cheguei à diretoria não foi como deveria.
Lara, Hugo e eu nos olhamos. O que ela estava fazendo?
— Queria deixar o meu cargo livre para ser ocupado pelos meios corretos. – Abri a boca de leve.
— Nicole... – Joaquim tentou, mas foi cortado.
— Quero recomeçar da forma adequada. Há uns meses cheguei aqui de forma indevida, usando de meios grotescos. Seria justo uma nova eleição, desta vez sem interferências.
— Acredito na sua redenção, entendo que foi tudo de uma forma que não deveria, entretanto, acredito que falo por todos quando digo que a senhorita vem desempenhando um trabalho formidável. Os infortúnios que o ocorreram não tiram de você tudo o que fizeste nesses meses.
Um dos acionistas falou.
— Estamos dispostos a perdoar os erros do passado, acredito verdadeiramente que a senhorita tem muito o que corroborar com este hospital. Não aceitamos o seu afastamento. – Um outro falou.
Nicole pareceu ficar surpresa.
— Eu nem sei o que dizer. – Ela nos olhou. — Lara, Yas...
— Concordamos com cada palavra, diretora. A senhorita vem desempenhando um papel formidável. As melhorias no hospital são visíveis, mesmo em meio aos escândalos e as suas questões pessoais, a senhorita soube como agir. – Lara foi perfeita.
— Não faço mais parte do quadro de funcionários do hospital, mas como acionista é meu dever saber o que se passa. As melhorias são palpáveis, não discordo de nada do que foi dito aqui... – Finalizei.
Ouvimos duas batidas na porta, Hugo foi atender e logo vimos Pedro entrar. Ele estava usando cadeira de rodas, mas logo as aposentaria.
— Desculpe vir sem avisar, sou Pedro, sou filho do Patrick. – Ouve um breve murmurinho. — Soube da reunião de hoje, há dois dias fui procurado por um advogado, ele me deixou alguns documentos que são do interesse de vocês. A minha irmã sugeriu que eu viesse até aqui.
O que se passava?
— Irei direto ao ponto, Patrick deixou todas as ações em meu nome. – Fiquei levemente em choque. — Ele o fez porque sabia que algum dia ocorreria tudo o que aconteceu e iriam congelar suas contas. Vim até aqui para devolver as ações ao hospital.
A surpresa foi geral.
— Fiz apenas algumas leves modificações e espero que estejam de acordo.
— Modificações? – Nicole perguntou.
— Sim, eu vou devolver as ações que o meu pai comprou dos outros dois acionistas e as que pertenciam a ele, quero que sejam suas.
— Minhas?
— Suas, você é a única e legítima dona delas. Minha mãe e eu não queremos algo que não é nosso. Pedi para um advogado preparar estes contratos. – Peguei os documentos das mãos de Pedro e entreguei a Joaquim. — Um para você, Nicole, o outro é em nome de Joaquim e Alonso. Tenho certeza que saberão o que fazer.
Ficamos todos abismados com a atitude de Pedro.
— Irmã, por favor, aceita. É seu por direito...
— Ei, vamos lá... – Nicole me encarou.
Entreguei uma caneta a ela.
— Tudo bem.
Ela assinou o contrato que lhe dava as ações. Meu pai e Joaquim fizeram o mesmo, acredito que o alívio era compartilhado por todos. Os acionistas foram até Pedro e agradeceram por sua conduta. O problema havia sido solucionado.
Deixamos a sala de reuniões e fomos para a lanchonete.
— Por que não me disse que iria fazer isso? – Nicole perguntou a Pedro.
— Você iria tentar me convencer a não o fazer. – O mais jovem sorriu. — Tenho absoluta certeza que você fará maravilhas com elas.
— Você foi muito correto, Pedro. – Hugo pontuou.
— Se há algo que sou profundamente grato é de ter herdado o bom caráter da minha mãe. Eu fui vê-lo ontem à tarde... – Pedro olhava para as próprias mãos. — Desculpa não ter dito nada, Nicole, mas eu precisava fazer isso sozinho.
Lara segurou a minha mão que estava sobre a mesa.
— Ele teve o que merecia... – Pedro estava com os olhos cheios. — Apesar de nunca ter encostado um dedo em mim, eu o odeio por tudo que te fez passar. Eu desejo que daqui a um tempo nem esse ódio exista, eu quero mesmo esquecer de tudo.
— Vai ser um caminho bem longo, Pedro, mas podemos fazer isso juntos. Graças a Deus, encontrei pessoas maravilhosas no caminho. Se não fosse por vocês...
— Hein? – Lara segurou o queixo de Nicole com gentileza. — Não pense no “se”, você vai passar por cima de tudo e se algumas coisas nunca forem embora, você vai continuar cheia de pessoas que torcem por você.
— Nos tenha como irmãs, Nicole. É o que somos agora... – Pisquei para ela.
Nicole riu, passou a mão sobre a cabeça.
— Preciso de terapia...
— Tenho uma ótima pra te recomendar...
Falei, os fazendo rir.
A vida aos poucos voltava ao eixo, a clínica na qual sou sócia seria inaugurada hoje, então a minha manhã estava uma tremenda correria. Seria oferecido um coquetel para os funcionários e poucos convidados, para que as portas fossem abertas.
— Você tá linda. – Rafa entrou em minha sala.
Optei por um terninho branco e um coque frouxo.
— Obrigada, você tá linda também. – Ela também usava um terninho, mas na cor azul.
— Estou muito ansiosa, foram meses de trabalho. Ficou tudo tão incrível...
— Somos sócias, isso é maravilhoso. – Rafaela e eu nos abraçamos.
— Sempre juntas!
— Sempre juntas!
— Meninas, os nossos convidados estão chegando. – Kleber parou na porta. — Nosso grande dia.
Esfregueis as mãos, o nervosismo era gostoso de sentir.
— Vamos nessa...
Fomos para a parte de trás, onde estava tudo muito bonito. O buffet estava impecável, aquela área ficou muito bonita. Kleber fez uma excelente escolha quando decidiu criar aquele espaço. Os meus pais e os pais de Rafa, assim como todos os nossos amigos estavam ali. Alguns convidados de Kleber e pacientes importantes da outra clínica.
— Amor, ficou tudo tão lindo. – Lara olhava a tudo encantada.
Os meus pais e os pais de Rafaela conversavam com Kleber.
— Ah, amor, eu estou tão feliz...
— Você merece, minha deusa. Merece muito mais...
Andávamos por toda a clínica.
— Tenho que te mostrar uma coisa... – A levei até a minha sala.
— Yas...
— Lindo, não é?
Lara olhava para a nossa foto, um presente da Antonella.
— Foi no dia do aniversário da sua mãe?
— Sim, exatamente nesse dia. – A abracei por trás. — Eu amei essa foto, tudo nela me deixa com um friozinho na barriga.
— Vocês estão aqui... – Antonella surgiu na porta. — Ficou maravilhoso, não é?
— Ficou, você é muito talentosa... – Ela sorriu.
— Cadê a Ana? – Lara perguntou.
— Ela está levemente chateada. – Lara e eu nos olhamos rapidamente.
— Por qual motivo?
— Uma das convidadas é alguém que me envolvi, ela provocou a Ana. – Antonella coçou a testa. — Ela ficou muito brava.
— Tá aí algo que nunca vi, a Ana brava. – Antonella bebeu um gole do suco.
— Hoje você vai ver... – A morena soou triste.
Voltamos para a área da festa, Ana estava conversando com Rafaela. Antonella decidiu não se aproximar, não queria forçar nada.
— Você perdeu... – Nicole falou assim que me aproximei da mesa do buffet.
— O que?
— A Ana ficou bem brava com aquela mulher ali. – Nicole apontou discretamente para uma mulher que estava acompanhada de outra duas.
Ela não para de encarar Antonella, que evitava ao máximo olhar em sua direção.
— Nem sabia que a Ana era ciumenta. – Nicole olhou para onde Ana, Rafaela e minha mãe conversavam.
— Bom dia a todos... – Ouvimos a voz de Kleber. — Bem, primeiramente, quero chamar as minhas sócias até aqui.
Ele fez um gesto para Rafa e eu.
— Eu quero agradecer a presença de todos nesse início de mais uma jornada. Foram muitas lutas, mas graças as forças divinas, conseguimos. Essa é uma conquista que queríamos compartilhar com pessoas importantes antes de tudo, então obrigado de todo coração por terem tirado um tempo do dia de vocês e vir até aqui prestigiar esse sonho...
Todos presente aplaudiram.
— Faço suas as minhas palavras, Kleber. Está sendo um verdadeiro prazer fazer parte do seu sonho. Serei eternamente grata pelo convite, mudou a minha vida e também me deu uma chance de recomeço. – Finalizei.
— Eu só tenho a agradecer, obrigada Kleber, por lembrar de mim e me convidar a fazer parte do seu sonho, se tornou o nosso sonho também. Este lugar já tem toda a nossa dedicação, mas não iremos parar por aqui... obrigada a minha família e aos meus amigos...
Novamente houve aplausos e abraços.
Depois de algum tempo, os convidados foram deixando a clínica, agradeci a presença de cada um. As meninas decidiram me esperar, iriamos comemorar em minha casa. Convidei os meus pais, assim como os pais de Lara e Rafaela. Seria uma comemoração simples.
— A carne já está pronta, vou levar lá pra fora. – Rafaela me cutucou.
— Vou terminar o feijão, está quase pronto. – Sentia o cheiro agradável.
— Terminei a farofinha, já podemos misturar? – Antonella me perguntou.
— Sim, também terminei aqui. – A morena ficava uma graça com roupas casuais. — Falou com a Ana?
— Ela segue muda...
— Nunca havia visto vocês duas brigadas, é muito estranho. – Antonella riu.
— Essa é a segunda vez em quase um ano. – Ela suspirou. — Mas vai passar.
— Qual o motivo da primeira?
Fiquei realmente curiosa.
— Ciúmes, mas daquela ocasião foi eu a ciumenta. – Coloquei as mãos na cintura. — O que? Você melhor do que ninguém sabe como é namorar mulher bonita. Tem sempre algum engraçadinho.
— Antonella? – Ana entrou na cozinha.
— Melhor, amor?
A cópia de Lara fez uma expressão engraçada.
— Desculpa!
— Tá tudo bem, minha vida. Vem aqui...
Ana veio até a namorada e a duas se abraçaram.
— Bem, vou saindo... – Peguei a panela com o feijão tropeiro.
Deixei a cozinha e fui para o quintal, onde Lara e Nicole assavam as carnes, Rafaela buscava por um playlist. Olhei para aquelas pessoas, mil e uma lembranças me trouxeram um tanto de nostalgia.
— Trouxe as cervejas, papai e mamãe vão se atrasar. – Hugo beijou a minha bochecha.
Tomas e Felipe estavam no carrinho.
— E estou morrendo de fome.
— Ele me deixa maluca...
Carla falou.
— É a especialidade dele. Como é criar três crianças? – Ela gargalhou.
— Um desafio...
Ela foi até eles.
Aspirei o ar com calma e sorri. Que as outras pessoas deste mundo que me perdoassem, mas eu era a mais feliz.
Fim do capítulo
Ontem não deu, a Tany tava doente e eu passei o dia no trabalho.
Cap agora e mais um mais tarde.
Beijos, meninas.
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]